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Sonham os androides com pandeiretas elétricas?

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Corria o ano 2000 quando a com­po­si­tora, multi-ins­tru­men­tista e can­ta­reira Mercedes Peón pu­bli­cava a sua es­treia em so­li­tá­rio, Isué, toda umha la­ba­çada so­nora que abria um ca­mi­nho pra­ti­ca­mente in­tran­si­tado para a mú­sica tra­di­ci­o­nal ga­lega: o da mú­sica ele­tró­nica. A prensa in­ter­na­ci­o­nal nom tar­dou em des­fa­zer-se em elo­gios com a ar­tista de Oça dos Rios pe­rante o que se­me­lhava um novo ponto de re­fe­rên­cia para a evo­lu­çom das mú­si­cas de raiz e a ele­tró­nica du­rante o sé­culo XXI. As pan­dei­re­tas e as com­pu­ta­do­ras, o ajrú e o loop, a mui­nheira e a per­cus­som sin­te­ti­zada; aquilo prometia.

Ana Parada

Mas este par­ti­cu­lar efeito 2000 tam­pouco se cum­priu e a re­la­çom en­tre a mú­sica tra­di­ci­o­nal ga­lega e a ele­tró­nica con­ti­nua hoje quase tam fora da nor­ma­li­dade como há de­zas­sete anos, até o ponto de que nom é fá­cil en­con­trar ar­tis­tas que mis­tu­rem am­bos gé­ne­ros, além da pró­pria Peón. Um dos re­fe­ren­tes neste âm­bito é Nacho Muñoz, tam­bém co­nhe­cido como Madamme Cell, co­la­bo­ra­dor ha­bi­tual da co­ru­nhesa desde os tem­pos do Isué e um dos prin­ci­pais res­pon­sá­veis da sua de­riva eletrónica.

Passos para a experimentaçom

O mesmo Nacho nom tivo muita re­la­çom com a mú­sica tra­di­ci­o­nal nos tem­pos da sua apren­di­za­gem. Tardou três anos em des­co­brir que, no mesmo edi­fí­cio em que as­sis­tia às au­las de ele­tró­nica da Universidade Popular de Vigo, Carlos Núñez e Budiño apren­diam nas de mú­sica tra­di­ci­o­nal. Daquela ti­nha 17 anos e con­si­dera-se um pri­vi­le­gi­ado por ter ad­qui­rido essa for­ma­çom numha Galiza onde, no ter­reno da ele­tró­nica, a mai­o­ria é “au­to­di­data”. A co­me­ços dos anos 90 Muñoz for­mou parte dos ex­tin­tos Armeguín, numha época na qual “só co­nhe­cia Milladoiro”. Armeguín era um grupo de folk pro­gres­sivo em que o vi­guês se con­si­de­rava “a nota dis­so­nante, mas en­trava guai”. No se­guinte pro­jeto em que par­ti­ci­pou co­nhe­ce­ria, desta vez si, Budiño. “Fol de Niu era umha fu­som des­ca­rada, ha­via um per­cus­si­o­nista bra­si­leiro e ti­nha um es­tilo moi fun­kie”. A ele­tró­nica ti­nha pouca pre­sen­cia da­quela, mas nom tar­da­ria em chegar.

Muñoz nom lem­bra muito bem como co­me­çou a sua co­la­bo­ra­çom com Mercedes Peóm. Acha que foi des­pois de coin­ci­dir nuns con­cer­tos na praça da Quintana, em Compostela. A ar­tista es­tava em plena cri­a­çom do seu pri­meiro ál­bum, Isué, e nom ato­pava pro­du­tor. Muñoz deu-lhe o em­pur­rom de­fi­ni­tivo: “para que que­res um pro­du­tor?”. E fô­rom para adi­ante. “Mercedes puxo as cou­sas no seu sí­tio”, afirma. O mú­sico en­trou em con­tato com a per­cus­som e os can­tos po­pu­la­res ga­le­gos. Nos gru­pos an­te­ri­o­res nos quais par­ti­ci­pava pri­mava a gaita. “Empolhei-me o can­ci­o­neiro de Dorothé Schubart in­teiro, os doze vo­lu­mes”, um tra­ba­lho de re­com­pi­la­çom e cla­si­fi­ca­çom dos can­tos e ins­tru­men­tos da suíça na Galiza que se­gundo ele “ainda está por reconhecer”.

A pesar do sucesso alcançado após o lançamento de Isué o seu produtor e arranjista coincide que outros projetos nessa linha ficárom muitas vezes “na anedota”

A pe­sar do su­cesso al­can­çado após o lan­ça­mento de Isué o seu pro­du­tor e ar­ran­jista coin­cide que ou­tros pro­je­tos nessa li­nha fi­cá­rom mui­tas ve­zes “na ane­dota”. Ilhas de ex­pe­ri­men­ta­çom com pou­cos anos de du­ra­çom como foi a Eclética Ensemble, que ele tam­bém pro­du­ziu. Nela par­ti­ci­pá­rom no­mes de grande peso na mú­sica de raiz ga­lega como Ugia Pedreira , Ramom Pinheiro ou Davide Salvado. Um col­lage que par­tia de vo­zes e ins­tru­men­tos mis­tu­ra­dos com pai­sa­gens so­no­ras e frag­men­tos de mi­lha­res de improvisaçons.

À mar­gem dos gru­pos com os que co­la­bo­rou, Nacho Muñoz tem ou­tra fa­ceta como in­ves­ti­ga­dor do som na qual nom deixa de ex­pe­ri­men­tar, Madame Cell. Umha via de ex­plo­ra­çom que na Galiza per­cor­ré­rom pro­je­tos como o obra­doiro ins­tru­men­tal do CGAC ou Escoitar.org. Nesta úl­tima ini­ci­a­tiva, nas­cida em 2006, co­nhe­cé­rom-se dous dos in­te­gran­tes de Ulobit: Xoán-Xil López e Horacio González. Ambos de­ci­dí­rom co­me­çar pola sua conta umha co­la­bo­ra­çom que unia a ele­tró­nica, da mao de López, com a ví­deo-cri­a­çom de González. Numha atu­a­çom na Gentalha do Pichel coin­ci­dí­rom com o san­fo­nista Ariel Ninas- nome ar­tís­tico de Mauro Sanín- e pouco des­pois nas­ceu Ulobit.

A contemporaneidade da sanfona

A san­fona é um sin­te­ti­za­dor me­di­e­val”, ex­plica Ninas. Para o mú­sico a his­tó­ria deste ins­tru­mento do sé­culo XII ti­nha que de­sem­bo­car ine­vi­ta­vel­mente na mú­sica con­tem­po­râ­nea de van­guarda. O ar­tista in­dica que na Galiza “ainda está muito li­gada à mú­sica po­pu­lar, so­bre­tudo aos can­tos de cego”, mas o mú­sico de­ci­diu le­var a san­fona além ex­plo­rando to­das as suas pos­si­bi­li­da­des. “Isto é algo que no país fa­ze­mos pou­cos, há pes­soas que se au­to­cen­su­ram”, di. Sanfona, ví­deo e o som sin­te­ti­zado polo equipo de Xoán-Xil López som um todo cam­bi­ante nas suas atu­a­çons. Ulobit é, prin­ci­pal­mente, im­pro­vi­sa­çom, apro­vei­ta­mento do es­paço, tam­bém do erro. Os seus tra­ba­lhos de­mo­ram muito em ser tra­du­zi­dos ao for­mato fí­sico. Vickingland, lan­çado em 2016 e ba­se­ado no filme ho­mó­nima de Xurxo Chirro, foi o pri­meiro. Tenhem to­cado em am­bi­en­tes muito di­fe­ren­tes e na casa bo­tam em falta es­pa­ços onde de­sen­vol­ver a sua pro­posta. “Ainda que para o que pro­du­zi­mos fi­si­ca­mente nos mo­ve­mos bas­tante”. Estivérom pre­sen­tes o ano pas­sado no fes­ti­val WOS mas cham que fai fa

Nacho Muñoz, pro­du­tor de “Isué”, de Mercedes Peón | Xabier Vieiro

lta umha aposta maior em gru­pos que arriscam.

Horacio González con­si­dera que os pro­mo­to­res cul­tu­rais na Galiza “su­bes­ti­mam” o pú­blico. Um exem­plo: No Museu do Mar pre­sen­tá­rom Vikingland pe­rante a vi­zi­nhança de Bueu e aos se­nho­res e se­nho­ras “pa­re­ceu-lhes umha fri­cada, mas es­cui­tá­rom-no e pas­sá­rom-no pipa”, re­lata. O grupo ex­plica que a sua re­la­çom com a mú­sica de raiz vem dada pola in­tro­du­çom da san­fona, que ade­mais en­ri­quece a posta em cena: “A me­dida que Mauro toca, o pú­blico pode ver como mu­dam as ima­gens e os sons sin­te­ti­za­dos”. Atualmente tra­ba­lham com ví­deos re­la­ci­o­na­dos com a dança galega.

O Projeto Trepja

A mis­tura do ví­deo com ins­tru­men­tos tra­di­ci­o­nais e sons sin­te­ti­za­dos com com­pu­ta­dor ato­pámo-la tam­bém no de­sa­pa­re­cido Projeto Trepja. Nasceu em 2008, ano em que re­ce­beu o pri­meiro pré­mio do cer­tame GZ Crea. Xandre Outeiro, in­te­grante de Trepja, ex­plica que da­quela pen­sá­rom que o ga­lar­dom se­ria um gram pulo para o co­le­tivo. Mas todo fi­cou em “pro­mes­sas va­zias” e pou­cos anos de­pois de­ci­dí­rom se­pa­rar-se. Formada por quinze in­te­gran­tes, a agru­pa­çom unia a sua ex­pe­ri­ên­cia no eido da mú­sica tra­di­ci­o­nal, os seus tra­ba­lhos de gra­va­çons de campo a in­for­man­tes e in­for­man­tas por toda a Galiza e a sua von­tade de criar e ex­pe­ri­men­tar. Xandre con­fessa que nos seus co­me­ços mu­si­cais era “to­tal­mente anti mú­sica ele­tró­nica”. Um “pu­rista” que a pouco e pouco foi evo­lu­ci­o­nando da mú­sica tra­di­ci­o­nal que ele mesmo re­co­lhia cara aos sons sin­te­ti­za­dos. “Fum-me dando conta de que no tra­di­ci­o­nal todo eram pa­trons rít­mi­cos re­pe­ti­ti­vos, es­que­mas rít­mi­cos e mui po­ten­tes às ve­zes, ou­tras ve­zes nom tanto”, explica.

Para Xandre fica muito tra­ba­lho so­ci­o­cul­tu­ral que fa­zer na Galiza. “A ele­tró­nica se­gue-se as­so­ci­ando muito com as ra­ves”. Ao mú­sico de Ponte Vedra re­sulta-lhe com­pli­cado ato­par um es­paço para pre­sen­tar o seu tra­ba­lho em di­reto: “Às ve­zes sen­tes-te co­lado com pe­ga­mento, su­jeito fixo no me­dio do pro­grama”, la­menta. Após o re­mate de Trepja con­ti­nua a fa­zer mis­tu­ras na sua casa e se­gue apren­dendo de forma au­to­di­data. Quando de­ci­dí­rom dis­sol­ver-se es­pe­ra­vam que al­guém re­co­lhe-se “a tes­te­mu­nha da nossa ideia, deste con­ceito de fa­zer as cou­sas”. Mas nom foi as­sim, ou nom da forma que aguardavam.

O co­le­tivo su­ge­ria num dos seus pri­mei­ros con­cer­tos a exis­tên­cia de qua­tro eta­pas da mú­sica tra­di­ci­o­nal, que para Xandre “con­ti­nuam vi­gen­tes”. Umha pri­meira em que a tra­di­çom for­mava parte do dia a dia, umha se­gunda em que foi su­bida aos ce­ná­rios, umha ter­ceira de re­cre­a­çons his­tó­ri­cas e umha maior in­ves­ti­ga­çom. A quarta? Umha úl­tima etapa em que to­tal­mente li­be­ra­dos do que po­día­mos ou nom po­día­mos fa­zer, sendo cons­ci­en­tes do que fa­zía­mos, po­día­mos fa­zer o que qui­gé­ra­mos. E a nossa pro­posta era aquela”, as­se­gura. O mú­sico aposta em man­ter aber­tas duas vias no nosso pa­tri­mó­nio mu­si­cal: umha que trans­mita “o que che­gou até nós, a tra­di­çom tal é como a re­ce­be­mos”, e ou­tra que con­tri­bua para a sua evo­lu­çom “mis­tu­rando e ex­plo­rando”. “Ambas som ne­ces­sá­rias e com­ple­men­ta­rias”, con­clui. Como dixo o es­cri­tor Vicente Aleixandre, tra­di­çom e re­vo­lu­çom som pa­la­vras idênticas.

Os ar­tis­tas coin­ci­dem em que exis­tem bar­rei­ras ide­o­ló­gi­cas que se­pa­ram o tra­di­ci­o­nal da ele­tró­nica, ainda que a nossa gente maior nom se­me­lha par­ti­lhar es­ses pre­con­cei­tos, como de­mons­tra a ex­pe­ri­ên­cia do mú­sico Nacho Muñoz com as mu­lhe­res de Valadares.

No ano 2008 o de­sa­pa­re­cido Projeto Trepja ex­pli­cava, numha das suas atu­a­çons, a exis­tên­cia de qua­tro eta­pas na mú­sica tra­di­ci­o­nal ga­lega. Na quarta e úl­tima, a mú­sica po­pu­lar en­con­tra-se com ou­tras in­fluên­cias, ou­tros gé­ne­ros mu­si­cais e no­vas vias de ex­pe­ri­men­ta­çom. As e os ar­tis­tas que in­te­grá­rom Trepja pu­gé­rom-no em prá­tica: ví­deo, sons sin­te­ti­za­dos, pan­dei­re­ta­das, baile, vo­zes… Todo se mis­tu­rava em cada umha das suas atu­a­çons, que po­diam ter lu­gar tanto numha praça de abas­tos como acima dum ce­ná­rio. Trás eles sur­dí­rom na Galiza no­vas pro­pos­tas onde ele­tró­nica e mú­sica de raiz se entrelaçavam.

Os com­po­nhen­tes de Ulobit: Xoán-Xil López (ele­tró­nica), Horacio González (vi­su­ais) e Mauro Sanín (san­fona) | Xabier Vieiro

Tradiçom, “dub” e “hip-hop”

Umha de­las é pro­ta­go­ni­zada por Os Grú, o duo in­te­grado por Vanesa Castro e Iñaki López, umha ga­lega e um va­len­ci­ano que mo­ram na pa­ró­quia de Santa Maria de Vilachá, em Monfero. Ali re­a­li­zam os seus eclé­ti­cos pro­je­tos ar­tís­ti­cos atra­vés da sua pro­du­tora, Fur Alle Falle, e or­ga­ni­zam jor­na­das so­bre te­má­ti­cas como o de­cres­ci­mento atra­vés da as­so­ci­a­çom Rural Contemporânea, en­tre ou­tras mui­tas cou­sas. Umha des­sas ini­ci­a­ti­vas ar­tís­ti­cas foi Ai Ruada, um disco-ho­me­na­gem à festa po­pu­lar, pú­blica e auto-ge­rida das nos­sas ido­sas e ido­sos, pu­bli­cado em 2014. Nele, as gra­va­çons que o et­no­mu­si­có­logo Alan Lomax re­a­li­zou na Galiza no 1952 mis­tu­ram-se com es­ti­los coma o dub e o hip-hop e ar­tis­tas como As Grecas ou Manuel de Falla. Mas Ai Ruada nom fica numha sim­ples ho­me­na­gem, tam­bém é umha de­cla­ra­çom de in­ten­çons. “O la­zer nas al­deias deve re­cu­pe­rar a ru­ada. Viver na al­deia deve ofe­re­cer ou­tros es­pa­ços co­muns para a festa, além dos ba­res, as ver­be­nas do pa­trom ou as ro­ma­rias. Reivindicamos a ru­ada como bem co­mum”, ex­pli­cam no seu Bandcamp.

Vanesa in­dica que a sua in­ten­çom era “va­lo­ri­zar o tra­di­ci­o­nal atra­vés dum ponto de vista ino­va­dor, re­fri­ge­rante, para mantê-lo vivo”. “Ai Ruada era di­zer: ‘ei, que po­de­mos fa­zer mú­sica de baile, umha festa na rua, como umha rave, mas com a tra­di­çom do sí­tio onde vi­ve­mos”, afirma Iñaki. Os Grú cri­ti­cam o pu­rismo do fol­clore e de­fen­dem que a mú­sica ele­tró­nica pode ache­gar umha nova gama de pos­si­bi­li­da­des. “Se a gente de fai três sé­cu­los na Galiza ti­vesse es­tes ins­tru­men­tos, te­ria-os in­te­grado na forma de fa­zer mú­sica, mas agora pa­rece que mis­tu­rar ins­tru­men­tos no­vos com o “an­tigo” é como ir em con­tra do puro, um sa­cri­lé­gio, dim. Iñaki tam­bém la­menta a re­ti­cên­cia por parte dou­tros es­ti­los e usar ele­men­tos do tra­di­ci­o­nal, si­tu­a­çom que con­si­dera pro­vo­cada pola her­dança cul­tu­ral do fran­quismo, de “afo­gar o nosso”, e ao te­mor dos ar­tis­tas a fa­zer mis­tu­ras por medo a que a gente nom as entenda.

As nos­sas e os nos­sos ido­sos nom se­me­lham par­ti­lhar es­tes te­mo­res, e as­sim o de­mons­tra a ex­pe­ri­ên­cia de Nacho Muñoz com as mu­lhe­res do Banco de Tempo de Valadares. O pro­du­tor e ar­ran­ja­dor de ar­tis­tas como Mercedes Peón ou Budiño co­la­bo­rou com as can­ta­rei­ras da pa­ró­quia. Neste ex­pe­ri­mento cha­mado Verbenas pe­ri­fé­ri­cas, cri­ava com elas umha sé­rie de pe­ças que mis­tu­ra­vam a ele­tró­nica com as suas can­çons pre­fe­ri­das. Baixo o nome Orquestra de Experimental do Banco do Tempo re­a­li­zá­rom umha atu­a­çom no au­di­tó­rio da pa­ró­quia. As se­nho­ras des­fru­tá­rom no pro­cesso, ao que se apro­xi­má­rom sem pre­con­cei­tos. Ao pú­blico en­can­tou-lhe. “Amavam-nos”, ex­plica o pró­prio Muñoz, que tem le­vado sin­te­ti­za­do­res ao se­ráns que se fa­ziam em Redondela. Aí, as­se­gura, to­pou re­al­mente a tra­di­çom, mas as e os mú­si­cos do nosso país nom sem­pre o te­nhem tam claro.

Pandeiretas e música electrónica

Um dos que sim o tivo claro foi Ángel Marcos Pardal, Pandoé, ele de­ci­diu co­me­çar umha car­reira em so­li­tá­rio. Este ar­tista emer­gente no campo da ele­tró­nica des­taca por in­te­grar per­cus­sons e can­tos tra­di­ci­o­nais ga­le­gos ‑can­ta­dos e to­ca­dos por ele pró­prio- nas suas com­po­si­çons. O mú­sico pa­dro­nês tivo que aguar­dar e criar este pro­jeto para in­cor­po­rar sons da Galiza ao seu re­per­tó­rio já que nos dous úl­ti­mos gru­pos que in­te­grou, Músculo! e Defrendous, nom lhe dei­xá­rom fazê-lo, umha de­ci­som que ele con­si­dera “ide­o­ló­gica” e nom mu­si­cal. “Se lhes di­gesse de ar­ris­car mais, mas com um som de África ou da Argentina, di­riam que isso é le­gal, mas com pan­dei­re­tas era como ‘ve­nha, ho­mem’. Acho que há bas­tante com­plexo com isso, é o que sinto no meu en­torno mu­si­cal”, relata.

Para Pandoé, as pandeiretas achegam “texturas naturais” que contrastam com o sintético da música eletrónica

Para Pandoé, as pan­dei­re­tas ache­gam “tex­tu­ras na­tu­rais” que con­tras­tam com o sin­té­tico da mú­sica ele­tró­nica. “A pan­dei­reta é muito rít­mica mas ao mesmo tempo achega umha su­jeira, dá um to­que ét­nico, muito ar­rai­gado”, ex­plica. Desta mis­tura nas­cê­rom o seu pri­meiro EP Sintética Natural, e o seu disco de de­bute, Coriqui, es­tre­ado o pas­sado 10 de abril, tra­ba­lhos pen­sa­dos em boa me­dida para as pis­tas de baile. A sua tra­je­tó­ria parte dum tra­ba­lho de in­ves­ti­ga­çom pes­soal, já que ape­sar da sua for­ma­çom com ba­te­ria nunca to­cara a per­cus­som tra­di­ci­o­nal, um mundo “des­co­nhe­cido” para ele. A sua mu­lher, gai­teira e per­cus­si­o­nista da Fonsagrada, foi mui im­por­tante neste ca­mi­nho de apren­di­za­gem que o le­vou a ex­pe­ri­men­tar com ins­tru­men­tos como ca­ba­ças ou pau­zi­nhos e en­caixe. O ar­tista con­si­dera “mui po­si­tiva” a sua ex­pe­ri­ên­cia e fai au­to­crí­tica: “Acho que te­mos essa ima­gem na nossa ca­beça de que a mú­sica po­pu­lar ga­lega som os três de sem­pre e nom há mais nada, nom nos fa­ze­mos à ideia de como en­cai­xar todo isso neste mundo con­tem­po­râ­neo”. Dentro deste pro­cesso pas­sou de em­pre­gar re­fe­rên­cias la­tino-ame­ri­ca­nas como a cúm­bia a cen­trar-se na mú­sica ga­lega, a senti-lo como pró­prio, “é como des­co­brir re­al­mente quem és”, di.

O “chiptune”

Outro mú­sico que to­pou bar­rei­ras no seu ca­mi­nho é Marcos Aboal, mais co­nhe­cido como Pulpiño Viascón, o má­ximo ex­po­nente do Chiptune na Galiza. Esta mú­sica ele­tró­nica, po­pu­la­ri­zada po­los vi­de­o­jo­gos ar­cade de 80, vive na atu­a­li­dade num au­tên­tico res­sur­gi­mento gra­ças a Internet e mesmo con­se­gue co­lar-se de forma ha­bi­tual na mu­sica de mas­sas. O Chiptune uti­liza ins­tru­men­tos como Game Boys para com­por, re­crear ban­das so­no­ras de fil­mes ou in­clu­sive fa­zer ver­sons dal­guns dos me­lho­res dis­cos da his­tó­ria. Todo em 8 bits, Bravúboy, en­tre ou­tras cou­sas, tam­bém cria pe­ças ele­tro-tra­di­ci­o­nais como a Muinheira de Nintendo.

Aqui há muito pu­rismo”, afirma o de Viascom, multi-ins­tru­men­tista e in­te­grante dos Diplomáticos de Monte Alto e ou­tra cheia de pro­je­tos ar­tís­ti­cos. Pulpiño ex­plica que a gente “só quer fa­zer folk ou só quer fa­zer rock, nom mis­turá-los”. Ainda que de­fende a li­ber­dade das pes­soas na hora de criar, Aboal la­menta esta si­tu­a­çom, já que con­si­dera que “os no­vos sa­bo­res es­tám na mis­tura”. Esta é, para ele, umha forma de “che­gar à gente”, so­bre­todo, “a pú­bli­cos mais no­vos”. O pro­blema está, se­gundo o mú­sico, em que “na Galiza es­ta­mos fe­cha­dos a isso, salvo al­guns exem­plos”. E vol­ta­mos a fa­lar de Mercedes Peón, tam­bém de Budiño.

A Aboal o da mis­tura vem-lhe de cri­ança. “Quando es­tava em Viascom, na saída da missa, o gai­teiro Ricardo Portela to­cava o Pasodoble de San Benito. Depois ía­mos à rapa das bes­tas com Portela, eu já ti­nha umha Game Boy no Carro”. É de onde vem o es­tilo do seu ál­bum Bravúboy, dis­po­ní­vel em Soundcloud, “de mis­tu­rar os te­mas tra­di­ci­o­nais com 8 bits”.

Galician Chiptunes nom é o pri­meiro pro­jeto no que Pulpiño Viascón mis­tura ele­tró­nica e mú­sica po­pu­lar, an­tes já for­mou parte de Bonovo. Neste grupo, nado em 2007, par­ti­ci­pa­vam Óscar Fernandes, dos Cem-pés, à san­fona, e Roberto Gandral ao acor­deóm. Todo mis­tu­rado com a ba­te­ria ele­tró­nica de Viascom. Bonovo foi umha aven­tura curta por­que, se­gundo Aboal, “a gente nom nos en­ten­deu”. “O pro­blema que te­mos”, coin­cide Pulpiño com ou­tras e ou­tros mú­si­cos “é que na Galiza há, mais ou me­nos, um mer­cado folk, mas mais nada”.

Marcos Aboal: "na Galiza há, mais ou menos, um mercado de música folk, mas mais nada”

Aprendendo a experimentar

A pe­sar das di­fi­cul­da­des no per­curso, aque­las e aque­les que de­ci­dí­rom aven­tu­rar-se na ex­plo­ra­çom nom caem no pes­si­mismo. Para Xandre Outeiro, mú­sico que par­ti­ci­pou no Projeto Trepja, es­tas ideias “tar­dam em ca­lhar”. Incluir a ex­pe­ri­men­ta­çom no en­sino é umha via para atingi-lo. Xandre é um mes­tre em Ponte-Vedra, as­sim como ou­tros ex-mem­bros da Trepja. Na es­cola de Trepja ofe­re­cem-se atu­al­mente au­las de ex­pe­ri­men­ta­çom, umha vez re­ma­ta­dos os três pri­mei­ros ní­veis de mú­sica tra­di­ci­o­nal, ser­vem para “sen­tar as bases”.

O mú­sico Ariel Ninas, san­fo­nista e mem­bro do grupo de mú­sica drone Ulobit tam­bém é mes­tre de har­mó­nica na Central Folque de Santiago de Compostela. O mesmo Nacho Muñoz dou au­las na Aula Infantil da Folque em Ponte-Vedra. Nenas e ne­nos re­ce­biam nela au­las de per­cus­som, baile e canto tra­di­ci­o­nal. Depois es­tava Nacho. “Eu ti­nha o la­bo­ra­tó­rio de sons, era um pouco o re­creio”, re­lata. Partiam das es­tru­tu­ras de me­lo­dias po­pu­la­res que logo es­miu­ça­vam, e com es­ses frag­men­tos co­me­ça­vam a jo­gar. “Era todo ex­pe­ri­men­tar e criar”. A ra­pa­zada par­ti­ci­pava de­pois em con­cer­tos que eles aju­da­vam a pro­du­zir, desde a mú­sica até a iluminaçom.

Dezassete anos de­pois do Isué, a tra­di­çom ga­lega nom con­se­guiu tres­pas­sar os pre­con­cei­tos de pró­prios e alheios para pe­ne­trar no mundo da ele­tró­nica, mas o ca­mi­nho ini­ci­ado ‑ou, quando me­nos, vi­si­bi­li­zado- no 2000 se­gue aberto e há mo­ti­vos para o op­ti­mismo. Viascón lem­bra que há 30 anos quase nin­guém se atre­via a mis­tu­rar umha ba­te­ria com umha gaita, algo que hoje está com­ple­ta­mente nor­ma­li­zado. Se o ser hu­mano se atreve a so­nhar com an­droi­des e ove­lhas elé­tri­cas, por que nom com pandeiretas?

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