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Novidades na energia eólica na Galiza

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A pro­du­ção de ele­tri­ci­dade a par­tir da ener­gia eó­lica é uma ati­vi­dade muito de­sen­vol­vida nas áreas ru­rais do ter­ri­tó­rio ga­lego, com um pro­cesso de im­ple­men­ta­ção que de­cor­reu prin­ci­pal­mente en­tre 1995 e 2008. No en­tanto, nos úl­ti­mos me­ses, vá­rias cir­cuns­tân­cias fi­ze­ram com que a ener­gia eó­lica tor­nasse a es­tar de atu­a­li­dade na Galiza: as mu­dan­ças nor­ma­ti­vas es­ta­be­le­ci­das na Lei de Fomento de Iniciativas Empresariais, o avanço ad­mi­nis­tra­tivo que es­tão a ter di­fe­ren­tes pro­je­tos de par­ques eó­li­cos e o sur­gi­mento de no­vos con­fli­tos so­ci­o­am­bi­en­tais li­ga­dos a esta ati­vi­dade energética.
Certamente, nos mais de vinte anos de de­sen­vol­vi­mento eó­lico na Galiza, a le­gis­la­ção re­gu­la­dora foi evo­luindo e ex­pe­ri­men­tando mo­di­fi­ca­ções, mas com umas ca­rac­te­rís­ti­cas prin­ci­pais que ainda se man­têm no qua­dro atual e que mesmo se in­ten­si­fi­cam com as re­cen­tes mu­dan­ças. Em pri­meiro lu­gar, im­porta su­bli­nhar que o mo­delo de im­plan­ta­ção eó­lica pro­mo­vido pelo Governo da Galiza foi e con­ti­nua a ser ver­ti­cal, não exis­tindo quase me­ca­nis­mos de par­ti­ci­pa­ção e de­ci­são a par­tir dos âm­bi­tos so­ci­ais e lo­cal, com um pro­cesso de de­ci­são que con­ti­nua su­pra­mu­ni­ci­pal. A pró­pria pla­ni­fi­ca­ção ter­ri­to­rial ga­lega agrupa, es­sen­ci­al­mente, as áreas con­ce­di­das pré­via e pre­fe­ren­ci­al­mente a um con­junto de em­pre­sas eó­li­cas. Umas em­pre­sas que con­cen­tram quase toda a po­tên­cia ins­ta­lada nesta al­tura na Galiza e que re­ce­bem os prin­ci­pais lu­cros dos par­ques eólicos.

O modelo de implantação eólica promovido pelo Governo da Galiza continua a ser vertical, não existindo quase mecanismos de participação e decisão a partir dos âmbitos sociais e local, e sem benefícios para o país.

Por sua vez, o mo­delo eó­lico não trouxe be­ne­fí­cios ao de­sen­vol­vi­mento do mundo ru­ral. Devemos lem­brar que o pro­cesso de im­ple­men­ta­ção de par­ques eó­li­cos de­corre, quase ex­clu­si­va­mente, nos es­pa­ços ru­rais da Galiza, áreas com mui­tos pro­ble­mas so­ci­ais e eco­nó­mi­cos como a perda de po­pu­la­ção, o aban­dono da ati­vi­dade agrí­cola, dos re­cur­sos, etc.; con­di­ci­o­nan­tes que fa­vo­re­cem o mais im­por­tante pro­blema am­bi­en­tal com que de­ve­mos li­dar na atu­a­li­dade, os in­cên­dios flo­res­tais. Neste con­texto, o sur­gi­mento de uma nova ati­vi­dade eco­nó­mica li­gada ter­ri­to­ri­al­mente ao ru­ral pa­re­cia re­pre­sen­tar uma ex­ce­lente opor­tu­ni­dade para com­ba­ter es­tas di­nâ­mi­cas. No en­tanto, a im­pos­si­bi­li­dade de de­sen­vol­ver par­ques eó­li­cos co­o­pe­ra­ti­vos ou co­mu­ni­tá­rios, fi­gura re­le­vante nou­tros paí­ses da Europa e do Mundo, jun­ta­mente com a pos­si­bi­li­dade certa da ex­pro­pri­a­ção dos ter­re­nos afe­ta­dos por par­ques eó­li­cos e a ine­xis­tên­cia de me­ca­nis­mos nor­ma­ti­vos que fa­vo­re­ces­sem a ge­ra­ção de ren­das a par­tir da ati­vi­dade eó­lica, li­mi­tou muito os im­pac­tos eco­nó­mi­cos a ní­vel lo­cal. Finalmente, o mo­delo teve es­cas­sas res­tri­ções am­bi­en­tais, o que trouxe como con­sequên­cia que a cons­tru­ção de par­ques eó­li­cos cau­sasse im­por­tan­tes im­pac­tos am­bi­en­tais em áreas per­ten­cen­tes à Rede Natura, es­pe­ci­al­mente no caso da Serra do Xistral, com atu­a­ções ir­ra­ci­o­nais que en­tram em con­tra­di­ção com a pró­pria ló­gica do com­bate às mu­dan­ças cli­má­ti­cas, como os gra­ves da­nos cau­sa­dos a tur­fei­ras, con­si­de­ra­das ver­da­dei­ros «es­go­tos de car­bono», exis­ten­tes neste es­paço protegido.

As al­te­ra­ções à le­gis­la­ção so­bre ener­gia eó­lica na Galiza
As re­cen­tes al­te­ra­ções à le­gis­la­ção so­bre ener­gia eó­lica na Galiza não abor­dam as­pe­tos fun­da­men­tais e ne­ces­sá­rios para de­mo­cra­ti­zar o de­sen­vol­vi­mento eó­lico e fa­vo­re­cer uma re­per­cus­são eco­nó­mica po­si­tiva para as áreas ru­rais. Efetivamente, as no­vas tor­res eó­li­cas pre­vis­tas com po­tên­cias uni­tá­rias de en­tre 3 e até 4,5 MW (e que pouco se pa­re­cem com os de 0,3 MW ins­ta­la­dos em fi­nais da dé­cada de no­venta), con­ti­nuam vin­cu­la­dos com as gran­des em­pre­sas, sem par­ti­ci­pa­ção ci­dadã nos pro­je­tos e sem ca­pa­ci­dade de de­ci­são desde o âm­bito lo­cal. Assim, uma das prin­ci­pais no­vi­da­des da mo­di­fi­ca­ção da Lei eó­lica é a cri­a­ção da fi­gura de Projetos de­cla­ra­dos de Especial Interesse (PEI). A de­cla­ra­ção de um par­que eó­lico como PEI terá como efei­tos a tra­mi­ta­ção de forma pri­o­ri­tá­ria e com ca­rác­ter de ur­gên­cia e a re­du­ção à me­tade dos pra­zos ne­ces­sá­rios no pro­ce­di­mento da au­to­ri­za­ção ad­mi­nis­tra­tiva, as­sim como dos pra­zos no pro­ce­di­mento de ava­li­a­ção am­bi­en­tal que seja ne­ces­sá­rio. Esta re­du­ção dos pra­zos li­mita ainda mais a par­ti­ci­pa­ção das en­ti­da­des so­ci­ais e am­bi­en­tais e das pes­soas afe­ta­das pe­los par­ques eó­li­cos. Com cer­teza, um prazo de só quinze dias para a con­sulta de toda a do­cu­men­ta­ção e para apre­sen­tar as ale­ga­ções não fa­vo­rece uma maior jus­tiça so­cial e am­bi­en­tal neste se­tor energético.
Nos úl­ti­mos me­ses, desde a cri­a­ção desta fi­gura pelo Governo ga­lego, já fo­ram de­cla­ra­dos vinte e um par­ques como PEI, in­cluindo dois re­po­ten­ci­a­men­tos. No en­tanto, es­tes par­ques eó­li­cos não são no­vos, tendo sido to­dos ad­mi­ti­dos para tra­mi­ta­ção em 2010 ou mesmo com an­te­ri­o­ri­dade. Mas, na ver­dade, nos úl­ti­mos mes­ses es­tes par­ques eó­li­cos es­tão a co­me­çar a avan­çar no pro­cesso ad­mi­nis­tra­tivo. E há mo­ti­vos para isso, já que a de­cla­ra­ção como PEI leva im­plí­cita a ne­ces­si­dade de os pro­je­tos avan­ça­rem até 1 de ja­neiro de 2020, o que po­derá pro­pi­ciar a cons­tru­ção de no­vos par­ques já no pró­ximo ano.

A declaração como Projetos de Especial Interese (PEI) pode propiciar a construção de novos parques já no próximo ano.

De re­al­çar ainda o re­cente eclo­dir de no­vos pro­je­tos com tra­mi­ta­ção fora da com­pe­tên­cias da Junta da Galiza. Parques eó­li­cos nas pro­vín­cias de Lugo e de A Corunha com mais de 50 MW de po­tên­cia e que são re­gu­la­dos pela Administração Geral do Estado. A falta de in­for­ma­ção e de trans­pa­rên­cia, a pre­vi­sí­vel afe­ta­ção a áreas com im­por­tante ati­vi­dade agrí­cola e uma maior cons­ci­en­ti­za­ção ci­dadã, mo­ti­va­ram uma im­por­tante re­jei­ção a vá­rios des­tes pro­je­tos, no­me­a­da­mente em con­ce­lhos da pro­vín­cia da Corunha.
Em suma, o mo­delo de de­sen­vol­vi­mento eó­lico, que tem ex­pe­ri­men­tado mo­di­fi­ca­ções nos úl­ti­mos me­ses, con­ti­nua a ser um mo­delo pro­fun­da­mente in­justo do ponto de vista so­cial e am­bi­en­tal. A re­cente posta em fun­ci­o­na­mento da pri­meira torre co­mu­ni­tá­ria na Península, no­me­a­da­mente na Catalunha, mos­tra um ca­mi­nho que se­ria bom co­me­çar, um ca­mi­nho em fa­vor da de­mo­cra­ti­za­ção da pro­du­ção da ener­gia re­no­vá­vel e onde as po­pu­la­ções lo­cais te­nham ca­pa­ci­dade de de­ci­são e de au­to­ges­tão de um re­curso pró­prio e renovável.

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