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Dixie Edith Trinquete: “Agora estamos no momento complexo de enfrentar a subjetividade e os costumes”

por
luísa cu­e­vas raposo

No passado mês de março a jornalista especializada em género, demógrafa e professora na Faculdade de Comunicaçom da Universidade de La Habana Dixie Edith Trinquete visitou o nosso país para ministrar umha série de palestras com o título ‘Cuba: Mulheres e Revoluçom. Estas atividades desenvolvérpm-se em Vigo, Compostela e Ferrol, e fôrom organizadas pola Associaçom de Amizade Galego-Cubana Francisco Villamil, a Marcha Mundial das Mulheres e  o ‘Movimiento Estatal de Solidaridad con Cuba’. Nestes dias, Trinquete tivo tempo de atender o Novas da Galiza e expor quais som os avanços na luita contra o patriarcado na Cuba socialista.

Dixie, conta-nos em que mu­dou a si­tu­a­çom da mu­lher cu­bana após o triunfo da Revoluçom.

As mu­dan­ças so­ci­ais ocor­ri­das neste ar­qui­pé­lago du­rante a se­gunda me­tade do sé­culo XX pu­gé­rom as mu­lhe­res no cen­tro dum pro­cesso con­si­de­rado polo pró­prio Fidel como umha “re­vo­lu­çom den­tro da re­vo­lu­çom” Em 1959 elas es­ta­vam en­tre os se­to­res mais dis­cri­mi­na­dos e ex­plo­ra­dos da so­ci­e­dade, con­fi­na­das à vida pri­vada, e mui­tas de­las an­gus­ti­a­das pola po­breza. Se eram ne­gras ou mes­ti­ças, mesmo pior. 

Nessa al­tura tra­ba­lha­vam por volta das 194.000 mu­lhe­res, na mai­o­ria como mes­tras, en­fer­mei­ras ou ope­rá­rias. Eram as pior re­mu­ne­ra­das. 70% eram em­pre­ga­das do­més­ti­cas ou su­bem­pre­ga­das. Também cons­ti­tuíam a maior parte das pes­soas anal­fa­be­tas. Nessas pri­mei­ras dé­ca­das dos anos 60 le­gis­lou-se so­bre igual­dade sa­la­rial e so­bre an­ti­con­cep­çom e acesso ao aborto, di­rei­tos que se man­te­nhem até o dia de hoje. A Federaçom de Mulheres Cubanas (FMC) pro­pujo-se ele­var o ní­vel edu­ca­ci­o­nal das mu­lhe­res e a sua in­cor­po­ra­çom ao es­paço pú­blico. Elas fô­rom 55% das pes­soas al­fa­be­ti­za­das nos anos 60 e 59% das pes­soas que fi­gê­rom la­bor de al­fa­be­ti­zar. Mais adi­ante vi­ria a con­ti­nuar-se com as ba­ta­lhas por al­can­çar o sexto e o no­veno grau educativo.

Começou-se a le­gis­lar com con­cei­tos jus­tos, abonda para ver o Código de Família e mais a Constituiçom de 1976. As mu­lhe­res ga­nhá­rom res­peito, pres­tí­gio e autoridade. 

Porém, eu digo sem­pre que o sis­tema pa­tri­ar­cal é com­pa­tí­vel tanto com o ca­pi­ta­lismo, quanto com o so­ci­a­lismo. Achas que é as­sim e por­tanto, após o 59 e ape­sar dos avan­ces, con­ti­nua a exis­tir desigualdade?

Os tem­pos te­nhem mu­dado. Hoje o mundo é ou­tro e, é claro, as lui­tas som ou­tras tam­bém. A jor­na­lista Isabel Moya ‑fe­mi­nista e aca­dé­mica cu­bana já fa­le­cida- di­zia na sua der­ra­deira en­tre­vista que o pri­meiro pe­rigo para as mu­lhe­res cu­ba­nas era, pre­ci­sa­mente, pen­sa­rem que já es­tava todo feito.

Quando olha­mos para as es­ta­tís­ti­cas e ve­mos a quan­ti­dade de mu­lhe­res no Parlamento, a quan­ti­dade de ci­en­tis­tas e pro­fis­si­o­nais, po­demo-nos fa­zer umha ideia des­fi­gu­rada da re­a­li­dade. Agora es­ta­mos no mo­mento mais com­plexo, o de en­fren­tar a sub­je­ti­vi­dade, a cul­tura, os juí­zos de va­lor e os cos­tu­mes. O de de­sar­mar os es­te­reó­ti­pos e os mi­tos, e re­fle­tir em co­le­tivo so­bre as­sun­tos que, de tam re­pe­ti­dos, vi­rá­rom tam na­tu­rais que nom os re­co­nhe­ce­mos como dí­vi­das, como pon­tos pendentes.

Duplas jor­na­das de tra­ba­lho, so­bre­carga das res­pon­sa­bi­li­da­des dos cui­da­dos, dis­tri­bui­çom dos ro­les por sexo; o as­sé­dio na­tu­ra­li­zado em pi­ro­pos; o se­xismo nos meios de co­mu­ni­ca­çom; a vi­o­lên­cia de gé­nero em to­das as suas for­mas… Estamos a vi­ver tem­pos de re­po­si­ci­o­nar o fe­mi­nismo, de re­to­mar a agenda de gé­nero para re­fle­tir so­bre a forma em que as mil e umha coi­tas quo­ti­di­a­nas im­pac­tam de ma­neira di­fe­ren­ci­ada a mu­lhe­res e ho­mens; mas tam­bém a pes­soas de di­fe­rente ori­en­ta­çom se­xual, iden­ti­dade de gé­nero ou qual­quer umha ou­tra diversidade.

Estamos a vi­ver tem­pos de re­po­si­ci­o­nar o fe­mi­nismo, de re­to­mar a agenda de gé­nero para re­fle­tir so­bre como as coi­tas quo­ti­di­a­nas im­pac­tam de ma­neira di­fe­ren­ci­ada a mu­lhe­res e ho­mens; mas tam­bém a pes­soas de di­fe­rente ori­en­ta­çom se­xual ou iden­ti­dade de género”

Nestes úl­ti­mos anos e neste mesmo mo­mento está a ha­ver im­por­tan­tes mu­dan­ças le­gis­la­ti­vas e de­ba­tes, como o novo Código das Famílias, vi­o­lên­cia de gé­nero, … Di-nos até que ponto se está a apro­fun­dar em pôr em ques­tom o sis­tema patriarcal.

Penso que, como diz um pro­vér­bio chi­nês, “o pri­meiro passo é o mais longo” e já o es­ta­mos a o dar. O ano 2020, ape­sar da pan­de­mia, nom foi tam imó­vel se olhar­mos para os avan­ces le­gis­la­ti­vos e nor­ma­ti­vos em ques­tons de gé­nero e di­rei­tos. Durante es­ses me­ses fô­rom-se co­zi­nhando pro­pos­tas e me­di­das para des­na­tu­ra­li­zar a de­si­gual­dade e com­ba­ter o patriarcado.

Em 2020 Cuba apro­vou o seu Programa Nacional para o Avanço das Mulheres (PAM), atu­a­li­za­çom do Plano Nacional de Seguimento à Plataforma de Açom de Beijing e do­cu­mento pro­gra­má­tico para o em­po­de­ra­mento fe­mi­nino. O pro­grama ‑e esse é tal­vez o seu prin­ci­pal va­lor-nasce do es­pí­rito in­con­forme e a de­ter­mi­na­çom de nom dar por con­cluída a ba­ta­lha pola igual­dade, ape­sar dos ine­gá­veis di­rei­tos con­quis­ta­dos. Insere-se, ade­mais, no ca­mi­nho re­no­va­dor que dei­xou aberta a apro­va­çom da nova cons­ti­tui­çom em 2019.

Palestra de Dixie Edith Trinquete, em Vigo. (mi­guel riaño)

A Linha Telefónica 103, nos iní­cios an­ti­droga, alar­gou as suas fun­çons à aten­çom e de­ri­va­çom de in­que­dan­ças ou de­nún­cias vin­cu­la­das com as vi­o­lên­cias de gé­nero e ou­tros maus-tra­tos que acon­te­cem no ce­ná­rio fa­mi­liar. A cam­pa­nha Junt@s pola Nom Violência, ini­ci­a­tiva da FMC para vi­si­bi­li­zar o com­pro­misso po­lí­tico e ins­ti­tu­ci­o­nal com a eli­mi­na­çom da violência6, apre­sen­tou-se como fase ini­cial dum es­forço muito mais am­plo que, com a men­sa­gem de ‘Tolerância Zero’, acom­pa­nhará a Estratégia Integral Cubana de Prevençom e Atençom à Violência de Género e Intrafamiliar, apro­vada no fim de 2021.

Outras nor­ma­ti­vas como o Código dos Processos ou Lei Processual e o Código das Famílias, agora mesmo em de­bate po­pu­lar pré­vio à sua apro­va­çom, tam­bém in­cor­po­ram na sua for­mu­la­çom pers­pe­ti­vas de gé­nero explícitas. 

Em Cuba, como nou­tras par­tes do mundo, falta ainda muito por ga­nhar em cons­ci­ên­cia de gé­nero e fe­mi­nista. Mas sim se ob­ser­vam mu­dan­ças. O jeito em que se co­me­mo­rou este 8 de março dá boa mostra”

Neste úl­timo 8 de março tem ha­vido con­vo­ca­tó­rias, so­bre todo de gente nova, aber­ta­mente fe­mi­nis­tas e an­ti­pa­tri­ar­cais É isto umha novidade?

Em Cuba, como nou­tras par­tes do mundo, falta ainda muito por ga­nhar em cons­ci­ên­cia de gé­nero e fe­mi­nista. Mas sim se ob­ser­vam mu­dan­ças, mo­vi­mento. O jeito em que se co­me­mo­rou este 8 de março dá boa mos­tra, por quanto se tra­tou dumha jor­nada li­lás mais de rei­vin­di­ca­çom do que de ce­le­bra­çons. Com o im­pulso dumha con­vo­ca­tó­ria do mo­vi­mento so­ci­a­lista e po­pu­lar Pañuelos Rojos baixo o lema ‘Al ca­rajo el pa­tri­ar­cado’, pujo-se em causa a di­vi­som se­xual do jogo e do tra­ba­lho do­més­tico, o as­sé­dio, as vi­o­lên­cias ma­chis­tas e o fe­mi­cí­dio. Neste 2022 nom fal­tá­rom as ha­bi­tu­ais con­fe­rên­cias, en­tre­vis­tas, cró­ni­cas te­le­vi­si­vas, pos­tais… em que nom co­lhe a lis­ta­gem in­ter­mi­ná­vel de ex­pe­ta­ti­vas an­ti­pa­tri­ar­cais; mas neste ano vi­nhé­rom so­mar-se fes­ti­vais au­to­ge­ri­dos, ini­ci­a­ti­vas em pro­vín­cias, en­con­tros en­tre uni­ver­si­tá­rias para fa­zer par­ti­lhas desde a so­ro­ri­dade, ou apre­sen­ta­çons co­mu­ni­tá­rias e de rua.

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