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A apicultura galega mobilizada na defesa do setor

por
uxía amigo

A api­cul­tura foi his­to­ri­ca­mente uma ati­vi­dade pe­cuá­ria eco­no­mi­ca­mente re­le­vante na so­ci­e­dade tra­di­ci­o­nal ga­lega. As abe­lhas eram ge­ri­das nas col­meias tra­di­ci­o­nais (co­vos, tro­bos ou cor­ti­ços), que fo­ram pre­do­mi­nan­tes no País até a dé­cada de oi­tenta e dis­tri­buí­das em mui­tas das vi­ven­das do ru­ral ga­lego den­tro das eco­no­mias de sub­sis­tên­cia. Estas col­meias sub­mi­nis­tra­vam dois im­por­tan­tes pro­du­tos para os nú­cleos fa­mi­li­a­res, no­me­a­da­mente o mel e a cera.

Mostra desta re­le­vân­cia da api­cul­tura tra­di­ci­o­nal são os ele­men­tos pa­tri­mo­ni­ais, como as al­va­ri­ças, la­ce­nas e os la­ga­res de cera, que se con­ser­vam em áreas ru­rais do País. Esta api­cul­tura tra­di­ci­o­nal fi­xista foi trans­for­mada ra­pi­da­mente nas úl­ti­mas dé­ca­das cara a uma api­cul­tura mais mo­derna com as col­meias mobilistas.

Na atu­a­li­dade, a api­cul­tura é uma ati­vi­dade so­cial e eco­no­mi­ca­mente re­le­vante na Galiza. Assim, o se­tor apí­cola ga­lego conta com mais de 160.000 col­meias em 4.000 ex­plo­ra­ções e uma di­nâ­mica de im­por­tante cres­ci­mento do se­tor, como de­nota o au­mento sig­ni­fi­ca­tivo de mais de 70.000 col­meias nos úl­ti­mos anos. No en­tanto, con­serva-se um ta­ma­nho meio das ex­plo­ra­ções muito pe­queno e com pouca pro­fis­si­o­na­li­za­ção, man­tendo o cerne de ati­vi­dade com­ple­men­ta­ria vin­cu­lada com a eco­no­mia fa­mi­liar. Mas tam­bém é pre­ciso as­si­na­lar a exis­tên­cia de in­te­res­san­tes pro­ces­sos so­ci­ais como vá­rias ini­ci­a­ti­vas co­o­pe­ra­ti­vas, um in­cre­mento muito sig­ni­fi­ca­tivo das pro­du­ções de qua­li­dade, no­me­a­da­mente a ela­bo­ra­ção de mel em modo de pro­du­ção bi­o­ló­gico e um as­so­ci­a­ti­vismo re­la­ti­va­mente forte no setor.

Problemáticas atu­ais no sec­tor apí­cola ga­lego
A ati­vi­dade apí­cola leva vá­rias dé­ca­das com im­por­tan­tes pro­ble­má­ti­cas vin­cu­la­das com di­fe­ren­tes âm­bi­tos. Por uma banda, a en­trada do ácaro var­roa (Varroa des­truc­tor) no ter­ri­tó­rio ga­lego na dé­cada de oi­tenta do sé­culo pas­sado tem pro­vo­cado im­por­tan­tes im­pac­tos nas col­meias e a obri­ga­to­ri­e­dade es­ta­be­le­cida pela le­gis­la­ção vi­gente de con­tro­lar esta praga atra­vés de tra­ta­men­tos. Por ou­tra banda, nos úl­ti­mos anos, a che­gada de ou­tra es­pé­cie alóc­tone da Galiza é a que está a pro­vo­car no­vas afe­ções aos api­cul­to­res e uma grande alarma para o con­junto da po­pu­la­ção de­vido à im­por­tante di­fu­são me­diá­tica. Estamos a fa­lar da Vespa ve­lu­tina que se tem ex­pan­dido ao longo de quase todo o ter­ri­tó­rio ga­lego afe­tando ás po­pu­la­ções de abe­lhas e ge­rando im­por­tan­tes afe­ções nas ati­vi­da­des das pes­soas li­ga­das à api­cul­tura. Cumpre as­si­na­lar­mos que a es­cassa in­ves­ti­ga­ção pú­blica e uns mé­to­dos não se­le­ti­vos na luta con­tra esta vespa asiá­tica tam­bém es­tão pro­vo­cando da­nos co­la­te­rais em es­pé­cies au­tóc­to­nes, no­me­a­da­mente a Vespa cra­bro.

uxía amigo

O con­flito com a eti­que­ta­gem
Mas tam­bém há uma pro­ble­má­tica re­le­vante para o se­tor apí­cola e que não tem re­la­ção com pra­gas e es­pé­cies alóc­to­nes. Estamos a fa­lar do con­flito com a eti­que­ta­gem e a en­trada de mel dou­tros lu­ga­res do pla­neta que vol­tou à pa­les­tra me­diá­tica nas úl­ti­mas se­ma­nas. Com cer­teza, as im­por­ta­ções de mel de baixa qua­li­dade dou­tros lu­ga­res do pla­neta e uma eti­que­ta­gem que não de­ta­lha qual é o país de ori­gem é atu­al­mente uma grave ame­aça para o mel da Galiza. Certamente, a en­trada de pro­duto de paí­ses como a China com qua­li­da­des muito in­fe­ri­o­res à da mel ga­lega e mesmo com adul­te­ra­ções, unido a uma nor­ma­tiva so­bre a eti­que­ta­gem que não per­mite co­nhe­cer com de­ta­lhe a ori­gem do pro­duto das abe­lhas é uma si­tu­a­ção que di­fi­culta as op­ções das pes­soas con­su­mi­do­ras e o for­ta­le­ci­mento do se­tor apí­cola. De facto, a nor­ma­tiva atual pos­si­bi­lita eti­que­tar me­les com me­nos do 1% de mel pro­ce­dente da União Europeia como mis­tura de me­les ori­gi­ná­rios e não ori­gi­ná­rios da União Europeia ge­rando con­fu­são e es­cassa trans­pa­rên­cia para as con­su­mi­do­ras deste produto.

Em re­la­ção com esta pro­ble­má­tica têm-se mo­bi­li­zado en­ti­da­des apí­co­las e agrá­rias como a Associação Galega de Apicultura (AGA) e o Sindicato Labrego Galego com o lema ‘Em de­fesa do nosso mel, por um se­tor apí­cola ren­dí­vel e sus­ten­tá­vel’. Assim, re­cen­te­mente, re­a­li­zou-se uma con­cen­tra­ção em Compostela onde se re­cla­ma­ram so­lu­ções para as ad­mi­nis­tra­ções pú­bli­cas e se in­for­mou à ci­da­da­nia da con­fusa eti­que­ta­gem que uti­li­zam as gran­des in­dús­trias que acon­di­ci­o­nam mel para ocul­tar im­por­ta­ções de pro­du­tos de baixa qua­li­dade. Efetivamente, nas úl­ti­mas dé­ca­das no con­junto do Estado as im­por­ta­ções de mel têm-se du­pli­cado, ron­dando atu­al­mente as 30.000 to­ne­la­das anu­ais, des­ta­cando as quan­ti­da­des que pro­vêm da China e da Argentina.

A es­cassa in­ves­ti­ga­ção pú­blica e uns mé­to­dos não se­le­ti­vos na luta con­tra a ‘Vespa ve­lu­tina’ es­tão pro­vo­cando da­nos co­la­te­rais em es­pé­cies autóctones

As api­cul­to­ras e os api­cul­to­res re­cla­mam a cla­ri­fi­ca­ção das eti­que­ta­gens para que as con­su­mi­do­ras te­nham ga­ran­tias da pro­ce­dên­cia do mel que con­su­mam. Por parte das as­so­ci­a­ções apí­co­las e o sin­di­ca­lismo agrá­rio lem­bra-se que o con­sumo do mel ga­lego tem di­fe­ren­tes im­pli­ca­ções po­si­ti­vas. Entre elas pode-se as­si­na­lar que fa­vo­rece a me­lhora da eco­no­mia lo­cal, pro­voca me­no­res im­pac­tos am­bi­en­tais de­ri­va­dos da im­por­ta­ção de lon­gas dis­tan­cias, é in­dis­pen­sá­vel para o man­ti­mento da bi­o­di­ver­si­dade e da pro­du­ção agrá­ria de­vido ao pa­pel que exer­cem na po­li­ni­za­ção as abelhas.

As di­cas para as­se­gu­rar-se do con­sumo do mel ga­lego são vá­rias: para o caso de es­ta­be­le­ci­men­tos de com­pra é pre­ciso bus­car na eti­que­ta­gem dos fras­cos o selo de ‘Mel de Galicia’. Mas tam­bém é po­si­tivo ad­qui­rir o mel em fei­ras e mer­ca­dos lo­cais onde é pos­sí­vel o co­nhe­ci­mento di­reto das pes­soas pro­du­to­ras ou di­re­ta­mente nas pró­prias ex­plo­ra­ções apí­co­las fo­men­tando as re­la­ções de con­fi­ança e o for­ta­le­ci­mento das pro­du­ções locais.

Em suma, o se­tor apí­cola ga­lego afronta im­por­tan­tes pe­ri­gos, mas está a lu­tar pela sua de­fesa e a con­se­cu­ção de me­lho­ras le­gis­la­ti­vas na eti­que­ta­gem do mel e no con­trolo das im­por­ta­ções do pro­duto das abe­lhas. Cumpre apoi­ar­mos a api­cul­tura ga­lega, ao ser uma ati­vi­dade com ex­ter­na­li­da­des po­si­ti­vas para o con­junto da po­pu­la­ção e para o man­ti­mento da bi­o­di­ver­si­dade, a cri­a­ção de em­prego e o man­ti­mento de um mundo ru­ral vivo.

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