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Continuam os protestos do povo mapuche contra o Estado chileno

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No passado 8 de outubro começou a revolta do povo chileno contra o Estado e o neoliberalismo. Os meios logo se figérom eco destes protestos devido ao alto grau de repressom: polícias e militares nas ruas torturando e assassinando pessoas com total impunidade, ademais do encarceramento de pessoas sem juízo prévio através da criminalizaçom do protesto e de montagens mediáticas e policiais.

Menos co­nhe­cido é o facto do povo ma­pu­che le­var a so­frer este tipo de re­pres­som 500 anos, pri­meiro de maos dos es­pa­nhóis e de­pois dos pró­prios chi­le­nos ‑e ar­gen­ti­nos-. Este povo ori­gi­ná­rio tem umha gram cons­ci­ên­cia meio-am­bi­en­tal que fai que a luita pola de­fensa da terra e a sua au­to­no­mia cho­quem ir­re­me­di­a­vel­mente com a men­ta­li­dade ca­pi­ta­lista e, por ex­ten­som, com o ne­o­li­be­ra­lismo tam ca­rac­te­rís­tico do Estado chi­leno. É as­sim que, a pe­sar de ser o povo ori­gi­ná­rio mais mas­sivo em Chile (um 4% da po­vo­a­çom to­tal), se­gue a so­frer a re­pres­som do Estado por meio de in­cur­sons ar­ma­das no seu ter­ri­tó­rio e mon­ta­gens para eti­que­tar-lhes de ter­ro­ris­tas, de­sem­bo­cando es­tes atos em pes­soas exe­cu­ta­das (os ca­sos de Camilo Catrillanca ou Macarena Valdés som al­guns dos mais co­nhe­ci­dos) ou en­car­ce­ra­das com umha cheia de irregularidades.

Isto úl­timo foi o que pro­vo­cou umha sé­rie de pro­tes­tas ma­pu­ches há pou­cos me­ses, tanto fora como den­tro dos cár­ce­res, tendo o seu ponto de par­tida no 4 de maio, quando o preso Celestino Córdova, au­to­ri­dade es­pi­ri­tual dumha co­muna ma­pu­che, ini­ciou umha greve de fame rei­vin­di­cando cum­prir parte da sua pena na sua casa. À greve so­má­rom-se ou­tros 26 pre­sos po­lí­ti­cos ma­pu­ches. Dizemos pre­sos po­lí­ti­cos por­que, ainda que as cau­sas po­las que es­tám de­ti­dos va­riam en­tre posse ile­gal de ar­mas, ho­mi­cí­dio frus­trado a ca­ra­bi­ne­ros, ter­ro­rismo ou roubo com vi­o­lên­cia, en­tre ou­tras, a mai­o­ria des­tes pre­sos le­vam sendo ví­ti­mas da re­pres­som do Estado chi­leno cara ao seu povo toda a sua vida. 

Este povo tem umha cons­ci­ên­cia meio-am­bi­en­tal que fai que a luita pola de­fensa da terra e a sua au­to­no­mia cho­quem com a men­ta­li­dade capitalista

Alguns fô­rom ví­ti­mas de mon­ta­gens po­li­ci­ais para cri­mi­na­li­zar o es­tilo de vida ma­pu­che, como foi o caso da Operación Huracám, que ins­tru­men­ta­li­zá­rom para de­ter vá­rios co­mu­nei­ros ma­pu­che, en­tre eles vá­rias das pes­soas pre­sas atu­al­mente, e que mais tarde fô­rom ab­sol­vi­das ao mos­tra­rem-se to­das a ir­re­gu­la­ri­da­des e pro­var que o caso nom ti­nha jeito nen­gum. Outras fô­rom víc­ti­mas dumha bru­ta­li­dade po­li­cial mais vis­ce­ral, sendo al­gumhas vi­ti­mas de per­di­gons aos doze anos, como Juam Queipul Milhanao, dis­pa­ros nas per­nas e nas maos aos dez anos como Antu lhanca Quidel, ou sendo se­ques­tra­dos e es­pan­ca­dos polo corpo ofi­cial da po­lí­cia chi­lena, ainda sendo me­no­res de idade. Som es­tes vá­rios ca­sos dos dis­tin­tos pre­sos atu­ais. Ainda que o go­verno afir­mar es­ta­rem pre­sos por de­li­tos co­muns, vendo os an­te­ce­den­tes do Estado chi­leno e as ir­re­gu­la­ri­da­des atu­ais com os ca­sos in­di­vi­du­ais dos pre­sos po­lí­ti­cos ma­pu­che (na pri­som de Angol a mai­o­ria le­vam me­ses em pre­ven­tiva ao apli­car­lhes a Lei Antiterrorista) é claro que existe umha in­ten­ci­o­na­li­dade po­lí­tica e umha per­se­gui­çom de­li­be­rada a de­ter­mi­na­dos in­di­ví­duos ape­nas por se­rem mapuche.

Mapuches pre­sos em greve de fome. Acima e de es­querda a di­reita: Queipul, llan­qui­leo, Nahuelpi, llanca, cal­bu­coy, Marileo, le­vi­nao e Penchulef.

O que se busca com a greve de fame co­le­tiva (nas pri­sons de Angol, Temuco e Lebu) é o cum­pri­mento do con­vé­nio 169 da OIT so­bre Povos Indígenas e Tribais em Países Independentes, as­si­nado polo go­verno chi­leno em 2008 de­pois de mui­tos anos de luita po­lí­tica, mas que nunca foi apli­cado na sua to­ta­li­dade. Dito con­vé­nio é a única fer­ra­menta a ní­vel in­ter­na­ci­o­nal ju­ri­di­ca­mente vin­cu­lante que trata de pro­te­ger os di­rei­tos dos po­vos in­dí­ge­nas do co­lo­ni­a­lismo e ra­cismo ins­ti­tu­ci­o­nal tam pre­sente  na atu­a­li­dade. Entre os seus ar­ti­gos des­ta­cam o re­co­nhe­ci­mento dos po­vos, os seus di­rei­tos so­bre a terra, ter­ri­tó­rio, re­cur­sos na­tu­rais, de­fensa do meio-am­bi­ente e até o di­reito de as­su­mi­rem o con­trole das suas pró­prias ins­ti­tui­çons e de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico den­tro dos mar­cos dos Estados em que re­si­dem. Os pre­sos rei­vin­di­cam con­cre­ta­mente o cum­pri­mento dos ar­ti­gos 8, 9 e 10, que di­tam que quando se im­po­nham san­çons pe­nais a mem­bros de po­vos in­dí­ge­nas de­ve­rám ter-se em conta as suas ca­rac­te­rís­ti­cas so­ci­ais, eco­nó­mi­cas e cul­tu­rais e de­verá dar-se pre­fe­rên­cia a ti­pos de san­çons dis­tin­tas ao en­car­ce­ra­mento (como po­de­ria ser o caso de tras­la­dos a um Centro de Estudos e Trabalho). O go­verno chi­leno se­gue a ig­no­rar es­ses di­rei­tos in­ter­na­ci­o­nais es­cu­sando-se em con­fli­tos bu­ro­crá­ti­cos com nor­ma­ti­vas in­ter­nas en­quanto per­mite a po­lí­cias, como o as­sas­sino de Camilo Catrilhanca, cum­pri­rem ar­resto domiciliário.

Celestino Córdova, por ou­tro lado, sim con­se­guiu um acordo e po­derá vol­tar ao seu rewe (al­tar ma­pu­che sa­grado) du­rante 30 ho­ras, de­pois das quais po­derá ser tras­la­dado a um CET. Os da pri­som de Angol, no 3 de se­tem­bro, aban­do­ná­rom de­pois de 123 dias de greve de fame e 10 dias de greve seca de­vido ao seu grave es­tado de saúde. Isto acon­te­ceu sem che­gar a nen­gum acordo com o go­verno de Piñera.

Celestino Córdova, au­to­ri­dade es­pi­ri­tual dumha co­muna ma­pu­che, ini­ciou umha greve de fame rei­vin­di­cando cum­prir parte da sua pena na sua casa. À greve so­má­romse ou­tros 26 pre­sos po­lí­ti­cos mapuches

O mesmo pas­sou no 9 de se­tem­bro com os 12 pre­sos po­lí­ti­cos da pri­som de Lebu e ou­tros 3 da de Temuco, tam­bém por mo­ti­vos de saúde e sem che­gar a acordo, ade­mais de te­rem sido ví­ti­mas de ma­lhei­ras no 31 de agosto es­tando na greve de fame e ser tras­la­da­dos ile­gal­mente à re­giom do Biobío sem no­ti­fi­car aos seus advogados.

Pola sua parte, os pre­sos re­jei­tam os cha­ma­dos “diá­lo­gos in­ter­cul­tu­rais” do go­verno, as­si­na­lando que se trata dumha im­po­si­çom e que nom exis­tem con­di­çons re­ais para fa­lar em diá­logo. Recentemente for­mou-se o cha­mado Comité Walhmapu com o ob­je­tivo de es­ta­be­le­cer um di­a­logo en­tre o Estado chi­leno e o povo ma­pu­che, mais a sua pri­meira reu­niom com o go­verno no 9 de se­tem­bro foi re­ce­bida com pro­tes­tos dos ma­pu­ches. Estes cri­ti­ca­vam que a au­to­ri­dade das pes­soas que con­vo­ca­vam dita reu­niom era ques­ti­o­nada e nom re­co­nhe­cida polo resto dos ter­ri­tó­rios, es­cla­re­cendo que o que o go­verno que­ria pas­sar por um futa trawüm (grande en­con­tro) nom era mais do que um la­vado de cara onde este es­co­lheu a dedo a in­di­ví­duos ma­pu­che para “di­a­lo­gar”, en­quanto que para um trawüm som ne­ces­sá­rios to­dos e to­das as re­pre­sen­tan­tes ma­pu­ches (dú­zias de pes­soas de to­dos os territórios).

Pese a todo, os vo­zei­ros ma­pu­che afir­mam que nom há der­rota e que es­tes três me­ses de mo­bi­li­za­çom fô­rom um grande avanço para o seu povo. Esta afir­ma­çom pode de­ver-se a to­das a mo­bi­li­za­çons que houvo du­rante as gre­ves de fame, tanto à en­trada dos cár­ce­res como nas dis­tin­tas co­mu­nas de cen­te­nas de pes­soas (nom ex­clu­si­va­mente ma­pu­ches), com o que se con­se­guiu vi­si­bi­li­zar e pôr so­bre a mesa o abuso do Estado.

Ainda que no mo­mento em que este ar­tí­culo é re­di­gido nom há gre­ves de fame nas pri­sons chi­le­nas po­los mo­ti­vos pre­vi­a­mente ex­pli­ca­dos, é de es­pe­rar que volte ha­ver, as­sim como pro­tes­tos fora dos cár­ce­res caso do Estado se­guir sem ofe­re­cer so­lu­çons re­ais ao conflito.

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