Periódico galego de informaçom crítica

A comunidade da tia Ana

por
charo lo­pes

Contava a tia Ana de quando apren­deu o que sig­ni­fi­cava fa­zer parte dumha co­mu­ni­dade. Foi quando a sua nai se pujo do­ente, ter­mi­nal, e tivo que dei­xar de cui­dar para ser cui­dada du­rante me­ses, e toda a vi­zi­nhança se uniu por umha causa co­mum. A casa con­ver­teu-se num lu­gar onde al­guém pre­ci­sava al­gumha cousa e mui­tas mans fa­ziam para que a ti­vesse, sem mais sen­ti­mento e obriga que o de per­tença a um grupo e o de sa­ber quais eram as pri­o­ri­da­des na­quele momento.

Parece a tí­pica his­tó­ria de qual­quer tempo pas­sado foi me­lhor, mas essa afir­ma­çom, além de ser mui li­mi­tada, nom tem em conta que a his­tó­ria se re­pete, uni­ca­mente mu­dam as per­so­na­gens que a pro­ta­go­ni­zam, o qual leva a que haja um monte de pe­que­nos re­la­tos que con­fir­mam que cada vez so­mos pi­o­res pes­soas e ou­tro monte que as­se­gure que cada vez apren­de­mos mais do vi­vido por quem es­tivo antes.

No mundo que nos to­cou vi­ver há umha per­so­na­gem que ca­mi­nha por cima de todo o resto, chama-se ca­pi­tal, claro. Esse grande di­re­tor da or­ques­tra que se ali­menta da banca, dos “mer­ca­dos”, do ma­chismo, da he­tero-nor­ma­ti­vi­dade, do ra­cismo, da classe po­lí­tica, dos meios de co­mu­ni­ca­çom, dos fas­cis­mos, da classe ope­rá­ria, mas ta­mém do eco­lo­gismo, do fe­mi­nismo, do sin­di­ca­lismo… Na ver­dade é um grande exem­plo de eco­no­mia cir­cu­lar, todo lhe vale para ob­ter al­gumha cousa para si.

Está mais que claro e mais que fa­lado que, ao pôr ao ser­viço do ca­pi­tal tanto a terra como a vida das pes­soas que fa­zem parte do mundo, vi­ve­mos numha crise eco­so­cial, eco­nó­mica e de saúde per­ma­nente que se vi­si­bi­liza dum jeito di­fe­rente, se­gundo quem e se­gundo quando conte a história.

O ca­pi­tal é um grande exem­plo de eco­no­mia cir­cu­lar, todo lhe vale para ob­ter al­gumha cousa para si

A tia Ana me­drou nos oi­tenta numha vila ga­lega, mui­tas de nós po­demo-nos iden­ti­fi­car com esse feito, dal­gum jeito a sua his­tó­ria tam­bém pode ser a nossa. A tia Ana me­drou pen­sando que se tra­ba­lhas duro, es­tu­das e te es­for­ças po­des con­se­guir por ti mesma o que te pro­po­nhas. A tia Ana des­co­briu de­ma­si­ado nova que nom sem­pre é as­sim, mas se­guiu para a frente por­que pou­cas al­ter­na­ti­vas tens a isso quando és mais umha ro­di­nha do sis­tema. A tia Ana nunca es­que­ceu aquele mo­mento em que apren­deu a fa­zer parte dumha co­mu­ni­dade. O que lhe cus­tava agora era po­der levá-lo à prática.

Sente ser umha peça do sis­tema que a ne­ces­sita para exis­tir, que lhe dá o que pre­cisa, que lhe faz sen­tir que pode con­se­guir o que queira, que a con­vence de que ter mais quer di­zer que o me­rece. Ou será que lhe fai sen­tir que pre­cisa cou­sas e ex­pe­ri­ên­cias que a sub­me­tem e que o ali­men­tam a ele? Ou é que fai que o que ela queira seja o que lhe per­mite man­ter a ele o po­der? Ou é que lhe fai acre­di­tar que está num lu­gar por cima dou­tra gente por­que a de­si­gual­dade é ne­ces­sá­ria para man­ter a corda da sua li­de­rança tensa?

Vivemos numha crise eco­so­cial, eco­nó­mica e de saúde per­ma­nente que se vi­si­bi­liza dum jeito di­fe­rente, se­gundo quem e se­gundo quando conte a história

A tia Ana sabe que a sua vida dei­xou de im­por­tar por­que o im­por­tante som ou­tras cou­sas, mas nom se sente có­moda nesse lu­gar. Pensa que o mundo te­ria muito mais jeito se a gente se desse conta de que o me­lhor para umha é o me­lhor para to­das, que no mo­mento em que ela caiu, a rede que con­for­mara ao seu re­dor foi a que nom per­mi­tiu que ba­tesse com o chao, chame-se co­mu­ni­dade, as­so­ci­a­çom, sin­di­cato, ami­za­des…, que nom é justo que o sis­tema lhe faga acre­di­tar que o único jeito que existe para ‘triun­far’ é pen­sar no pró­prio ‘be­ne­fí­cio individual’.

Construir a par­tir do bem co­mum, das vi­das das pes­soas, das suas ne­ces­si­da­des re­ais, das suas in­que­dan­ças, in­cluindo to­das as di­ver­si­da­des e pro­mo­vendo o co­o­pe­rar, sem ter como único fim pos­sí­vel o lu­cro do ca­pi­tal, de­ve­ria ser a base de que se parta, como se­res so­ci­ais que so­mos e que vi­vem num mundo fi­nito e partilhado.

Marta B. é cooperativista, feminista, profissional dos cuidados e sócia de Aselafem,Asociación de Estudos Laborais Feministas.

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