Periódico galego de informaçom crítica

Garatuças

por
Marcel Marceau re­tra­tado por Mike Lawn.

Meu pai che­gou a vi­ver para ver o pro­ta­go­nismo po­lí­tico de Anxo Quintana. Cada vez que apa­re­cia no te­le­vi­sor em mi­tins sem­pre re­pe­tia o mesmo: “Por que fai es­sas ga­ra­tu­ças com as maos? Pom-me ner­voso.” Garatuça é umha pa­la­vra mui viva na mi­nha terra, o di­ci­o­ná­rio Estraviz define‑a como “re­pre­sen­ta­çom ou ges­ti­cu­la­çom exa­ge­rada, que tem por ob­jeto umha criança”. 

Quando an­dei a dar au­las na Argentina, as alu­nas sur­pre­en­diam-se de que mo­via pouco as maos ao fa­lar. Nunca tal crí­tica re­ce­bera no nosso país, mais bem ao con­trá­rio. Possuo umha longa lis­ta­gem de co­pos ro­tos bra­ce­ando nas reu­ni­ons das ca­fe­ta­rias. Mas em com­pa­ra­çom com qual­quer do­cente do país aus­tral, eu pa­re­cia ei­vado dos bra­ços. Também ga­nhei fama de tojo por fa­lar a muita dis­tân­cia dos meus in­ter­lo­cu­to­res nas con­ver­sas e nom com­ple­men­tar o con­tato fí­sico que acom­pa­nhava a cor­di­a­li­dade. Porém, nom era o único, agi­nha me com­pa­rá­rom coas suas avós, as ga­le­gas de re­fe­rên­cia em to­das es­tas prá­ti­cas za­mur­das. A única di­fe­rença era a idade.

Anos de­pois, num curso de do­bra­gem, Luís Iglesia, o me­lhor pro­fis­si­o­nal na nossa lín­gua, alu­mara-me a chave do as­sunto. Os es­tu­dos de Albert Mehrabian, pro­fes­sor de psi­co­lo­gia da Universidade de Califórnia, quan­ti­fi­ca­vam a im­por­tân­cia da co­mu­ni­ca­çom nom ver­bal na efi­ci­ên­cia co­mu­ni­ca­tiva. A lin­gua­gem cor­po­ral tem o maior peso, o 55%, frente ao 38% do tom de voz e o mi­nús­culo 7% das pa­la­vras em­pre­ga­das. Isto nom quer di­zer que nom es­cui­te­mos o con­teúdo ao ou­vir um dis­curso, se­nom que ob­te­mos a nossa in­ter­pre­ta­çom da in­ten­çom emo­ci­o­nal da fa­lante, por trás das pa­la­vras, atra­vés dos in­dí­cios nom ver­bais.  Mas ve­laí que, quando nom se dá cor­res­pon­dên­cia en­tre o que di­ze­mos e como o di­ze­mos, acre­di­ta­mos muito mais nas pis­tas nom verbais. 

Nos po­vos su­bal­ter­ni­za­dos, a vin­cu­la­çom das po­si­çons de po­der com umha et­no­classe do­mi­nante alheia pro­voca o calco das suas lin­gua­gens à hora de re­pre­sen­tarmo-nos a nós pró­prias na formalidade

Porém, cada povo pos­sui o seu có­digo nom ver­bal di­fe­ren­ci­ado. A dis­tân­cia en­tre in­ter­lo­cu­to­ras, a olhada, o con­tacto, a pos­tura, o mo­vi­mento fa­cial e todo tipo de ace­nos e ges­tos va­riam de país em país. Qualquer umha dá di­fe­ren­ci­ado um filme ita­li­ano dum ian­que se lhe ti­ra­mos o som. A co­mu­ni­ca­çom po­lí­tica, jor­na­lís­tica e cul­tu­ral cons­ti­tuem a forma mais ela­bo­rada da re­pre­sen­ta­çom lin­guís­tica dum país no quo­ti­di­ano. O mo­delo polo que nos gui­a­mos, mui por cima do que es­ta­be­le­çam aca­de­mias e di­ci­o­ná­rios. Nos po­vos su­bal­ter­ni­za­dos, a vin­cu­la­çom das po­si­çons de po­der com umha et­no­classe do­mi­nante alheia pro­voca o calco das suas lin­gua­gens à hora de re­pre­sen­tarmo-nos a nós pró­prias na formalidade. 

A apren­di­za­gem de jor­na­lis­tas, ora­do­res e atri­zes sob o mo­delo es­pa­nhol cons­ti­tui mais umha forma de co­lo­ni­za­çom e re­força o ima­gi­ná­rio do pró­prio como vulgar

Na Europa, quanto mais ao Norte, maior é a dis­tân­cia en­tre in­ter­lo­cu­to­res e me­nor a ges­ti­cu­la­çom. Mália a do­mi­na­çom se­cu­lar, as ga­le­gas se­gui­mos a bra­cear me­nos que os ma­dri­le­nos para além da lín­gua que em­pre­gue­mos. A apren­di­za­gem de jor­na­lis­tas, ora­do­res e atri­zes sob o mo­delo es­pa­nhol cons­ti­tui mais umha forma de co­lo­ni­za­çom e re­força o ima­gi­ná­rio do pró­prio como vul­gar. A evi­dên­cia de que re­sulta im­pos­sí­vel ser umha boa co­mu­ni­ca­dora sem do­mi­nar os có­di­gos que se em­pre­gam atinge os seus an­tí­po­des, mercê à co­lo­ni­a­li­dade, em Galiza. Se al­guém na BBC uti­li­zasse umha lin­gua­gem cor­po­ral ita­li­ana e con­ta­mi­nasse a fo­né­tica e a mor­fos­sin­taxe do in­glês com cons­tru­çons e pro­nún­cias da Toscana, todo o mundo ha­via pen­sar que ca­rac­te­riza umha na­tu­ral do país me­di­ter­râ­neo. Porém, nós atu­ra­mos a diá­rio um exér­cito de co­mu­ni­ca­do­res “neu­tros” que es­ta­be­le­cem o mo­delo de lín­gua e a nossa re­pre­sen­ta­çom co­le­tiva for­mal en­to­ando, bra­ce­ando, pro­nun­ci­ando e cons­truindo ora­çons como se aca­bas­sem de che­gar de Chamberí. Políticos, es­cri­to­res, in­te­lec­tu­ais, jor­na­lis­tas, ato­res… Carlos Calvo assinala‑o con­tun­den­te­mente na sua crí­tica à Mátria de Margarita Ledo em Entre o pós-na­ci­o­nal e o Volkgeist. E é que, ao cabo, meu pai ti­nha razom.

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