
Centenas de milhares de pessoas trabalhadoras tivérom, com o início do estado de emergência, de entrar num ERTE. Também as autónomas vírom como os seus rendimentos minguavam. O mercado laboral enfrenta-se a um panorama de destruiçom de emprego e incerteza, enquanto problemáticas como a habitaçom vam evidenciar mais umha vez as desigualdades sociais.
A crise atual tem a sua base na atual fase de demoliçom do estado de bem-estar que acelerou após a crise financeira de 2008 e as políticas neoliberais. “As contrarreformas laborais dos últimos anos permitem a destruiçom de enormes quantidades de empregos num período curto de tempo. Como é isto possível? Porque o grau de temporalidade é tam grande que ainda que o Estado desenvolveu instrumentos para evitar o despedimento durante a crise, simplesmente a nom renovaçom de contratos temporários está a gerar umha enorme sangria laboral”, expom o economista Adrián Dios. “Como os contratos temporários tenhem um menor grau de proteçom pública, vam ser precisamente aqueles com condiçons laborais mais precárias que perdam o trabalho e, ao mesmo tempo, tenham menos instrumentos para aguentarem esta situaçom”, analisa Dios, quem acha que o conceito de ‘precariado’ vai ganhar força nestes momentos.
Trabalhadoras do fogar
Já apontava Helena Sanmamede que as mulheres acusariam umha maior perda de empregos. Assim, um dos setores com umhas condiçons de trabalho mais precárias seriam as trabalhadoras do fogar. Sanmamede expom a especial desproteçom destas trabalhadoras: “Nom estám equiparados os seus direitos aos do resto de trabalhadoras, sem direito a subsídio de desemprego, sem negociaçom coletiva, contribuiçons mais baixas do que no regime geral, pensons inferiores ao regime geral, estám no esquecimento da inspeçom laboral, especialmente grave no caso das trabalhadoras internas, posto que os domicílios particulares nom podem ser inspecionados sem ordem judicial”. “E com a chegada da Covid19 as que mantenhem os seus empregos realizam-nos, em muitíssimos casos. sem as devidas medidas de proteçom contra o contágio”, acrescenta.
Nesta linha, Helena aponta que o subsídio aprovado polo governo espanhol para estas trabalhadoras é insuficiente. “Outra vez o sistema ignora as margens e nom tem em conta que no trabalho do fogar há umha percentagem elevadíssima ‑estima-se em torno de 30%- de contratos informais, que nom estám legalizados nem quotizam. Muitos deles a pessoas migrantes em situaçom irregular, o que incrementa a sua vulnerabilidade”, expom.
Sanmamede assinala também que com a queda do poder de compra das famílias empregadoras prevê-se umha reduçom de contratos nesta atividade e considera que a equiparaçom laboral, prevista para 2021, deveria adiantar-se com a situaçom atual e adquirir um caráter retroativo.
Desemprego e segurança
Maica Bouza é secretária de emprego de CCOO-Galiza acha que esta é umha crise inédita e refere o complexo que é imaginar-se o mercado laboral no médio prazo. No referente à destruiçom de emprego coloca o foco nas pessoas desempregadas de longa duraçom. “Quanto mais tempo leves no desemprego mais difícil irás ter incorporares-te ao mercado laboral. Um dos motivos é que já em termos emocionais custa recuperar o dinamismo na procura ativa de emprego e outro é que quanto mais tempo passas no desemprego as tuas qualificaçons desatualizam-se num mercado que evolui mui rápido em mecanizaçom e tecnologia”, admite Bouza.
Teletrabalho
Há também um consenso arredor de umha novidade laboral que traz a Covid19, e é que o teletrabalho chegou para ficar. E com ele aparecem também a precarizaçom das condiçons laborais e as desigualdades. Adrián Dios fala da sua experiência como docente universitário e acha que a falta de separaçom entre o espaço de trabalho e o fogar está a ter como efeito o prolongamento das jornadas de trabalho. “O teletrabalho pode ser útil e mesmo positivo, mas tampouco pode facilitar o descumprimento dos direitos laborais”, expom. Dios também aponta que esta nova modalidade vai dificultar também a organizaçom das pessoas trabalhadoras e a labor sindical.
O teletrabalho chega para ficar e com ele vem a precarizaçom das condiçons laborais e a reproduçom de desigualdades, assim como dificuldades para que as próprias trabalhadoras se auto-organizem ou sindiquem
Por seu turno, Maica Bouza acha que o desafio está em passar de trabalhar a partir de casa, como está a acontecer na atualidade, com ter teletrabalho. “Agora o que estamos a fazer é trabalhar a partir de casa ao tempo que conciliamos com a nossa vida familiar porque temos o problema acrescentado de que as nossas crianças nom tenhem escola, e nom só tés de os cuidar, mas também atender os seus trabalhos escolares”, assinala Bouza. Assim, pensa que terá de ser no ámbito da negociaçom coletiva que se terá de regular o teletrabalho.
Helena Sanmamede chama a atençom sobre as desigualdades que a implantaçom do teletrabalho traz consigo. Na sua opiniom, esta modalidade “é umha lupa que fai ver de jeito aumentado que determinados trabalhos denominados ‘qualificados’ continuam a ser os valorizados polo sistema sócio-económico”, referindo-se a aqueles empregos que precisam de umha maior formaçom académica e de umha infraestrutura tecnlógica “que nom estám ao alcanço de todas as pessoas”. Também adverte da intensificaçom das desigualdades na tele-educaçom: “Ficarám atrás as estudantes que nom possuam meios técnicos em casa ou de mui baixa qualidade, quem nom tiver apoio académico no fogar, as que tenham diversidade funcional ou necessidades especiais, as de origem estrangeira… E isto acabará por se refletir na sua entrada no mercado laboral no futuro”.
Caem as migraçons, medra a desigualdade

Antonio Izquierdo Escribano é um dos sociólogos de referência no âmbito das migraçons e impulsor da Equipa de Sociologia das Migraçons Internacionais. Izquierdo opina que a crise da covid19 vai acentuar tendências, provocará umha reordenaçom dos mercados laborais e o número de pessoas migrantes reducirá-se. “Os mercados de trabalho nom precisarám de tantos imigrantes em situaçom irregular porque muitos imigrantes empobrecidos, e também autóctones empobrecidos, verám-se arrastados aos trabalhos pior considerados. O fluxo deste tipo de migraçom vai diminuir. Em paralelo, também extremará a vigilância e o controlo policial nas fronteiras, e dentro dos países aumentarám a desconfiança e o rechaço dos pobres que venhem de fora”.
A crise, sublinha Izquierdo, é um freio para determinados fenómenos migratórios da globalizaçom e um empurrom para outros. Provocará um empobrecimento geral, “particularmente das classes meias às quais o capitalismo digital expulsa dos seus pequenos ocos de emprego”. Mas também vai haver concorrência entre estados por ver quem leva os migrantes mais qualificados. “Esse fluxo nom vai deter-se, incrementará-se”. Particularmente, entre os mui qualificados, como físicos, informáticos, engenheiros e também pessoal sanitário.
Desigualdade
A covid19 afundou as desigualdades em dous meses, coincidem Daniel Bóveda, ativista de ACCEM, organizaçom que trabalha com pessoas migrantes, refugiadas e pessoas em exclusom, e Raquel Martínez-Buján, professora de sociologia na UDC e membro do ESOMI.
“Tivo efeitos imediatos. Pujo de manifesto o drama de muitas famílias que viviam ao dia e agora nom tenhem nem para comprar a comida nem para pagar o aluguer… Até há pouco falávamos dumha classe trabalhadora empobrecida, pois aqui temos as consequências de nom ter um estado do bem-estar com piares fortes: vai ficar atrás muita gente que vivia ao dia”, di Bóveda, quem assegura que estám a receber muita demanda de informaçom de perfis pessoais que “antes nom chamavam e agora chamam para perguntar por cousas como onde conseguir comida”.
Antonio Izquierdo: “Os mercados de trabalho nom precisarám de tantos imigrantes em situaçom irregular”
“O que sim podemos dizer nesta altura é que a covid19 está gerando maior desigualdade e que quem mais a sofre som as populaçons migrantes”, acrescenta Martínez-Buján, “voltamos ver colas diante dos bancos de alimentos, a coesom social verá-se afetada de novo e porá mais entraves ao desenvolvimento humano de parte da populaçom”.
A covid19 vai reestruturar as sociedades, pensa Antonio Izquierdo. “Olho: reestruturar, nom alterará hierarquias, as enfermeiras vám continuar cobrando menos do que futebolistas. O capitalismo digital, concentrado, o capital mais potente hoje, sairá reforçado e orientará o mercado de trabalho cara a informatizaçom e a digitalizaçom. Ao tempo que se empobrecem, internamente as sociedades vám segmentar-se mais, haverá mais divisons e mais fundas”.