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Algo cheira podre na comarca de Compostela

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Enquanto a vizinhança de Teio luita contra a construçom dumha planta de resíduos em Casalonga em Miramontes pugnam por fechar o vertedoiro.

O sá­bado dia 17 de ju­nho a car­va­lheira de Cornide, si­tu­ada na pa­ró­quia de Calo, em Teio, es­tava cheia de pes­soas. Crianças, se­nho­ras e se­nho­res ido­sos, ado­les­cen­tes. Buscando a som­bra para pro­te­ger-se da ca­lor, quase to­das ves­tindo as ca­mi­se­tas pre­tas com o lema ‘Zona re­si­den­cial nom re­si­dual’ da pla­ta­forma vi­zi­nhal Casalonga Limpa de Resíduos. Esta foi a pri­meira mo­bi­li­za­çom con­vo­cada po­las suas in­te­gran­tes, que le­vam tra­ba­lhando desde maio deste ano para da­rem-se a conhecer.

A Lei do Solo de 2016 permite instalar vertedoiros em solo rústico

De ca­mi­nho a Cornide vem-se indo de carro car­ta­zes com men­sa­gens rei­vin­di­ca­ti­vas. Muitas de­las de­di­ca­das a Toca y Salgado S.L., Toysal, umha em­presa com sé em Vigo que há uns me­ses anun­ciou a sua in­ten­çom de pôr em mar­cha umha planta de re­sí­duos na an­tiga can­teira de Carvalhal, no lu­gar de Casalonga. A Lei do Solo de 2016 per­mite a ins­ta­la­çom des­tas plan­tas em solo rús­tico, quando pre­vi­a­mente só se po­diam edi­fi­car em solo in­dus­trial. O fu­turo ver­te­doiro tra­ta­ria en­tre 80.000 e 90.000 to­ne­la­das anu­ais de re­sí­duos, se­gundo da­dos do Concelho. Entre eles, lo­dos de de­pu­ra­do­ras de águas re­si­du­ais, re­sí­duos de in­dús­trias agro­a­li­men­ta­res e lo­dos de con­ser­vei­ras, en­tre ou­tros. Até 120 ca­mi­ons car­re­ga­dos de re­sí­duos per­cor­re­riam as es­tra­das te­en­ses. A ati­vi­dade da planta afe­ta­ria a mais de 5.000 vi­zi­nhas num rá­dio de me­nos de dous qui­ló­me­tros, se­gundo da­dos da pla­ta­forma vizinhal.

Norma Pilhado é a vo­ceira da pla­ta­forma Casalonga Limpa de Resíduos. Explica que a ra­pi­dez com a que se or­ga­ni­zou a ve­ci­nhanza foi in­crí­vel. O 12 de maio o Concelho de Teio anun­ci­ava na sua web a con­vo­ca­tó­ria dumha charla in­for­ma­tiva so­bre o pro­jeto de Toysal. “Fôrom uns pou­cos vi­zi­nhos, mas co­me­çou-se a cor­rer a voz”. Na se­gunda reu­niom, tam­bém or­ga­ni­zada polo con­sis­tó­rio, acu­diu tanta gente “que nom se ca­bia”. Daquela reu­niom fi­cá­rom “uns trinta vi­zi­nhos”, conta Norma. “Decidimos criar umha as­so­ci­a­çom, fa­zer uns es­ta­tu­tos e or­ga­ni­zar-nos em dis­tin­tos gru­pos de tra­ba­lho. Levamos a cabo as pri­mei­ras açons: ins­ta­lar car­ta­zes po­las casas”.

O futuro vertedoiro de Casalonga trataria entre 80.000 e 90.000 toneladas anuais de resíduos

Tanto a vi­zi­nhança como os gru­pos po­lí­ti­cos de Teio, que apro­vá­rom em pleno umha mo­çom con­junta con­tra o pro­jeto, acham so­bra­dos os mo­ti­vos para po­si­ci­o­na­rem-se em con­tra da planta de re­sí­duos. Vertedoiros sim, mas nom ao ca­rom das ca­sas. Também con­se­guí­rom apoio dos con­ce­lhos de Briom, Ames e Padrom, que se ve­riam afe­ta­dos pola ati­vi­dade da em­presa. O prazo de ex­po­si­çom pú­blica do pro­jeto da can­teira ainda nom está aberto. Mas em Teio de­ci­dí­rom nom aguar­dar e che­gá­rom à Conselharia de Médio Ambiente. “Tivemos umha reu­niom com a di­re­tora de Qualidade Ambiental, que nos dixo que isto ha­via de­mo­rar tempo. Os pra­zos agora co­loca-os Toysal, logo sairá no DOG e te­re­mos os trinta dias para pre­sen­tar­mos ale­ga­çons. Nós es­ta­mos es­tu­dando o pro­jeto, ainda que sa­be­mos que nom é o de­fi­ni­tivo, que nos vam en­tre­gar ou­tro mais cui­dado. Nom sa­be­mos se vam en­tre­gar em agosto, para ten­tar co­lher-nos de fé­rias, ou mais adiante…”.

Pola sua banda tam­bém o Concelho de Teio pe­diu um in­forme so­bre o pro­jeto, que re­di­giu a em­presa Habitaq Estratexias. Nele alerta so­bre a ins­ta­bi­li­dade do ter­reno so­bre o qual se ins­ta­la­ria o ver­te­doiro, de­vido à pre­ce­dente ati­vi­dade mi­neira. Ademais aponta a falta dum in­forme so­bre a fauna e flora da con­torna. Para além a do­cu­men­ta­çom es­tu­dada nom prevê me­di­das para mi­ti­gar as mo­lés­tias que umha planta de re­sí­duos pode oca­si­o­nar na vi­zi­nhança, como os cheiros.

A as­so­ci­a­çom ins­pi­rou-se no tra­ba­lho feito por ou­tras pla­ta­for­mas do país, como a de Mina Touro‑O Pino Nom ou a Plataforma de afe­ta­dos polo ver­te­doiro de Miramontes, de Santiago de Compostela. Membras de am­bas as as­so­ci­a­çons es­ti­vé­rom pre­sen­tes no sá­bado em Cornide. Centos de pes­soas che­gá­rom de dis­tin­tos re­cun­chos de Teio para ca­mi­nha­rem até a can­teira de Casalonga. Se ca­lhar a luita desta úl­tima foi a que con­ven­ceu as te­en­ses de que nom que­riam aguar­dar para pe­cha­rem um pro­jeto no­civo para o mu­ni­cí­pio, pre­fe­riam pará-lo an­tes que se le­vasse a cabo.

Viver ao pé do lixo
As pes­soas da pla­ta­forma de afe­ta­dos polo ver­te­doiro de Miramontes, na pa­ró­quia com­pos­te­lana de Grijoa, sa­bem bem o que é vi­ver perto de to­ne­la­das de lixo. Explica David Martínez, do co­le­tivo, que “há ano e meio al­gum vi­zi­nho co­me­çou a pre­o­cu­par-se po­los chei­ros que che­ga­vam de ali”. Assim a gente da al­deia foi in­ves­ti­gar ato­pá­rom que nom exis­tia con­trolo so­bre o que se acu­mu­lava num pro­jeto que, desde 2008, re­ce­beu per­mis­sons para ge­rir re­sí­duos cada vez mais contaminantes.

Três em­pre­sas ope­ra­vam neste lu­gar do mu­ni­cí­pio com­pos­te­lám: umha can­teira de ári­dos, umha planta de tra­ta­mento de re­sí­duos e umha em­presa que fa­brica tec­no­so­los (so­los ar­ti­fi­ci­ais cri­a­dos a par­tir de re­sí­duos). A de tec­no­lo­sos, Tecnosolos Galaicos S.L., foi fe­chada a cau­tela pola con­se­lha­ria. A em­presa pro­mo­tora do ver­te­doiro, Gestán Medioambiental S.L., ges­ti­ona tam­bém ver­te­doi­ros em Arteijo e Sobrado. O Concelho de Compostela trata desde fe­ve­reiro de re­vo­gar a li­cença do ver­te­doiro, que em ja­neiro era ex­pe­di­en­tado por Médio Ambiente. A pla­ta­forma co­meça hoje a ver o re­sul­tado do seu es­forço, mas nom foi fá­cil e no co­meço es­ta­vam pra­ti­ca­mente sós.

Fai uns cinco anos que co­me­çá­rom a pas­sar mais ca­mi­ons por aqui, mui­tís­si­mos”, ex­plica umha vi­zi­nha da al­deia de Miramontes. “Cheira fa­tal, o ou­tro dia um ca­miom tivo umha ava­ria e em vez de pa­rar na es­trada da can­teira es­ta­ci­o­nou ao lado da al­deia. Se pas­sas por aí ainda po­des per­ce­ber o cheiro”. Na al­deia, conta David Martínez, vi­vem pou­cos vi­zi­nhos, so­bre­todo ido­sos. “Levam dous anos fe­chando as ja­ne­las para nom te­rem que su­por­tar o mal olor”, la­menta, “há quem quer ir vi­ver a Compostela com os filhos”.

A plataforma de afectados de Miramontes conseguiu que as administraçons atuassem

Os ca­mi­ons do ver­te­doiro cir­cu­la­vam sem per­mis­som. Mas, como lhe ex­pli­cou um ca­mi­o­neiro às mem­bras da pla­ta­forma “ao meu chefe nom lhe im­por­tam du­zen­tos eu­ros de multa”. A Guarda Civil acu­dia aos cha­ma­dos da vi­zi­nhança, mas nom po­dia fa­zer mais do que pôr san­çons. Na al­deia de Miramontes nom há si­nais que in­di­quem a pro­xi­mi­dade dumha can­teira. A única pista é um que proíbe o passo de ca­mi­ons de mais de 5,5 to­ne­la­das por umha via as­fal­tada muito es­treita. A pro­ble­má­tica foi-se agra­vando, os ver­ti­dos che­ga­vam em oca­si­ons às lei­ras. A pla­ta­forma teme que as águas da con­torna tam­bém se ve­jam afetadas.

Para a aso­ci­a­çom con­tra o ver­te­doiro de Miramontes foi um pulo a achega da Sociedade Galega de História Natural, que es­tu­dou em 2018 as aná­li­ses re­a­li­za­das pola Conselharia de Médio Ambiente em Miramontes à em­presa de tec­no­so­los. Foi a pla­ta­forma a que tur­rou para que le­vas­sem a cabo. Serafín González, mem­bro do CSIC e da Sociedade, foi o en­car­re­gado. Num in­forme de­nun­ci­ava que os ní­veis de ele­men­tos tó­xi­cos nas mos­tras eram su­pe­ri­o­res aos per­mi­ti­dos. A con­se­lha­ria tam­bém re­co­nhe­ceu as ir­re­gu­la­ri­da­des exis­ten­tes no ver­te­doiro em ja­neiro de 2018.

Para che­gar a este ponto a pla­ta­forma de afe­ta­dos pe­tou a mais por­tas das que po­dem lem­brar. A dia de hoje se­guem mo­bi­li­zando-se e re­ce­bem cha­ma­das dou­tras as­so­ci­a­çons, que lhes pre­gun­tam como fa­zer. “Falamos com eles e com­pro­va­mos que o mo­dus ope­randi é bem si­mi­lar”, ex­plica David; “no co­meço som pro­je­tos inó­cuos, logo vam pe­dindo am­pli­a­çons, os pro­je­tos cada vez som mais pe­ri­go­sos e logo a em­presa mar­cha dei­xando todo isso aí”. Em Miramontes nom se re­sig­nam. “Muitas ve­zes nos pre­gun­tam que até onde va­mos che­gar”, conta David, “onde faga falta, o mal já está feito”.

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