
O modelo cultural patriarcal tem as suas raízes nas relaçons de poder, portanto no maltrato. E o maltrato é mais que as agressons físicas ou sexuais, é mais que os feminicídios. Estas expressons som a parte visível de um iceberg de violências que estám normalizadas por grande parte da populaçom. Mas o maltrato nom som só as agressons visíveis e as subtis, é a ausência de bom trato.
Nom há trato neutro, há bom trato ou mal trato, portanto violência. Igualmente nom há cuidados neutros, há cuidados e descuidados, e portanto, também nesse caso, violência.
A sobrecarga de cuidados que recai sobre nós mulheres, seja na casa, na família, na profissom, na comunidade ou na militância, violenta as possibilidades de desenvolvermos vidas com autonomia e liberdade. Violenta-nos à medida que nos mantenhem como trabalhadoras nom pagas ou mui mal pagas, sustentando a sociedade e o sistema económico em que vivemos à custa da nossa saúde, projetos e expetativas vitais.
Nom há trato neutro, há bom trato ou mal trato, portanto violência. Igualmente nom há cuidados neutros, há cuidados e descuidados, e portanto, também nesse caso, violência
Violenta-nos ao nom receber em troca os mesmos cuidados que proporcionamos, fazendo aumentar umha dívida histórica que é impagável. Muito mais para as mulheres em situaçom de maior vulnerabilidade como som as racializadas, migradas, as empobrecidas, as que nom tenhem estudos, as labregas.
Violenta-nos ao dificultar o exercício do auto-cuidado. Tarefa necessária para manter-nos em boas condiçons físicas e mentais. Para descansar, para desfrutar, para cultivar os nossos interesses e passatempos, para participar socialmente, para relacionarmo-nos em equidade.
O descuidado, ou melhor o ataque deliberado e atroz às condiçons de vida que deriva das privatizaçons e dos recortes sociais, do desmantelamento dos serviços públicos, de políticas sociais nefastas ou inexistentes, do retrocesso de direitos e liberdades, da repressom dentro e fora das fronteiras, da depredaçom do meio, tudo isso nom pode receber outro nome. É violência.
Se a vida nom se sustenta sem cuidados, estar privadas deles é violência. Já nom avonda com visibilizar e reconhecer a importância dos cuidados. É hora de avançar na repartiçom, na responsabilidade social e na reparaçom da dívida de cuidados já. As mulheres, lésbicas e trans, os corpos e identidades feminizadas, exigimos a nossa parte nom só de cuidados, senom de prazeres, no banquete da vida.