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O juízo a Chema Naia é umha oportunidade para dar debates que passam inadvertidos”

por
ju­lia ál­va­rez mar­tín, avo­gada. elena mar­tín lores

O  30 de maio de 2017 agentes anti-distúrbios despejavam o Centro Social Ocupado Escárnio e Maldizer, que até esse momento fora um dos coraçons das atividades socioculturais alternativas na cidade de Santiago de Compostela. Horas depois, um chamamento à protesta por este feito levava diversos coletivos da cidade a convocar umha manifestaçom para denunciar um despejo que as próprias vizinhas entendiam que iria rematar com um prédio que até esse momento fora utilizado dia após dia, clausurando‑o e deixando‑o no esquecimento. Nessa mesma manifestaçom, Chema Naia, um rapaz que entom contava com 19 anos de idade, era detido após ficar inconsciente por um golpe na cabeça propinado por um dos polícias que estavam a realizar as cargas. 

Julia Álvarez Martín, assessora jurídica e membro da cooperativa jurídica Artigo 14, era, e é, a advogada da CSO Escárnio e Maldizer. Leva acompanhando a Naia desde o dia da sua detençom até hoje, à espera do juízo, previsto para o vindoiro 20 de dezembro, no qual se acusa a Chema Naia de supostos delitos de atentado contra a autoridade e lesons .

Tu es­ta­vas nas con­cen­tra­çons polo des­pejo da CSOA Escárnio e Maldizer. Que opi­nas das ac­tu­a­çons po­li­ci­ais da­quele dia?

Produziu-se um uso des­pro­por­ci­o­nado e in­jus­ti­fi­cado da força por parte da po­lí­cia que aca­bou com vá­rias ma­ni­fes­tan­tes fe­ri­das. Nom existe ra­zom al­gumha para essa in­ten­si­dade na pre­sença po­li­cial numha mo­bi­li­za­çom de­mo­crá­tica, a me­nos que se pre­tenda mon­tar a cena –atra­vés dos uni­for­mes, as de­fen­sas, as ar­mas ofen­si­vas– de um plano de cri­mi­na­li­za­çom e per­se­gui­çom da dis­si­dên­cia po­lí­tica. A pró­pria apa­ri­çom de umha po­lí­cia ar­mada cons­trói umha nar­ra­tiva me­diá­tica que con­verte em vi­o­lento o con­flito no qual eles com­pa­re­cem pola força. A sua pre­sença res­pon­dia à ne­ces­si­dade de ca­ri­ca­tu­rar e afo­gar es­pa­ços de cul­tura li­vre ou mo­vi­men­tos so­ci­ais como era o CSOA Escárnio e Maldizer.

E no con­creto, de que é acu­sado Chema Naia? 

Da co­mis­som dos de­li­tos de aten­tado con­tra a au­to­ri­dade e de le­sons, em base aos quais lhe so­li­ci­tam umha pena de 4 anos e meio de pri­som e umha res­pon­sa­bi­li­dade ci­vil que as­cende aos 4.000 euros.

Nas con­cen­tra­çons polo des­pejo do CSOA Escárnio e Maldizer pro­du­ziu-se um uso des­pro­por­ci­o­nado da força por parte da polícia”

Por que fica Chema Naia como único acu­sado quando ha­via 12 pes­soas e 3 po­lí­cias inicialmente?

Ao re­ma­tar a fase de in­ves­ti­ga­çom dos fei­tos, o juiz ins­tru­tor con­si­de­rou que nom exis­tiam in­dí­cios de cri­mi­na­li­dade nem con­tra onze das en­cau­sa­das, nem con­tra os três po­lí­cias, sendo ape­nas Chema Naia quem fica como acu­sado na causa, que por acaso foi quem pre­ci­sa­mente de­nun­ciou agres­sons policiais.

So fi­cou Chema Naia como acu­sado na causa, que por acaso foi quem pre­ci­sa­mente de­nun­ciou agres­sons policiais”

Naia di que a súa acu­sa­ción se está a usar como ar­ma­di­lha para es­con­der er­ros da po­lí­cia. Quais som as más prá­ti­cas in­frin­gi­das con­tra ele?

A Chema Naia agri­dem-no na ca­beça, e in­cons­ci­ente no chao nom só nom re­ce­beu nen­gum tipo de aten­çom por parte dos agen­tes atu­an­tes, nem se pro­du­ziu nen­gumha cha­mada por parte des­tes ao ser­viço de emer­gên­cias, se­nom que mesmo im­pe­dí­ron a en­trada do veí­culo me­di­ca­li­zado à zona onde ocor­ré­rom os fei­tos, as­sim como o seu des­lo­ca­mento para o Hospital. Isto cons­ti­tui umha omis­som do de­ver de so­corro pu­ní­vel. Ao mesmo tempo, de­ti­vé­rom-no e co­lo­cá­rom-lhe as al­ge­mas sem co­mu­ni­car-lhe os car­gos dos que res­pon­dia, o que in­cum­pre qual­quer pro­to­colo po­li­cial e é umha evi­dente vul­ne­ra­çom dos di­rei­tos fun­da­men­tais da pes­soa detida.

Chema Naia en­frenta umha pena de qua­tro anos e meio de pri­som. elena mar­tín lores

Nom só nom re­ce­beu nen­gum tipo de aten­çom por parte dos agen­tes atu­an­tes, nem se pro­du­ziu nen­gumha cha­mada por parte des­tes ao ser­viço de emer­gên­cias, se­nom que mesmo im­pe­dí­ron a en­trada do veí­culo medicalizado”

Como ad­vo­gada, achas co­mum este pro­ce­der en­tre os cor­pos po­li­ci­ais no nosso país?

Organizaçons so­ci­ais de todo o mundo le­vam anos a de­nun­ci­a­rem e do­cu­men­tando nu­me­ro­sos ca­sos de im­po­si­çom ar­bi­trá­ria de san­çons, vul­ne­ra­çons do di­reito à li­ber­dade de ma­ni­fes­ta­çom e o uso ex­ces­sivo da força por parte da po­lí­cia. Isto su­cede fun­da­men­tal­mente pola im­pu­ni­dade po­li­cial em que se en­con­tram nos Julgados, já que re­sulta mui com­pli­cado ob­ter umha sen­tença con­de­na­tó­ria con­tra um agente da au­to­ri­dade. De facto, re­cen­te­mente o Tribunal Europeu de Direitos Humanos vem de con­de­nar ao Estado Espanhol por nom in­ves­ti­gar o su­fi­ci­ente umha de­nún­cia so­bre umha agres­som po­li­cial que so­freu umha ma­ni­fes­tante no marco dos dis­túr­bios de Rodeia o Congresso.

Que pen­sas que vai acon­te­cer no 20 de dezembro?

O juízo a Chema Naia é umha opor­tu­ni­dade para co­lo­car no cen­tro de­ba­tes que ha­bi­tu­al­mente pas­sam inad­ver­ti­dos. A im­pu­ni­dade po­li­cial, o uso per­ma­nente da vi­o­lên­cia con­tra a mo­bi­li­za­çom so­cial, a cri­mi­na­li­za­çom do mo­vi­mento, a de­mo­cra­cia de baixa in­ten­si­dade na que es­ta­mos a vi­ver com a que­bra das ga­ran­tias mais bá­si­cas… Os atos ju­di­ci­ais de­ve­ram ser unha oca­siom para pen­sar so­bre algo que está a ser atual e, a par­tir de aí, cons­truir a mudança.

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