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Bolsonaro navega nas redes socais enquanto ameaça liberdade de imprensa

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A campanha eleitoral no Brasil deixou alguns aspetos que provavelmente serám já elementos a ter em conta em qualquer processo semelhante. Especialmente, tivo umha ampla repercusom nas redes sociais, onde se divulgava informaçom e propaganda das chapas, sendo este um campo do qual a equipa de Bolsonaro soubotirar partido. Perante isto, várias iniciativas ligadas a profissionais da informaçom estivérom presentes para analisar essas informaçons e desvendar manipulaçons. 

A ní­vel me­diá­tico, o atual pre­si­dente do Brasil Jair Bolsonaro cons­truiu-se du­rante a cam­pa­nha a ima­gem de um ho­mem que iria lim­par um sis­tema cor­rupto. Em pa­la­vras do ci­en­tista po­lí­tico Maurício Santoro, pro­fes­sor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado de Rio de Janeiro, “Bolsonaro se­gue o ro­teiro es­ta­be­le­cido por Trump em apre­sen­tar-se como um out­si­der, e co­loca a mí­dia como parte da elite bra­si­leira que ele su­pos­ta­mente com­bate. Os seus apoi­a­do­res vi­bram com os ata­ques à im­prensa e com frequên­cia agri­dem jor­na­lis­tas fí­sica ou ver­bal­mente”. Um exem­plo desta si­tu­a­çom po­dem ser as di­ver­sas agres­sons a jor­na­lis­tas re­co­lhi­das pola Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) na noite de 28 de ou­tu­bro, du­rante a co­ber­tura da vi­tó­ria elei­to­ral do can­di­dato do Partido Social Liberal (PSL).

Porém, Santoro tam­bém in­dica que os gran­des meios de co­mu­ni­ca­çom do Brasil nom se vem isen­tos de res­pon­sa­bi­li­dade à hora de ter fa­vo­re­cido nos úl­ti­mos anos a as­cen­som da fi­gura do ex-mi­li­tar Jair Bolsonaro, que leva quase trinta anos com as­sento na Câmara dos Deputados fe­de­ral. “Podemos ar­gu­men­tar que a mí­dia bra­si­leira foi mais dura na crí­tica à es­querda do que em ex­por pro­ble­mas se­me­lhan­tes de cor­rup­ção em par­ti­dos con­ser­va­do­res”, ex­pom Santoro, “de certa forma con­tri­buindo para o acir­ra­mento das ten­sões ide­o­ló­gi­cas no Brasil. Por mui­tos anos a im­prensa tra­tou Bolsonaro como uma es­pé­cie de bobo da corte, uma cu­ri­o­si­dade que ser­via para mos­trar o quanto a po­lí­tica bra­si­leira po­dia ser es­tra­nha. Ele não foi per­ce­bido ou de­nun­ci­ado como ame­aça ao longo da maior parte de sua carreira”.

Este ci­en­tista po­lí­tico in­dica tam­bém que o tra­ta­mento ar­re­dor do atual pre­si­dente do Brasil tem sido di­fe­rente en­tre a mí­dia bra­si­leira e as de­le­ga­çons neste país de meios de co­mu­ni­ca­çom in­ter­na­ci­o­nais. “A im­prensa es­tran­geira foi muito mais crí­tica de Bolsonaro, vendo‑o como um risco para a de­mo­cra­cia. A mí­dia bra­si­leira se­quer o clas­si­fica como ex­tre­mista, pre­fe­rindo con­si­derá-lo como um con­ser­va­dor co­mum”, re­flete Santoro.

Assim, al­gumhas ame­a­ças já fô­rom de­cla­ra­das para os meios que nom par­ti­lhem o pro­jeto con­ser­va­dor do ex-mi­li­tar. “Bolsonaro deu si­nais de que irá cor­tar ver­bas de pro­pa­ganda go­ver­na­men­tal para a im­prensa crí­tica de seu go­verno. Isso pode re­pre­sen­tar uma grave ame­aça fi­nan­ceira em tem­pos de crise econô­mica e perda de as­si­nan­tes e lei­to­res”, ex­pom Santoro. Ademais “Bolsonaro usa a ex­pres­são ‘fake news’ para des­qua­li­fi­car crí­ti­cas e de­nún­cias con­tra ele, so­bre­tudo acu­sa­ções de cri­mes elei­to­rais. Sua cam­pa­nha uti­li­zou com frequên­cia ‘fake news’ con­tra os ad­ver­sá­rios, em es­pe­cial ma­ni­pu­la­ções en­vol­vendo te­mas li­ga­dos á se­xu­a­li­dade”, acres­centa este professor.

Reportagem da ‘Folha de São Paulo’ de­nun­ciou que em­pre­sá­rios afins a Bolsonaro es­ta­vam a mer­car dis­pa­ros em massa po­las re­des so­ci­ais ilegalmente

Disparos mas­si­vos
Um dos meios que es­tivo no foco do Bolsonaro foi a Folha de São Paulo, es­pe­ci­al­mente de­pois da pu­bli­ca­çom da re­por­ta­gem da jor­na­lista Patricia Campos Mello, pu­bli­cada em 18 de ou­tu­bro, Empresários ban­cam cam­pa­nha con­tra o PT pelo WhatsApp. Após a pu­bli­ca­çom desta re­por­ta­gem, Abraji tem de­nun­ci­ado que a jor­na­lista re­ce­beu ame­a­ças po­las re­des so­ci­ais. Neste tra­ba­lho jor­na­lís­tico, de­nun­cia-se que vá­rios em­pre­sá­rios afins a Bolsonaro es­ta­vam a com­prar ser­vi­ços de “dis­pa­ros em massa” usando a base de da­dos da can­di­da­tura ou ba­ses for­ne­ci­das por agên­cias de es­tra­té­gia di­gi­tal. A ile­ga­li­dade desta açom re­si­di­ria em dous as­pe­tos: um é que se tra­ta­ria de do­a­çons de cam­pa­nha nom de­cla­ra­das, ou­tro que, se­gundo aponta a jor­na­lista, a le­gis­la­çom elei­to­ral nom per­mi­ti­ria a com­pra de ba­ses de da­dos a ter­cei­ros, po­dendo só ser uti­li­za­das as cri­a­das pola can­di­da­tura. Segundo in­dica a re­por­ta­gem, umha das tá­ti­cas uti­li­za­das por parte do em­pre­sa­ri­ado afim a Bolsonaro foi o de va­ler-se de nú­me­ros de te­le­fone es­tran­gei­ros com a fi­na­li­dade de evi­tar as res­tri­çons do apli­ca­tivo de men­sa­gens instantâneas.

Segundo ou­tra in­for­ma­çom apa­re­cida na Folha de São Paulo a 13 de no­vem­bro, di­ver­sas pla­ta­for­mas de re­des so­ci­ais fo­ram in­ter­pe­la­das para re­ve­lar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se houvo con­tra­ta­çons para im­pul­si­o­na­mento de con­teú­dos em fa­vor de Bolsonaro. Segundo esta no­tí­cia, ape­nas Facebook e Twitter te­riam res­pon­dido que nom houvo con­tra­ta­çons em nome do PSL ou Bolsonaro – o qual nom res­ponde às de­nun­cias da in­ves­ti­ga­çom jor­na­lís­tica publicada. 

A ba­ta­lha das re­des so­ci­ais
“A falta de con­trole e re­gu­la­ção nas no­vas mí­dias le­vou à dis­se­mi­na­ção de fake news, dis­cur­sos de ódio e ao au­mento da po­la­ri­za­ção ide­o­ló­gica”, acre­dita o pro­fes­sor Santoro.

Durante a cam­pa­nha elei­to­ral fô­rom apa­re­cendo ini­ci­a­ti­vas para a ve­ri­fi­ca­çom ou des­men­tido de in­for­ma­çons de du­vi­dosa ve­ra­ci­dade que fo­ram di­fun­di­das atra­vés de re­des so­ci­ais. Umha de­las foi o pro­jeto Comprova, em que par­ti­ci­pou o Abraji e di­ver­sas pro­fis­si­o­nais de meios de co­mu­ni­ca­çom bra­si­lei­ros. O pro­jeto en­cer­rou umha vez re­ma­tada a cor­rida elei­to­ral. No seu ba­lanço, Comprova in­dica que che­cá­rom 146 his­tó­rias du­rante os três me­ses de vida da ini­ci­a­tiva. A imensa mai­o­ria mos­trá­rom-se fal­sas, en­ga­no­sas ou des­con­tex­tu­a­li­za­das e ape­nas nove verdadeiras.

Durante a cam­pa­nha elei­to­ral apa­re­ce­ram ini­ci­a­ti­vas para a ve­ri­fi­ca­çom ou des­men­tido de in­for­ma­çons de du­vi­dosa veracidade

Algumhas das men­sa­gens pró-Bolsonaro que fo­ram ana­li­sa­das vi­sa­vam apre­sen­tar o can­di­dato do PT, Fernando Haddad, como umha ame­aça para a com­po­si­çom tra­di­ci­o­nal da fa­mí­lia. Umha das ‘fake news’ que tivo mais re­per­cu­som, e que foi ana­li­sada polo Comprova em fi­nais do mês de se­tem­bro, é a que afir­mava que o PT te­ria dis­tri­buído ma­ma­dei­ras com umha bor­ra­cha em forma de pé­nis nos in­fan­tá­rios den­tro do pro­grama Escola sem Homofobia. Nem exis­ti­ram tais ma­ma­dei­ras nem o ma­te­rial de tal pro­grama, que fora sus­penso em 2011 e qua­li­fi­cado po­los se­to­res con­ser­va­do­res como ‘kit gay’, che­gou a ser dis­tri­buído po­las escolas.

Assim, o fu­turo da li­ber­dade de ex­pres­som e de im­prensa vê-se ame­a­çado. “Provavelmente te­re­mos a pi­ora das con­di­ções de tra­ba­lho para a im­prensa, com agres­sões e in­ti­mi­da­ção, mas não for­mas ex­plí­ci­tas de cen­sura. E ha­verá mui­tos ór­gãos de mí­dia que op­ta­rão por apoiar Bolsonaro para ex­trair con­ces­sões ou ao me­nos evi­tar pre­juí­zos”, atreve-se a aven­tu­rar o pro­fes­sor Santoro, da Universidade do Rio de Janeiro, um es­tado que se tem con­ver­tido em bas­tiom das for­ças conservadoras.

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