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O ensino primário chega à Semente

por
se­mente compostela

As es­co­las Semente de Trasancos e Compostela dam con­ti­nui­dade ao seu pro­jeto de imer­som lin­guís­tica e pe­da­go­gia re­no­va­dora com a aber­tura do ci­clo de Primário. Começam a nova etapa com um to­tal de 18 cri­an­ças en­tre os dous cen­tros. Trabalhar a com­pe­tên­cia em vá­rias lín­guas, o con­tato diá­rio com a na­tu­reza e a pers­pe­tiva de gé­nero som ei­xos que ver­te­bram o projeto.

Catorze alu­nas em Compostela e qua­tro em Trasancos som as pri­mei­ras cri­an­ças da Galiza que vam po­der des­fru­tar do en­sino na sua lín­gua. Por pri­meira vez no país ga­rante-se um mo­delo de pro­te­çom para as cri­an­ças no en­sino pri­má­rio. Cada es­cola che­gou por vias di­fe­ren­tes à im­ple­men­ta­çom do pri­má­rio, ade­mais nen­gum do dous lo­cais é de­fi­ni­tivo, mas pri­o­ri­zou-se as­se­gu­rar o en­sino para cri­an­ças que este ano fi­na­li­za­vam a etapa infantil.
“Muitas cri­an­ças até o de agora saiam da bor­bu­lha de Semente e en­con­tra­vam-se com a re­a­li­dade: os seus di­rei­tos lin­guís­ti­cos eram api­so­a­dos no pri­má­rio. Em pou­cos me­ses o tra­ba­lho de per­ser­va­çom da sua lín­gua de­sa­pa­re­cia, e o cas­te­lhano subs­ti­tuía mui­tas ve­zes a lín­gua ini­cial. Um pro­cesso emo­ci­o­nal muito duro para elas, mas tam­bém para as suas fa­mí­lias ”, di Séchu Sende, mem­bro da co­mis­som lin­guís­tica da Semente. A sig­ni­fi­ca­çom deste passo é enorme, como re­co­nhece o pró­prio Séchu. “Por pri­meira vez na his­tó­ria te­mos um pro­jeto onde as cri­an­ças nom som ví­ti­mas dum sis­tema es­ta­tal que nom res­peita os seus di­rei­tos. E sen­timo-nos or­gu­lhos­sí­si­mas por tê-lo con­se­guido, já que tí­nha­mos umha dí­vida com elas”.

“Por primeira vez na história temos um projeto onde as crianças nom som vítimas dum sistema estatal que nom respeita os seus direitos"

O reto nom foi fá­cil. Era ne­ces­sá­rio tra­ba­lhar na vi­a­bi­li­dade eco­nó­mica e en­con­trar umha so­lu­çom de ca­rác­ter le­gal que per­mi­tisse a imer­som lingüís­tica. “Estivemos dous anos ex­plo­rando di­fe­ren­tes pos­si­bi­li­da­des a ní­vel de re­cur­sos hu­ma­nos, tra­ba­lhando na via le­gal e pro­cu­rando o pré­dio”, ex­plica Sende. O re­sul­tado che­gou gra­ças à im­pli­ca­çom das cin­quenta fa­mí­lias que for­mam parte do pro­jeto con­so­li­dado em in­fan­til e a umha ex­tensa rede de co­la­bo­ra­çons te­cida ao longo des­tes anos. “Os pais e nais des­tas cri­an­ças con­ver­temo-nos em mi­li­tan­tes do en­sino em ga­lego e nom pa­ra­mos de tra­ba­lhar para que as nos­sas fi­lhas con­ti­nu­as­sem a ser acom­pa­nha­das na sua lín­gua”, con­clui Sende.
Após es­tu­dar a le­ga­li­dade es­pa­nhola e suas as pos­sí­veis fen­das achá­rom que a me­lhor op­çom era con­ver­ter-se em es­cola in­ter­na­ci­o­nal. “Isto per­mite-nos con­ti­nuar com a pro­te­çom da lín­gua e com o pro­jeto de en­sino com va­lo­res eco­lo­gis­tas e de gé­nero, laico e vin­cu­lado à co­mu­ni­dade. Mas nom deixa de ser parte do sur­re­a­lismo que vive este país: para ter um pro­jeto de imer­som lin­guís­tica ti­ve­mos que con­ver­ter-nos em es­cola estrangeira”
O en­sino de di­fe­ren­tes lín­guas como o cas­te­lhano e o in­glês tam­bém som umha peça chave do projeto.

se­mente compostela

No caso do ga­lego, as cri­an­ças co­nhe­ce­rám as di­fe­ren­tes nor­ma­ti­vas sendo a norma rein­te­gra­ci­o­nista a de re­fe­rên­cia. Dar ao ga­lego umha di­men­som uni­ver­sal e tra­ba­lhar no ache­ga­mento à pro­du­çom cul­tu­ral dou­tros paí­ses da lu­so­fo­nia é ou­tro pi­lar na Semente, para com­ba­ter o ar­gu­mento da li­mi­ta­çom do nosso idi­oma, ade­mais de abrir um le­que de pos­si­bi­li­da­des quanto a re­cur­sos pe­da­gó­gi­cos e didáticos.
O es­paço de pri­má­rio é um lo­cal de alu­guer com horta no bairro das Cancelas, mas a ideia num fu­turo é en­con­trar ou cons­truir um único cen­tro para os dous ciclos.
Na mesma si­tu­a­çom en­con­tra-se a Semente Trasancos, onde co­me­çá­rom au­las qua­tro cri­an­ças a fi­nais de se­tem­bro, num lo­cal que nom é o de­fi­ni­tivo. “Neste lo­cal va­mos es­tar ape­nas um ano, já que nom ca­bía­mos no lo­cal que nos ce­dé­rom a Junta e a câ­mara mu­ni­ci­pal… A ideia é fa­zer um curso ponte para as cri­an­ças que aca­bá­rom in­fan­til e por meio dumha cam­pa­nha de crow­fun­ding e de am­pli­a­çom de só­cias com­prar um lo­cal de­fi­ni­tivo onde as­sen­tar as cri­an­ças dos dous ci­clos” afirma Olaia Ledo, mem­bro das co­mis­sons pe­da­gó­gica e de comunicaçom.
A lín­gua in­glesa, so­bre­todo na sua di­men­som oral, tam­bém ad­quire um pa­pel re­le­vante gra­ças a um con­vé­nio com o Instituto ame­ri­cano e a for­ma­çom con­ti­nua que vai pro­por­ci­o­nar ao professorado.

Muito mais do que um pro­jeto de imer­som linguística
Sara Rey, a pro­fes­sora en­car­re­gada de Semente em Compostela, dei­xou Inglaterra onde tra­ba­lhava fai nove anos en­tu­si­as­mada com a ideia de fa­zer parte desta es­cola. “Levamos uns dias adap­tando-nos à es­cola, que ainda está em cri­a­çom, mas isto tam­bém forma parte do pro­jeto, trata-se de cons­truir en­tre to­das a es­cola que que­re­mos e adaptá-la às ne­ces­si­da­des que vaiam sur­gindo. Um au­tên­tico pro­cesso par­ti­ci­pa­tivo onde as miú­das som as protagonistas”.

"trata-se de construir entre todas a escola que queremos e adaptá-la às necessidades que vaiam surgindo"

A li­nha pe­da­gó­gica é umha ex­ten­som da ini­ci­ada na etapa in­fan­til, mas se­guindo o cur­ri­cu­lum es­ta­be­le­cido para pri­má­ria. “Seguimos o cur­ri­cu­lum mar­cado por Educaçom, mas pro­cu­ra­mos en­tre to­das o iti­ne­rá­rio para che­gar ao co­nhe­ci­mento. Trata-se de apren­der a apren­der e be­be­mos de di­fe­ren­tes fon­tes: o tra­ba­lho por pro­je­tos, a in­ves­ti­ga­çom e a ob­ser­va­çom de ele­men­tos da vida diá­ria ou da natureza”.
Sara des­taca que este tra­ba­lho já lhe véu dado pola li­nha se­guida em in­fan­til. “Som me­ni­nhas su­per es­per­tas e com umha ca­pa­ci­dade crí­tica alu­ci­nante. Estou con­ven­cida de que me vam en­si­nar muito mais elas a mim. A mi­nha in­ten­çom é con­se­guir que se­jam fe­li­zes, o que no en­sino tra­di­ci­o­nal de­sa­pa­re­ceu para a pro­cura da ex­ce­lên­cia aca­dé­mica, baixo um sis­tema muito rí­gido em que nom to­das te­nhem ca­bida”. Os pri­mei­ros me­ses Sara vai es­tar acom­pa­nhada por Vero Rilo, ou­tra pro­fes­sora de Semente, para ga­ran­tir a aten­çom a to­das as ne­ces­si­da­des das crianças.
O res­peito dos rit­mos de cada cri­ança, a aten­çom à di­ver­si­dade e o po­ten­ci­a­mento da au­to­no­mia e a ati­vi­dade in­di­vi­dual som tam­bém ele­men­tos es­sen­ci­ais do pro­jeto, par­ti­lha­dos po­las duas Sementes de en­sino primário.

 

A cons­truir o feminismo
Promover o en­sino em va­lo­res tam­bém forma parte da Semente. O eco­lo­gismo, a re­la­çom com a con­torna, o ache­ga­mento à cul­tura po­pu­lar, som li­nhas nas quais se tra­ba­lham diariamente.
Mas o com­pro­misso com a ques­tom de gé­nero é um dos ob­je­ti­vos pri­o­ri­tá­rios. Semente Compostela tem umha co­mis­som cri­ada só para este tra­ba­lho. Na de Trasancos som as­se­so­ra­das por ex­per­tas em gé­nero. Para isso pro­move-se o co­nhe­ci­mento de mu­lhe­res des­ta­ca­das em di­fe­ren­tes âm­bi­tos ci­en­tí­fi­cos e li­te­rá­rios, pro­cura-se li­te­ra­tura in­fan­til fo­cada para tra­ba­lhar na de­cons­tru­çom de ro­les, usa-se lin­gua­gem in­clu­siva, pro­move-se o jogo in­clu­sivo, cuida-se a trans­mis­som de ro­les atra­vés da lin­gua­gem ou o re­parto de tarefas.“Trabalhar desde ida­des no­vas esta ques­tom é fun­da­men­tal, mas no en­sino pri­má­rio é es­pe­ci­al­mente im­por­tante tra­ba­lhar isto para cor­tar de raiz con­du­tas que mais adi­ante de­sem­bo­cam em ma­chismo” con­clui Sara.
O pro­jeto pe­da­gó­gico é parte do su­cesso e con­so­li­da­çom da Semente, umha es­cola que nas­ceu há seis anos em Compostela e que se foi es­pa­lhando por di­fe­ren­tes co­mar­cas do país, fiel ao seu nome mas adap­tada às di­fe­ren­tes re­a­li­da­des do território.

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