Existem cinco escolas Semente ao longo do país sediadas em Vigo, Lugo e Trasancos, para além dos dous centros de Compostela
Há por volta dum lustro, dava os seus primeiros passos o primeiro projeto de ensino integralmente em galego do terceiro milénio. Recolhendo o testemunho da experiência educativa impulsionada por Ângelo Casal e Leandro Carré no primeiro terço do século passado, as escolas Semente nascem com o intuito de reverter, na medida do possível, a complicada situaçom sócio-linguística que está a atravessar a nossa língua no território do país. Porém, nom ficam aí as intençons dum projeto tam arriscado quanto apaixonante: das pedagogias alternativas aos valores que irám construir umha sociedade mais justa, passando polo contacto com a natureza e a vizinhança local, o universo Semente conta com umha rica variedade de elementos constituintes. Com o objetivo de nos debruçarmos sobre alguns deles, o NOVAS DA GALIZA falou com várias pessoas envolvidas na iniciativa em diversos pontos da geografia galega.
Um viveiro para o idioma
À partida, a principal caraterística definitória das escolas Semente parece ser a decidida aposta das suas promotoras num modelo de imersom linguística em galego. Perguntado polos resultados futuros deste sistema, Sánti Quiroga, pedagogo da recém criada Semente de Lugo, salienta o caráter embrionário, por enquanto, do projeto, assim como o imprevisível dos seus resultados futuros: “é difícil saber quais vam ser as consequências práticas da atividade da Semente. Porém, eu acho que a imersom linguística é o único método que pode assegurar a regaleguizaçom. Nesse sentido, o modelo da Conselharia de Educaçom é o contrário, o do estabelecimento dumha quota que agora mesmo nos centros plurilingues chega a 33% de língua galega. Num contexto político de evidente menorizaçom linguística, evidentemente. Nós optamos polo modelo contrário e pensamos que vai ter sucesso. Nom é umha cousa nova: já se fijo noutros países e está a funcionar”.
A escolha idiomática da Semente torna-se ainda mais ousada, se possível, devido à filosofia reintegracionista da iniciativa. Se bem nem todas as pessoas apoiantes partilham esta visom do idioma, a posiçom oficial do projeto é a que contempla a língua dumha ótica internacional. Porém, a coexistência das diferentes visons acontece da maneira mais natural. Sílvia Casal, do centro de Trasancos, sintetiza‑o num exemplo: “na nossa escola há crianças que partilham nome, mas sendo grafados de maneira diferente. Para as crianças, mesmo é umha maneira de se distinguirem”.
Além da língua: educaçom em valores para a Galiza do amanhá
No entanto, o labor que as escolas Semente pretendem realizar nom fica simplesmente no terreno do idioma. Séchu Sende, ativista do projeto em Compostela, debulha desta maneira alguns dos aspetos que se estám a trabalhar: “Nós consideramos a Semente como parte ativa do movimento social galego, a procurar umha transformaçom social. É por isso que aí tenhem importáncia todos os avanços de movimentos como o feminismo. As nossas crianças vivem em contato com essa teoria e com essa prática, que é necessária para conseguirmos umha sociedade justa. Trabalhamos também o respeito pola natureza, porque somos ecologistas. Temos muito em conta o contato com os espaços naturais, caso das margens do Sarela em Compostela. Também temos como princípio o ensino laico e científico”.
Doutra banda, o respeito polo processo de aprendizado da criança e polo momento vital concreto que está a atravessar é posto em relevo por Casal: “Damos muita importância ao momento emocional que estám a viver as crianças. Trata-se dumha escola muito humana: mais do que os números, valorizamos as pessoas e mais do que os resultados, temos em conta os processos”.
Nem pública nem privada
Se calhar, umha das primeiras dúvidas que se poderia formular qualquer pessoa que observasse desde fora o projeto da Semente é a que diz respeito à titularidade da escola. Porém, a dicotomia público (estatal)/privado nom serve para resolvermos esta questom. Por palavras de Séchu Sende, “Percebemos aginha que esta é umha terceira via: nom se trata de escola pública nem de escola privada. Talvez umha das primeiras dificuldades que encontramos no caminho fosse a de comunicar que essa terceira via é umha via popular, constituída por homens e mulheres que se auto-organizam e baseada na autogestom e na cooperaçom. Achamos que o movimento social, em parte, nom compreende isso, considerando a Semente como um projeto privado”. O caráter popular da Semente e o peso da vontade transformadora face ao afám de lucro ficam de manifesto nas declaraçons do ativista compostelano: “Cada vez há mais gente que entende que a Semente nom é um projeto com ânimo de lucro, que no curso passado 35% das mais e os pais estavam desempregadas, que aqui temos bolsas económicas para facilitar o acesso. Para além disso, sabemos que se a escola tivesse muitas mais sócias, a inscriçom seria muito mais económico”.
"Cada vez há mais gente que entende que a Semente nom é um projeto com ánimo de lucro"
Porém, o já tradicional apego ao público-estatal por parte de certos setores defensores do idioma –nomeadamente do nacionalismo- talvez esteja a jogar um papel refreador do crescimento da Semente. Assim, as pessoas que impulsam o projeto percebem certas reticências para com o mesmo pola parte de mais e pais desse contorno. Desde Trasancos, Sílvia Casal considera que “há muito poucas famílias desse mundo que levem as crianças à Semente. De facto, eu só conhecia umha das famílias. Às vezes, pode que estejam como sócias e sócios da escola, mas as suas crianças nom venhem aqui. Há muitas famílias que podiam ter as crianças na Semente e nom as tenhem, e eu penso que isto é por medo”. No mesmo sentido fala Sánti Quiroga, da escola de Lugo, pondo a causa na antedita querência do nacionalismo galego polos recursos fornecidos polo Estado: “Eu penso que um dos motivos é o facto de existir umha concepçom excessivamente positiva a respeito do que supom o ensino estatal. A dia de hoje, esse modelo de escola exerce umha enorme violência simbólica sobre as classes populares galegas, que som as que mais afastadas estám da cultura escolar. Desse ponto de vista, acho que há umha visom demasiado idealista do que é a escola estatal, que na minha opiniom nom é pública”.
Um projeto a germolar: os rebentos da Semente
A dia de hoje, existem cinco escolas Semente ao longo do país, sediadas em Vigo, Lugo e Trasancos, para além dos dous centros de Compostela. Apesar dos reptos inerentes a um projeto como o que levam entre as maos, as pessoas inquiridas mostram-se confiantes de cara ao futuro. Assim, o maior desafio viria a ser vencer o medo à novidade das mais e pais favoráveis ao idioma. Dessa maneira, Sílvia Casal vê o futuro “bastante estável e seguro, mas nom o vejo um projeto de massas. É importante continuarmos a ser um organismo auto-gerido. Ora bem, eu entendo que as famílias devem perder o medo”. Sánti Quiroga exprime-se dumha maneira semelhante: “Eu confio muito nas nossas próprias forças, e confio também em que a gente que atualmente mostra um excesso de confiança face ao que supom a escola estatal, se vaia achegando aos poucos ao nosso projeto”. Da Semente de Compostela, se calhar numha fase do processo um bocadinho mais avançada, Séchu Sende coloca poucas reservas ao otimismo: “Vemos como, conforme as mais e os pais conhecem as potencialidades da escola e as suas caraterísticas, se amplia a rede social. Estamos a comprovar que cada vez existe mais gente que, sem estar diretamente vinculada com o ativismo social, descobre que a Semente é umha escola de qualidade, onde as suas filhas e filhos podem desenvolver a sua vida em galego”.