
A galega María Antúnez participou junto com mais três raparigas na posta em andamento da associaçom Harraga para ajudarem, através dela, menores estrangeiros em situaçom de rua.
María Antúnez chegou a Melilha com umha bolsa Séneca, para continuar os seus estudos em Educaçom Social que começara em Santiago de Compostela. Com a colega de quarto começa a colaborar num projeto da ONG Melilla Acoge: umha série de atividades na Casa de Correçom La Purísima de Melilla, quartel militar reconvertido que acolhe atualmente em torno de 500 rapazes, um número mui acima daquele que foi o seu máximo inicial, estabelecido em 180. Malgrado as reformas, e dos cerca de cinco milhons de euros de orçamento anual do centro, muitos deles tenhem de dormir em colchons no piso.
Estima-se que em torno de cem crianças moram na rua na cidade
Tanto María quanto a colega dela, iriam repetir estágio com a mesma ONG e na mesma casa. Organizavam atividades de tempo livre e trabalhavam nos cuidados das crianças. Admite que em ambos os casos a experiência foi boa, mas que chegou umha altura em que ela e outras colegas acabárom por sentir a falta de dous rapazes. “Perguntámos aos demais onde estavam e explicárom-nos que tinha havido um problema no centro e que estavam a morar na rua”, relata. Alarmadas, María e outras colegas saírom na procura deles. Foi entom que virárom cientes da quantidade de rapazes que estavam a morar nas ruas de Melilha.
Hoje estima-se que sejam mais de cem as crianças a morarem na rua. Muitos deles de origem magrebina que procuram o momento certo para coarem-se nos barcos que atravessam o estreito. O governo central tudo tem feito para dificultar umha empresa já perigosa através da instalaçom de cercados e concertinas que separam mais ainda as crianças do seu objetivo. “Muitos já passárom polas portas dalguma casa de correçom”, explica María, e nom querem regressar. As companheiras Nora Driss, Rosa García, Sara Olcina, e a própria María, resolvem começar a trabalhar com as crianças da rua.
Os menores som criminalizados pola populaçom
A comunicaçom com as crianças nom era fácil, confessa. Enquanto na casa de correçom a maior parte das crianças arranhavam o castelhano, aqueles que encontravam lá fora mal conseguiam dizer alguma cousa. Usando dalguns gestos e da ajuda dos poucos rapazes que sabiam falar um pouco, conseguírom entender-se. Começárom logo no inverno a trabalhar com eles, o seu primeiro objetivo foi conseguir cobertores e agasalhos para os rapazes. “Achávamos ilógico e inumano todas essas crianças na rua”, e incide em que “som crianças, necessitam de cuidados”. Porque em Melilha, as siglas Menor Extranjero No Acompañado, os MENA, trazem consigo imensos prejuízos. Para grande parte da cidadania, também para as autoridades, nom som percebidos como sendo crianças. “Som ionquis, som moinantes”, incide María, “mas crianças nom”.
Foi através do trabalho com as crianças da rua que começou o assédio policial, denuncia María. “Metiam-nos medo”, garante, “diziam-nos que havia umha investigaçom aberta contra nós, ou importunavam-nos”. Foi entom que em 2014 resolvérom encetar umha colaboraçom com a ONG Pro.De.In Melilla. “Pro.De.In é composta por um casal, som apenas duas pessoas”, comenta, “os que denunciavam nos meios locais de Melilha essa situaçom eram eles, que levam vinte anos a trabalharem imenso”, tanto ela quanto as colegas centrárom o seu ativismo na denúncia e o acompanhamento a crianças. “Se queriam entrar numa casa de correçom, tratávamos das formalidades, se tinham uma ordem de expulsom íamos ao encontro da soluçom, acompanhávamo-las ao médico”, sempre com o assessoramento da Pro.De.In.

O nascimento da Harraga
Harraga fai referência àquelas crianças que tratam de atravessar a fronteira. María, Sara, Rosa e Nora resolvérom fundar esta associaçom para aumentar as vozes que denunciam a situaçom em Melilha. Para além do acompanhamento a hospitais, tribunais ou à casa de correçom criou-se o projeto “Fútbol”. Perguntou-se-lhes às crianças qual era “o desporto de que mais gostavam”. Com isto as integrantes da Harraga queriam era que esquecessem por algum tempo os medos diários. “Necessitam de brincar”, afirma María, “as preocupaçons que tenhem com a polícia, com serem deportados, com nom terem alimentos… som preocupaçons que nom deviam ter”.
Em 2016 Melilha nom tinha cabimento na grelha televisiva, a nom ser o caso de migrantes que tratassem de atravessar a fronteira. Ora, poucas vezes se falava nos menores. A Harraga trouxe a público em 2016 um relatório elaborado depois de meses de investigaçom em que se mostra a situaçom das crianças na cidade autónoma. Nele denunciam o abandono institucional que essas crianças sofrem, bem como a insuficiência das políticas sociais do partido no governo, o Partido Popular.
A associaçom contatou coletivos do País Basco, Catalunha ou Madrid para que ajudassem a divulgar e partilhar o relatório. “Houvo pessoas de Estremadura que acudírom a Melilha”, acrescenta María “para gravar um documentário”. Ainda, um coletivo de Compostela ajudou-as a lançar umha campanha de financiamento coletivo para angariar fundos e comprar roupa para os rapazes, cobertores e colchons novos.
O governo do PP nom exerce a tutela a que está obrigado por Lei
Antes e enquanto fijo parte da Harraga, María tivo que lidar com situaçons difíceis. Somente encontrárom uma rapariga a morar na rua, estigmatizada “muito mais polo facto de ser mulher”. Um dos passos mais complexos foi contatar, em 2015, com a família dum menor que falecera quando tentava chegar a um barco que o levasse à península. As autoridades policiais dificultárom imenso a situaçom, convencendo os familiares do menor de que as raparigas eram jornalistas “que queriam lucrar com a dor deles!”. Embora os obstáculos e se sentir incapaz de regressar a Melilha, María fai um balanço positivo: “aprendim muitíssimo das crianças, muitíssimo”.
Depois de deixar a Harraga e regressar à Galiza, María contatou outras colegas para lançar mais um projeto. Conseguir angariar quartos para que duas pessoas consigam trabalhar no terreno de forma autogerida. Tanto ela quanto as colegas compatibilizavam ativismo e emprego. Foi mui complexo e Maria acrescenta que a duas colegas “nom lhe renovárom o contrato por fazerem parte da Harraga”.
Umha gestom controvertida
O governo do PP em Melilha, presidido por Juan José Imbroda, estivo em várias ocasions na mira polas suas políticas sociais. O atual conselheiro de bem-estar social, Daniel Ventura, é conhecido polas suas polémicas declaraçons em meios locais e redes sociais. Em começos de 2018 a organizaçom Save The Children pedia ao Provedor de Justiça, Francisco Fernando Marugán, para investigar a situaçom dos centros, despois de que dous menores tivessem falecido sob a tutela do estado. Em ambos os casos foi a ONG Pro.De.In a que tivo que localizar as suas famílias, devido à desídia das instituiçons públicas. Fernando Marugán abriu umha investigaçom de oficio no mês de janeiro.
Para María, a chave reside no facto de Melilha ser “a fronteira sul”. Explica que tanto o Reino de Espanha quanto a Uniom Europeia “pretendem restringir e controlar o movimento migratório.” Pensa que “enquanto Melilha cumpra com isso tanto fai o método que aplique”. As autoridades da cidade continuarám a receber subvençons polas crianças e considera pouco provável umha mudança no meio prazo. “Fizérom-se perguntas no Congresso, Maribel Mora (Podemos) visitou Melilha, e o Provedor de Justiça também está a fazer pressom com o assunto”. Contudo, lamenta, “parece com que ninguém mais se preocupe com a gestom em Melilha”.