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Galeusca pola diversidade linguística e cultural no âmbito educativo

por
charo lo­pes

Após o seu relativo sucesso nas eleições provinciais de junho de 1923, Acció Catalana fez um chamado para nacionalistas bascas e galegas incorporarem as suas forças a um pacto contra o centralismo do Estado espanhol, assinado simbolicamente no dia seguinte à Diada daquele ano em Barcelona a reivindicar soberania política para as nações assinantes e advertindo a «apelação heroica» como meio no caso de o Estado espanhol manter a sua atitude intransigente. Assim, à AC, Estat Català e Unió Catalanista uniram-se o Partido Nacionalista Basco, a Comunhão Nacionalista Basca, as Irmandades da Fala e a Irmandade Nazonalista Galega. Porém, as dissensões internas, a falta de pragmatismo e a ausência do catalanismo hegemónico da Lliga propiciaram o esboroamento do acordo, anulado de facto pelo golpe militar de Primo de Rivera no dia seguinte.

Depois de uma di­ta­dura que di­fi­cul­tou as re­la­ções e ins­tau­rada a República, fo­ram con­tí­nuos os ape­los à uni­dade das três na­ções, em plena pugna pe­los seus Estatutos de Autonomia (ou, no caso ca­ta­lão, pela trans­fe­rên­cia de­fi­ni­tiva de com­pe­tên­cias, apro­vado o Estatuto). Seria a Assembleia Nacionalista Basca que con­vo­ca­ria, em 2 de abril de 1933, um co­mí­cio com três dos seus di­ri­gen­tes, um de­le­gado ga­le­guista (Castelão) e um ca­ta­la­nista (Riera i Puntí), as­si­nando os cinco o Pacto de Gernika.

Foi Alexandre Bóveda, do Partido Galeguista, o res­pon­sá­vel pela re­da­ção do de­fi­ni­tivo acordo Galeusca, as­si­nado em Compostela em 25 de ju­lho de 1933. Nas se­guin­tes se­ma­nas in­cor­po­ra­ram-se no­vos acor­dos e as­si­na­tu­ras ao texto ini­cial, que na sua ver­são úl­tima pro­pu­nha criar um bloco par­la­men­tar ga­leus­cano, apro­var os Estatutos e re-con­fi­gu­rar o Estado sob o mo­delo fe­de­ral. Concordavam, em de­fi­ni­tivo, em tor­nar uma re­a­li­dade aque­las von­ta­des abs­tra­tas dos na­ci­o­na­lis­mos pe­ri­fé­ri­cos dez anos para trás, frus­tra­dos pelo cen­tra­lismo es­pa­nhol, en­tão em forma de república.

Embora as li­ga­ções po­lí­ti­cas en­tre os três paí­ses vi­es­sem de ve­lho, o Galeusca tor­nou-se um pre­ce­dente para as na­ci­o­na­lis­tas das se­guin­tes ge­ra­ções, que ve­riam nas ou­tras duas na­ções ali­a­das e, pela fe­liz de­no­mi­na­ção de Justo Beramendi, re­fe­ren­tes de ana­lo­gia nos pro­ces­sos de cons­tru­ção nacional.

Um novo Galeusca

Na ma­nhã do sá­bado dia 11 de ju­nho, o au­di­tó­rio do com­pos­te­lano Museo do Pobo Galego aco­lheu o pri­meiro ato do evento Galeusca pola di­ver­si­dade lin­guís­tica e cul­tu­ral no âm­bito edu­ca­tivo, or­ga­ni­zado pe­las Escolas de Ensino Galego Semente (Galiza), a Ikastolen Elkartea (País Basco) e La Bressola (Catalunha Norte).

O ato foi di­ri­gido pelo po­eta e im­pro­vi­sa­dor Séchu Sende, que rei­vin­di­cou a Tripla Aliança e o Galeusca pelo seu «es­pí­rito in­ter­na­ci­o­na­lista». Entre as as­sis­ten­tes con­ta­vam-se re­pre­sen­tan­tes da AGAL, da Mesa pola Normalización Lingüística, do C.S. A Gentalha do Pichel, da Faculdade de Filologia da USC, de Compostela Aberta, do Movemento Arredista e da Nova Escola Galega.

No 11 de ju­nho tivo lu­gar o evento ‘Galeusca pola di­ver­si­dade lin­guís­tica e cul­tu­ral no âm­bito edu­ca­tivo’, or­ga­ni­zado pe­las es­co­las Semente, a Ikastolen Elkartea e La Bressola

Para co­me­çar, a jor­na­lista e ci­ne­asta Comba Campoy leu a de­cla­ra­ção, onde as três es­co­las se re­co­nhe­ciam «ini­ci­a­ti­vas edu­ca­ti­vas po­pu­la­res, au­to­cen­tra­das nas nos­sas re­a­li­da­des na­ci­o­nais, pro­mo­to­ras da re­no­va­ção pe­da­gó­gica, lai­cas e sem fins lu­cra­ti­vos». Nos seus cinco pon­tos, a de­cla­ra­ção re­cla­mava a eli­mi­na­ção das «res­tri­ções lin­guís­ti­cas», o re­co­nhe­ci­mento das «nos­sas cul­tu­ras», o «cum­pri­mento in­te­gral da Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias», o cesse da «in­ge­rên­cia dos Tribunais es­pa­nhóis e fran­ce­ses na pla­ni­fi­ca­ção lin­guís­tica dos nos­sos sis­te­mas edu­ca­ti­vos» e a «cons­tru­ção de so­be­ra­nia edu­ca­tiva plena nas nos­sas na­ções», sendo o con­texto, acres­cen­ta­ram, de «au­sên­cia de so­be­ra­nia política».

Na sua in­ter­ven­ção, o lehen­da­kári da Ikastolen Elkartea, Koldo Tellitu, la­men­tou a atual fra­queza da de­fesa da lín­gua no âm­bito edu­ca­tivo basco, as­si­na­lando que mui­tas fa­mí­lias «se con­for­mam» com a ado­ção de um Modelo D «in­su­fi­ci­ente» para a «eus­kal­du­ni­za­ção». Quanto ao pacto al­can­çado por 90% de for­ças po­lí­ti­cas bas­cas para a ela­bo­ra­ção de uma nova lei edu­ca­tiva, disse ser uma boa no­tí­cia, «im­pres­cin­dí­vel», mas ainda me­nor do necessário.

A jor­na­lista Comba Campoy leu a de­cla­ra­ção, onde as três es­co­las se re­co­nhe­ciam “ini­ci­a­ti­vas edu­ca­ti­vas po­pu­la­res, au­to­cen­tra­das nas nos­sas re­a­li­da­des na­ci­o­nais, pro­mo­to­ras da re­no­va­ção pe­da­gó­gica, lai­cas e sem fins lucrativos”

A di­re­tora de La Bressola, Eva Bertrana, cri­ti­cou as po­lí­ti­cas lin­guís­ti­cas do Estado fran­cês, que até há pou­cos anos nem ti­nha re­gu­la­das le­gal­mente as lín­guas por ele con­si­de­ra­das «re­gi­o­nais» no en­sino. As es­co­las com maior in­cor­po­ra­ção das lín­guas di­fe­ren­tes da fran­cesa proí­bem co­mu­ni­car-se com as fa­mí­lias em ca­ta­lão, mos­trando às cri­an­ças que «as cou­sas sé­rias são em fran­cês» e re­le­gando aque­lou­tro idi­oma para a «se­gunda li­nha». Para além do lin­guís­tico, rei­vin­di­cou a ne­ces­si­dade de re­no­va­ção pe­da­gó­gica para a cons­tru­ção de um sis­tema de en­sino de qualidade.

Tanto Tellitu como Bertrana cri­ti­ca­ram for­te­mente a «in­vo­lu­ção ju­di­cial», pela qual juí­zas «anu­lam me­di­das be­ne­fi­ci­o­sas para as nos­sas lín­guas», de­ci­dem «quê pos­tos do fun­ci­o­na­ri­ado de­vem co­nhe­cer» cada lín­gua, «qual o ní­vel de cas­te­lhano exi­gí­vel para cada ní­vel edu­ca­tivo» ou mesmo qua­li­fi­cam o éus­caro como «a quinta lín­gua mais com­pli­cada do mundo», jus­ti­fi­cando a sua mar­gi­na­ção. Isto não só cria ju­ris­pru­dên­cia, como tam­bém «as­susta a ad­mi­nis­tra­ção» na hora de apli­car me­di­das ou não.

charo lo­pes

Coincidiram, aliás, em as­si­na­la­rem como grande ini­migo, para além do Estado es­pa­nhol, o fran­cês. Se a ati­tude do po­der ju­di­cial fran­cês é ainda mais in­tro­mis­siva do que a do es­pa­nhol, as pe­jas não se fi­cam por aí: no en­sino se­cun­dá­rio, a prova de ní­vel ou Brevet deve ser efe­tu­ada obri­ga­to­ri­a­mente em lín­gua fran­cesa; as alu­nas das ikas­to­las res­pon­de­rão em éus­caro, de­cla­rou o seu lehendakári.

O Coordenador Nacional das es­co­las Semente, Santiago Quiroga, as­si­na­lou o sis­tema ga­lego de en­sino pú­blico como agente des­ga­le­gui­za­dor, à vista das es­ta­tís­ti­cas mais re­cen­tes. Perante a ine­fi­cá­cia dos go­ver­nos es­ta­tal e au­to­nó­mico, disse acre­di­tar na «or­ga­ni­za­ção po­pu­lar» como mo­tor da mu­dança, pondo como exem­plo o caso da ma­té­ria de Geografia e his­tó­ria da Galiza no en­sino se­cun­dá­rio, que as mo­vi­li­za­ções po­pu­la­res lo­gra­ram man­ter no cur­rí­cu­lum. Além de «pre­ser­var», des­ta­cou a ne­ces­si­dade de «ano­var» e «trans­mi­tir» a lín­gua, para o qual é fun­da­men­tal o en­sino. Assim, in­sis­tiu na im­por­tân­cia de ex­pan­dir o pro­jeto Semente a toda a ge­o­gra­fia na­ci­o­nal, mas tam­bém de to­mar me­di­das para «ga­le­gui­zar o en­sino pú­blico». Acabou rei­vin­di­cando uma «es­cola hu­ma­nís­tica e emancipadora».

Sobre as pre­ten­sões da de­cla­ra­ção, as es­co­las res­pon­de­ram una­ni­me­mente que não se pen­sara como uma «co­la­bo­ra­ção pon­tual», mas tam­bém não como uma «apre­sen­ta­ção» de qual­quer pro­jeto, an­tes, pre­ten­dia ser «um pulo» para o «con­ti­nuum» de ação conjunta.

O ato con­ti­nuou com a lei­tura, por parte de três alu­nas da Semente, de um po­ema em cada uma das lín­guas da de­cla­ra­ção, no­me­a­da­mente au­to­ria de Kirmen Uribe, Lluís Llach e Luz Fandiño, e con­cluiu com um con­certo em acús­tico da can­tora Guadi Galego e o gui­tar­rista Carlos Abal.

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