Periódico galego de informaçom crítica

Se nom há cuidados há violência

por
Anna Kövecses

O mo­delo cul­tu­ral pa­tri­ar­cal tem as suas raí­zes nas re­la­çons de po­der, por­tanto no mal­trato. E o mal­trato é mais que as agres­sons fí­si­cas ou se­xu­ais, é mais que os fe­mi­ni­cí­dios. Estas ex­pres­sons som a parte vi­sí­vel de um ice­berg de vi­o­lên­cias que es­tám nor­ma­li­za­das por grande parte da po­pu­la­çom. Mas o mal­trato nom som só as agres­sons vi­sí­veis e as sub­tis, é a au­sên­cia de bom trato.
Nom há trato neu­tro, há bom trato ou mal trato, por­tanto vi­o­lên­cia. Igualmente nom há cui­da­dos neu­tros, há cui­da­dos e des­cui­da­dos, e por­tanto, tam­bém nesse caso, vi­o­lên­cia.
A so­bre­carga de cui­da­dos que re­cai so­bre nós mu­lhe­res, seja na casa, na fa­mí­lia, na pro­fis­som, na co­mu­ni­dade ou na mi­li­tân­cia, vi­o­lenta as pos­si­bi­li­da­des de de­sen­vol­ver­mos vi­das com au­to­no­mia e li­ber­dade. Violenta-nos à me­dida que nos man­te­nhem como tra­ba­lha­do­ras nom pa­gas ou mui mal pa­gas, sus­ten­tando a so­ci­e­dade e o sis­tema eco­nó­mico em que vi­ve­mos à custa da nossa saúde, pro­je­tos e ex­pe­ta­ti­vas vitais.

Nom há trato neu­tro, há bom trato ou mal trato, por­tanto vi­o­lên­cia. Igualmente nom há cui­da­dos neu­tros, há cui­da­dos e des­cui­da­dos, e por­tanto, tam­bém nesse caso, violência

Violenta-nos ao nom re­ce­ber em troca os mes­mos cui­da­dos que pro­por­ci­o­na­mos, fa­zendo au­men­tar umha dí­vida his­tó­rica que é im­pa­gá­vel. Muito mais para as mu­lhe­res em si­tu­a­çom de maior vul­ne­ra­bi­li­dade como som as ra­ci­a­li­za­das, mi­gra­das, as em­po­bre­ci­das, as que nom te­nhem es­tu­dos, as la­bre­gas.
Violenta-nos ao di­fi­cul­tar o exer­cí­cio do auto-cui­dado. Tarefa ne­ces­sá­ria para man­ter-nos em boas con­di­çons fí­si­cas e men­tais. Para des­can­sar, para des­fru­tar, para cul­ti­var os nos­sos in­te­res­ses e pas­sa­tem­pos, para par­ti­ci­par so­ci­al­mente, para re­la­ci­o­narmo-nos em equi­dade.
O des­cui­dado, ou me­lhor o ata­que de­li­be­rado e atroz às con­di­çons de vida que de­riva das pri­va­ti­za­çons e dos re­cor­tes so­ci­ais, do des­man­te­la­mento dos ser­vi­ços pú­bli­cos, de po­lí­ti­cas so­ci­ais ne­fas­tas ou ine­xis­ten­tes, do re­tro­cesso de di­rei­tos e li­ber­da­des, da re­pres­som den­tro e fora das fron­tei­ras, da de­pre­da­çom do meio, tudo isso nom pode re­ce­ber ou­tro nome. É vi­o­lên­cia.
Se a vida nom se sus­tenta sem cui­da­dos, es­tar pri­va­das de­les é vi­o­lên­cia. Já nom avonda com vi­si­bi­li­zar e re­co­nhe­cer a im­por­tân­cia dos cui­da­dos. É hora de avan­çar na re­par­ti­çom, na res­pon­sa­bi­li­dade so­cial e na re­pa­ra­çom da dí­vida de cui­da­dos já. As mu­lhe­res, lés­bi­cas e trans, os cor­pos e iden­ti­da­des fe­mi­ni­za­das, exi­gi­mos a nossa parte nom só de cui­da­dos, se­nom de pra­ze­res, no ban­quete da vida.

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