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Helena Domínguez: “Existe umha relaçom mui fluída entre as elites políticas e os meios de comunicaçom dominantes”

por
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No seu trabalho ‘A construción mediática do conflito. O caso de Resistência Galega’, publicado por Axóuxere Editora e baseado na sua tese de doutoramento, Helena Domínguez analisa o tratamento mediático da violência política independentista entre os anos 2005 e 2014. A partir de umha análise crítica dos meios hegemónicos, Domínguez expom como foi criado o relato do terrorismo na Galiza e como este termo foi empregado para a deslegitimaçom de qualquer reivindicaçom arredista.. 

O que che le­vou a pu­bli­car neste for­mato? Que no­vi­da­des há em re­la­çom à tese?

Levou-me a pu­blicá-lo po­der ti­rar pro­veito de todo o tra­ba­lho de­di­cado à tese de dou­to­ra­mento. Ainda que a tese está dis­po­ní­vel na Internet, gos­tava de que fosse em for­mato li­vro e que pu­desse ser útil para qual­quer pes­soa in­te­res­sada em in­ves­ti­gar nos meios de co­mu­ni­ca­çom da Galiza e nos te­mas de in­de­pen­den­tismo e ter­ro­rismo, pois via que ha­via um va­zio neste campo. Eu mesma nom en­con­trava o ma­te­rial que que­ria e ti­nha a sen­sa­çom de que ia en­cher um va­zio: ofe­re­cer umha vi­som crí­tica da im­prensa, fa­lar do in­de­pen­den­tismo atra­vés de ou­tra perspetiva…

Há bas­tan­tes no­vi­da­des a res­peito da tese. A es­tru­tura é se­me­lhante, nota-se que há pri­meiro um marco teó­rico e de­pois umha in­ves­ti­ga­çom prá­tica, mas o es­tilo está mui de­pu­rado. Há par­tes que fô­rom eli­mi­na­das e ca­pí­tu­los que som com­ple­ta­mente novos.

A ní­vel teó­rico, um dos pi­a­res da tua aná­lise é o mo­delo de pro­pa­ganda de Chomsky e Herman, cri­ado na dé­cada de 90. Tem vi­gên­cia este mo­delo atu­al­mente para a im­prensa galega?

Absolutamente. É um mo­delo que está ba­se­ado numha sé­rie de pe­nei­ras que con­di­ci­o­nam as in­for­ma­çons dos meios de co­mu­ni­ca­çom, e ve­mos que es­tám to­das vi­gen­tes e que som ób­vias. As de­pen­dên­cias eco­nó­mi­cas per­meiam os meios, a re­la­çom com o po­der e as fon­tes ofi­ci­ais tam­bém… Das cinco pe­nei­ras só há umha que se en­con­tra des­fa­sada que era a di­co­to­mia que exis­tia en­tre co­mu­nis­tas e an­ti­co­mu­nis­tas na im­prensa dos EUA. Agora nom po­de­mos fa­lar exa­ta­mente dessa po­la­ri­za­çom. Essa di­co­to­mia en­tre pes­soas boas e más dá-se agora en­tre gente vi­o­lenta e de­mo­crá­tica ou pacífica. 

Outra das pe­nei­ras é a crí­tica como me­ca­nismo para dis­ci­pli­nar os meios. Refere-se a que os meios re­ce­bem crí­ti­cas e pres­sons. Na Galiza, a vi­gên­cia disto é to­tal. Estou certa de que há pes­soas do go­verno ga­lego que er­guem o te­le­fone e cha­mam os res­pon­sá­veis dos meios para cha­mar a aten­çom ou dar ori­en­ta­çons. Existe umha re­la­çom mui fluída en­tre as eli­tes po­lí­ti­cas e os meios de co­mu­ni­ca­çom do­mi­nan­tes. E na Galiza es­pe­ci­al­mente, pois é um sí­tio pe­queno, com umha es­tru­tura ca­ci­quil her­dada do fran­quismo e na qual se des­tina muito di­nheiro aos meios de co­mu­ni­ca­çom de forma pouco trans­pa­rente. Todo isso serve para mer­car vontades. 

aa­rón l. rivas

Com o con­ceito de ‘ter­ro­rismo’ pro­cura-se criar um ini­migo e des­le­gi­ti­mar umha po­si­çom po­lí­tica. Apontas que houvo co­lu­nis­tas de opi­niom que uti­li­zá­rom o termo an­tes de ha­ver ne­nhumha sen­tença de­cla­rando Resistência Galega como or­ga­ni­za­çom ter­ro­rista. Tivo en­tom o jor­na­lismo ga­lego um pa­pel de van­guarda na hora de cri­mi­na­li­zar o independentismo?

Sem dú­vida. Anos an­tes de ser de­cla­rada Resistência Galega como or­ga­ni­za­çom ter­ro­rista, so­bre todo as pes­soas que es­cre­viam opi­niom, já se re­fe­riam ao se­tor in­de­pen­den­tista como ter­ro­rista, mesmo para açons que nom im­pli­ca­vam vi­o­lên­cia fí­sica. Empregavam este termo para qua­li­fi­car qual­quer pes­soa que ti­vesse umha ide­o­lo­gia in­de­pen­den­tista ra­di­cal que nom en­cai­xasse na sua vi­som do que ti­nha que ser a Galiza. Contrubuírom a criar esse ima­gi­ná­rio ter­ro­rista an­tes de que os tri­bu­nais o pu­ges­sem ofi­ci­al­mente por es­crito. O in­de­pen­den­tismo ten­tou com­ba­ter isto mas com uns meios mui de­se­qui­li­bra­dos frente a toda o apa­rato do Estado.

Os meios fô­rom cons­truindo um re­lato do ter­ro­rismo ga­lego com ele­men­tos que já uti­li­zá­rom nou­tras eta­pas de vi­o­lên­cia po­lí­tica, como por exem­plo o vín­culo com Portugal. Como achas que se foi cons­truindo en­tom este re­lato do ter­ro­rismo ga­lego ao longo das úl­ti­mas décadas? 

A con­for­ma­çom do re­lato do ter­ro­rismo ga­lego ins­pi­rou-se muito no País Basco. Todo o re­lato que es­tava cons­truído no País Basco ten­tou trans­la­dar-se aqui. Mas acon­tece que sem­pre foi mui di­fí­cil de en­cai­xar. Houvo duas ví­ti­mas mor­tais na etapa do EGPGC mas a vi­o­lên­cia dos gru­pos in­de­pen­den­tis­tas foi mais bem cara a bens imó­veis e nom tem nada a ver com o tipo de vi­o­lên­cia do País Basco. Sempre foi di­fí­cil sus­ter todo esse dis­curso, e para isso acres­cen­tá­rom-se umha sé­rie de mi­tos ou fal­sas re­a­li­da­des que ten­ta­vam dar corpo a esse ter­ro­rismo que na re­a­li­dade na Galiza nom existia. 

Entom, apa­rece o tema de Portugal. Como ETA ti­nha França como lu­gar em que se re­fu­gi­a­vam para fu­gir da jus­tiça, pois en­tom na im­prensa ga­lega co­me­çou a apa­re­cer Portugal como um sí­tio em que es­tava a ame­aça ter­ro­rista aga­chada. E pa­rece men­tira, mas isto mis­tu­rava-se com a nor­ma­tiva rein­te­gra­ci­o­nista do ga­lego, que era vista tam­bém como um signo de perversidade. 

A con­for­ma­çom do re­lato do ter­ro­rismo ga­lego ins­pi­rou-se muito no País Basco, mas acon­tece que é mui di­fí­cil de en­cai­xar aqui e para isso fô­rom acres­cen­ta­dos umha sé­rie de mitos”

Por ou­tra parte, para sus­ter essa fra­gi­li­dade do ter­ro­rismo ga­lego vai apa­re­cer sem­pre umha as­so­ci­a­çom com ETA ou com a re­a­li­dade do País Basco, fa­zendo umha ana­lo­gia e ten­tando con­ta­giar umha cousa com ou­tra. Aos in­de­pen­den­tis­tas ga­le­gos vam-lhes cha­mar ‘jar­rai­ciños’, ‘gal­le­tar­ras’… e vam a as­si­na­lar qual­quer tipo de re­la­çons com a re­a­li­dade do País Basco para sus­ter essa es­tru­tura que dou­tro jeito nom se sustinha. 

Outra li­nha que apa­rece sem­pre aca­rom do ter­ro­rismo e o in­de­pen­den­tismo cons­truído ar­re­dor da Galiza é a ir­ra­ci­o­na­li­dade. É como se ter ideias in­de­pen­den­tis­tas fosse um ar­re­bato ju­ve­nil mas que se passa quando ma­du­ras. É como se aqui nom pu­desse ha­ver ideias in­de­pen­den­tis­tas de umha forma le­gí­tima, como no País Basco ou em Catalunha. Todas es­sas re­pre­sen­ta­çons con­ti­nuam con­ta­mi­nando o in­de­pen­den­tismo galego. 

No li­vro con­tas o caso de um in­de­pen­den­tista que de­nun­cia um meio que o qua­li­fi­cou de ter­ro­rista, mas que nom foi su­ce­dida. Ainda as­sim, achas que há ar­gu­men­tos para de­nun­ciar este tipo de tra­ta­mento me­diá­tico, com con­sequên­cias nas vi­das das pes­soas?Argumentos evi­den­te­mente há, mas as de­nun­cias nom te­nhem eco. Acho que acon­te­cerá como com o caso da mo­nar­quia, che­gará al­gum mo­mento em que toda esta ilu­som ra­che e que haja es­paço para as vo­zes crí­ti­cas. Com a Operaçom Jaro fi­cá­rom em evi­dên­cia mui­tos meios, de­pois de tan­tos anos apre­sen­tando este grupo de gente como ter­ro­rista re­sul­tá­rom ab­sol­vi­dos. Quem vai res­pon­der por toda essa ope­ra­çom me­diá­tica que houve con­tra eles? Ninguém agora, mas no fu­turo acho que a gente per­ce­berá que es­tes meios fi­ca­rám à mar­gem. Nom sei se umha de­nun­cia pros­pe­rará, mas ainda que nom pros­pere nos tri­bu­nais acho que pros­pe­rará na cons­ci­ên­cia da ci­da­da­nia. Cada vez há mais gente que nom crê nada do que pom em La Voz de Galicia ou do que emite a TVG. Os meios de co­mu­ni­ca­çom tra­di­ci­o­nais es­tám em de­ca­dên­cia, em boa me­dida por­que nom es­tám cum­prindo com o pa­pel que de­ve­riam cumprir.

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