Periódico galego de informaçom crítica

A exclusão no modelo nórdico

por
Povo Sami re­tra­tado na re­giom no­ru­e­guesa de Røro por Alf Schrøder (1880–1951). do­mí­nio público.

No ca­mi­nho de volta da mi­nha es­ta­dia por um ano na Noruega, como chefe exe­cu­tivo dum grupo de res­tau­ran­tes numa vila co­nhe­cida por ser des­tino de fé­rias da classe alta do país, re­fle­xi­o­nava so­bre como, ainda que o tardo-ca­pi­ta­lismo tente afas­tar os es­pa­ços de ex­plo­ra­ção da vista das me­tró­po­les, as suas es­tru­tu­ras e con­sequên­cias sem­pre es­tão pre­sen­tes pela pró­pria li­mi­ta­ção ma­te­rial. Essa mesma se­mana, o mi­nis­tro de Petróleo e Energia do país ‑no pró­prio nome da pasta mi­nis­te­rial há muita den­si­dade de dis­curso- ten­tava-se des­cul­par di­ante de re­pre­sen­tan­tes do povo sámi pela cons­tru­ção de enor­mes ex­ten­sões de cen­trais ae­ro­ge­ra­do­ras nal­guns dos seus pas­tos tra­di­ci­o­nais de re­nas. O ato era só sim­bó­lico, um jeito de pa­ci­fi­car a im­prensa e os gru­pos ati­vis­tas mo­bi­li­za­dos con­tra a des­feita eco­ló­gica tin­gida de verde, pois nas mes­mas de­cla­ra­ções o po­lí­tico as­se­gu­rava que se­ria ne­ces­sá­rio en­con­trar uma “so­lu­ção que per­mi­tisse se­guir pro­du­zindo ener­gia na zona”. 

Desde a sua pró­pria con­ce­ção como es­paço ge­o­grá­fico-cul­tu­ral, os paí­ses es­can­di­na­vos cons­ti­tuem-se, como to­dos os es­ta­dos-na­ção no ca­pi­ta­lismo, como es­pa­ços de ex­clu­são do pri­vi­lé­gio. Ainda que no pa­pel não for as­sim, na prá­tica é que “o es­can­di­navo” de­fine-se sob os de­ter­mi­nan­tes cul­tu­rais duma mai­o­ria que fala lín­guas do con­tí­nuo ger­mano-es­can­di­navo, dei­xando fora da sua cons­tru­ção como en­ti­da­des na­ci­o­nais e su­pra­na­ci­o­nais os po­vos urá­li­cos que não atin­gi­ram es­tado pró­prio, como o sámi e o ca­ré­lio, e olhando sem­pre com re­ceio e su­pe­ri­o­ri­dade os que sim, como o fin­lan­dês.  Do mesmo jeito, o mo­delo da so­cial-de­mo­cra­cia nór­dica, tan­tas ve­zes posta como exem­plo dum ca­pi­ta­lismo “mais hu­mano” e mar­cado como guia pe­los re­for­mis­mos es­quer­dis­tas, cons­trói so­bre a con­tra­di­ção fun­da­men­tal de toda eco­no­mia ca­pi­ta­lista, er­guendo sim­ples­mente uma bar­reira mais alta e mais mesta en­tre os es­pa­ços de ex­tra­ção e os de acu­mu­la­ção do capital. 

As co­zi­nhas, as fá­bri­cas e os ser­vi­ços do país es­tão po­pu­la­dos por pes­soas mi­gran­tes e re­fu­gi­a­das, atraí­das pela pro­messa nór­dica de al­tos sol­dos e mag­ní­fi­cas con­di­ções laborais

Se na Finlândia pro­cu­ram não re­pa­rar muito nos con­fli­tos que per­mi­tem a ex­tra­ção das ter­ras ra­ras que Nokia pre­cisa para ope­rar, na Suécia ig­no­ram ati­va­mente a des­trui­ção das flo­res­tas e as con­di­ções de tra­ba­lho dos po­la­cos con­tra­ta­dos por IKEA, do ou­tro lado do mar Báltico, ou a im­pli­ca­ção dos seus gran­des con­glo­me­ra­dos ban­cá­rios e de in­ver­são na eco­no­mia es­pe­cu­la­tiva glo­bal. A na­ção no­ru­e­guesa pro­cura ma­ni­fes­tar o seu com­pro­misso con­tra a mu­dança cli­má­tica, sendo ci­en­tes de pa­la­vra das con­sequên­cias de que o seu cres­ci­mento eco­nó­mico está to­tal­mente cons­truído so­bre a grande em­presa pe­tro­lí­fera na­ci­o­nal. Muitos dos dis­cur­sos do “ca­pi­ta­lismo verde”, que co­me­ça­mos a co­nhe­cer na Galiza tam­bém, nas­cem no in­tento no­ru­e­guês de dei­xar atrás a de­pen­dên­cia do cru, sem re­nun­ciar ao seu “li­de­rado no mer­cado energético”. 

Nesse avião de volta não dei­xava de pen­sar em quan­tas ou­tras me­di­das so­cial-de­mo­cra­tas na boca de to­dos os par­ti­dos re­for­mis­tas es­ta­vam a ser apli­ca­das no país que dei­xava atrás e to­das as con­tra­di­ções que im­pli­ca­vam. A maior parte do povo no­ru­e­guês tra­ba­lha na eco­no­mia ter­ciá­ria e des­fruta da cha­mada “jor­nada de 6 ho­ras”, por de­feito. Porém, esta “re­vo­lu­ção” la­bo­ral não se sus­tém, como tam­pouco acon­te­cerá quando se ex­panda ao resto da Europa, com a au­to­ma­ti­za­ção ou o au­mento ex­po­nen­cial da pro­du­ti­vi­dade, mas com uma massa tra­ba­lha­dora mi­grante in­vi­sí­vel da qual eu for­mara parte, ainda que com cer­tos pri­vi­lé­gios de­ri­va­dos da es­pe­ci­a­li­za­ção do meu posto de tra­ba­lho. As co­zi­nhas, as fá­bri­cas e os ser­vi­ços do país es­tão ocu­pa­dos por pes­soas mi­gran­tes e re­fu­gi­a­das, atraí­das pela pro­messa nór­dica de al­tos sol­dos e mag­ní­fi­cas con­di­ções la­bo­rais. As re­mu­ne­ra­ções são al­tas, se as com­pa­ra­mos com a Galiza, mas um re­mata por des­co­brir que os be­ne­fí­cios so­ci­ais es­tão de­se­nha­dos para ser ape­nas aces­sí­veis à po­pu­la­ção no­ru­e­guesa, iso­la­dos por de­se­nho numa bu­ro­cra­cia à qual só ace­des logo de anos de “com­pro­misso com o país”. A me­di­cina pú­blica opera em base a mú­tuas e o re-pa­ga­mento de ser­vi­ços. Os sin­di­ca­tos no­ru­e­gue­ses pro­cu­ram ig­no­rar a massa mi­grante que tra­ba­lha lá para em­pre­sas in­ter­me­diá­rias, mui­tas com se­des nas re­pú­bli­cas bálticas. 

Quando o avião aterra na Galiza leio so­bre os pro­je­tos “ver­des” para in­çar de eó­li­cos o país e a fil­tra­ção dum ras­cu­nho com o plano do go­verno es­pa­nhol para dei­xar a saúde em mãos das asseguradoras. 

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