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Rubén Prol: “A ‘letra galega’ é válida para todo, e mais se se adota como identidade”

por
ru­bén prol, de­se­nha­dor grá­fico e de tipografia

A sua primeira inspiraçom foi o tipo de letra de umha conhecida marca de iogurtes e o seu último projeto está baseado nos fólios dos barcos da sua vila. “Desenhar letras é um exercício fascinante que te engancha”, explica. Um exercício com o que traslada até os nossos ecráns um pedaço do nosso património cultural e identitário.

Na apre­sen­ta­çom da tua web ex­pli­cas que “de­se­nhas fon­tes e de­bu­xas le­tras”. Como é o pro­cesso de cri­a­çom de umha fonte, desde que surge  a ideia até que po­de­mos uti­lizá-la no nosso com­pu­ta­dor ou vê-la im­pressa algures?

Pois é um pro­cesso lon­guís­simo. Parte de umha pe­quena ideia ou ins­pi­ra­çom que vás de­sen­vol­vendo até che­gar ao re­sul­tado fi­nal. Basta com fi­xar-te num tipo de le­tra que vês pola rua ou em qual­quer lu­gar. É bas­tante pa­re­cido aos ar­queó­lo­gos que en­con­tram um resto de umha man­dí­bula e de aí in­da­gam o resto do corpo. Reparas numha só le­tra e de aí de­sen­vol­ves o resto do alfabeto.

Como che­gaste a de­di­car-te à ti­po­gra­fia? Que foi o que te atraiu desta área?

Na re­a­li­dade nom me de­dico a isso, só é um pas­sa­tempo. Há anos in­ten­tei emu­lar o tipo de le­tra de umha fa­mosa marca de io­gur­tes, e quando co­me­cei a de­bu­xar as le­tras des­co­brim um novo mundo. Desenhar umha fonte é um exer­cí­cio fas­ci­nante que te en­gan­cha. É um repto que se pa­rece muito com um triá­tlon para qual­quer de­se­nha­dor grá­fico. É um pro­cesso mui longo no qual tés que ir to­mando mui­tas de­ci­sons im­por­tan­tes e em que na mai­o­ria dos ca­sos nunca fi­cas com­ple­ta­mente sa­tis­feito. Debuxar umha le­tra é fá­cil, o di­fí­cil é de­se­nhar umha pa­la­vra, e mais di­fí­cil umha frase ou um parágrafo.

Desenhar umha fonte é pa­re­cido aos ar­queó­lo­gos que en­con­tram um resto de umha man­dí­bula e de aí in­da­gam o resto do corpo”

Acabas de pu­bli­car a fonte Fontoira, ins­pi­rada nos fó­lios dos bar­cos de Ogrobe. Qual é a his­tó­ria por trás deste projeto?

A his­tó­ria foi que os bar­cos de Ogrobe, desde que nós te­mos cons­ci­ên­cia, te­nhem umha forma de le­tra mui ca­ra­te­rís­tica. Lino, o meu só­cio neste pro­jeto, con­ta­tou-me com a ideia de di­gi­ta­lizá-las, já que nas car­pin­ta­rias de ri­beira nom ha­via (e nunca houvo) uns mol­des para pintá-las (para a mi­nha sur­presa) e ha­via que fa­zer algo an­tes de que to­dos os bar­cos fos­sem fo­li­a­dos em Arial. A par­tir de aí fo­mos ti­rando de um fio e des­co­bri­mos que ha­via umha longa tra­di­çom de gente que se de­di­cou a pin­tar esse tipo de le­tras (e nú­me­ros) dos quais nós qui­ge­mos dar con­ti­nui­dade nos tem­pos em que vi­ve­mos, e de passo man­ter vivo um pa­tri­mó­nio grá­fico lo­cal que con­si­de­ra­mos importantíssimo.

Debuxar umha le­tra é fá­cil, o di­fí­cil é de­se­nhar umha pa­la­vra, e mais umha frase ou um parágrafo”

Em quais ou­tros lu­ga­res do nosso en­torno en­con­tras fon­tes “es­con­di­das”, que tal­vez pas­sem de­sa­per­ce­bi­das para nós mas te­nhem in­te­resse para um tipógrafo?

Fontes de in­te­resse para um ti­pó­grafo som to­das. Na Galiza nom se de­sen­vol­veu umha cul­tura de de­se­nho de ti­po­gra­fia como nou­tros la­dos de Europa. Em todo caso, hoje em dia há gente ga­lega que se de­dica a de­se­nhar ti­po­gra­fia que som re­fe­ren­tes a ní­vel mun­dial. Também di­rei que nom todo é «ti­po­gra­fia». As le­tras que en­con­tra­mos nos gra­va­dos em pe­dra ou nos ró­tu­los dos ba­res som isso, ró­tu­los, pero nom te­nhem que ser ti­po­gra­fia, que é umha dis­ci­plina distinta.

Na Galiza nom se de­sen­vol­veu umha cul­tura de de­se­nho de ti­po­gra­fia como nou­tros la­dos de Europa”

Que pre­cisa umha fonte para con­ver­ter-se num signo de iden­ti­dade? Que ca­rac­te­riza a “le­tra ga­lega” e a fai identificável?

Os po­vos ado­tam iden­ti­da­des como um ado­les­cente que busca os seus ído­los. A co­nhe­cida como “le­tra ga­lega” nom é ou­tra cousa que o tipo de le­tra ro­má­nica à que Castelao lhe deu bri­lho e a fijo mais hip­nó­tica à sua ma­neira. Os in­gle­ses ado­tá­rom como pró­pria a Gill Sans (um tipo de le­tra do sé­culo pas­sado) e os ir­lan­de­ses ado­tá­rom como iden­ti­dade a le­tra un­cial, que foi de­sen­vol­vida no norte de África baixo o Império Romano.

Já exis­tem ti­po­gra­fias clás­si­cas per­fei­ta­mente di­gi­ta­li­za­das e adap­ta­das para o for­mato digital”

Várias das tuas fon­tes (Uralita, Daletra) par­tem da ti­po­gra­fia tra­di­ci­o­nal ga­lega. Que te leva a uti­li­zar esse pa­tri­mó­nio para o teu tra­ba­lho? Que po­ten­cial lhe vês para o fu­turo e em que âm­bi­tos pen­sas que pode ter espaço?

Pois pre­ci­sa­mente o que me mo­ti­vou a de­se­nhar ti­po­gra­fia foi o tipo de “le­tra ga­lega”, por­que me pa­rece mui jei­tosa e por­que ape­nas ha­via pouco di­gi­ta­li­zado dela, ape­sar de vê-la em to­dos la­dos quando era novo nos anos oi­tenta. Futuro, a longo prazo, todo o que se lhe qui­ger dar. É vá­lida para todo, e mais no caso de se ado­tar como iden­ti­dade. Há que ter em conta que Galiza é mui ve­lha e este tipo de le­tra tem ape­nas cem anos. O tempo dirá.

ti­po­gra­fia ura­lita, umha das de­se­nha­das por Rubén Prol

É mui di­fe­rente tra­ba­lhar com ti­po­gra­fias para ecráns ou para su­por­tes fí­si­cos? Há di­fi­cul­da­des à hora de tras­la­dar ti­pos tra­di­ci­o­nais do pa­pel para o digital?

Era mui di­fe­rente há anos. Hoje em dia é cada dia me­nos, de­vido às me­lho­ras nos ecráns, as di­fe­ren­ças en­tre os ti­pos para for­mato di­gi­tal e fí­sico som me­no­res. Já exis­tem ti­po­gra­fias clás­si­cas per­fei­ta­mente di­gi­ta­li­za­das e adap­ta­das para o for­mato digital.

A tra­ços lar­gos, como vês o uso da ti­po­gra­fia no âm­bito da im­prensa e no se­tor edi­to­rial ga­lego hoje em dia?

Suponho que bem. O tra­ba­lho da ti­po­gra­fia nom só con­siste em es­co­lher um tipo de le­tra, tam­bém tem muito a ver a or­to­ti­po­gra­fia, o es­pa­çado en­tre li­nhas, a es­co­lha de le­tras ca­pi­tu­la­res, o tra­ta­mento en­tre or­fas e viú­vas… Um ti­pó­grafo ou di­a­gra­ma­dor é umha pro­fis­som que nom tem nada a ver com o de­se­nho das le­tras e nom te­nho cons­tân­cia de que o es­te­jam a fa­zer mal.

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