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Kenia García: “A sociedade que se solidariza cara as ucranianas aplaude ao mesmo tempo a violência cara as pessoas que fogem de outras guerras”

por
ke­nia mar­tína, porta-voz de ‘Regularización XA’. elena martín

No mês de fevereiro, o movimento Regularización XAjunto com a Fundación para la Ciudadanía Global, Por Causa, REDES, Alianza por la Solidaridad, Solidaridad Internacional e o Partido por un Mundo Más Justo— apresentou umha Iniciativa Legislativa Popular (ILP) que busca recolher 500 mil assinaturas para conseguir levar ao Congresso a regularizaçom de meio milhom de pessoas. Kenia Garcia, porta-voz deste movimento, conta as claves desta ILP que “se limita a modificar, com um artigo único, a disposiçom transitória primeira da Lei Orgânica 4/2000, do 11 de janeiro”, de modo que apareça umha nova data “que permita regularizar todos os migrantes em situaçom administrativa irregular do estado espanhol antes do 1 de novembro de 2021”.

Como surde e que pe­di­des com esta ILP desde Regularización XA

Isto ini­ciou-se em ju­nho de 2021 quando se cria umha pla­ta­forma —à que se lhe chama Esenciales— para a apre­sen­ta­çom desta ILP. Pode-se di­zer que so­mos um grupo de or­ga­ni­za­çons so­ci­ais e po­lí­ti­cas ali­a­das que se unem com o ob­je­tivo co­mum de pro­cu­rar o de­bate para a re­gu­la­ri­za­çom das pes­soas mi­gran­tes que se to­pam em si­tu­a­çom ad­mi­nis­tra­tiva ir­re­gu­lar no es­tado es­pa­nhol. Com este pro­pó­sito, fi­ge­mos umha re­da­çom con­junta desta ILP, um me­ca­nismo ha­bi­li­tado ade­mais polo sis­tema po­lí­tico. Logicamente, isto nom as­se­gura que as pes­soas em si­tu­a­çom ad­mi­nis­tra­tiva ir­re­gu­lar po­dam re­gu­la­ri­zar-se. Nós nom es­ta­mos pro­me­tendo nada, mas é um pri­meiro passo. Através do res­paldo desta ILP, o que que­re­mos é con­se­guir co­lo­car no de­bate le­gis­la­tivo umha agenda ba­se­ada no res­peito aos di­rei­tos das pes­soas mi­gran­tes e a apro­va­çom de umha re­gu­la­ri­za­çom ex­tra­or­di­ná­ria como res­posta ur­gente ante a vir­tual in­vi­si­bi­li­dade e tam­bém vul­ne­ra­bi­li­dade das pes­soas mi­gran­tes que se to­pam nesta si­tu­a­çom e que já con­vi­vem den­tro do ter­ri­tó­rio espanhol.

Por que 500.000?

Nom exis­tem es­ta­tís­ti­cas exa­tas de quan­tas pes­soas re­al­mente se to­pam em si­tu­a­çom ad­mi­nis­tra­tiva ir­re­gu­lar no es­tado es­pa­nhol. Calcula-se que, mais ou me­nos, po­dem ser ar­re­dor de 400 mil. Há umha in­ves­ti­ga­çom, re­a­li­zada pola Universidade Carlos III, que di que a ci­fra se apro­xima mais às 470 mil das quais um terço se­riam me­no­res de idade. Isto é, meio mi­lhom de pes­soas es­tám in­vi­si­bi­li­za­das pe­rante o es­tado es­pa­nhol. Nós par­ti­mos dessa in­ves­ti­ga­çom para pe­dir 500 mil as­si­na­tu­ras para ou­tras tan­tas pes­soas, por­que é pos­sí­vel que se­jam mais.

Através do res­paldo desta ILP, o que que­re­mos é con­se­guir co­lo­car no de­bate le­gis­la­tivo umha agenda ba­se­ada no res­peito aos di­rei­tos das pes­soas migrantes”

Quando pen­sa­mos em mi­gran­tes em si­tu­a­çom ir­re­gu­lar, nom sem­pre se en­tende até que ponto é umha si­tu­a­çom de de­sam­paro. Como se vive numha si­tu­a­çom assim?

Com cer­teza. Eu ti­vem o “pri­vi­lé­gio” de es­tar pouco tempo nessa si­tu­a­çom. Habitualmente e por des­graça nom é o nor­mal que as pes­soas mi­gran­tes ob­te­nham o seu per­mis­som de re­si­dên­cia aos três anos. Há pes­soas que po­dem es­tar dez ou in­clu­sive mais. Quando es­tás nesta si­tu­a­çom, to­paste num es­tado de nom-di­reito, de nom-ci­da­da­nia. Isto fai que, em pri­meiro lu­gar, te sin­tas cri­mi­na­li­zada, por­que so­fres umha per­se­gui­çom cons­tante por parte da po­lí­cia atra­vés de pa­ra­das ra­cis­tas na rua. Por muito que di­gam que este tipo de con­tro­los som ale­a­tó­rios, nom pa­ram as pes­soas bran­cas, se­nom que se cen­tram nas que te­nhem cer­tos tra­ços ét­ni­cos. Além disto, atra­vés desta per­se­gui­çom po­li­cial, gera-se o ima­gi­ná­rio da so­ci­e­dade de que so­mos de­lin­quen­tes. E as­sim, es­tru­tu­ral­mente, desde o Estado, con­tri­bui-se à es­tig­ma­ti­za­çom das pes­soas migrantes.

A isto soma-se que, sem do­cu­men­ta­çom, nom se pode alu­gar umha mo­ra­dia de ma­neira le­gal. Isto im­plica a vul­ne­ra­çom de um di­reito tam bá­sico como é a vi­venda. Sem do­cu­men­ta­çom tam­pouco se pode ace­der a um con­trato de tra­ba­lho e isto fai que as pes­soas nesta si­tu­a­çom es­te­jam ex­pos­tas a todo tipo de ex­plo­ra­çons e abu­sos por parte da pa­tro­nal já que nom te­nhem ma­neira de de­nun­ciar ab­so­lu­ta­mente nada. Durante a pan­de­mia, isto viu-se tam­bém por­que mui­tas mi­gran­tes nom pu­dé­rom ace­der a um ERTE, ao paro ou a bai­xas por en­fer­mi­dade. Muitas mu­lhe­res, por exem­plo, nom pu­dé­rom so­li­ci­tar baixa du­rante a sua gravidez.

A todo isto ainda lhe te­mos que so­mar a in­ca­pa­ci­dade para abrir­mos umha conta ban­cá­ria, o que vi­ola os nos­sos di­rei­tos eco­nó­mi­cos. Temos tam­bém pro­ble­mas de acesso à sa­ni­dade por­que nom te­mos car­tom sa­ni­tá­rio e tam­pouco po­de­mos vo­tar. Nom po­de­mos ace­der à umha par­ti­ci­pa­çom po­lí­tica quando vi­ve­mos e par­ti­ci­pa­mos com o nosso tra­ba­lho no sus­ti­mento da so­ci­e­dade. Basicamente, nom exis­ti­mos como ci­da­daos e cidadás. 

Recolhida de as­si­na­tu­ras na praça do pam, de Compostela. aso­ci­a­ción de mi­gran­tes de galicia

Com a guerra em Ucrânia, a gente so­li­da­riza-se com os re­fu­gi­a­dos ucra­ni­a­nos, e a pró­pria UE pa­rece es­tar fa­ci­li­tando as cou­sas para que aque­les que fo­gem desta guerra to­pem re­fú­gio nou­tros paí­ses. Por que nom se fixo nou­tros con­fli­tos? Está a ser mais pa­tente o ra­cismo de Europa? 

Sim. Do mo­vi­mento an­tir­ra­cista es­ta­mos a cri­ti­car muito esta si­tu­a­çom, mas com cer­teza, baixo ne­nhum con­ceito es­ta­mos a ques­ti­o­nar que se es­teja a aju­dar as pes­soas que fo­gem desta guerra. A es­tas pes­soas há que pres­tar-lhes toda a ajuda, aten­çom, pro­te­çom e ga­ran­tias pos­sí­veis. Isso, nós mais do que nin­guém, sa­be­mos o im­por­tante que é. Agora bem, que di o Artigo 14 da Declaraçom Universal dos Direitos Humanos? Di que em caso de per­se­gui­çom, toda pes­soa tem di­reito a bus­car asilo e go­zar dele em qual­quer país. Isso nom se está a cum­prir. De re­pente, no es­tado es­pa­nhol po­dem-se agi­li­zar os trâ­mi­tes, os mes­mos com os que nós na pan­de­mia ti­ve­mos mui­tís­si­mos pro­ble­mas por­que nom to­pá­va­mos ci­tas para re­no­var os nos­sos car­tons. A causa disto muita gente fi­cou em si­tu­a­çom ad­mi­nis­tra­tiva ir­re­gu­lar. Porém, agora, em me­nos de 24 ho­ras, os re­fu­gi­a­dos e re­fu­gi­a­das ucra­ni­a­nas po­dem ace­der a um per­mis­som de re­si­dên­cia e tra­ba­lho. Por que nom se fijo isto em plena crise sa­ni­tá­ria? Por que re­jei­tá­rom no ano 2020 a pro­posta nom de lei que apre­sen­ta­mos nós di­zendo que, em te­o­ria, desde a Comunidade Europeia nom era pos­sí­vel aprová-la quando a pró­pria UE des­men­tiu isto di­zendo que cada es­tado tem a ca­pa­ci­dade para de­ci­dir se em de­ter­mi­na­das cir­cuns­tan­cias se re­gu­la­riza de ma­neira ex­tra­or­di­ná­ria as pessoas?

Nom po­de­mos ace­der a umha par­ti­ci­pa­çom po­lí­tica quando vi­ve­mos e par­ti­ci­pa­mos com o nosso tra­ba­lho no sus­ti­mento da so­ci­e­dade. Basicamente, nom exis­ti­mos como ci­da­daos e cidadás”

Basicamente, ve­mos umha enorme so­li­da­ri­e­dade da so­ci­e­dade cara as pes­soas ucra­ni­a­nas mas ao mesmo tempo ve­mos como aplau­dem a vi­o­lên­cia quando as que es­tám a fu­gir dou­tras guer­ras ten­tam cru­zar por Melilha. E ve­mos ao tempo que a so­li­da­ri­e­dade cara as pes­soas ucra­ni­a­nas de­pende tam­bém da cor. A co­mu­ni­dade ci­gana, por exem­plo, ou as pes­soas ne­gras que ten­tam cru­zar a fron­teira tam­bém so­frem dis­cri­mi­na­çom. Está claro que as po­lí­ti­cas mi­gra­tó­rias do es­tado es­pa­nhol e da UE, em ge­ral, som aber­ta­mente ra­cis­tas e classicista. 

Algo que quei­ras acrescentar?

As as­si­na­tu­ras re­co­lhemo-las até o mês de agosto e pe­di­mos às pes­soas que ainda nom o fi­gé­ram que bus­quem pon­tos de re­co­lhida em cada ci­dade e as­si­nem para que po­da­mos che­gar ao con­gresso e que esta ILP poda ser de­ba­tida ali. Podem co­nhe­cer toda a in­for­ma­çom e ler a ILP em esenciales.info ou nas re­des so­ci­ais de Regularización XA.

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