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Sobre os ombros de gigantes

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Somos com­pa­rá­veis a anaos en­ca­va­li­ta­dos so­bre os om­bros de gi­gan­tesː ve­mos por­tanto mais cou­sas do que eles vi­ram e ve­mos mais longe do que eles. Qual a ra­zom disto? Nom é nem a acui­dade do nosso olhar, nem a su­pe­ri­o­ri­dade da nossa al­tura, mas por­que so­mos trans­por­ta­dos e ele­va­dos pola alta es­ta­tura dos gigantes.”

Somos com­pa­rá­veis a anaos so­bre os om­bros de gi­gan­tes. Assim que­ria ilus­trar o hu­ma­nista fran­cês do sé­culo XII Bernardo de Chartres o ca­rác­ter pro­ces­sual e di­a­lé­tico da in­ves­ti­ga­çom ci­en­tí­fica e do sa­ber na sua to­ta­li­dade. E é que se nom su­bi­mos nos om­bros de gi­gan­tes, va­mos ter que co­me­çar cada vez, que rei­ni­ciar eter­na­mente. Temos o de­ver de re­co­nhe­cermo-nos parte de umha tra­di­çom épica de mo­vi­men­tos so­cias, sin­di­cais e po­lí­ti­cos e re­co­nhe­cer, a es­ses gi­gan­tes, o pa­pel ori­en­ta­dor que me­re­cem. Esses gi­gan­tes que nos pre­ce­dem cul­ti­vá­rom o que hoje sa­bo­re­a­mos e se os seus le­gí­ti­mos her­dei­ros nom o ve­mos, nom o que­re­mos ver, ou­tros vi­rám e os­ten­ta­rám tam alto pri­vi­le­gio. Porque é de­ma­si­ado su­cu­lento fa­zer-se de­po­si­tá­rio das gran­des mu­dan­ças, por­que mui­tas ve­zes até nós mes­mas du­vi­da­mos das nos­sas he­roi­ci­da­des e por­que umha ma­qui­na­ria ide­o­ló­gica atroz (mui­tas ve­zes sus­ten­tada por de­so­nes­tas com­pa­nhei­ras) nom cessa de de­for­mar a re­a­li­dade… Por todo isso! Muitas clau­di­ca­mos cons­ci­ente ou in­cons­ci­en­te­mente dando umha nova opor­tu­ni­dade à ilu­só­ria mu­dança ge­rada desde as ins­ti­tui­çons ema­na­das do Reino de Espanha ou da ins­ti­tui­çom que corresponda.

Mas a mu­dança está onde es­tivo sempre.

Na tarde do pas­sado 14 de Outubro de 2019, o enorme au­di­tó­rio do Padroado de Cultura da Cámara Municipal de Narom fi­cou pe­queno para a ca­pa­ci­dade de con­vo­ca­tó­ria das fi­lhas de Ângelo Casal. O im­pulso des­bor­dante da nova for­nada de Escolas de Ensino Galego en­cheu esta do­ta­çom cul­tu­ral do con­ce­lho tra­sanquês. Todo um luxo de ins­ta­la­çons e umha cheia de fa­ci­li­da­des acom­pa­nhou o acon­te­cer mi­li­tante das com­pa­nhei­ras do so­nho de umha es­cola na­ci­o­nal para as nos­sas fi­lhas. Nom po­de­mos es­que­cer que esta câ­mara mu­ni­ci­pal ce­deu gra­tui­ta­mente a an­tiga sede da Semente Trasancos, onde nom pa­ga­vam nem luz nem água. Até lhes lim­pa­vam a es­cola e lhe cor­tam a erva! Lógico, é o que de­vem fazer.

Nom há ha­bi­tante da co­marca que nom te­nha co­nhe­ci­mento de al­gumha das fa­ces deste Padroado de Cultura sem qual­quer pa­ra­le­lismo na mu­ni­ci­pa­li­dade ga­lega. Dezenas de mi­lha­res de cri­an­ças pas­sá­rom po­las suas es­co­las (te­a­tro, mú­sica, cons­tru­çom de ins­tru­men­tos tra­di­ci­o­nais…). O te­a­tro ga­lego sabe bem onde fica Narom; as suas agru­pa­çons de dança e mú­sica som bem iden­ti­fi­cá­veis; os es­pec­tá­cu­los, mui­tos de­les des­cen­tra­li­za­dos, te­nhem umha re­pers­cus­som co­mar­cal. Com to­das as mu­dan­ças, ver­ti­ca­li­da­des e de­for­ma­çons, o Padroado que deu co­ber­tura à Semente, está aí. 

A pá­gina web do Padroado de Cultura de Narom tem um pe­queno apar­tado so­bre a sua his­tó­ria, pouca cousa para os 37 anos de ins­ti­tui­çom. O tex­ti­nho co­meça as­sim: “O Concello de Narón puxo en mar­cha no ano 1981 o Padroado de Cultura” . Qualquer umha de nós con­ti­nu­a­ria a ler as suas bon­da­des pas­sando por alto a mais alta das trai­çons; a mais baixa das mi­sé­rias; a mais pa­ra­li­sante das interpretaçons. 

É men­tira, como sempre. 

O 3 de Junho de 1981 fai-se en­trega por parte do de­no­mi­nado “Movimento Cibdadán” do pro­jeto de es­ta­tu­tos do Padroado de Cultura de Narom. Assinam o do­cu­mento aqui re­pro­du­zido José Rico Picalho em nome da as­so­ci­a­çom vi­zi­nhal de Santa Icía e em nome da Sociedade Cultural Areosa. 

Na in­ci­pi­ente mu­ni­ci­pa­li­dade dos iní­cios dos oi­tenta a ati­vi­dade ins­ti­tu­ci­o­nal e as­so­ci­a­tiva da co­marca de Trasancos ti­nha como de­no­mi­na­dor co­mum o he­roico mo­vi­mento obreiro. Para quem nom vi­veu aque­les anos de­ve­mos su­bli­nhar que en­tre as duas es­fe­ras (ins­ti­tu­ci­o­nal e as­so­ci­a­tiva) exis­tia umha ós­mose per­mante que fluía im­pul­sada po­las or­ga­ni­za­çons po­lí­ti­cas mar­xis­tas.  Ainda ale­gando que o im­pulso foi co­mum, e que sem o fi­nan­ci­a­mento da câ­mara mu­ni­ci­pal de Narom nada disto te­ria acon­te­cido, so­mos quem de afir­mar que foi o mo­vi­mento ci­da­dao se­me­ado du­rante toda a his­tó­ria da re­belde co­marca o que im­pul­si­o­nou o Padroado.

Na in­ci­pi­ente mu­ni­ci­pa­li­dade dos oi­tenta a ati­vi­dade ins­ti­tu­ci­o­nal e as­so­ci­a­tiva de Trasancos ti­nha como de­no­mi­na­dor co­mum o mo­vi­mento obreiro

Às 18h30 ho­ras do 23 de abril de 1982, após lon­gos de­ba­tes dos re­pre­sen­tan­tes do mundo as­so­ci­a­tivo e da mu­ni­ci­pa­li­dade, fica cons­ti­tuído o Padroado. Será di­ri­gido por um Diretor Técnico, três re­pre­sen­tan­tes do Movimento Cidadao e três da Câmara Municipal de Narom. Na no­tí­cia do jor­nal da-se conta da pri­meira ta­refa: or­ga­ni­zar a pró­xima Semana das Letras Galegas de­di­cado a Luís Amado Carvalho. 

Nom deixa de ser ex­tra­or­di­ná­rio fo­car a vista na Artigo 3 do Título 1 onde se des­cre­vem as Finalidades. No seu apar­tado “A” e ocu­pando o pri­meiro lu­gar o mo­vi­mento ci­da­dao es­creve como ini­cial objetivo:

Suplir as de­fi­ci­en­cias do en­sino pú­brico es­ta­tal res­pecto da re­a­li­dade ga­lega e do Concello de Narón”

Essa “es­querda” pro­fis­si­o­nal que cada dia usurpa a de­no­mi­na­çom “da mais bela aven­tura hu­mana”, e essa di­reita que nom ne­ces­sita ca­rac­te­ri­za­çom con­cor­dam neste re­lato ilu­só­rio e iner­ti­zante. Mas a his­tó­ria, a nossa his­tó­ria, a que nós fa­ze­mos está para su­tu­rar com fio trans­pa­rente o que con­ta­mos com o acon­te­cido por­que sa­be­mos que a ver­dade sem­pre es­tivo do nosso bando. E nós, as ati­vis­tas que mu­da­mos o mundo nom que­re­mos ga­lons, nom que­re­mos re­co­nhe­ci­men­tos nem es­tá­tuas, como poda ima­gi­nar a sem­pre aje­jante de­bi­li­dade men­tal. É só sa­ber, é só con­tar o que pas­sou e o que vai se­guir pas­sando. Nom é tanto, nom é? É só isso, nada mais do que isso e nada menos. 

Na ima­gem que ilus­tra este ar­tigo po­de­mos ver umha cri­ança nos om­bros do seu avô; para mi­rar bem a ima­gem de­ves sa­ber que o neto fai parte da pri­meira ge­ra­çom das Escolas de Ensino Galego do sé­culo XXI que a Gentalha do Pichel pa­riu em Compostela, e o de abaixo é José Rico, si, o do mo­vi­mento ci­da­dao… E há que contá-lo. Porque se nom o con­ta­mos nós, vam-no con­tar eles. Porque só as­sim, sa­bendo em que cume nasce o ma­nan­cial das mu­dan­ças po­de­re­mos se­guir ga­lo­pando nos om­bros de gi­gan­tes cada ge­ra­çom mais rá­pido, cada vida mais alta e cada se­mente mais fértil.

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