
Contava a tia Ana de quando aprendeu o que significava fazer parte dumha comunidade. Foi quando a sua nai se pujo doente, terminal, e tivo que deixar de cuidar para ser cuidada durante meses, e toda a vizinhança se uniu por umha causa comum. A casa converteu-se num lugar onde alguém precisava algumha cousa e muitas mans faziam para que a tivesse, sem mais sentimento e obriga que o de pertença a um grupo e o de saber quais eram as prioridades naquele momento.
Parece a típica história de qualquer tempo passado foi melhor, mas essa afirmaçom, além de ser mui limitada, nom tem em conta que a história se repete, unicamente mudam as personagens que a protagonizam, o qual leva a que haja um monte de pequenos relatos que confirmam que cada vez somos piores pessoas e outro monte que assegure que cada vez aprendemos mais do vivido por quem estivo antes.
No mundo que nos tocou viver há umha personagem que caminha por cima de todo o resto, chama-se capital, claro. Esse grande diretor da orquestra que se alimenta da banca, dos “mercados”, do machismo, da hetero-normatividade, do racismo, da classe política, dos meios de comunicaçom, dos fascismos, da classe operária, mas tamém do ecologismo, do feminismo, do sindicalismo… Na verdade é um grande exemplo de economia circular, todo lhe vale para obter algumha cousa para si.
Está mais que claro e mais que falado que, ao pôr ao serviço do capital tanto a terra como a vida das pessoas que fazem parte do mundo, vivemos numha crise ecosocial, económica e de saúde permanente que se visibiliza dum jeito diferente, segundo quem e segundo quando conte a história.
O capital é um grande exemplo de economia circular, todo lhe vale para obter algumha cousa para si
A tia Ana medrou nos oitenta numha vila galega, muitas de nós podemo-nos identificar com esse feito, dalgum jeito a sua história também pode ser a nossa. A tia Ana medrou pensando que se trabalhas duro, estudas e te esforças podes conseguir por ti mesma o que te proponhas. A tia Ana descobriu demasiado nova que nom sempre é assim, mas seguiu para a frente porque poucas alternativas tens a isso quando és mais umha rodinha do sistema. A tia Ana nunca esqueceu aquele momento em que aprendeu a fazer parte dumha comunidade. O que lhe custava agora era poder levá-lo à prática.
Sente ser umha peça do sistema que a necessita para existir, que lhe dá o que precisa, que lhe faz sentir que pode conseguir o que queira, que a convence de que ter mais quer dizer que o merece. Ou será que lhe fai sentir que precisa cousas e experiências que a submetem e que o alimentam a ele? Ou é que fai que o que ela queira seja o que lhe permite manter a ele o poder? Ou é que lhe fai acreditar que está num lugar por cima doutra gente porque a desigualdade é necessária para manter a corda da sua liderança tensa?
Vivemos numha crise ecosocial, económica e de saúde permanente que se visibiliza dum jeito diferente, segundo quem e segundo quando conte a história
A tia Ana sabe que a sua vida deixou de importar porque o importante som outras cousas, mas nom se sente cómoda nesse lugar. Pensa que o mundo teria muito mais jeito se a gente se desse conta de que o melhor para umha é o melhor para todas, que no momento em que ela caiu, a rede que conformara ao seu redor foi a que nom permitiu que batesse com o chao, chame-se comunidade, associaçom, sindicato, amizades…, que nom é justo que o sistema lhe faga acreditar que o único jeito que existe para ‘triunfar’ é pensar no próprio ‘benefício individual’.
Construir a partir do bem comum, das vidas das pessoas, das suas necessidades reais, das suas inquedanças, incluindo todas as diversidades e promovendo o cooperar, sem ter como único fim possível o lucro do capital, deveria ser a base de que se parta, como seres sociais que somos e que vivem num mundo finito e partilhado.