Periódico galego de informaçom crítica

O preço da nossa memória

por
vic­tor et­xe­var­ria bastos

Os re­cen­tes acon­te­ci­men­tos que pa­ra­li­sá­rom o mundo se­me­lham ter au­men­tado o in­te­resse polo con­ceito do ar­quivo. O ex­cesso de pro­du­tos cul­tu­rais que saem ao mer­cado na pro­cura de pú­blico foi li­mi­tado em certa ma­neira com as su­ces­si­vas co­ren­te­nas e fe­ches, e toda a so­ci­e­dade com acesso a in­ter­net e os no­vos meios mas­si­vos de co­mu­ni­ca­çom pro­cu­rou prin­ci­pal­mente nas re­des for­mas de en­tre­ti­mento va­ri­a­das para se­guir com os seus há­bi­tos de con­sumo. Esta si­tu­a­çom de­ri­vou num maior in­te­resse do ha­bi­tual nos ar­qui­vos, o que foi es­pe­ci­al­mente sig­ni­fi­ca­tivo nos ca­nais de te­le­vi­som e a cons­tante re­ci­cla­gem dos seus fundos.

Esse fre­naço mo­men­tá­neo à cons­tante pro­du­çom e sub­se­guinte ar­ma­ze­na­mento de no­vas ima­gens en­tronca com um tema muito dis­cu­tido e co­men­tado so­bre os no­vos meios de co­mu­ni­ca­çom, o do pa­pel e fun­çom do ar­quivo nesta nova época di­gi­tal. Há umha con­ce­çom apo­ca­lí­tica sus­tida por umha sé­rie de teó­ri­cos como o re­cen­te­mente fi­nado Paul Virilio que sus­te­nhem a tese de umha es­té­tica da de­sa­pa­ri­çom à qual nos ve­mos con­du­zi­dos pola ve­lo­ci­dade de umha pro­du­çom tec­no­ló­gica ar­ti­fi­cial que pro­voca umha lei do mais rá­pido, o que nas suas pa­la­vras é “a ori­gem da lei do mais forte”; umha ime­di­a­tismo que con­duz cara a um es­que­ci­mento di­gi­tal da me­mó­ria coletiva.

Por ou­tra banda, o ar­quivo di­gi­tal con­ver­teu-se num novo modo de con­ser­va­çom cujo fun­ci­o­na­mento e po­ten­ci­a­li­dade de usos ainda se nos es­capa em grande me­dida; de­ve­mos lem­brar aqui que no ám­bito in­for­má­tico a in­for­ma­çom or­ga­niza-se em torno a pe­que­nos frag­men­tos de in­for­ma­çom com­par­ti­men­ta­dos aos que nos re­fe­ri­mos tam­bém com ou­tro sig­ni­fi­cado da pró­pria pa­la­vra “ar­quivo”. A re­la­tiva des­ma­te­ri­a­li­za­çom (tendo sem­pre em conta que todo isto ocupa um es­paço fí­sico em dis­cos du­ros e ser­vi­do­res) de toda essa in­for­ma­çom gera as­sim um novo tipo de me­mó­ria di­gi­tal que se con­tra­pom a essa am­né­sia à qual se­gundo al­guns nos ve­mos expostos.

Sem es­que­cer que vi­ve­mos ainda imer­sos numha pro­funda fenda di­gi­tal, tanto no ní­vel edu­ca­tivo como so­ci­o­e­co­nó­mico, esta nova con­ce­çom do ar­quivo ofe­rece-nos umha aces­si­bi­li­dade e umha ca­pa­ci­dade de re­lei­tura e re­e­la­bo­ra­çom po­ten­ci­al­mente mai­o­res das quais es­tá­va­mos afei­tos. Levando isto ao campo au­di­o­vi­sual, que ainda hoje é umha ín­fima parte da me­mó­ria co­le­tiva da hu­ma­ni­dade, a posta em co­mum de ima­gens e sons per­mi­ti­ria-nos cons­truir no­vos dis­cur­sos fora dos he­ge­mó­ni­cos e ofi­ci­ais, todo isto ainda obs­truído po­los obs­ce­nos e abu­si­vos cá­no­nes e pre­ços dos di­rei­tos de uso e re­pro­du­çom que im­po­nhem or­ga­nis­mos pú­bli­cos e em­pre­sas pri­va­das aos au­to­res que in­ten­tam tra­ba­lhar de ma­neira le­gal so­bre este tipo de materiais.

Em épo­cas re­cen­tes mui­tos des­tes obs­tá­cu­los eram re­sol­vi­dos, es­que­ci­dos ou dei­xa­dos à mar­gem pola re­la­tiva fa­ci­li­dade com a que se po­diam re­gis­tar, re­pro­du­zir ou pôr em cena ima­gens da me­mó­ria e do pas­sado. A Covid19 que­brou mui­tas das ma­nei­ras de tra­ba­lhar e fijo vi­rar cara ao ar­quivo mui­tos pro­fis­si­o­nais, tal­vez de­va­mos apro­vei­tar isto e pode que seja agora o mo­mento de pôr so­bre a mesa a ques­tom da pos­ses­som e o preço das ima­gens do nosso passado.

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