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Futuro incerto para o carvom

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Açom de Greenpeace na cen­tral de Meirama re­a­li­zada no pas­sado 30 de no­vem­bro | ga­liza, um fu­turo sem carvom

O re­cente anún­cio da mul­ti­na­ci­o­nal Naturgy ‑an­tes Gas Natural Fenosa- so­bre o fu­turo fe­che da cen­tral tér­mica de Meirama –que uti­liza com­bus­tiom de car­vom para ge­rar ele­tri­ci­dade- era a cró­nica dumha morte anun­ci­ada. A conta atrás para ter a ponto as ins­ta­la­çons que cum­pri­riam com as di­re­ti­vas eu­ro­peias de emi­sons de ga­ses con­ta­mi­nan­tes, que co­lo­ca­vam como data li­mite o mês de ju­nho de 2020, es­tava acima e da em­presa ainda nom se re­a­li­zara nen­gum mo­vi­mento para con­fir­mar o in­ves­ti­mento dumhas obras cujo gasto se quan­ti­fi­cava nuns 100 mi­lhons de euros.

Em 2015 o con­se­lho de ad­mi­nis­tra­çom da em­presa en­tom pre­si­dida por Salvador Gabarró, reu­nida da Cidade da Cultura, acor­dava e trans­mi­tia ao pre­si­dente da Junta da Galiza a con­ti­nui­dade da planta tér­mica de Meirama, com­pro­me­tendo-se a re­a­li­zar es­sas no­vas obras. Porém, o si­lên­cio ar­re­dor deste in­ves­ti­mento desde a che­gada da nova di­re­tiva, en­ca­be­çada por Francisco Reynés, e a evi­dên­cia de que o tempo se aca­bava para po­der re­a­li­zar as mu­dan­ças ne­ces­sá­rias, fijo emer­ger a sus­peita do que fi­nal­mente acon­te­ceu: Meirama fe­chará as suas por­tas em 2020.

Coletivos am­bi­en­ta­lis­tas de Ordes vem com pre­o­cu­pa­çom o pro­jeto dumha planta de tra­ta­mento de resíduos

Porém, Naturgy nom se­me­lha que­rer ir-se de Meirama. Por um lado, apre­senta um plano para im­plan­tar um par­que eó­lico e umha planta de bi­o­gás, ainda em es­tudo, que quei­mará re­sí­duos gan­dei­ros e or­gá­ni­cos in­dus­tri­ais. A ní­vel de em­prego, a pro­posta da em­presa com­bina a re­co­lo­ca­çom de parte do pes­soal e a pro­cura de saí­das pac­ta­das para o resto. Os meios de co­mu­ni­ca­çom in­di­ca­vam que se re­co­lo­ca­riam ar­re­dor de 40 dos 77 pos­tos de tra­ba­lho exis­ten­tes na central.

Do co­mité de em­presa tem-se con­si­de­rado esta umha má no­tí­cia. Recentemente, re­pre­sen­tan­tes do co­mité en­cer­ra­vam-se no Concelho de Ordes, afir­mando que a cen­tral é com­ple­ta­mente pro­du­tiva e de­nun­ci­ando que a con­ti­nui­dade dos pos­tos de tra­ba­lho nom es­tám ga­ran­ti­dos. Assim, afir­ma­vam que “o car­vom tem sí­tio na tran­si­çom que se vaia fa­zer cara a ou­tro tipo de tec­no­lo­gias” e cha­ma­vam à ad­mi­nis­tra­çom e os co­le­ti­vos afe­ta­dos a pro­cu­ra­rem umha pos­tura conjunta. 

O im­pacto da cen­tral de Meirama
A cen­tral de Meirama, no con­ce­lho co­ru­nhês de Cerzeda, é um dos gran­des íco­nes dos efei­tos do in­dus­tri­a­lismo na Galiza. Pode co­lo­car-se o iní­cio do seu im­pacto em 1977 quando teve lu­gar a luita da vi­zi­nhança das Encrovas para de­fen­der as suas ter­ras da ex­pro­pri­a­çom para a cri­a­çom dumha mina de lig­nito por parte de Fenosa. Essa mina de lig­nito, que es­teve ativa até 2008, se­ria a que for­ne­ce­ria a cen­tral de Meirama de com­bus­tí­vel para a pro­du­çom de ener­gia elé­trica. Após o fe­che da mina, esta se­ria con­ver­tida num lago. Tam icó­nica se con­ver­teu a ima­gem da tér­mica de Meirama que mesmo che­gou a for­mar parte do es­cudo do con­ce­lho de Cerzeda.

Esta fa­to­ria dei­xou um im­por­tante im­pacto am­bi­en­tal, sendo um de­les que o pró­prio en­torno aca­bou con­ver­tendo-se numha zona que pas­sou a aco­lher di­ver­sas in­dus­trias com um con­si­de­rá­vel im­pacto am­bi­en­tal. A ca­rom da cen­tral tér­mica en­con­tra-se Sogama e o ver­te­douro da Areosa. Também, perto, es­tám a planta da Gesuga ‑de tra­ta­mento de sub­pro­du­tos cárnicos‑, ou a su­bes­ta­çom elé­trica do Mesom do Vento. Atualmente, no­vas pro­ble­má­ti­cas como um pro­jeto de ver­te­douro no lu­gar de Lesta ou de im­plan­ta­çom de par­ques eó­li­cos em zo­nas de apro­vei­ta­mento agrá­rio es­tám a ati­var um te­cido as­so­ci­a­tivo na co­marca de Ordes que pre­tende res­pon­der a es­tas agres­sons ambientais.

ga­liza, um fu­turo sem carvom

Assim, re­pre­sen­tan­tes deste co­le­ti­vos am­bi­en­tais da co­marca, à hora de fa­zer um re­passo do im­pacto de Meirama acham que ge­rou um im­por­tante fluxo eco­nó­mico, e que vi­zi­nhança da zona con­se­guiu tra­ba­lho na cons­tru­çom da planta e na pró­pria mina de lignito.

Porém, co­lo­cam o seu im­pacto mais im­por­tante na con­ta­mi­na­çom. Fazendo me­mó­ria, lem­bram que nos pri­mei­ros anos de ati­vi­dade da tér­mica houvo umha chuiva ácida que afe­tou gra­ve­mente a pro­du­çom hor­tí­cola e fru­tí­cola do vale do Bárcia.

Também sa­li­en­tam que atu­al­mente há pou­cas pes­soas de Ordes ou Cerzeda tra­ba­lhando na planta, es­tando a mai­o­ria ju­bi­la­dos ou pré-ju­bi­la­dos. A ní­vel eco­nó­mico a cen­tral tem dado di­nheiro às ar­cas mu­ni­ci­pais atra­vés o Imposto de Atividades Económicas. Mas dos co­le­ti­vos vi­zi­nhais acham que aná­lise do im­pacto eco­nó­mico nom pode fi­car nes­sas ci­fras. “Criaram-se in­fra­es­tru­tu­ras de alto custe de man­ti­mento e com pouco aporte à qua­li­dade de vida da vi­zi­nhança, como se pode de­du­zir da perda de po­pu­la­çom. O im­pacto eco­nó­mico foi ne­ga­tivo para Cerzeda e mí­nimo para Ordes”, afirma um dos seus vozeiros.

Assim, dos co­le­ti­vos am­bi­en­ta­lis­tas da co­marca vem-se com pre­o­cu­pa­çom o anún­cio dos no­vos pla­nos da Naturgy para Meirama, es­pe­ci­al­mente o pro­jeto de planta de bi­o­gás. Ainda à es­pera de umha aná­lise mais pro­funda, pois a única in­for­ma­çom com a que con­tam é a que saiu nos meios de co­mu­ni­ca­çom, um vo­zeiro des­tes co­le­ti­vos as­si­nala o im­pacto que terá umha nova fa­to­ria de tra­ta­mento de re­sí­duos, justo a ca­rom da Sogama: “vai ha­ver já umha pe­gada am­bi­en­tal tre­menda sim­ples­mente polo trans­porte. O se­gundo é o risco de aci­dente com pro­du­tos con­ta­mi­nan­tes, o ter­ceiro é que se es­tám con­cen­trando nesta co­marca umha sé­rie de vec­to­res de con­ta­mi­na­çom am­bi­en­tal e sa­ni­tá­ria mui importantes”.

Em Cerzeda”, acres­centa este vo­zeiro, “há mais de nove mi­lhons de me­tros qua­dra­dos de so­los que ti­vé­rom usos in­dus­tri­ais que es­tám al­ta­mente con­ta­mi­na­dos”, polo que la­menta que nom se es­te­jam a pro­mo­ver açons de re­ge­ne­ra­çom ou apro­vei­ta­men­tos dou­tro tipo, como o de la­zer. Indicam tam­bém mais umha nova afe­çom da pro­je­tada planta de bi­o­gás: “se se leva para os ter­re­nos da cen­tral, au­to­ma­ti­ca­mente pode pro­du­zir-se dano cara a conca do Barcés, um rio que sub­mi­nis­tra água à bar­ra­gem de Cecebre”. 

Falta de pla­ni­fi­ca­çom ener­gé­tica
Se há um ponto em que há coin­ci­dên­cia en­tre o sin­di­ca­lismo e o eco­lo­gismo, num de­bate como o do fu­turo das cen­trais tér­mi­cas, esse é a de­nún­cia dumha falta de pla­ni­fi­ca­çom de tran­si­çom ener­gé­tica por parte das ad­mi­nis­tra­çons. O pre­si­dente do co­mité de Meirama, Bautista Vega, do sin­di­cato na­ci­o­na­lista CIG, co­men­tava ao Novas da Galiza uns dias an­tes de co­nhe­cer-se o anún­cio de Naturgy que en­ten­dia que esse de­bate para fa­zer umha tran­si­çom cara às ener­gias re­no­vá­veis nom existe. “E ha­ve­ria que dá-lo”, ex­póm Vega, “com to­dos os par­ti­dos, co­le­ti­vos, sin­di­ca­tos, co­mi­tés de em­presa, que in­ter­vi­mos no sec­tor e ver que se fai com umha se­rie de cen­trais como a de Meirama e como se fai essa tran­si­çom sem per­der os pos­tos de trabalho”.

Do am­bi­en­ta­lismo da co­marca or­dense ex­po­nhem que mesmo numha reu­niom com a sub­di­re­tora ge­ral de ener­gia da Junta esta ex­pujo que nom existe umha pla­ni­fi­ca­çom ener­gé­tica. “A Junta só di se as em­pre­sas es­tám a cum­prir a lei, mas isso nom é pla­ni­fi­car. A pla­ni­fi­ca­çom está em maos das em­pre­sas elé­tri­cas, que es­tám numha pe­leja por con­se­gui­rem mais me­gawa­tios”, afir­mam nes­tes coletivos.

Sindicalismo e eco­lo­gismo coin­ci­dem em de­nun­ciar a falta de pla­ni­fi­ca­çom para umha tran­si­çom ener­gé­tica por parte das administraçons 

Neste as­peto tam­bém fai finca-pé Manoel Santos, vo­zeiro da re­cém cri­ada Galiza, un Futuro sem Carvom. Santos ex­pom que “as com­pe­tên­cias para de­cre­tar o fim das tér­mi­cas é do Estado, mas a Junta, como go­verno ga­lego que é, está a aco­me­ter umha ir­res­pon­sa­bi­li­dade ao nom fa­zer umha pla­ni­fi­ca­çom”. Santos es­tende esta afir­ma­çom a to­dos os par­ti­dos do Parlamento ga­lego onde foi apoi­ada, con­tando só com a abs­ten­çom de En Marea, umha mo­çom para pe­dir ao Estado a con­ti­nui­dade das tér­mi­cas de Meirama e As Pontes. “Quando pi­dem que nom se fe­chem, nom se está a de­fen­der a po­pu­la­çom afe­tada, es­ta­ria-se a de­fen­der a po­pu­la­çom se se di­gesse que vam fe­char, ainda que o Estado nom o diga, e se tra­ba­lhasse em al­ter­na­ti­vas”, ex­pom Santos.

Este ati­vista tam­bém pom acima da mesa a im­por­tân­cia de al­gumhas ini­ci­a­ti­vas de base apa­re­ci­das nos úl­ti­mos anos, como pode ser a co­o­pe­ra­tiva A Nosa Enerxía neste ca­mi­nho cara à tran­si­çom energética. 

Endesa As Pontes : con­flito sin­di­cal com Enel
Esta falta de pla­ni­fi­ca­çom deixa em maos das em­pre­sas mul­ti­na­ci­o­nais a con­ti­nui­dade de cen­tos de pos­tos de tra­ba­lho e o de­sen­vol­vi­mento do pró­prio sis­tema ener­gé­tico ga­lego. Se imos cara às Pontes, onde se en­con­tra a cen­tral tér­mica de Endesa que sim vai re­a­li­zar o in­ves­ti­mento para as obras de adap­ta­çom à nor­ma­tiva de emis­som de ga­ses con­ta­mi­nan­tes, en­con­tramo-nos tam­bém com um con­flito sindical.

A pro­pri­e­tá­ria desta planta é a Enel, mul­ti­na­ci­o­nal em que o prin­ci­pal aci­o­nista é o Estado ita­li­ano. Fernando Blanco, sin­di­ca­lista da CIG e tra­ba­lha­dor ju­bi­lado de Endesa-As Pontes, ex­plica como, após fi­car sem con­vé­nio de re­fe­rên­cia na em­presa, esta está a no­ti­fi­car ao seu pes­soal pas­sivo ‑ju­bi­la­dos e pen­si­o­nis­tas- a eli­mi­na­çom dos seus be­ne­fí­cios so­ci­ais. “Esses di­rei­tos”, afirma Blanco, “som his­tó­ri­cos da em­presa e sem­pre for­ma­ram parte dos con­vé­nios co­le­ti­vos. E era parte do sa­lá­rio, em es­pé­cie, e polo tanto tri­bu­ta­mos os im­pos­tos correspondentes”.

Concentraçom pe­rante a cen­tral tér­mica das Pontes no pas­sado 1 de de­zem­bro | ga­liza, um fu­turo sem carvom

Blanco re­passa a his­tó­ria da Endesa desde que a Enel se fijo com o con­trolo do 70% desta em­presa ‑umha vez saída Acciona- e qualifica‑a de “sa­queio”, lem­brando que a Endesa era umha em­presa pú­blica que foi pri­va­ti­zada po­los go­ver­nos es­pa­nhóis dos 90. Salienta tam­bém que “a po­lí­tica de di­vi­den­dos que Enel tem em Endesa é a mais agres­siva do se­tor elé­trico. O 100% de lu­cros vam para di­vi­den­dos que som re­par­ti­dos em Itália. Esta po­lí­tica de di­vi­den­dos obriga-lhe a fi­nan­ciar-se e en­di­vi­dar-se para fun­ci­o­nar”. É neste con­texto que Blanco si­tua a eli­mi­na­çom dos be­ne­fí­cios so­ci­ais, as­si­na­lando que a pre­ten­som da Enel pas­sa­ria por que este di­nheiro passa-se a con­tar-se como lu­cros para os dividendos. 

Desulfuradora e de­ni­tri­fi­ca­dora
As obras que te­nhem que re­a­li­zar as cen­trais tér­mi­cas que pro­du­zem ener­gia elé­trica a par­tir da queima de car­vom pas­sam pola in­tro­du­çom de tec­no­lo­gias de­sul­fu­ra­do­ras e de­ni­tri­fi­ca­do­ras que mi­ni­mi­zem as emis­sons de po­lu­en­tes mais re­la­ci­o­na­dos com o im­pacto na saúde hu­mana. A cen­tral de Endesa-As Pontes já ini­cou as obras para in­tro­du­zir esta tec­no­lo­gia, para a qual tivo que re­a­li­zar um de­sem­bolso su­pe­rior aos 200 mi­lhons de eu­ros. À inau­gu­ra­çom das obras acu­diu o pre­si­dente da Junta, Alberto Núñez Feijóo, quem sa­li­en­tava que com es­tas no­vas ins­ta­la­çons a cen­tral alon­gava a sua vida du­rante 20 anos mais.

Porém, es­ses cál­cu­los po­dem es­tar er­ra­dos se se de­sen­vol­vem li­mi­ta­çons à emis­som de ga­ses de efeito es­tufa como é o dió­xido de car­bono ‑CO2-. Manoel Santos sa­li­enta as­sim que as obras atu­ais “nada te­nhem a ver com o CO2, polo que nin­guém pode afir­mar que nom sei vaiam exi­gir mais re­du­çons deste gás, em base aos re­la­tó­rios de ex­per­tos na mu­dança cli­má­tica, mais drás­ti­cas que nom per­mi­tam a con­ti­nui­dade das tér­mi­cas”. Santos as­si­nala que como muito esta no­vas obras alon­ga­riam a vida das Pontes até 2030, data para a que se prevê umha nova di­re­tiva eu­ro­peia so­bre as emissons.

As obras que te­nhem que re­a­li­zar as cen­trais tér­mi­cas an­tes de 2020 nom te­nhem a ver com o CO2

Galiza Um fu­turo sem Carvom’ é umha pla­ta­forma de 13 or­ga­ni­za­çons que nas­ceu no pas­sado mês de se­tem­bro e que se in­te­gra no co­le­tivo eu­ro­peu Europe Beyond Coil (Europa Além do Carvom). Este mo­vi­mento pro­cura o fim das tér­mi­cas “nom como so­lu­çom às mu­dan­ças cli­má­ti­cas mas sim como im­pulso ra­di­cal na luita con­tra essa mu­dança”, ex­pom Santos. No seu ma­ni­festo de apre­sen­ta­çom, esta pla­ta­forma in­di­cava que as duas tér­mi­cas ga­le­gas emi­tem um terço do to­tal de emis­sons de CO2 ga­le­gas. Destas duas, a mais con­ta­mi­nante é a das Pontes.

Este vo­zeiro da pla­ta­forma quer sa­li­en­tar tam­bém um dos efei­tos des­tas cen­trais no en­torno que con­si­dera que nom cos­tuma ter-se em conta e que é o da cri­a­çom de um mono-cul­tivo in­dus­trial na zona em que se im­planta. “Nom se di­ver­si­fica a ati­vi­dade eco­nó­mica da co­marca nem se pla­ni­fica, e este mono-cul­tivo é umha das gran­des in­jus­ti­ças des­tas in­dus­trias tam con­ta­mi­nan­tes e que con­tro­lam o te­cido eco­nó­mico dumha co­marca”, opina Santos. 

álex ro­za­dos

Custe am­bi­en­tal e so­cial da im­por­ta­çom de car­vom
A pla­ta­forma ‘Galiza Um Futuro sem Carvom’ quer fa­zer finca-pé na res­pon­sa­bi­li­dade que como qual­quer ou­tro país do mundo tem Galiza na luita con­tra a mu­dança cli­má­tica, e es­pe­ci­al­mente por si­tuar-se no norte in­dus­tri­a­li­zado. E tam­bém chama a aten­çom so­bre o im­pacto glo­bal e as con­di­çons em que é pro­du­zido o car­vom im­por­tado para as cen­trais térmicas.

Após o fe­che das mi­nas das Encrovas e As Pontes, na úl­tima dé­cada o car­vom vem todo de fora. No caso de Meirama, en­tra polo porto da Corunha e é des­lo­cado em com­boio até a cen­tral. Tal é a quan­ti­dade im­por­tada que o co­mité de em­presa da Meirama acha que o fe­che da ati­vi­dade su­porá umha queda do 10% na ati­vi­dade do porto da Corunha. No caso das Pontes, o car­vom in­tro­duz-se polo porto de Ferrol e é trans­por­tado até a planta em camions.

Muito do car­vom que se im­porta aquí e na Europa ex­trai-se em con­di­çons de se­mi­es­cra­va­tura e com gra­ves pro­ble­mas so­ci­ais”, de­nun­cia Santos. Alguns dos prin­ci­pais paí­ses ex­por­ta­do­res de car­vom som Indonésia e Colômbia. Neste úl­timo en­con­tra-se a mina de El Cerrejón, a maior mina a céu aberto do mundo. “É Colômbia pra­ti­ca­mente nom pro­duz ener­gia quei­mando car­vom, todo o ex­porta”, ex­pom Santos, quem ex­pom que es­tas mi­nas te­nhem cri­ado des­lo­ca­men­tos de po­pu­la­çom, con­ta­mi­na­çom e ex­plo­ra­çom laboral. 

As emissons de dióxido de carbono incrementárom

ga­liza, um fu­turo sem carvom

As duas plan­tas tér­mi­cas de com­bus­tom de car­vom im­plan­ta­das em ter­ri­tó­rio ga­lego emi­ti­ram ao céu mais de 48 mi­lhons de to­ne­la­das de CO2 en­tre os anos 2013 e 2017, se­gundo in­dica o re­gisto es­ta­tal de emis­sons e fon­tes con­ta­mi­nan­tes. Das duas tér­mi­cas a que conta com um maior ní­vel de emis­sons é a de Endesa-As Pontes, que con­ti­nu­ará com a sua ati­vi­dade para além de 2020. Esta fa­to­ria ex­pul­sou mais de 36 mi­lhons de to­ne­la­das nesse pe­ríodo, sendo 2017 com mais de 8 mi­lhons de to­ne­la­das quando mais CO2 foi ex­pul­sado por esta planta nes­ses cinco anos.

Seguindo na mesma fonte da da­dos, ex­trai-se que nesse pe­ríodo a meia de emis­sons anu­ais foi su­pe­rior ao lus­tro an­te­rior. Entre as duas tér­mi­cas no pe­ríodo 2008–2012 emi­tiu-se umha meia de 7,7 mi­lhons de to­ne­la­das anu­ais en­quanto nos se­guin­tes cinco anos a meia as­cen­de­ria a 9,6 mi­lhons de to­ne­la­das anuais.

As duas plan­tas tér­mi­cas em ter­ri­tó­rio ga­lego emi­ti­ram mais de 48 mi­lhons de to­ne­la­das de CO2 en­tre 2013 e 2017

Custe sa­ni­tá­rio
A pla­ta­forma eu­ro­peia Europe Beyond Coal, em que se in­te­gra a re­cen­te­mente cri­ada Galiza, Um Futuro sem Carvom, vem de pu­bli­car um re­la­tó­rio em que ex­pom o im­pacto das cen­trais tér­mi­cas em toda Europa, que leva por nome Last Gasp e em que quan­ti­fica os cus­tes sa­ni­tá­rios des­tas fac­to­rias. Segundo este re­la­tó­rio, em 2016 a ati­vi­dade das duas cen­trais te­riam pro­vo­cado 143 mor­tes pre­ma­tu­ras, uns 4800 ca­sos de sin­to­mas de asma em cri­an­ças, 106 no­vos ca­sos de bron­quite e uns 117 in­gres­sos hos­pi­ta­lá­rios por pro­ble­mas res­pi­ra­tó­rios e car­di­o­vas­cu­la­res. Esse re­la­tó­rio eleva os cus­tos sa­ni­tá­rios da queima do car­vom para con­se­guir ener­gia elé­trica na Galiza nuns 430 mi­lhons de eu­ros, es­ti­ma­dos por causa dos in­gres­sos hos­pi­ta­lá­rios e a perda de perto de 52000 dias de trabalho.

A me­to­do­lo­gia deste re­la­tó­rio ba­seou-se nas re­co­men­da­çons do pro­jeto ‘Riscos da saúde da con­ta­mi­na­çom do ar na Europa’ da Organizaçom Mundial da Saúde. Os ris­cos para a saúde das cen­trais tér­mi­cas ve­nhem es­pe­ci­al­mente de emis­sons– como os óxi­dos de xo­fre- que se ver­tem à at­mos­fera di­fe­ren­tes das de CO2, prin­ci­pal gás de efeito estufa.

Cimeira do clima com sabor agridoce e alarmes

A úl­tima ronda de ne­go­ci­a­çons da Conferência das Naçons Unidas para a Mudança Climática (COP24) que se ce­le­brou no pas­sado mês de de­zem­bro na ci­dade po­lo­nesa de Katowice véu pre­ce­dida por um alar­mante re­la­tó­rio do Grupo Intergovernamental de Expertos so­bre a Mudança Climática (IPCC), so­bre as di­fi­cul­da­des para atin­gir os ob­je­ti­vos dos Acordos de Paris. Estes acor­dos mar­ca­vam o ob­je­tivo de con­se­guir que a fi­nais deste sé­culo o cres­ci­mento da tem­pe­ra­tura glo­bal se si­tue por baixo dos 2ºC em re­la­çom aos ní­veis pré-in­dus­tri­ais, cha­mando a fa­zer um es­forço para que esse cres­ci­mento se si­tua-se nos 1.5ºC. Esta se­gunda ci­fra foi in­cluída no acordo gra­ças à pres­som dos paí­ses mais ex­pos­tos aos efei­tos do aque­ci­mento glo­bal, como po­dem ser as ilhas do oce­ano Pacífico.

Porém, o IPCC ‑onde par­ti­ci­pam ci­en­tis­tas de vá­rios paí­ses- aler­tou no mês de ou­tu­bro das di­fi­cul­da­des atu­ais para atin­gir este am­bi­ci­oso ob­je­tivo. Assim, o seu re­la­tó­rio in­dica que é pro­vá­vel que o aque­ci­mento do 1.5ºC che­gue en­tre 2030 e 2052 se se con­ti­nua o atual ritmo de emis­sons de ga­ses de efeito es­tufa. É mais, caso con­ti­nuar com as mes­mas po­lí­ti­cas atu­ais, em 2100 o aque­ci­mento em re­la­çom com os ní­veis pré-in­dus­tri­ais se­ria de 3ºC. 

Esta ronda de ne­go­ci­a­çons véu pre­ce­dida por um re­la­tó­rio de ex­per­tos so­bre as di­fi­cul­da­des para atin­gir os Acordos de Paris

Desta forma, o IPCC in­di­cava que para po­der man­ter o ob­je­tivo do 1.5ºC a fi­nais de sé­culo re­quer que em 2030 se te­nham di­mi­nuído num 45% as emis­sons de dió­xido de car­bono (CO2) em re­la­çom com 2010 e tam­bém que em 2050 es­sas emis­sons se­jam pra­ti­ca­mente nu­las. Também es­ta­be­lece que para che­gar a essa meta nesse ano en­tre o 70% e o 85% da ele­tri­ci­dade seja de ori­gem re­no­vá­vel. Caso nom se atin­gisse este ob­je­tivo e só se pu­desse che­gar aos 2ºC a fi­nais de sé­culo ‑que tra­ze­ria con­sigo umha suba do mar de 10 cen­tí­me­tros mais que se se che­gasse ao 1.5C- isto im­pli­ca­ria mais pro­ble­mas para o ser hu­mano e con­junto de espécies.

Porém, a ci­meira de Katowice fi­na­li­zou com um sa­bor algo agri­doce para quem pro­cura avan­ços na luita con­tra as mu­dan­ças do clima. Se bem é con­si­de­rado que se con­se­guiu ven­cer o blo­queio de paí­ses como os EUA, os es­ta­dos par­ti­ci­pan­tes nom che­ga­ram a com­pro­mis­sos con­cre­tos para avan­çar na re­du­çom de ga­ses de efeito es­tufa em base aos Acordos de Paris.

Umha memória sem carvom

Ademais do fe­che das cen­trais tér­mi­cas, a re­du­çom de CO2 terá que vir acom­pa­nhada de umha sé­rie de atu­a­çons em mui­tos âm­bi­tos, como o trans­porte, a agri­cul­tura e a vi­venda. A pers­pe­tiva de que a luita con­tra a mu­dança do clima tra­zerá umha so­ci­e­dade em que se re­du­zirá o acesso a com­bus­tí­veis fós­seis, o que afe­tará a as­pe­tos como a mo­bi­li­dade, in­tro­duz tam­bém umha sé­rie de mu­dan­ças que te­rám que efe­tuar-se a um ní­vel mais local.

Com o ob­je­tivo de que a mu­dança do clima se con­verta num as­sunto do dia-a-dia e de re­cu­pe­rar fer­ra­men­tas e há­bi­tos pre­sen­tes so­bre todo nas co­mu­ni­da­des ru­rais com umha baixa pe­gada de car­bono, vem de­sen­vol­vendo-se nos cen­tros so­ci­o­cul­tu­rais de Compostela a ini­ci­a­tiva de edu­ca­çom so­cial ‘Descarboniza! Que non é pouco…’. Este pro­jeto está fo­cado es­pe­ci­al­mente a pes­soas adul­tas, com as que re­cu­pe­rar a me­mó­ria das suas prá­ti­cas, tra­ba­lhando-se em gru­pos e que­rendo ache­gar tam­bém um com­po­nente emocional.

O edu­ca­dor so­cial Miguel Pardellas ex­pom que nas ses­sons lança-se umha per­gunta e ao longo da con­versa se vam iden­ti­fi­cando as cou­sas que po­dem ser úteis nesse pos­sí­vel fu­turo com me­nor dis­po­ni­bi­li­dade ener­gé­tica. “Por exem­plo, so­bre a ali­men­ta­çom”, in­dica Pardellas, “nom se trata só de con­su­mir pro­du­tos de tem­po­rada, tam­bém de re­cu­pe­rar a sa­be­do­ria po­pu­lar, criar cir­cui­tos de dis­tri­bui­çom e re­cu­pe­rar a co­e­som a ní­vel de bairro ou pa­ró­quia para en­fren­tar com mais ga­ran­tias o futuro”. 

Descentralizar
Nas con­ver­sas dos gru­pos de tra­ba­lho fai-se ex­plí­cita a cen­tra­li­za­çom dos ser­vi­ços que fijo que mui­tas zo­nas te­nham que in­cre­men­tar os des­lo­ca­men­tos cara a ci­da­des e vi­las. “Haveria que re­cu­pe­rar mui­tos es­pa­ços de pro­xi­mi­dade”, ex­pom Pardellas, que as­si­nala tam­bém como as vi­zi­nhas in­di­ca­vam que cada vez ti­nham que ir mais cara o hos­pi­tal do cen­tro da ci­dade para po­der re­ce­ber as­sis­tên­cia mé­dica. “Há que pôr em ques­tom a cen­tra­li­za­çom do sis­tema. A des­cen­tra­li­za­çom des­tes ser­vi­ços se­ria be­ne­fi­ci­osa para as co­mu­ni­da­des. E o mesmo acon­tece com a edu­ca­çom ou o acesso a pro­du­tos bá­si­cos”, sa­li­enta Pardellas.

Nos gru­pos de tra­ba­lho fai-se ex­plí­cita a cen­tra­li­za­çom dos ser­vi­ços cara a ci­da­des e vilas

Há tam­bém nes­sas ses­sons umha lei­tura crí­tica do pas­sado e do pre­sente. As mu­lhe­res fo­ram mai­o­ri­tá­rias na par­ti­ci­pa­çom des­tes gru­pos de tra­ba­lho. Nelas re­caiam mui­tos dos cui­da­dos co­mu­ni­tá­rios e “nom todo som bons re­cor­dos, lem­bra-se tam­bém o sa­cri­fí­cio que ha­via que pas­sar”, in­dica Pardellas. Também per­vive a me­mó­ria do fran­quismo e a falta de li­ber­da­des, “en­tom apro­vei­ta­mos para in­tro­du­zir o con­ceito de ‘eco­fas­cismo’, se a so­ci­e­dade ci­vil nom se or­ga­niza pode ha­ver saí­das em chave au­to­ri­tá­ria para a ges­tom dos re­cur­sos”, afirma este edu­ca­dor social. 

Outro ob­je­tivo de ‘Descarboniza’ é que as pes­soas par­ti­ci­pan­tes de­pois re­a­li­zem umha ati­vi­dade fo­cada na sua pa­ró­quia ou bairro.

Este pro­jeto con­tou com o fi­nan­ci­a­mento do con­ce­lho de Compostela, e atu­al­mente o seu mo­delo ex­por­tou-se a Donosti, onde se re­a­li­za­rám umhas ses­sons-pi­loto com a mesma me­to­do­lo­gia. A ini­ci­a­tiva de ‘Descarboniza’ par­tiu do grupo de in­ves­ti­ga­çom SEPA (Pedagogia Social e Educaçom Ambiental), que leva anos a in­ves­ti­gar a per­ce­çom da ci­da­da­nia ar­re­dor da mu­dança climática.

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