A grande quantidade de focos ativos deste verao nos países mediterrâneos e as hectares queimadas mostram que o comportamento do bosque e dos incêndios desta zona está a mudar. Trata-se dos conhecidos com o nome de incêndios de quinta geraçom: grandes incêndios, simultâneos e muito virulentos que complicam a sua extinçom. Os expertos alertam de que dos três fatores chave para início e propagaçom do lume: temperatura, vento e humidade o que está a mudar com umha tendência mais evidente é o fator temperatura. Desde 1950 o número de dias em situaçom de onda de calor aumentárom significativamente.

“Se alguém tem dúvidas de que a mudança climática é real que venham e vejam isto”. Com estas palavras o primeiro ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, a começos de agosto referia-se à vaga de incêndios florestais que assistiam ao Peloponeso. A estas alturas o país levava registadas em tam só duas semanas 65.000 hectares calcinadas e mais de 150 focos ativos de incêndios que chegárom até Atenas obrigando aos bombeiros a evacuar centos de pessoas. De facto, dous dias depois das palavras do primeiro ministro grego, quando o incêndio estava controlado, o vento voltava reviver o lume obrigando a evacuar quatro subúrbios do norte de Atenas e o centro de refugiados de Malakasa ademais de umha dúzia de vilas da ilha de Eubea.
Coincidindo com estas, datas em Túrquia vivia-se umha situaçom similar. O presidente turco Recep Tayyip Erdogan declarava que os incêndios deste verao eram os piores da história do país. Os satélites da agência europeia Copernicus confirmavam: a intensidade diária dos incêndios em Turquia era a mais alta que registou o programa de monitores da atmosfera desde que se criou em 2003.
Este mês de agosto convertia-se no segundo mais caloroso registado em Europa e o terceiro a escala global: Grécia registou temperaturas de até 46ºC e na Turquia os termómetros chegavam até os 50ºC
Na zona sul da Itália, em Calábria, o governo teve que mobilizar ao exército para tratar de conter os incêndios. Da Agência Europeia Copernicus alertavam: “Na Turquia e o sul da Itália as emissons e a intensidade dos incêndios aumenta rapidamente”.
Também foram registados incêndios intensos nestas datas em Marrocos, Grécia, Macedónia, Líbano e Albânia. Em definitiva, quase todos os países do Mediterrâneo luitavam contra os incêndios no meio de umha onda de calor. Este mês de agosto convertia-se no segundo mais caloroso registado em Europa e o terceiro a escala global: Grécia registou temperaturas de até 46ºC e na Turquia os termómetros chegavam até os 50ºC.
No estado espanhol Catalunha, Andaluzia, Albacete e o Pais Valenciano também fôrom ameaçados polas lapas num dos anos onde mais hectares de bosque fôrom queimadas: 46.000 hectares e 6000 incêndios.
Abandono do rural e turistificaçom
Mas o que acontece realmente nos países do Mediterrâneo? Estamos perante umha mudança climática ou das consequências de umha mala gestom florestal? Esta é a primeira pergunta que convida a fazer-nos Enric Artero, técnico florestal da deputaçom de Barcelona: “O 64% do território do Principado (nome com o que se conhece a Catalunha autonómica) é bosque, falamos de 2 milhons de hectares das quais só 30% som campos de cultivo. Há 50 anos a superfície dedicada a cultivo era mais do 50%, o abandono do rural provoca que cada vez haja mais superfície de montes, mais acumulaçom de combustível e mais continuidade de bosque por falta de mosaico florestal (campos de cultivo entre bosques) que é o que corta o avanço do lume em caso de incêndio. Onde há vinha e oliveiras o lume para. As florestas passárom de ser fonte de energia com a extraçom de lenha a armazém de energia. Isto é letal”, conclui Artero.
O problema acrescentado da grande maioria países do Mediterrâneo é a pressom urbanística descontrolada relacionada também com a turistificaçom destas zonas: prédios e casas foram construídos a partir da década de 70, a maioria como segundas residências e muito próximas a zonas de floresta. As pessoas que vivem ali nom trabalham a terra. Estas contruçons som um perigo mais no caso de incêndio.
O problema acrescentado da grande maioria países do Mediterrâneo éa pressom urbanística descontrolada relacionada também com a turistificaçom destas zonas: prédios e casas foram construídos a partir da década de 70
Caso catalám
Mas o caso catalám é paradoxal. Catalunha é reconhecida a nível internacional como um modelo na hora de extinguir incêndios e, de facto, está dotada com um corpo anual de 5000 bombeiros altamente profissionalizado, todas as brigadas som públicas e contam com um único mando centralizado a través da conselharia de interior.
Mas a eficácia crescente dos bombeiros apagando lumes e o abandono do campo criárom bosques mais suscetíveis: há muito mais para queimar e quando o clima é adverso, como aconteceu neste verao com diferentes ondas de calor, os incêndios multiplicam-se e avançam quase sem controle. Ademais as chuvas a cada vez som mais irregulares, intercalando muitos meses de seca com meses de chuvas muito intensas. As condiçons do terreno seco que antes só se davam nos meses de verao agora aprecem já na primavera.

A administraçom na Catalunha no relativo a extinçom reconhece que entrou numa espiral: “criamos um país de bosque contínuo a base de apagar lapas e nom incêndios”. Afirma Marc Castellnou, responsável do corpo de elite de bombeiros da Catalunha. Os dados reforçam esta afirmaçom: um estudo elaborado pelo Centro Tecnológico florestal da Catalunha conclui que a administraçom investe um 90% do seu orçamento destinado à gestom da floresta em extinçom. Só 1 de cada 10 euros é destinado à prevençom.
Engenheiros florestais cataláns que estudam o comportamento destes incêndios, considerados de quinta geraçom, concordam: a luta contra o lume modificou a paisagem e fijo com que os incêndios mediterrâneos que serviam para regenerar o território, agora tenham comportamentos diferentes. “Estamos diante de incêndios de quinta geraçom, que se produzem a partir do ano 1994 que podem chegar a ser incontroláveis: grandes incêndios florestais simultâneos, mui virulentos, capazes de saltar às autoestradas”.
Mais vagas de calor
Mas que é o que favoreceu a apariçom destas mudanças nos incêndios? O diretor do Centro de Investigaçom ecológica e aplicaçons florestais com sé na Catalunha, Joan Pino indica a excecionalidade da situaçom deste verao: “As temperaturas extremas favorecem a propagaçom, ainda que muitos incêndios devem-se a negligencias humanas mas é importante entender que estas ondas de calor vam ser cada vez mais frequentes”.
O mundo científico mostra-se reticente a atribuir estes incêndios ainda à chegada iminente do cambio climático, mas há indicadores que apontam diferencias entres estes incêndios e os de há alguns anos, de terceira e quarta geraçom. Jordi Vendrell, diretor da Fundaçom Pau Costa de ecologia do Lume explica alguns destes indicadores: “a temporada de incêndios e cada vez é máis longa: antes começava em junho e acabava em setembro agora expande-se de maio a outubro ademais estám a subir de latitude já que o risco de incêndios também começa a afetar o norte da Europa”.
Prever para evitar
A luta contra os incêndios requer umha mudança de estratégia já, afirma Enric Artero: “a melhor maneira de lutar contra os incêndios é evitar que se produzam. Temos que preparar o terreno para nom prender. Estou a falar de umha gestom florestal sustentável: reduzir massa florestal, necessitamos criar uns bosques mais resistentes as novas perturbaçons. Isto é, menos árvores e mais altos e criar umha paisagem de mosaicos que rompa a linha continua de floresta com pastos e cultivos. Duas medidas chaves para a gestom sustentável. Outras som as queimas controladas. Neste sentido, na Catalunha trabalha-se para mudar o regime de uso cada ano de um 1% de território: 20.000hectáreas por ano”.
A luita contra os incêndios passa também por dotar os bosques de infraestruturas para ser mais eficientes na extinçom como caminhos para que passem as equipas de emergência, instalar pontos de agua e criar “áreas estratégicas” pequenos claros corta-fogos que ajudam a bombeiros atacar o incêndio.
Conseguir umha gestom sustentável nos países do Mediterrâneo é chave nos próximos anos já nom para recuperar a floresta característica destas zonas se nom para a própria supervivência, mas supom um reto imenso: apostar na agricultura, apoiá-la desde as administraçons e cortar de raiz com a industria do turismo desenfreada que caracteriza estas zonas desde há mais de meio século.
Caraterísticas da floresta mediterrânea
As espécies autóctones do Mediterrâneo estavam adaptadas a períodos de seca extensos no tempo e a resistir lumes cada certo tempo. Ademais regeneram muito bem depois de um incêndio.
Uxia Afonso engenheira florestal indica que “o bosque mediterrâneo tradicional nom tem muitos extratos arbóreos, e a diferencia da floresta atlântica, quase nom tem matogueira, as árvores som baixas e de pouca densidade o que permitia que nom seja tam fácil a que os grandes lumes avançarem, mas o que aconteceu no mediterrâneo foi que a partir dos anos 50 introduzírom-se espécies como o pinheiro branco e acácias que regenera muito facilmente e abondonárom-se zonas agrícolas compostas por oliveiras, vinha, amendoeiras… Isto favorece a propagaçom virulenta dos incêndios, que já nom conta com corta-fogos naturais, acrescentado a fortes ventos e altas temperaturas como as máximas deste verao na Grécia, Turquia e no Estado que dificultam muitíssimo a extinçom”.