Periódico galego de informaçom crítica

Despavilai-vous

por
Leah Reena Goren

Caio na conta de que es­tou a aban­do­nar os es­pa­ços mis­tos de par­ti­ci­pa­ção num pinga-pinga cons­tante: a as­so­ci­a­ção, o co­le­tivo, o sin­di­cato, to­dos. Não des­per­tei um dia e de­cidi aban­do­nar, não, o que che­gou foi a cons­ci­ên­cia do feito. Para as lei­gas, no fe­mi­nismo de­no­mi­na­mos mis­tos os es­pa­ços que par­ti­lha­mos mu­lhe­res e homens.
Retiro-me ante a clara evi­dên­cia, per­ce­bida no quo­ti­di­ano, de que de ‘es­pa­ços mis­tos’, nada. Mentira! Em re­a­li­dade são cons­tru­ções mas­cu­li­nas, edi­fi­ca­das a ima­gem e se­me­lhança dos se­nho­res, nas quais so­mos con­sen­ti­das as mu­lhe­res en­quanto não pre­ten­de­mos mu­dar as coi­sas, en­tanto acei­te­mos ma­nei­ras, mo­dos, li­de­ra­dos, es­tru­tu­ras. Poucos são os es­pa­ços re­al­mente mis­tos que co­nheço, pen­sa­dos para aco­lher-nos a to­das. Um de­les é Implicadas, ONG que pre­sido e que, ca­su­al­mente, aos ho­mens não vos in­te­ressa. Minoria de sóciOs e au­sên­cia to­tal de activistOs.
Em vá­rios des­ses es­pa­ços de que fago parte (cul­tu­rais, des­por­ti­vos, vi­zi­nhais, sin­di­cais), o con­flito, sem­pre in­te­rior, che­gou quando exerci, fa­lei, atuei, como fe­mi­nista. O con­flito ou o des­con­forto. O mal-es­tar. O sen­tir-me ex-cêntrica.
Duas são as re­bel­dias não consentidas.

Incorporo-me a espaços só nossos. Nos quais não tenho que explicar-me nem justificar-me. Onde encontro pessoas que falam desde os meus mesmos ‘aquis’ e ‘agoras’. Onde não tenho que pedir permissão para opinar e recebo diálogo, nunca silêncios. Onde a minha criatividade cresce exponencialmente.


Uma, ser­mos au­tó­no­mas ao res­peito do pa­dri­nho. Sempre pas­sa­mos a porta, a prova, ava­li­za­das por um pig­ma­lião in­terno que de­ve­mos se­guir, ce­gas. Fomos es­co­lhi­das com um ob­je­tivo e não de­ve­mos sair dele. Quase sem­pre o mesmo ob­je­tivo: dar ca­rimbo de igual­dade de gê­nero a en­ti­da­des que não cum­prem os mí­ni­mos. Quando salta à vista? Quando de­ci­di­mos fa­lar alto e sem per­mis­são. Cuidado de ter­mos voz própria!
A se­gunda, ti­rar de agenda fe­mi­nista, se­jam os cui­da­dos, as quo­tas, as vi­o­lên­cias. Em es­pe­cial as vi­o­lên­cias. Aparece aí o deí­tico: aqui e/ou agora não toca. Nunca toca. O nosso aqui nunca é o da en­ti­dade e o nosso agora sem­pre é fu­turo in­de­fi­nido. Como se aqui e agora não fôs­se­mos a me­tade da população.
E uma exi­gên­cia, acom­pa­nhando: aprende-me. Explica-me. Dá-me mas­ti­ga­di­nha a te­o­ria fe­mi­nista para eu não pas­sar tra­ba­lhos. Que eu sou fe­mi­nisto, mas não cai na conta disso. Ilumina-me.
E sinto que me vou indo. Esgotada. Incorporo-me a es­pa­ços só nos­sos. Nos quais não te­nho que ex­pli­car-me nem jus­ti­fi­car-me. Onde en­con­tro pes­soas que fa­lam desde os meus mes­mos ‘aquis’ e ‘ago­ras’. Onde não te­nho que pe­dir per­mis­são para opi­nar e re­cebo diá­logo, nunca si­lên­cios. Onde a mi­nha cri­a­ti­vi­dade cresce exponencialmente.
Tenho-me por mu­lher va­li­osa. E par­ti­lho es­pa­ços com mu­lhe­res mui va­li­o­sas. Vós sóis quem nos perdeis.
Homens: Despavilai!
Repensai o vosso mundo. Reconstruí as vos­sas mas­cu­li­ni­da­des. Mas fazei‑o vós. É o vosso tra­ba­lho. O vosso es­forço. É pos­sí­vel que pen­seis que não pre­ci­sais, que o vosso mundo está bem as­sim. É provável.
Mas a nossa força é im­pa­rá­vel. Bem a mos­tra­mos no 8 de março. É pro­vá­vel que fi­queis amar­ra­di­nhos ao sé­culo XX en­tanto nós avan­ça­mos, uni­das e fe­li­zes, pe­las gran­des ave­ni­das do sé­culo XXI. Vós vereis.

PS: nunca par­ti­ci­pei em co­le­ti­vos de direita.

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