Periódico galego de informaçom crítica

Renda Básica ou distribuçom da riqueza real?

por
SLG

No Novas nº 157 de ju­nho pas­sado pu­de­mos ler umha in­te­res­sante re­por­ta­gem acerca da Renda Básica. Malia o va­li­oso do re­passo, con­si­dero in­com­pleta a in­for­ma­çom ache­gada se nom te­mos em conta um fa­tor fun­da­men­tal, que ape­nas fi­cava apon­tado na der­ra­deira li­nha da peça “A ex­pe­ri­men­tar com as ren­das bá­si­cas” quando se ad­ver­tia, fa­lando do Alaska Permanent Fund (iró­nico nome, abofé) que “Este di­nheiro pro­cede do ca­pi­tal que gera a ex­plo­ra­çom mi­neira e pe­tro­lí­fera no es­tado, tra­tando-se en­tom de umha renda fi­nan­ci­ada por umha ati­vi­dade ex­tra­tiva que nom pode per­du­rar no tempo”. Velai o ta­lom de Aquiles nom só desta, se­nom de to­das as for­mas de RB co­nhe­ci­das ou pro­pos­tas for pola es­querda ou pola di­reita: to­das som ge­ra­das a par­tir da eco­no­mia ba­se­ada no pe­tró­leo e no resto de ener­gias nom re­no­vá­veis. É di­zer, se con­ta­mos com que um Estado (qual­quer) fi­nan­cie umha RB (qual­quer), es­ta­mos par­tindo de duas hi­pó­te­ses: 1) que o Estado vai es­tar aí sem­pre, cui­dando de nós; 2) que vai dis­por, de ma­neira per­ma­nente, de fun­dos su­fi­ci­en­tes para dis­tri­buir me­di­ante essa RB. Mas de onde é que pro­ce­dem os in­gres­sos de um Estado? Da ati­vi­dade eco­nó­mica do país, via po­lí­tica e fis­cal. E essa ati­vi­dade que é o que ne­ces­sita para se de­sen­vol­ver? Energia, umha ener­gia que pro­cede, numha grande parte (mais de 80% no caso ga­lego), da ener­gia fós­sil, é di­zer, nom re­no­vá­vel, fi­nita. Isso tem como con­sequên­cia —já o te­mos ex­pli­cado em obras como a Guía para o des­censo ener­xé­tico, Por que é que esta crise non aca­bará nunca ou A es­querda ante o co­lapso da ci­vi­li­za­ción in­dus­trial— que o fim des­sas ener­gias e a im­pos­si­bi­li­dade de as subs­ti­tuír­mos a tempo e em es­cala com nen­gumha com­bi­na­çom de ener­gias re­no­vá­veis, nos en­frenta com o des­censo ir­re­ver­sí­vel da ati­vi­dade eco­nó­mica, e por­tanto com o adel­ga­ça­mento for­çado das ca­pa­ci­da­des do Estado (agra­vado, isso já o sa­be­mos, pola po­lí­tica ne­o­li­be­ral) que pode de­ri­var mesmo no seu co­lapso par­cial ou to­tal em ques­tom de umhas pou­cas dé­ca­das, no má­ximo. Porque a mag­ni­tude do des­censo ener­gé­tico da que es­ta­mos a fa­lar é equi­va­lente à nossa de­pen­dên­cia da ener­gia nom re­no­vá­vel; isto é, de um 80–90%. Podemos ima­gi­nar um Estado com o 10% dos re­cur­sos que vi­nhé­rom ma­ne­jando os Estados do Bem-es­tar até o de agora, re­par­tindo umha RBU, por exemplo?

todas as RB som como a de Alaska: modelos com data de caducidade, por serem baseados na economia do extrativismo fossilista e dependerem da impossível continuidade do crescimento económico

 

E as­sim é que, no fundo, to­das as RB som como a de Alaska: mo­de­los com data de ca­du­ci­dade, por se­rem ba­se­a­dos na eco­no­mia do ex­tra­ti­vismo fos­si­lista e de­pen­de­rem da im­pos­sí­vel con­ti­nui­dade do cres­ci­mento eco­nó­mico. Isso é o que que­re­mos? Luitar por umha al­ter­na­tiva de tam es­casso per­curso? Ou que­re­mos pro­cu­rar umha sus­ten­ta­bi­li­dade real das nos­sas po­lí­ti­cas eman­ci­pa­tó­rias e de jus­tiça so­cial? Na mi­nha opi­niom é um grave erro fa­zer pro­pos­tas que nom se ba­seiam numha ava­li­a­çom real da pers­pe­tiva de ir­re­ver­sí­vel co­lapso so­cial e eco­nó­mico em que nos co­me­ça­mos a aden­trar. Porque co­lapso nom sig­ni­fica ou­tra cousa do que re­du­çom rá­pida da com­ple­xi­dade de um sis­tema, e den­tro dessa for­çada sim­pli­fi­ca­çom pa­rece ter di­fí­cil ca­bida um mo­delo que im­pli­que a con­ti­nui­dade do pro­cesso me­ta­bó­lico eco­no­mia in­dus­trial → im­pos­tos → dis­tri­bui­çom mo­ne­tá­ria do Estado. Daquela, qual é a al­ter­na­tiva re­a­lista, a al­ter­na­tiva cons­ci­ente da pers­pe­tiva de de­cres­ci­mento for­çoso? Pode ser o Trabalho Garantido, tal como o pro­pom IU, en­tre ou­tras for­ças de esquerda?

Para mim o pro­blema do TG é que parte tam­bém de umha das hi­pó­te­ses du­vi­do­sas an­te­ri­o­res e de ou­tra nova: 1) a

fá­brica de moeda

con­ti­nui­dade do Estado; e 2) a con­ti­nui­dade do con­ceito tra­ba­lho tal e como o co­nhe­ce­mos. Já te­nho ex­pli­cado nal­gum dos li­vros de­van­di­tos, que esse con­ceito, em tanto que fi­lho da in­dus­tri­a­li­za­çom ca­pi­ta­lista, há mor­rer com ela, e que fa­ría­mos bem em vol­ver­mos dis­tin­guir, como nos tem­pos do proto ca­pi­ta­lismo —e como tam­bém fai a cul­tura la­brega tra­di­ci­o­nal— en­tre tra­ba­lho (em­prego as­sa­la­ri­ado) e la­bor (ati­vi­da­des nom re­mu­ne­ra­das, mas ne­ces­sá­rias para a vida). Claro que po­de­mos fa­zer ao re­vês, como su­gere Henrique Lijó e a eco­no­mia fe­mi­nista, en­tre ou­tras, e cha­mar-lhe tra­ba­lho a tudo, ao re­mu­ne­rado e ao nom re­mu­ne­rado, mas acho é umha tá­tica er­rada den­tro da es­tra­té­gia cul­tu­ral que ne­ces­si­ta­mos para fa­ci­li­tar­mos a mu­dança ci­vi­li­za­tó­ria. Acho muito mais acer­tado, em qual­quer caso, fa­lar­mos de tra­ba­lho co­mu­ni­tá­rio (me­lhor la­bor co­mu­ni­tá­rio) ao es­tilo pro­posto por Ted Trainer (A via da sim­pli­ci­dade) e a per­ma­cul­tura so­cial, or­ga­ni­zado lo­cal­mente e nom vei­cu­lado por meio do di­nheiro (no mí­nimo nom do di­nheiro es­ta­tal, pois aqui sim que te­riam umha fun­çom muito in­te­res­sante as mo­e­das so­ci­ais lo­cais); é di­zer, algo muito di­fe­rente do que IU está a pro­por, que é muito de­pen­dente da con­ti­nui­dade do Estado, em­pre­ga­dor de der­ra­deiro re­curso no seu modelo.

é um grave erro fazer propostas que nom se baseiam numha avaliaçom real da perspetiva de irreversível colapso social e económico em que nos começamos a adentrar

Qual é, en­tom, a al­ter­na­tiva mais viá­vel e mais acer­tada aos tem­pos que nos vai to­car vi­ver e mais ao nosso con­texto cul­tu­ral e na­tu­ral? Algo bos­que­jei há tempo num ar­tigo ti­tu­lado “Por que esta Renda Básica non é sus­ten­tá­vel” (Praza Pública, 10/11/2015): umha es­pé­cie de Renda Básica da Terra (ou Leira Básica) po­de­ria per­mi­tir o re­parto da­quilo que sa­tis­faze em úl­tima ins­tan­cia as ne­ces­si­da­des bá­si­cas re­ais da gente, em con­tra­po­si­çom ao re­parto de “pa­pel-mo­eda do Monopoly”, sem um va­lor real que o sus­te­nha, como acer­ta­da­mente cri­ti­cara Marcos Celeiro (ape­nas umha ín­fima parte do di­nheiro ofi­cial em cir­cu­la­çom está res­pal­dado por ri­queza tan­gí­vel). Consistiria no re­co­nhe­ci­mento dum di­reito a ser usu­fru­tuá­rios dum es­paço de terra su­fi­ci­ente para o nosso sus­tento, com­ple­men­tado —para quem nom o pu­der la­bo­rar por si mesma/o ou co­le­ti­va­mente— por umha mo­eda so­cial res­pal­dada por essa terra co­mu­nal, como ins­tru­mento de troco que fosse tro­cá­vel polo fruito dessa terra num mer­cado comunitário.

Este mo­delo aju­da­ria-nos a per­ce­ber que o tra­ba­lho nom é o único jeito de nos for­ne­cer para as nos­sas ne­ces­si­da­des bá­si­cas (Trabalho Garantido), como tam­pouco o é um di­nheiro que fai parte de um sis­tema fi­nan­ceiro in­sus­ten­tá­vel (Renda Básica). A au­tên­tica ri­queza re­no­vá­vel surge da terra gra­ças à ener­gia que nos chega con­ti­nu­a­mente do sol (po­de­mos am­pliar esse con­ceito ao mar, e á bi­os­fera no seu con­junto), e é o re­parto deste re­curso pri­má­rio (do seu usu­fruto), o seu re­torno à con­di­çom de bem co­mu­nal, a ques­tom fun­da­men­tal e de­ci­siva para as­se­gu­rar um fu­turo de su­per­vi­vên­cia e jus­tiça para to­das. A terra será ao fi­nal o único que fi­que; e, em con­sequên­cia, o mais im­por­tante que repartirmos.

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