
A Asociación de Estudos Laborais Feministas nasce em 2018 para procurar umha resposta a um sistema laboral que nom contempla os cuidados como parte do trabalho, em que as mulheres ficam com umha grande parte dos piores postos no emprego, menores salários e mais temporalidade e em que a formaçom da populaçom em matéria de direitos laborais é “ínfima”. Com a proposta de “deixar de pensar que o cenário é o que colocavam Marx ou Engels”, convidam mais mulheres a juntarem-se ao grupo para continuar a levantar questons. O Novas da Galiza fala com as suas integrantes.
Como surge a Asociación de Estudos Laborais Feministas? Por que decidistes juntar-vos e com que objetivos?
A ideia já estava rondando desde há anos, mas foi após o verao de 2018 que umhas 4–5 mulheres nos juntamos para ver a viabilidade do que poderia ser um sindicato feminista. Nom um sindicato no sentido convencional, mas umha entidade que da perspetiva feminista organizasse as mulheres tendo em conta as nossas necessidades laborais e sociais, à margem de termos contrato laboral ou nom ou de sermos autónomas ou trabalhadoras por conta alheia.
Logo nos demos conta que para criarmos algo que nom existe íamos necessitar de tempo, de trabalho e de mais pessoas. O grupo abriu-se no verão de 2019, tomamos a forma jurídica de associaçom e focámo-nos no primeiro passo que era formar-nos, dar-nos a conhecer e somar mais vozes ao projeto.
Os nossos objetivos som a defesa dos direitos laborais e a denúncia da sua violaçom; redefinir e ampliar o conceito de trabalho desde a perspetiva da economia feminista, promover a autonomia das trabalhadoras no conhecimento e demanda dos seus direitos, e criar redes de apoio e recursos comuns.
“Trata-se também de criar redes locais com outras em que nos podamos apoiar, e de criar espaços onde nos perguntemos de que precisamos”
Como se aplica a perspetiva feminista neste campo?
É a base de todo este processo. É colocar a vida no centro, e dizê-lo é mais fácil do que fazê-lo, pero se trata nom só de defender os direitos de trabalho remunerado, mas também de criar redes locais com outras em que nos podamos apoiar, e de criar espaços onde nos perguntemos de que precisamos, como ponto de partida. A resposta pode ser nom ter um trabalho numha empresa ou um negócio próprio, ou nom trabalhar no sentido convencional, seja no que agora chamamos cuidados, ou seja na açom social.
No trabalho da associaçom cara fora aplica-se visibilizando as realidades diferentes que vivemos as mulheres e, em geral, as identidades fora do “homebrancocishetero” nos espaços públicos e no ámbito laboral. Revalorizando desde o valor económico de trabalhos desvalorizados, como os cuidados, assim como outras retribuiçons dentro da economia feminista, como a troca de formaçom e saberes. Em definitivo, conectar o trabalho com a vida.
Isto tentamos pô-lo na prática também dentro da própria associaçom, partindo dumha ética feminista na qual aplicar outras formas de relaçom e organizaçom, que tenham em conta a nossa interdependência e diversidade, e que deixem fora a reproduçom de dinámicas de poder e hierarquias de valores, habilidades, roles…procedentes dumha estrutura patriarcal.

Este 8‑M centrou as reivindicaçons nos cuidados, tendes em conta os trabalhos tradicionalmente nom remunerados nos vossos estudos?
A visom convencional de associar trabalho a emprego remunerado tem muito que ver com a ideia capitalista que pom valor económico a todo aquilo do que pode obter beneficio exclusivamente monetário, com a conseguinte fenda social e de género. O trabalho reprodutivo nom recebe a remuneraçom nem o reconhecimento social suficiente para que os grandes grupos sindicais o tenham em conta. Nom fica bem nos números, porque nom tem detrás o poder hegemónico e normativo do capital.
O trabalho reprodutivo nom recebe a remuneraçom nem o reconhecimento social suficiente para que os grandes grupos sindicais o tenham em conta.
O desafio em que devemos trabalhar é revirarmos semelhante visom e darmos aos cuidados (tarefas invisibilizadas), já nom só valor económico, mas umha ponderaçom mais alta na perceçom social da hierarquizaçom dos trabalhos. Isto é, cuidar da tua família deveria ser visto como um êxito “pessoal”, mais do que ser diretriz dumha multinacional. Os cuidados das pessoas e do ambiente som condiçom sine qua non para desenvolver todos os demais trabalhos e atividades, premissa que nom se reflete no sistema económico-social em que vivemos.
Que significou a reforma laboral em matéria de direitos das trabalhadoras?
Nestes anos de crise económica, a reforma laboral, em combinaçom com os cortes em gasto público (em serviços sociais especialmente), acarretárom umha deterioraçom substancial nas condiçons laborais e de cotizaçons das mulheres. Regulaçons de emprego, modificaçom nas cotizaçons dos contratos a jornada parcial, parálise de planos de igualdade e conciliaçom, flexibilizaçom do despido, …. todo isso jogou em contra das mulheres, que continuamos a ver como os nossos salários som quase 25% mais baixos que os dos homens, que assinamos a maior parte dos contratos a jornada parcial e temporários, que temos umha maior taxa de desemprego em todas as faixas etárias e que vemos com desgosto e preocupaçom como dous terços das pensionistas estám abaixo do limiar da pobreza.
Os sindicatos tradicionais falhárom no momento de se adaptar às mudanças no ámbito laboral?
Os sindicatos tradicionais deixárom de alinhar com firmeza com as pessoas trabalhadoras e tivérom nestes anos posiçons mui tépidas ante os atropelos das reformas laborais, regulaçons de emprego e perdas de direitos laborais e mesmo civis. Nalgum momento começárom a afastar-se da cidadania e perdérom credibilidade. Ademais, estám articulados com estruturas organizativas e de funcionamento mui rígidas e patriarcais, difíceis de dinamizar e de adaptar às demandas e necessidades das mulheres trabalhadoras.
Tampouco representam a diversidade de trabalhadoras que existe na atualidade. Há muitas mulheres que som autónomas (dadas ou nom de alta formalmente na segurança social), trabalhadoras independentes, nas áreas de serviços sociais, atençom sanitária, educaçom nom-formal, de género, tecnologias, arte… gerindo pequenos comércios e serviços, ou formando cooperativas. Assumem com frequência em solitário e soidade toda a carga administrativa e fiscal do sistema laboral, com condiçons injustas que dificultam o seu trabalho e vida, pero nom contam para os sindicatos. Como tampouco contam as mulheres que cuidam, que realmente sustentam o mundo, nom entram dentro do conceito de trabalho oficial e patriarcal. E portanto ficam fora.
“Há muitas mulheres que som autónomas (dadas ou nom de alta formalmente na segurança social), trabalhadoras independentes, nas áreas de serviços sociais, atençom sanitária, educaçom nom-formal, de género, tecnologias, arte… gerindo pequenos comércios e serviços, ou formando cooperativas. Assumem com frequência em solitário e soidade toda a carga administrativa e fiscal do sistema laboral, com condiçons injustas que dificultam o seu trabalho e vida, pero nom contam para os sindicatos.”
É necessitaria umha perspetiva feminista que redefina e amplie o conceito de trabalho como principal objetivo e fundamento da sua açom e estudo. Deixar de pensar que o cenário é o que colocavam Marx ou Engels. É necessário situar-se no século XXI e deixar de falar de luita sindical desde as trincheiras das elites para começar a ser umha ferramenta útil, acessível e gerada a partir da base.
Notades a faltar umha maior formaçom da populaçom em matéria de direitos? Quais som as principais dificuldades para as pessoas acederem a estes conhecimentos?
Os conhecimentos que possui a maioria da populaçom sobre os seus direitos (em geral e nom só os laborais) som ínfimos. Este desconhecimento desempodera, torna-nos mais vulneráveis ainda diante dos possíveis abusos de quem detém o poder e o capital.
As ferramentas existentes para o acesso a esta informaçom fôrom criadas por quem nom precisa delas polo que, à semelhança do que acontece com outros consentimentos, ficam relegados a umha “elite” da sociedade que pode contratar aconselhamento ou dispom dumha vida privilegiada em que nom é necessário. Nos planos de estudos obrigatórios nom se contemplam como conhecimentos básicos para logo poderes enfrentar a etapa adulta com autonomia.
Nom podemos pedir a ninguém que se sente a estudar textos legais, expressos numha gíria mui afastada da linguagem comum. Há que “traduzi-los” e torná-los compreensíveis a todas as pessoas com independência da idade ou formaçom académica. Por isso, constitui esta umha das áreas de trabalho da Aselafem, a da formaçom e divulgaçom.
Nom podemos pedir a ninguém que se sente a estudar textos legais, expressos numha gíria mui afastada da linguagem comum. Há que “traduzi-los” e torná-los compreensíveis a todas as pessoas com independência da idade ou formaçom académica.
Na associaçom já figemos umha atividade em novembro de 2019 “Surfando nas leis”, com mui boa participaçom, tratando precisamente o ámbito do direito laboral. Está claro que se nom sabemos que direitos temos nom os imos utilizar, e nunca nos imos considerar agentes ativas da sociedade.
O grande desafio é que luitamos contra um sistema que nos marca cada hora do dia, especialmente às mulheres que temos de conciliar o trabalho reprodutivo com os trabalhos produtivos remunerados, cumprindo as expectativas e horários impossíveis da sociedade patriarcal. Isto, sem dúvida, deixa-nos pouco tempo para nós e o nosso cuidado, e muito menos para sermos parte da construçom política da sociedade.
Um projeto laboral feminista que queira que a sua base sejam as mulheres tem que ter em conta as nossas necessidades e dificuldades em participar, a nossa diversidade, a nossa vulnerabilidade. O caminho pode ser difícil, mas na associaçom temos a certeza de que dando um passo após outro aprenderemos a caminhar juntas. E queremos que muitas mais se juntem a nós.