Periódico galego de informaçom crítica

Cúntis revive Joám Jesús Gonçalves

por
xa­bier vieiro

No passado 12 de outubro o Centro Sociocultural Xosé Raído Patelas de Cúntis acolheu umha estreia muito especial no âmbito da recuperaçom histórica do lugar, que conseguiu congregar 200 amigos e vizinhas. Trata-se do documentário ‘O Canteiro de Sebil’, produzido por Quinteiro do Úmia, que homenageia a figura do político, advogado, escritor e canteiro de Cúntis, Joám Jesus Gonçalves. Joám Jesus foi assassinado polos fascistas em setembro de 1936, ao ser apressado após umha vida de firme compromisso com o sentir nacional do país.

A ideia de fa­zer um do­cu­men­tá­rio so­bre o can­teiro de Sebil nas­ceu a par­tir da ela­bo­ra­çom do li­vro de po­e­mas Verbo na ar­ria, que deu passo à gra­va­çom de um book trai­ler, que mais tarde me­dra­ria até se con­ver­ter num ví­deo que con­se­guiu re­cons­truir pola pri­meira vez vá­rias das ce­nas mais re­le­van­tes da vida do ho­me­na­ge­ado, junto com o tes­te­mu­nho de fa­mi­li­a­res e vizinhança.

O que que­ría­mos plas­mar é a me­mó­ria que re­ce­bê­ra­mos das nos­sas avós e dos nos­sos avôs so­bre a re­pres­som na zona e tam­bém res­ga­tar um le­gado que nós re­ce­bê­ra­mos vivo, atra­vés da me­mó­ria de umha época que era umha fer­vença de ideias e pro­je­tos”, conta César Caramês, de Quinteiro do Úmia.

Numha época em que avon­da­vam os sin­di­ca­tos agrá­rios e os jor­nais pró­prios na co­marca, fa­ziam-se no­tar per­so­na­gens como Joám Jesus Gonçalves ou Roberto Blanco Torres, am­bos in­de­pen­den­tis­tas e de es­quer­das. “A nossa in­ten­çom era re­cu­pe­rar todo isto e de­sin­te­lec­tu­a­li­zar um pouco a forma de fa­zer his­tó­ria, contá-lo todo de abaixo e fa­zer um pe­queno pa­ra­le­lismo com a his­tó­ria da classe obreira bri­tâ­nica, para o que Joám Jesus era um re­ci­pi­ente per­feito”, ex­plica Caramês.

A pers­pe­tiva de um canteiro

A sua perspetiva é a “de um canteiro que o passou mal a trabalhar por quatro pesos, que militou sempre no movimento sindical e que entende a questom nacional da sua própria classe social, o que marca umha diferença a respeito do resto”

A luita de Joám Jesus Gonçalves aborda-se no do­cu­men­tá­rio atra­vés de vá­rios te­mas ape­ga­dos ao seu pen­sa­mento, en­tre os que des­ta­cam a uniom da ques­tom so­cial e na­ci­o­nal num único dis­curso, o seu tra­ba­lho sin­di­cal e mais o fe­mi­nismo. Segundo conta César Caramês, “Joám Jesus era fe­mi­nista an­tes de tempo” em re­la­çom ao mo­mento his­tó­rico do país. “Quando o resto está pe­dindo o voto fe­mi­nino, ele dize que nom avonda com isso, se­nom que há que fa­zer que a mu­lher deixe de ser um ob­jeto se­xual”, ex­plica. O do­cu­men­tá­rio pre­tende abor­dar to­dos es­ses pon­tos de vista da base, já que o seu pro­ta­go­nista chega a to­das es­sas con­clu­sons por­que a sua pers­pe­tiva “nom é a de um in­te­lec­tual de classe meia como Risco, nem a de um fun­ci­o­ná­rio como os do Partido Galeguista dos anos 30”.

Segundo conta Caramês, trata-se da pers­pe­tiva “de um can­teiro que o pas­sou mal a tra­ba­lhar por qua­tro pe­sos, que mi­li­tou sem­pre no mo­vi­mento sin­di­cal e que en­tende a ques­tom na­ci­o­nal da sua pró­pria classe so­cial, o que marca umha di­fe­rença a res­peito do resto”.

Desta forma, o do­cu­men­tá­rio pre­tende dei­xar bem claro que as in­ten­çons de Joám Jesus Gonçalves com o país som pu­ras e sem in­te­resse al­gum. “O que fai nom é por­que queira ser es­cri­tor nem nada pa­re­cido, se­nom por­que há que fazê-lo, já que é ne­ces­sá­ria umha mu­dança so­cial”, as­se­gura Caramês.

Joám Jesus Gonçalves par­ti­ci­pou do Terço de Calo, grupo que er­gueu umha bar­ri­cada na es­ta­çom de Osebe com a in­ten­çom de pa­rar um com­boio com ar­mas para os fas­cis­tas em 1936 | xa­bier vieiro

Criar or­ga­ni­za­çons galegas
Outras ques­tons que, in­ten­ci­o­na­da­mente, pre­ten­dé­rom es­cu­re­cer a fi­gura do can­teiro de Sebil, fi­cá­rom fora do do­cu­men­tá­rio por ser “di­fí­ceis de ex­pli­car” em tam pou­cos mi­nu­tos. Segundo César Caramês, o es­pa­nho­lismo cos­tuma di­fun­dir que Gonçalves in­ten­tou en­trar em Izquierda Republicana du­rante os úl­ti­mos seis me­ses do ano 1935 com a in­ten­çom de des­mi­ti­fi­car o seu fundo sen­tir independentista.

A pe­sar de que isto nom é umha afir­ma­çom falsa, ca­rece de con­texto, já que o que ele tenta é le­var a cabo “umha ma­no­bra para me­ter-se em or­ga­ni­za­çons es­pa­nho­las de to­dos os ei­dos, que som as úni­cas que há de es­quer­das nesse mo­mento, para ra­chá-las e a par­tir de­las criar or­ga­ni­za­çons ga­le­gas”. Segundo Caramês, a ideia “tem-na cla­rís­sima desde o pri­meiro mo­mento”, polo que a vi­som con­trá­ria dos fac­tos que deu o na­ci­o­na­lismo nom in­de­pen­den­tista “é um ab­surdo”. “Para criar umha or­ga­ni­za­çom num país onde nom ha­via ab­so­lu­ta­mente nada, tés que me­ter-te nas que já há e ra­chá-las para criar umhas pró­prias”, dize.

Implicaçom da vizinhança

“Para criar umha organizaçom num país onde nom havia absolutamente nada, tés que meter-te nas que já há e rachá-las para criar umhas próprias”

Neste con­texto e com a ideia bem clara, o pes­soal de Quinteiro do Úmia deu jun­tado en­tre 40 e 50 pes­soas que, de forma to­tal­mente de­sin­te­res­sada e au­to­ge­rida, re­criá­rom as ce­nas que se po­dem ver no do­cu­men­tá­rio. “Umha das ideias mais im­por­tan­tes que tí­nha­mos era im­pli­car as vi­zi­nhas e vi­zi­nhos para que pu­des­sem par­ti­ci­par na re­cu­pe­ra­çom da sua his­tó­ria, e acho que nal­gumhas ce­nas pu­de­mos con­se­gui-lo”, conta Caramês, quem tam­bém des­taca a co­la­bo­ra­çom e tes­te­mu­nho da fa­mí­lia do can­teiro de Sebil como umha das pe­ças fun­da­men­tais do do­cu­men­tá­rio. De facto, lem­bra, um dos mo­men­tos mais sen­ti­men­tais du­rante a apre­sen­ta­çom em Cúntis tivo que ver com a so­bri­nha fa­vo­rita de Joám Jesus Gonçalves, Carme, a quem “Lola Mora e Joám Jesus lhe le­va­vam do­ces da do­ça­ria que ti­nha a fa­mí­lia dela. Esta do­ça­ria se­gue aberta na Rua do Vilar, com­pra­mos ali os do­ces e dê­mos-lhos na apre­sen­ta­çom, tal e como lhos le­va­vam eles”.

O su­cesso du­rante a apre­sen­ta­çom em Cúntis foi tal que o do­cu­men­tá­rio vol­tou-se re­pro­du­zir após 15 dias na Estrada. Também vi­si­tará Compostela o dia 2 de de­zem­bro, com atu­a­çom mu­si­cal in­cluída, e a equipa con­tem­pla levá-lo tam­bém para Ourense e A Corunha en­tre os me­ses de de­zem­bro e janeiro.

O último de O bom viver

Ir Acima