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Sobre a questom colonial

por
Manifestaçom da Assembleia do Povo Unido (APU) no 25 de ju­lho de 1991 em Compostela.

… los ra­di­ca­les qui­e­ren vol­ver
al es­pí­ritu de la co­lo­nia (..) 
Claro que, ruido por ruido, 
los na­ci­o­na­lis­tas ra­di­ca­les pre­fi­e­ren 
el de las bom­bas
.

Carlos Casares, EL PAÍS (30 de Maio de 1988)

Entre 1843 e 1844, Marx es­creve e pu­blica Sobre a ques­tom ju­daica. Neste tra­ba­lho de ju­ven­tude, para mos­trar que a eman­ci­pa­çom dos ju­deus era pos­sí­vel no es­tado li­be­ral, Marx es­ta­be­lece um dis­tingo ‑muito in­te­res­sante- en­tre eman­ci­pa­çom po­lí­tica  e eman­ci­pa­çom hu­mana. O pri­meiro é o re­sul­tado dos di­rei­tos for­mais, ci­vis e po­lí­ti­cos, que re­co­nhece o es­tado li­be­ral. O se­gundo, mais ra­di­cal, su­pom a su­pe­ra­çom das es­tru­tu­ras pró­prias da or­dem so­cial bur­guesa. Neste marco, Marx de­fende que umha cons­ti­tui­çom li­be­ral pode per­mi­tir, per­fei­ta­mente, a eman­ci­pa­çom po­lí­tica dos ju­deus. O exem­plo encontra‑o Marx na re­vo­lu­çom ame­ri­cana, em vir­tude da qual o es­tado fi­cou cons­ti­tu­ci­o­nal­mente li­vre do com­pro­misso re­li­gi­oso e, as­sim, pos­si­bi­li­tou le­gal­mente a ma­nu­ten­çom de to­das as re­li­giões, ju­daísmo in­cluído,  no âm­bito da vida pri­vada.  Outra cousa, acha Marx, é a eman­ci­pa­çom dos se­res hu­ma­nos, ju­deus ou nom, da religiom.

Mais dum sé­culo de­pois, o or­de­na­mento ju­rí­dico in­ter­na­ci­o­nal in­cluiu o di­reito, co­le­tivo, de au­to­de­ter­mi­na­çom dos po­vos en­tre os di­rei­tos fun­da­men­tais da hu­ma­ni­dade. Era a época na que o efeito do­minó da cha­mada des­co­lo­ni­za­çom, na sequên­cia da II Guerra Mundial, es­tava em an­da­mento. Precisamente na­quela al­tura, o pro­grama ga­lego de eman­ci­pa­çom na­ci­o­nal, re­fun­dado como mo­vi­mento (na­ci­o­nal-po­pu­lar) de li­ber­ta­çom, in­cor­po­rou a fo­ca­gem an­ti­co­lo­nial à sua te­o­ria po­lí­tica e, em certa me­dida, à sua prática. 

A ques­tom ju­daica foi pois, na­quele tra­ba­lho do jo­vem Marx, a prova do nove da di­fe­rença en­tre eman­ci­pa­çom po­lí­tica e eman­ci­pa­çom hu­mana. Polo seu lado, a ques­tom co­lo­nial na Galiza ali­nhou a eman­ci­pa­çom po­lí­tica do povo, cruz de mira de qual­quer pro­jeto na­ci­o­nal, com o alvo uni­ver­sal da eman­ci­pa­çom hu­mana. Esta fo­ca­gem, no seu dia, per­mi­tiu dar um sen­tido po­lí­tico uni­tá­rio a fe­nó­me­nos di­ver­sos como a du­a­li­dade so­cial, a de­pen­dên­cia eco­nó­mica, o auto-ódio ou a di­glos­sia. Se para Marx, a ques­tom ju­daica pro­vava que a eman­ci­pa­çom po­lí­tica e a hu­mana eram cou­sas di­fe­ren­tes, na Galiza dos 60 e dos 70, a ques­tom co­lo­nial pa­ten­teou que am­bas eman­ci­pa­ções po­dem ir da mao. 

A luita con­tra o co­lo­ni­a­lismo foi, pois, chave para o re­co­nhe­ci­mento do di­reito de au­to­de­ter­mi­na­çom por­que re­la­ci­o­nou, este di­reito co­le­tivo, com os ou­tros di­rei­tos vul­ne­ra­dos sis­te­ma­ti­ca­mente nos ter­ri­tó­rios co­lo­ni­za­dos. Permitiu aliás a sua ex­ten­som a to­dos os po­vos, co­ló­nias ou nom, na ló­gica uni­ver­sa­lista da ra­ci­o­na­li­dade ju­rí­dica mo­derna. O pro­blema é que, esta mesma ló­gica,  con­funde a exis­tên­cia do di­reito com a cons­ci­ên­cia po­lí­tica do mesmo; por ou­tras pa­la­vras, se nom hai umha von­tade ex­plí­cita de exercê-lo, pa­re­cem nom exis­tir nem o di­reito nem, tam­pouco, o su­jeito. Como res­posta, a te­o­ria e a prá­tica an­ti­co­lo­nial par­tem da di­fe­rença di­a­lé­tica en­tre ser-em-si e ser-para-si, con­si­de­rando pró­prias dos po­vos co­lo­ni­za­dos as si­tu­a­ções de dé­fice de autoconsciência. 

Atualmente toda umha cor­rente de pen­sa­mento ex­pande a ideia de co­lo­ni­a­li­dade até co­locá-la como nú­cleo da mo­der­ni­dade. Em re­a­li­dade, a maior parte dos se­res hu­ma­nos fô­rom, ou som, sub­me­ti­dos co­lo­ni­al­mente aos di­ta­dos mo­der­ni­za­do­res que con­fi­gu­ram o mundo no que vi­ve­mos. E eu per­gunto: Na Galiza, o des­lo­ca­mento, tí­pico da mo­der­ni­dade, da po­pu­la­çom do ru­ral para ci­dade foi/é ur­ba­ni­za­çom ou ci­vi­li­za­çom?  Foi/é evo­lu­çom nor­mal ou as­si­mi­la­çom colonial?

Atualmente toda umha cor­rente de pen­sa­mento ex­pande a ideia de ‘co­lo­ni­a­li­dade’ até co­locá-la como nú­cleo da mo­der­ni­dade. Em re­a­li­dade, a maior parte dos se­res hu­ma­nos fô­rom, ou som, sub­me­ti­dos co­lo­ni­al­mente aos di­ta­dos modernizadores

Avançados os 80, Carlos Casares vin­cu­lou, num co­nhe­cido ar­tigo jor­na­lís­tico, a fo­ca­gem an­ti­co­lo­nial do pro­jeto na­ci­o­nal ga­lego com a vi­o­lên­cia po­lí­tica. Discutível, su­po­nho. Mas o que nom tem dis­cus­som é a vin­cu­la­çom en­tre  co­lo­ni­a­lismo e vi­o­lên­cia humana.

Júlio teixeiro é professor de Filosofia e ativista do CS Mádia Leva de Lugo.

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