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Daniel Amarelo: “Este é um produto que questiona a normatividade cultural galega”

por
lois bua

Este mês sae à luz ‘Nós, xs inadaptadxs’, o primeiro livro CUIR na Galiza, que vem da mao do editor de Narom Daniel Amarelo, coordenador do trabalho. O livro pretende ser a voz de todas aquelas coletividades que, juntas, querem abrir as fronteiras da construçom coletiva da Galiza, com textos que vam das artes cénicas, à ciência ou à música até às próprias vivências, com a pluralidade por bandeira.

Como é que co­meça o ca­mi­nho deste livro?

Todo co­meça há um ano, no ve­rao pas­sado. Eu ti­nha coin­ci­dido com gente do fes­ti­val Agrocuir em jor­na­das e fi­ge­mos umhas apre­sen­ta­çons, ti­ve­mos muito bom fe­e­ling, e con­vi­dá­rom-me a co­or­de­nar umha mesa re­donda. De aí nas­ceu a re­fle­xom do que ne­ces­si­tá­va­mos, que a Galiza tem umha sé­rie de par­ti­cu­la­ri­da­des no eido CUIR e LGBT. Puidemos di­a­lo­gar so­bre es­tas ques­ti­ons, so­bre o que é o mo­delo LGBTI, e abor­da­mos o de­bate que ques­ti­o­nava essa nor­ma­ti­vi­dade pro­gres­si­va­mente mais am­pla. A par­tir de aí, e como eu som edi­tor de Através, plan­te­ja­mos um li­vro que re­co­lhera todo isto, o pri­meiro li­vro na Galiza que re­co­lha este de­bate. Pugemo-nos maos à obra. Eu o que fi­gem foi con­ta­tar com todo o mundo que co­nheço que pui­desse ache­gar so­bre o tema, gente do ati­vismo, aca­dé­mica, es­cri­to­res e es­cri­to­ras li­te­rá­rias, pes­qui­sa­do­res ou gente que le­vava pro­je­tos con­cre­tos. Afinal con­se­gui­mos jun­tar es­tas 22 pes­soas e co­le­ti­vos e fi­cou algo bas­tante jeitoso.

Por que fa­la­mos do con­ceito de inadaptadxs?

O tí­tulo foi o mais di­fí­cil de todo o pro­cesso, por­que nin­guém aca­bava de gos­tar. Nom que­ría­mos nada ex­ces­si­va­mente aca­dé­mico, e que­ría­mos fu­gir do tí­pico slo­gan Junta da Galiza. Afinal che­ga­mos à ideia do texto de Vicente Risco, ‘Nós os ina­dap­ta­dos’, que fala dessa co­mu­ni­dade ga­lega, in­te­lec­tual, li­gada ao grupo Nós, que no con­texto em que es­ta­vam na­quele mo­mento eram uns ina­dap­ta­dos. O texto de Risco, evi­den­te­mente nom tem nada a ver com este pro­jeto. Os ina­dap­ta­dos de Risco eram umha ques­tom mui clas­sista e mas­cu­li­nista, e pen­sa­mos que já que se te­nhem re­for­mu­lado os mi­tos e as re­fe­rên­cias na­ci­o­nais ga­le­gas po­de­mos fazê-lo tam­bém aqui. E, em vez de ser os ina­dap­ta­dos, so­mos xs inadaptadxs.

De umha mesa re­donda no Agrocuir nas­ceu a re­fle­xom do que ne­ces­si­tá­va­mos, que a Galiza tem umha sé­rie de par­ti­cu­la­ri­da­des no eido cuir e LGBT

Qual foi o ponto de in­fle­xom na hora de sa­car adi­ante o projeto?

Eu som umha pes­soa mui en­tu­si­asta. Através é umha edi­tora au­to­ge­rida e a equipa deu-me luz verde por­que via que era um pro­jeto in­te­res­sante. Eu sa­bia que ha­via mui­tos âni­mos tam­bém em di­fe­ren­tes cír­cu­los. Entom, ti­nha o meu en­tu­si­asmo, o in­te­resse de Através Editora e o en­tu­si­asmo das pes­soas que tra­ba­lham nes­tes te­mas. Outra cousa que tam­bém me ani­mou foi ver que no con­texto es­ta­dou­ni­dense está a ha­ver muita gente que fai es­tu­dos ga­le­gos em uni­ver­si­da­des ame­ri­ca­nas, com umha pers­pe­tiva co­lo­nial, CUIR, que ques­ti­ona a pró­pria na­çom e os pró­prios fun­da­men­tos. Se há gente a mi­lhons de qui­ló­me­tros tra­ba­lhando so­bre a Galiza de umha pers­pe­tiva que ques­ti­ona o tema da se­xu­a­li­dade, do gé­nero e de­mais, se ca­lhar aqui tam­bém nos po­de­ría­mos co­me­çar a fa­zer pro­du­tos cul­tu­rais ou edi­to­ri­ais como neste caso em que se ques­ti­one a pró­pria cons­tru­çom co­le­tiva do que é a Galiza. Este é um pro­duto edi­to­rial que ques­ti­ona os con­cei­tos do que é a nor­ma­ti­vi­dade cul­tu­ral ga­lega, e essa é a chave do projeto.

Que ques­ti­ons con­cre­tas trata de re­sol­ver o li­vro ao longo do relato?

A es­tru­tura que tem o li­vro, em vá­rios blo­cos, une di­ver­sos tex­tos. Cada bloco tem um nome e umha frase, que afi­nal forma umha frase com­pleta. O pri­meiro bloco chama-se ‘Mapeamentos’, e aí tenta-se ma­pear a re­a­li­dade ga­lega, o que se tem feito de umha pers­pe­tiva nom he­te­ros­se­xual, com tex­tos so­bre dança, li­te­ra­tura, ar­tes cé­ni­cas e plás­ti­cas. Depois, ‘Desafios’, aborda o jor­na­lismo, como se in­forma de umha pers­pe­tiva LGTB, a do­cên­cia, e o tema da ci­ên­cia. Sempre se exalta o bi­o­ló­gico, mas há que pen­sar em apa­gar esse bi­o­lo­gismo ex­tremo, e ver que a bi­o­lo­gia tam­bém tem mu­dan­ças e que o na­tu­ral nom tem de ser algo ina­mo­ví­vel. O ter­ceiro bloco fala de per­cur­sos, três tex­tos de pes­soas que ainda que te­nhem a sua ga­le­gui­dade, nom per­ten­cem à Galiza. O quarto bloco chama-se ‘Arquivos’, e nele ques­ti­ona-se o pas­sado, abor­dando a luita po­los di­rei­tos se­xu­ais na Galiza, e aborda o termo ‘trans’ desde ou­tro con­ceito, en­tre ou­tras cou­sas. Há tam­bém umha se­çom so­bre lin­gua­gens e umha úl­tima, que é a de co­le­ti­vi­da­des, em que fa­la­mos com vá­rios co­le­ti­vos como Avante LGTB, Agrocuir da Ulloa, Arelas e Nós Mesas, de Vigo. Eu qui­gem que cada di­ver­si­dade to­casse os te­mas que eram da sua pre­fe­rên­cia, de forma li­vre. Acho que a gente vai gos­tar dos con­teú­dos, ainda que nom é nada fe­chado. Quando haja umha se­gunda ou terça edi­çom po­derá ha­ver mais textos. 

va­len­tim fagim

Neste sen­tido, a pa­la­vra é ‘plu­ra­li­dade’. Pensas que de­fine o es­pí­rito do livro?

Pluralidade e he­te­ro­ge­nei­dade é algo bem de­fi­ni­tó­rio do li­vro, no sen­tido em que há es­ti­los muito di­ver­sos. Mesmo o tipo de si­glas que se uti­li­zam som mui dis­tin­tos. Há quem usa LGBT, CUIR, ma­rondo, ho­mos­se­xual… E a es­co­lha dos te­mas é mui di­versa. Ainda as­sim, acho que con­se­gui­mos che­gar a um fio con­du­tor, já que os tex­tos es­tám si­tu­a­dos no con­texto na­ci­o­nal galego.

O li­vro tam­bém in­clui umha parte mais plás­tica e vi­sual. Qual é o seu peso no relato?

O tema vi­sual é mais com­plexo e tem um peso im­por­tante. Em ma­pe­a­men­tos, nom ti­nha sen­tido edi­tar esse texto sem nen­gumha ima­gem, en­tom a par­tir de aí pen­sei em con­ta­tar tam­bém com gente de be­las ar­tes e que fa­zia obras mais ar­tís­ti­cas. Afinal, em cada se­pa­ra­çom en­tre os blo­cos te­mos umha ima­gem, umha obra con­tem­po­râ­nea. Está Alexandre Folgoso, que é fo­tó­grafo, Teresa Búa, de­se­nha­dora e ar­tista, e ima­gens que acom­pa­nham o li­vro. Queríamos que fosse um li­vro bo­nito, para po­der con­sultá-lo no es­tante, e de aí o tema da capa dura, de ima­gens e de co­res. Como pro­duto fí­sico, o li­vro está cui­dado em quanto ao tema es­té­tico, já que a gente vai in­ves­tir di­nheiro para comprá-lo.

Quanto ao fi­nan­ci­a­mento, con­se­guí­che­des mais do es­pe­rado na cam­pa­nha de Verkami. Em que re­per­cu­tiu isto?

A capa dura era um re­qui­sito que que­ría­mos ter, e por isso pu­ge­mos esse li­mite. O pes­soal im­pli­cou-se muito e com­prou o li­vro, o que de­mons­tra que a so­ci­e­dade ga­lega tem in­te­resse nesse tipo de pro­du­tos, que som al­ter­na­ti­vos e ques­ti­o­nam a pró­pria iden­ti­dade, com vo­zes no­vas de gente dis­si­dente que tra­ba­lha em âm­bi­tos muito diversos.

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