
Se bem a habitaçom é um direito em crise permanente, pois a sua mercantilizaçom provoca que nom todas as pessoas podam aceder a ela, as perspetivas de empobrecimento geral como consequência da gestom do surto da Covid19 fam prever que os problemas habitacionais dispararám. Por outro lado, também está prevista umha queda no mercado imobiliário e adverte-se de que os preços dos alugueres poderám continuar a subir.
Estefanía Calo é socióloga e forma parte do Grupo de Estudos Territoriais da Universidade da Corunha. Na hora de responder as questons formuladas arredor da crise da vivenda quer esclarecer que apenas pode partilhar algumhas reflexons perante a atual situaçom de incerteza. Colabora também com os Grupos de Apoio Mútuo (GAM) da Corunha, que também colaborárom na formulaçom destas reflexons.
Assim, Calo indica que a crise habitacional já era percebida antes do surto da Covid19, especialmente em relaçom às rendas. “A vivenda sempre está em crise porque sempre há populaçom com problemas de acesso. Porem, só se fala em crise em situaçons em que a problemática afeta a mais grupos sociais, como aconteceu com a crise de 2008”, aponta. Assim, acrescenta que a pandemia está a visibilizar a situaçom precária de muita gente e está a piorar as condiçons de vida, polo que as pessoas que se encontrrem em situaçons de vulnerabilidade poderám passar a umha de exclusom social e pessoas com certa estabilidade poderám passar a ser vulneráveis.
Para Calo, a atual situaçom tem umha leitura de género. “Se falarmos em emprego precário e instável som as mulheres que ocupam esses postos, e muitas som migrantes, sobre todo aquelas que se dedicam aos cuidados e à limpeza”, reflete. Para ilustrar esta afirmaçom expom umha experiência do grupo de vivenda dos GAM da Corunha: “Quando se mobilizaram para a greve de alugueres em março detetárom que a maioria das pessoas que cobriram o formulário de adesom eram mulheres em fogares monoparentais, que trabalhavam em negro no setor da limpeza e dos cuidados”.
O preço do aluguer nom vai baixar
Onde acha Calo que terá umha especial incidência esta crise será no mercado de vivenda em aluguer. “A situaçom de precariedade laboral aumentou, polo que muita gente, ainda que queira, nom pode mercar e tem de alugar. Aqui também pode fazer-se leitura de género, idade e procedência, pois esta situaçom de vulnerabilidade afeta mais a gente nova, as mulheres e o migrantado”.
Umha das consequência previsível da atual crise é umha reduçom das atividades arredor do turismo, o que pode propiciar que algumhas das vivendas de uso turístico voltem ao mercado de vivenda habitual. “Neste sentido pode ser que ao aumentar a oferta se reduzam os preços dos alugures”, reflete Calo, mas expom que também está a dar-se um aumento de preços: “Parece que há casos de proprietários com várias vivendas, algumhas no mercado de vivenda habitual e outras no mercado de vivenda turística, que para compensar a perda de ingressos das turísticas aumentam o preço das habituais”.
Estefanía Calo: “A situaçom de vulnerabilidade afeta mais a gente nova, as mulheres e o migrantado”
Da opiniom de que os preços da vivenda em aluguer nom vam baixar é também Roberto Castro-Tomé, economista e consultor urbanístico. “Os preços do aluguer vam continuar tensados”, afirma. Expom para isto dous argumentos: por um lado que o nosso país nom conta com um parque de aluguer significativo e por outro o apego à propriedade que deteta na Galiza. “Há proprietários que preferem ter as vivendas fechadas antes do que as meter no mercado”, afirma. Como também apontava Calo, sublinha que a crise vai provocar que se deixe de comprar vivenda, o que traz polo menos umha estabilidade para os preços do aluguer. Castro-Tomé atreve-se a indicar que os alugueres hám subir nas cidades e na costa.
Crise imobiliária
Castro-Tomé, numha análise a nível global, acha que o impacto no mercado imobiliário trará um descenso de operaçons e preços de venda, devido especialmente à falta de emprego e à perda de populaçom. “Devemos pontualizar que estamos a falar em termos gerais, já que o mercado imobiliário está marcado por realidades socioeconómicas que o tornam mui local”, acrescenta. Ademais, alerta da opacidade que existe no mercado imobiliário, “que fai mui complicado realizar umha análise pormenorizada e que seja ajustada aos dados, um dos grandes problemas do setor”.
Roberto CastroTomé: ““Há proprietários que preferem ter as vivendas fechadas antes do que as meter no mercado”
Castro-Tomé deteta também a existência de umha procura de casas de campo, mas acha que isto se deve a umha “visom idílica do rural”, pois acha que para fazer do agro umha saída laboral “precisamos de umha aposta da administraçom que dote de serviços a este território”.
O único elemento positivo que encontra Castro-Tomé para o mercado imobiliário galego, “por desgraça, som as alteraçons climáticas que pode fazer da Galiza um lugar de segunda residência, o que traz consigo um custo importante para o nosso território, já mui mermado, que será agravado com a chegada do AVE”.
Tanto Estefanía Calo como Roberto Tomé-Castro chegam a mesma conclusom: estamos a viver as consequências de um modelo residencial centrado na vivenda como mercadoria.
Do mapamundi ao carril bici

Mudará o jeito em que nos moveremos polo mundo, a nossa forma de deslocar-nos polas cidades? A covid19 meteu-nos na casa, proibiu o passeio e mesmo a bicicleta, rebaixou o tráfico rodado, deixou amarrados os transatlânticos e os avions em terra… “Para começar, passaremos polo menos uns meses mais com certas restriçons, o que implica que o transporte individual, bicicleta ou patim, verá-se reforçado diante do transporte coletivo. A verdade é que na Galiza o uso do transporte coletivo era baixo, mas situaçons de massificaçom terám que ser revisadas. O uso do carro particular nom serve para resolver o problema, ou é umha só pessoa a que viaja ou haverá risco de contágio”, di Manuel Soto, catedrático de engenharia química na Universidade da Corunha.
“Há mui poucos anos que na Galiza começamos a pensar a sério na questom da mobilidade nas cidades. Levamos décadas de atrasso. Há ideias, mas ficam num papel”, laia-se Roberto Rilo, presidente da Asociación de Ciclistas Crunia. “Agora vemo-nos nesta emergência. O que reclamamos é que se pedonalizem ruas já”, e acrescenta que com as cidades vazias “vimos claramente todo o espaço que ocupa o carro”.
Ambiçom
Mália nom mudarem as políticas públicas, Soto acha que a crise do coronavirus obrigará a cambiar alguns hábitos e, com eles, poderia mudar a mentalidade. “Estas semanas falou-se muito de atender as recomendaçons científicas, mas vimos duns anos em que o consenso científico sobre o problema climático nom se tivo em conta em absoluto. Agora acontece isto e sabemos que tem a ver também com a perda de biodiversidade e com a rutura dos ecossistemas e que a rapidez da transmisom do vírus tem a ver com a forma em que nos movemos polo planeta”.
A crise da Covid19 obrigará a modificar alguns hábitose, com eles, poderia mudar a mentalidade
O verdadeiro alarme ecológico é a mudança climática, sustém o professor de engenharia química e ativista ambiental. No meio prazo, viajaremos menos; na mobilidade de passageiras e mercadorias nom se recuperarám os níveis de tráfico anteriores. A queda favorece a reduçom da contaminaçom mas a consciência social tem outros ritmos. “Foi mais umha chamada de atençom”, opina Soto, “comprovamos que para atalhar o problema é imprescindível o conhecimento científico e este di que por este caminho imos mal”.
Roberto Rilo demanda pensar a cidade “doutra maneira”. Pede cidades mais “lentas” em que se permita mesmo certo “renascer” da natureza como vimos. “Estávamos a fazê-lo mal. Nom podemos voltar a que o carro seja o rei”, reclama Rilo, quem reivindica os serviços de bicicletas como transporte público. Rilo vê umha oportunidade nesta crise para que os governos municipais tomem decisons ambiciosas e redistribuam o espaço o mesmo que se pede redistribuir a riqueza.