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Fazemos um trabalho em comunidade, todas cedemos para ganhar em comum”

por
ze­lia garcia

Junto ao monte da Buraquinha, no bairro de Teis, resiste às ameaças de fechamento um projeto pedagógico educativo único na cidade de Vigo. É o Colégio Público de Educaçom Infantil O Paraixal, com menos de 50 crianças, de educaçom infantil e primária. Para conhecermos mais de perto esta experiência, falamos com Rute Palhares, da AMPA deste centro, reintegracionista e ativista na defensa da educaçom em galego para as suas crianças.

Que di­fe­ren­cia o vosso co­lé­gio e o seu pro­jeto edu­ca­tivo doutros?
Tem três ali­cer­ces fun­da­men­tais o pro­jeto edu­ca­tivo: a lín­gua ga­lega, a cul­tura ga­lega e a sua pro­mo­çom, a edu­ca­çom em igual­dade real, com pro­fes­so­rado for­mando-se em ga­lego e com mui­tís­sima in­que­dança, e a ques­tom am­bi­en­tal, onde co­la­bora con­nosco a co­mu­ni­dade de mon­tes de Teis. Temos um vi­veiro flo­res­tal com a co­mu­ni­dade de Montes. Temos umha hor­ti­nha, onde avôs e avoas co­la­bo­ram com o pro­fes­so­rado para que as cri­an­ças tra­ba­lhem co­le­ti­va­mente nesta horta.

Como chega ao Paraixal esta re­no­va­çom pedagógica?
Deu-se umha mu­dança na di­re­çom do cen­tro, com um di­re­tor com ou­tras in­que­dan­ças, e ao mesmo tempo há um pro­fes­so­rado muito sen­sí­vel ao tema lin­guís­tico. Havia pro­fes­so­rado in­te­rino, mas isso mu­dou e som pro­fes­so­rado com vaga de­fi­ni­tiva e que apos­tam neste pro­jeto. Entre to­dos che­gá­rom e cons­truí­mos este pro­jeto com o pró­prio ati­vismo tam­bém das fa­mí­lias. Anxo Blas, can­tau­tor e pro­fes­sor de mú­sica, é tam­bém umha fi­gura muito im­por­tante neste co­le­tivo. É gente nova com muita von­tade de fa­zer por esse lado.


“Os três alicerces do projeto educativo som a língua e cultura galegas, a educaçom em igualdade real e a questom medioambiental”

Como é a co­la­bo­ra­çom e o tra­ba­lho em co­mum com as famílias?
Fazemos um tra­ba­lho em co­mu­ni­dade, em que to­das ce­de­mos para ga­nhar em co­mum, en­tre to­das so­ma­mos e con­tri­buí­mos. Nom é do­ado que isto acon­teça, mas neste cole se vive isto. Somos pou­cas: 35 fa­mí­lias, da zona de Teis e ou­tras fa­mí­lias com certa sen­si­bi­li­dade que che­ga­mos ali. Procuramos edu­ca­çom pú­blica, e o me­lhor para as nos­sas cri­an­ças, reu­nimo-nos, fa­la­mos e gente com in­te­res­ses e ide­o­lo­gias mui di­ver­sas somam.
Este ano mo­di­fi­ca­mos umha sala de au­las gra­ças ao o tra­ba­lho co­la­bo­ra­tivo das fa­mí­lias, mu­dá­rom-se pa­re­des, que se pin­tá­rom, subs­ti­tuiu-se o chao por um de ma­deira, jo­gos no­vos. Todo o mundo deu o seu tempo, meios eco­nó­mi­cos e materiais.

Que ou­tros ei­xos di­fe­ren­ci­a­do­res es­tám presentes?
É umha es­cola em que tam­bém se tra­ba­lha muito o tema da lai­ci­dade. Nom há fi­gu­ras re­li­gi­o­sas den­tro das au­las. Existe a ma­té­ria de re­li­giom, e as­siste quem quer, mas fora deste ho­rá­rio nom há ati­vi­dade re­li­gi­osa. Nom vam os Reis Magos, nom se fam ati­vi­da­des deste tipo. As fa­mí­lias que som re­li­gi­o­sas en­ten­dem que é a li­ber­dade de­las mas nom se pode im­por ao resto das famílias.

ze­lia garcia

Aposta-se tam­bém pola ava­li­a­çom con­tí­nua e sem li­vros de texto?
Este ano nom houvo li­vros na uni­dade edu­ca­tiva de Infantil de 3 a 6 anos. Está claro que é um ab­surdo que as fa­mí­lias te­nha­mos que pa­gar 200 eu­ros nuns li­vros que som fi­chas para co­lo­rir. Este a no tam­bém em 1º e 2º se deu o passo de que nom hou­vesse li­vros de texto. O ob­je­tivo é que o pró­ximo ano tam­pouco os te­nham em 3º e 4º, e ver a adap­ta­çom de 5º e 6º. Trabalha-se na re­la­xa­çom, me­di­ta­çom e mo­ti­va­çom das cri­an­ças nas au­las. Existe umha ava­li­a­çom mas sem que as cri­an­ças te­nham exa­mes ao modo tradicional.

“Este ano nom houvo livros em Infantil de 3 a 6 anos. É absurdo que tenhamos que pagar 200 euros nuns livros que som fichas para colorear”

Nom ge­rou con­flito a aposta pola edu­ca­çom em igual­dade? Como surge esta necessidade?
Numha reu­niom da AMPA houvo pais que ex­pli­ci­tá­rom que ha­via mui­tas cou­sas po­las que lui­tar, e “o do gé­nero já vira de­pois”. E um grupo de nais afir­ma­mos a ne­ces­si­dade da trans­ver­sa­li­dade desta ques­tom na edu­ca­çom, e le­vamo-lo ao Consellho Escolar, já que pen­sa­mos em fa­zer umhas jor­na­das para tra­ba­lhar este tema. Tivo muito êxito e fô­rom 100 fa­mí­lias da es­cola e de fora. Pola ma­nhá ti­ve­mos for­ma­çom ao pro­fes­so­rado e as cri­an­ças por se­pa­rado, e pola tarde fi­gé­rom-se obra­doi­ros par­ti­ci­pa­ti­vos para as fa­mí­lias e as cri­an­ças, tam­bém por se­pa­rado, e logo houvo um con­ví­vio e posta em co­mum da jor­nada. Foi ma­ra­vi­lhoso e a gente nom mar­chava dali. Repetimos ao ano se­guinte, com for­ma­çom es­pe­cí­fica para o pro­fes­so­rado so­bre lín­gua in­clu­siva, e tam­bém obra­doi­ros para fa­mí­lia. E houvo já umha ter­ceira edi­çom, de eco­fe­mi­nismo e de­cres­ci­mento. Agora te­mos mui­tas nais fe­mi­nis­tas que an­tes nom o eram. Realiza-se ade­mais com a ideia de que se es­tenda a ou­tros colégios.

Numha ci­dade como Vigo e com os en­tra­ves que pom a Junta pa­rece di­fí­cil que se ga­ranta um en­sino pú­blico e em ga­lego no en­sino pri­má­rio. É pos­sí­vel nesta escola?
Estamos em Teis, na su­bida à Madroa, é mais ru­ral, e os avôs e avoas fa­lam ga­lego. A si­tu­a­çom so­ci­o­e­co­nó­mica é me­dia-baixa, polo que nom é o mesmo que o cen­tro com umhas as­pi­ra­çons di­fe­ren­tes. Temos a es­cola Semente de Vigo mui perto. Nós che­ga­mos fa­lando em ga­lego, e tam­bém as nos­sas cri­an­ças, e nom o per­dê­rom. Ainda que a mai­o­ria das fa­mí­lias som cas­te­lhano-fa­lan­tes uti­li­zam o ga­lego na es­cola e nom há be­li­ge­rân­cia. Penso que há um tra­ba­lho por de­trás mui im­por­tante do pro­fes­so­rado, por­que se res­peita e va­lo­riza a lín­gua desde as au­las e o pá­tio, uti­li­zando o ga­lego. O pro­fes­so­rado o que di é que umha cri­ança ga­lego fa­lante é com­pe­tente em ga­lego e cas­te­lhano, mas umha cri­ança cas­te­lhano fa­lante re­mata a es­cola sendo in­com­pe­tente em galego.
Para nós como fa­mí­lia o pú­blico é fun­da­men­tal. Para mim a ní­vel par­ti­cu­lar tem mais ri­queza par­ti­lhar um es­paço tam di­verso e mesmo para as nos­sas cri­an­ças. O facto de que as fa­mí­lias de fora e as de aqui que em­pre­gam ha­bi­tu­al­mente o cas­te­lhano, fa­le­mos nas reu­ni­ons do co­lé­gio em ga­lego e que fa­le­mos da im­por­tân­cia da fa­lar esta lín­gua, fai que se abram de­ba­tes em po­si­tivo, que nos apor­tam a to­das. Estando con­ven­ci­das de que as nos­sas cri­an­ças te­nhem que apren­der ga­lego, te­nhem que o fa­lar e sen­tir-se em li­ber­dade e or­gu­lho­sas da sua lín­gua e da sua cul­tura, ao mesmo tempo tam­bém te­mos que en­ten­der que há ou­tra gente que o vê di­fe­rente. Temos que apren­der a con­vi­ver e in­te­grar dis­tin­tas ideias.

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