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Gostava de que a resistência fosse real”

por
Toni Sánchez ‘Panxo’ can­tante de Zoo –ter­ceiro pola es­querda– com o resto de grupo. | paulo bouzas

Zoo nasceu em Gandia (País Valenciano) no ano 2014, continuando o caminho de grupos tam potentes como Obrint Pas. A mistura de ritmos eletrónicos com o rap, o reguetom, o rock ou o ska, combinada com umhas letras em catalám com umha forte carga política, foi a receita que os fijo referentes na cena musical estatal. Na noite do Revenidas dedicada aos Países Cataláns falamos com Panxo, cantante e compositor do grupo, antes de encher em Vila Joám. Música, língua e povos oprimidos traçam linhas paralelas entre a Galiza e o País Valenciano.

Galiza e o País Valenciano sem­pre des­ta­cá­rom por umha po­tente cul­tura mu­si­cal, gru­pos muito crí­ti­cos com o po­der e tam­bém le­tras com­ba­ti­vas. Zoo é mais um exem­plo. Se ca­lhar a cri­a­çom cul­tu­ral está li­gada com a repressom?
Eu nom o for­mu­la­ria as­sim, já que Andaluzia ou Estremadura tam­bém som po­vos que ti­vé­rom ex­pres­sons cul­tu­rais muito for­tes e nom tam vin­cu­la­das com um com­po­nente na­ci­o­nal. Contodo, sim que creio que há sem­pre umha res­posta, por meio da cul­tura, frente à re­pres­som. Galiza e o País Valenciano par­ti­lha­mos, atra­vés da nossa res­posta, ele­men­tos co­muns, so­bre­todo o do sen­ti­mento de na­çons opri­mi­das. País Basco e Catalunha tam­bém, mas sem­pre es­ti­vé­rom como um de­grau por riba de nós em ter­mos de dig­ni­dade e de autoestima.

“Lembrar as periferias é muito importante”

De facto, a pri­meira vez que vi­si­ta­mos a Galiza lem­brou-nos muito no ní­vel so­ci­o­ló­gico ao País Valenciano, no sen­tido que de por­tas cara a fora am­bos os paí­ses te­mos o es­tigma de ser­mos de di­rei­tas e muito fi­eis ao PP. Mas quando pe­ne­tras um pouco ne­les, des­co­bres umha cul­tura bru­tal e sur­pre­ende tam­bém a cons­ci­ên­cia na­ci­o­nal. Galiza é um povo como o nosso, que nom aca­ba­mos de acre­di­tar como povo e onde o auto-ódio tam­bém está mui presente.

Mas tam­bém penso que as re­sis­tên­cias cul­tu­rais som umha má so­lu­çom. Eu gos­tava de que a re­sis­tên­cia do povo ga­lego ou do povo va­len­ci­ano fosse real. Berrar qua­tro con­sig­nas está mui bem, mas a ní­vel de trans­for­ma­çom nom fai muito. É umha con­tra­di­çom tam­bém na qual vi­ve­mos os mú­si­cos. Nós lan­ça­mos con­sig­nas, mas por ou­tra banda fa­ze­mos de dis­co­te­cas e as pes­soas nom ve­nhem aos con­cer­tos trans­for­ma­rem nada.

Fazer can­çons na vossa lín­gua e nom em cas­te­lhano como pode aju­dar a nor­ma­li­zar umha lín­gua mi­no­ri­tá­ria, so­bre­todo en­tre a mocidade?
Aqui sim que som muito mais oti­mista. No País Valenciano gru­pos coma Obrint Pas ou La Gossa Sorda fi­gé­rom muito mais polo nosso país e pola nossa lín­gua do que as ins­ti­tui­çons, no sen­tido de di­fun­di­rem e mos­tra­rem umha re­a­li­dade di­fe­rente da que nos meios se di­funde de Valencia.

Penso que desde o País Valenciano es­tes gru­pos dé­rom, de por­tas para fora, umha vi­som muito mais rica do que so­mos. Podemos dar conta que so­mos um país cheio de mu­si­ca­li­dade e ta­lento escondido.

ber­nat almirall

Tempestes ve­nen del sud’ e ‘Raval’ dam nome aos dous dis­cos de Zoo. Os dous som umha alu­som evi­dente às eter­nas es­que­ci­das. Situá-las nas vos­sas ca­pas pode ser umha ho­me­na­gem aos po­vos do sul e as ha­bi­tan­tes das periferias?
Sim, para nós é muito im­por­tante lem­brá-las por­que to­dos os mo­vi­men­tos, so­ci­e­da­des e to­dos os po­vos ne­ces­si­tá­rom cons­truir fer­ra­men­tas de re­a­fir­ma­çom atra­vés dum dis­curso, polo tanto é im­por­tante pôr no­mes, ver­ba­li­zar e cons­truir con­cei­tos por­que se nom há pa­la­vra nom há re­a­li­dade. Ademais é na­tu­ral e ne­ces­sá­rio… Depois está a re­per­cus­som que con­si­gas dar-lhe a isso, mas qual­quer mo­vi­mento ne­ces­sita re­fa­zer-se atra­vés da pa­la­vra e dum discurso.

Vós tam­bém fa­ze­des re­gue­tom. Umha mú­sica que está no ponto de mira po­las suas le­tras, mas com um ritmo mui po­tente. Gerou-vos al­gumha con­tra­di­çom fa­zer este tipo de música?
Agora há muito de­bate ao re­dor da apro­pi­a­çom cul­tu­ral e to­das es­tas coi­sas das es­té­ti­cas, mas re­al­mente é um de­bate muito aca­de­mi­cista para o meu gosto, e nunca nos in­te­res­sou muito en­trar neste de­bate. E tam­pouco nunca fi­ge­mos mú­sica para que di­gam que fa­ze­mos umha mú­sica opri­mida, nós fi­ge­mos sem­pre a mú­sica de que gos­ta­mos: re­gue­tom, ele­tró­nica, de dan­çar… Sem re­vesti-lo dumha cousa muito meditada.

O pú­blico de Zoo nom só é ca­ta­lám, basco ou ga­lego. Vós tam­bém ar­ra­sa­des em Madrid ou Estremadura. Pensas que às ve­zes os gru­pos te­nhem mais pre­con­cei­tos com Espanha do que poda ter Espanha cara a vós?

“Somos conscientes de que como homens e músicos temos uns privilégios e se queremos ser coerentes há que rachá-los”

É umha boa per­gunta. Nós te­mos o nosso po­si­ci­o­na­mento po­lí­tico so­bre a au­to­de­ter­mi­na­çom e o que que­re­mos ser, en­ten­de­mos que Espanha é um con­ceito do que se apro­priá­rom mas nós nom te­mos ne­nhum ódio ao povo es­pa­nhol nem a quem se qui­ger sen­tir es­pa­nhol. Entendemos que o pro­jeto de Espanha está cons­truido so­bre ideias, al­gumhas das quais pas­sam por anu­lar-nos como povo e in­vi­si­bi­li­zar-nos, e pre­ci­sa­mente isto é o que­re­mos di­zer atra­vés das nos­sas can­çons. Penso que mui­tas pes­soas em Espanha tam­bém som ca­pa­zes de ve­rem isto, de en­tendê-lo e de apoiá-lo, e como mos­tra esta muita gente que sendo es­pa­nhola apoia os mo­vi­men­tos de autodeterminaçom.

Pergunta obri­gada: que sig­ni­fi­cado tivo o 1 de Outubro para vós?
Para as va­len­ci­a­nas foi um re­fe­rente, um exem­plo. Mas para o nosso país este ca­mi­nho ainda fica muito longe. Por ou­tra banda, nesta data vi­si­bi­li­zou-se o des­cré­dito do pro­jeto es­pa­nhol. Como va­len­ci­a­nas so­mos cons­ci­en­tes de que le­va­mos rit­mos e tem­pos di­fe­ren­tes que Catalunha mesmo sendo parte dos Países Cataláns. Mas tam­bém acho que agora é um bom mo­mento pre­ci­sa­mente por este des­cré­dito de ten­tar con­so­li­dar e for­ta­le­cer a nossa iden­ti­dade como povo.

Num plano prá­tico para mui­tas de nós ge­rou mui­tís­sima raiva e dor, mais umha in­jus­tiça das quais olha­mos em mui­tos po­vos e lu­ga­res do mundo, ainda que esta to­cou-nos muito mais de perto.

paulo bou­zas

Umha si­mi­li­tude mais en­tre a Galiza e o Pais Valenciano é que te­mos ao lado um re­fe­rente cul­tu­ral e lin­guís­tico onde a nossa cul­tura flo­resce. Portugal no nosso caso e Catalunha no vosso. É duro en­fren­tar-se ao que pui­de­mos ser e nom somos?
É duro por­que nós sem­pre es­ta­mos na som­bra de Catalunha ou de Espanha. Em Espanha so­mos “el úl­timo mono” mas nos Países Catalans, tam­bém. Por isso al­gumhas va­len­ci­a­nas a raiz do que pas­sou em Catalunha nos úl­ti­mos anos tam­bém di­ze­mos: calma, que Catalunha é Catalunha e nós aínda te­mos muito tra­ba­lho por fa­zer. E creio que tam­bém se­ria um erro en­tre­gar-se a um pro­jeto já feito. Temos que olhar-nos a nós mes­mas, fa­zer au­to­crí­tica e ten­tar cons­truir desde to­das as ca­rên­cias que te­mos por­que ainda fica muito para ser um povo como o catalám.

Nos Países Catalans, este ano, o mo­vi­mento fe­mi­nista pujo no ponto de mira o com­por­ta­mento ma­chista de mui­tos gru­pos e mú­si­cos. Este foi de­nun­ci­ado atra­vés das re­des, saindo à luz com­por­ta­men­tos des­res­pei­to­sos com as mu­lhe­res, abu­sos e mesmo vi­o­la­çons. Zoo tam­bém foi assinalado…
Estamos num mo­mento de fa­zer umha au­to­crí­tica forte e en­ten­de­mos este mo­mento para crescer.

Plantou-se-nos umha re­a­li­dade di­ante que tem umha parte mui grande de ver­dade e que es­tou con­ven­cido que vai ser­vir para re­fle­xi­o­nar. Somos per­fei­ta­mente cons­ci­en­tes de que como ho­mens e mú­si­cos te­mos uns pri­vi­lé­gios e se que­re­mos ser co­e­ren­tes há que ra­chá-los. Portanto en­ten­de­mos es­tas acu­sa­çons como umha opor­tu­ni­dade para pa­rar, pen­sar, es­tu­dar e fa­lar en­tre nós para as­su­mir umha parte desta cri­tica que é to­tal­mente real e certa e por­tanto, mudarmos.

A can­çom ‘El cap per avall’ de Raval é umha ra­di­o­gra­fia do País Valenciano, de como era e de como foi es­quil­mado. Mas como é o Pais Valenciano? Como o definirias?
É um pais cheio de con­tras­tes, um país mui rico e bo­nito em mui­tos as­pe­tos mas for­te­mente mal­tra­tado e opri­mido du­rante sé­cu­los. Um mal­trato que fijo muito dano e que ainda es­ta­mos a pa­gar. Mas ao fi­nal da car­reira nom deixa de ser um pais que quer ser nor­mal, com os mes­mos di­rei­tos que qual­quer ou­tro. Isso é o que reivindicamos.

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