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Umha espada de Damocles sobre o independentismo organizado

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Quanto crime cabe num dis­curso? Quanto num ato pú­blico? No de­se­nho dum car­taz, numha as­sem­bleia? E quanto nas maos que agar­ram duma faixa? Onde é que li­gam a par­ti­ci­pa­çom po­lí­tica pú­blica com o pe­rigo de pri­som? Todas es­sas ques­tons abrem-se de­pois do es­crito de acu­sa­çom da Fiscalia da Audiência Nacional, do­cu­mento em que so­li­cita a im­pu­ta­çom por de­li­tos de enal­te­ci­mento do ter­ro­rismo e por per­tença a or­ga­ni­za­çom cri­mi­nal para as 12 ati­vis­tas in­de­pen­den­tis­tas de Causa Galiza e Ceivar de­ti­das du­rante as ope­ra­çons Jaro e Jaro II.

No texto feito pú­blico no mês de no­vem­bro a Fiscalia de­manda a di­so­lu­çom das duas or­ga­ni­za­çons in­de­pen­den­tis­tas, que en­tende como ban­das cri­mi­nais, e as pe­nas de pri­som desde 4 até 12 anos para as im­pu­ta­das (qua­tro por per­tença e dous por cada de­lito de enal­te­ci­mento). No to­tal, a dú­zia de in­de­pen­den­tis­tas fa­zem frente a 102 anos de pri­som, ina­bi­li­ta­çom para em­pre­gos pú­bli­cos e par­ti­ci­pa­çom elei­to­ral e san­çons eco­nó­mi­cas que as­cen­dem até 348.000 euros.

A no­tí­cia chega de­pois de que o tri­bu­nal uni­fi­cara as duas ope­ra­çons num ma­cro-su­má­rio no fi­nal do ano 2017 e de re­vo­car as me­di­das cau­te­la­res im­pos­tas na Operaçom Jaro (2015), que in­cluíam a sus­pen­som da ati­vi­dade de Causa Galiza e a re­ti­rada dos pas­sa­por­tes às pes­soas en­cau­sa­das. As úl­ti­mas no­vi­da­des fo­ram, con­tudo, o auto de in­co­a­çom de ju­lho em que o su­má­rio en­trava em pro­cesso abre­vi­ado e, com isto, caia ta­ci­ta­mente a im­pu­ta­çom por per­tença a banda ar­mada. Atualmente na ju­ris­pru­dên­cia es­pa­nhola, a fi­gura de banda cri­mi­nosa cos­tuma ir li­gada a má­fias, ban­das de as­sal­tan­tes ou, em ge­ral, gru­pos que ope­ram na clan­des­ti­ni­dade. Em nen­gum caso or­ga­ni­za­çons po­lí­ti­cas públicas.

Se fós­se­mos umha or­ga­ni­za­çom cri­mi­nal com fins de enal­te­cer o ter­ro­rismo e ope­ra­mos desde 2002… nom se de­ram conta an­tes e da­vam-nos per­mis­sos para fa­zer tudo?”, con­trasta Iria Calvelo, mi­li­tante de Ceivar acu­sada de per­tença a banda cri­mi­nosa e três de­li­tos de enal­te­ci­mento por par­ti­ci­par em dous re­ce­bi­men­tos e so­li­ci­tar per­misso na Subdelegaçom do Governo para re­a­li­zar umha des­sas ho­me­na­gens. “Botaram mui­tos anos com isto meio pa­rado e de sú­peto ace­le­ra­ram o pro­cesso. Nós nem pas­sa­mos a dis­po­si­çom ju­di­cial e cha­ma­ram-nos em ou­tu­bro para pres­tar de­cla­ra­çom… para que a Fiscalia pu­desse fa­zer o es­crito de acu­sa­çom que já es­tava feito an­tes de que nós de­cla­ra­ra­mos”, cri­tica Calvelo.

Tanto ela como as ou­tras 11 com­pa­nhei­ras im­pu­ta­das en­fren­tam o juízo na Audiência Nacional com a cer­teza de que es­tám “a jo­gar com as car­tas mar­ca­das”. Assim o de­fine Joam Peres, mi­li­tante de Causa Galiza acu­sado de qua­tro de­li­tos de enal­te­ci­mento, para além do cargo por per­tença a banda cri­mi­nosa. “Entendemos que es­ta­mos pe­rante um tri­bu­nal po­lí­tico de ex­ce­çom e que nom te­mos ne­nhuma ga­ran­tia ju­rí­dica… a de­ci­som to­mada nesse tri­bu­nal será 100% po­lí­tica”, reflete. 

Movimentaçom

Quatro anos de pri­som por de­se­nhar pu­bli­ci­dade web para o Dia da Galiza Combatente, dous anos de pri­som por ter­mar dumha faixa, ou­tros dous anos por re­co­lher as ban­dei­ras de­pois dumha con­cen­tra­çom. Mais dous anos de pri­som por dar umha pa­les­tra. “Temos a ideia de de­fen­der-nos ali e ex­pli­car que o que fa­ze­mos é um tra­ba­lho le­gal, le­gí­timo e digno”, afirma a mi­li­tante de Ceivar. 

Quatro anos de pri­som por de­se­nhar pu­bli­ci­dade web para o Dia da Galiza Combatente, dous anos de pri­som por ter­mar dumha faixa, ou­tros dous anos por re­co­lher as ban­dei­ras de­pois dumha con­cen­tra­çom. Mais dous anos de pri­som por dar umha palestra. 

A or­ga­ni­za­çom po­pu­lar anti-re­pres­siva está a or­ga­ni­zar uma cam­pa­nha de cons­ci­en­ti­za­çom de cara ao juízo e opera com pra­zos ajus­ta­dos, já que as es­ti­ma­çons si­tuam o pro­cesso na pri­ma­vera ou no ve­rao de 2020. Baixo o lema “A nossa so­li­da­ri­e­dade é im­pa­rá­vel”, o co­le­tivo está atu­al­mente a con­ta­tar com en­ti­da­des po­lí­ti­cas da Argentina, Uruguai, Venezuela, Córsega, Sardenha ou Irlanda para di­fun­dir o caso ga­lego, além de fa­zer o mesmo com cen­tros so­ci­ais, in­di­vi­du­a­li­da­des e ou­tros co­le­ti­vos a ní­vel es­ta­tal. “Nom nos in­te­ressa pro­cu­rar umha so­li­da­ri­e­dade in­di­vi­dual com as pes­soas co­le­ti­vas, há que en­ten­der que isto é um pro­blema co­le­tivo”, as­si­na­lam. Assim as cou­sas, o pró­ximo mês de ja­neiro Ceivar lan­çará umha ex­po­si­çom iti­ne­rante acom­pa­nhada dum li­vro fo­to­grá­fico com ima­gens do seu la­bor po­lí­tico desde o ano 2005. “Queremos pôr em va­lor que sim, que nós fi­ge­mos isso e or­gu­lha­mos-nos de fazê-lo”, conclui.

Paralelamente, a pla­ta­forma das doze pes­soas im­pu­ta­das pre­para açons con­jun­tas em que in­ter­pela todo o mo­vi­mento po­lí­tico e so­cial desde umha lei­tura “de mí­ni­mos de­mo­crá­ti­cos”, des­taca Peres. Ambas as mi­li­tan­tes des­ta­cam a “re­ce­ti­vi­dade ab­so­luta” das pes­soas e en­ti­da­des pre­sen­tes na reu­niom do pas­sado dia 7 de de­zem­bro, em que saiu a re­so­lu­çom dumha ma­ni­fes­ta­çom na­ci­o­nal no pró­ximo do­mingo 16 de fe­ve­reiro. “As pes­soas que es­ti­vé­rom na reu­niom con­cor­dam 100% com a nossa lei­tura e a dis­po­si­çom e os com­pro­mis­sos som re­ais”, acres­centa. BNG, Mocidade pola Independência, ADEGA, Verdegaia, Esculca, Briga e Erguer som al­gumhas das or­ga­ni­za­çons pre­sen­tes nessa jun­tança da que saíra a es­tru­tura ge­ral da cam­pa­nha de mo­vi­men­ta­çom. Nela or­ga­ni­zará-se um ci­clo de pa­les­tras para di­fun­dir o caso da ma­cro-ope­ra­çom, a ex­plo­ra­çom da via ins­ti­tu­ci­o­nal atra­vés de reu­ni­ons bi­la­te­rais com ou­tras for­ma­çons po­lí­ti­cas e o pro­nun­ci­a­mento pú­blico das or­ga­ni­za­çons so­li­dá­rias para, em pa­la­vras de Joam Peres, in­sis­tir “na ver­tente mediática”.

Apagom in­for­ma­tivo’

Íria, Afonso e Ugio, as três de­ti­das na ope­ra­çom Jaro II à sua saída das de­pen­dên­cias da Guarda Civil

Porque con­tra o mos­tra­dor me­diá­tico que su­pujo a Operaçom Jaro, em que a in­ter­ven­çom po­li­cial clau­su­lou ca­pas de jor­nais e no­ti­ciá­rios com ima­gens e da­dos das pes­soas de­ti­das, até ao per­curso me­diá­tico mais dis­creto da Operaçom Jaro II, as pes­soas afe­ta­das en­con­tram agora um “apa­gom in­for­ma­tivo” com in­ten­ci­o­na­li­dade po­lí­tica que di­fi­culta a de­nún­cia da sua si­tu­a­çom. “Querem se­mear o pâ­nico en­tre as pes­soas, nom só re­pri­mir-nos e di­fi­cul­tar a volta para a ati­vi­dade po­lí­tica num fu­turo”, acusa Iria Cavelo. 

Provocar que umha pes­soa ques­ti­one se ir ou nom a um ato po­lí­tico e cri­mi­na­li­zar o na­ci­o­na­lismo som vá­rias das con­clus­sons que ti­ram as or­ga­ni­za­çons. “Os meios som um ele­mento mais da es­tra­té­gia re­pres­siva, um jeito de so­ci­a­li­zar o dis­curso da Guarda Civil, que é a única fonte da que be­bem os gran­des meios, sem ques­ti­o­nar nada”, cri­tica Peres. 

Porém, a ma­cro-causa aberta pe­las ope­ra­çons Jaro na Audiência Nacional nom só po­de­ria su­por “a mo­di­fi­ca­çom do mapa po­lí­tico a ins­tân­cias da Guarda Civil”, em pa­la­vras do mem­bro de Causa Galiza, se­nom tam­bém o re­le­ga­mento do in­de­pen­den­tismo a umha po­si­çom re­si­dual atra­vés da perda de qua­dros or­ga­ni­za­ti­vos e da pró­pria dis­so­lu­çom das or­ga­ni­za­çons, de exis­tir umha sen­tença fa­vo­rá­vel ao es­crito de Fiscalia. 

Numa olhada à his­tó­ria do in­de­pen­den­tismo, é claro como de sis­te­má­tica é a cri­mi­na­li­za­çom so­frida e os gol­pes po­li­ci­ais à es­tru­tura or­ga­ni­za­tiva do mo­vi­mento. Chega com re­tro­ce­der até o ano 2005 com a Operaçom Castinheiras, con­tra a Assembleia da Mocidade Independentista ou em 1990 con­tra a Assembleia do Povo Unido.

Evoluçom da repressom

Pessoas so­li­dá­rias com as en­cau­sa­das no cen­tro so­cial Mádia Leva em Lugo

Por que ra­zom acon­tece isto? Que se per­mite e que se per­se­gue no Estado es­pa­nhol? As or­ga­ni­za­çons en­cau­sa­das coin­ci­dem em as­si­na­lar de que forma o es­paço do pu­ní­vel cresce, re­borda e de­forma os li­mi­tes do marco da opi­niom pú­blica de há dé­ca­das. “Isto já vem de muito an­tes… Agora Vox fala com muita na­tu­ra­li­dade de ile­ga­li­zar par­ti­dos, mas é algo que já acon­te­cia aqui an­tes, já houvo esse medo, e as­sim a pró­xima pes­soa vai pen­sar se es­cre­ver cer­tas cou­sas num jor­nal, se col­gar um car­taz ou nom…”, re­flete a mi­li­tante en­cau­sada na Operaçom Jaro II.

Contra a re­pres­som de longa data, o mo­vi­mento in­de­pen­den­tista lê nas raí­zes desta e ob­serva cara a onde apon­tam as suas li­nhas de atu­a­çons. Joam Peres aponta que, mesmo “cons­ci­en­tes do nosso po­der real”, do in­de­pen­den­tismo ga­lego tam­bém sa­bem “da imensa po­ten­ci­a­li­dade” do mesmo como op­çom po­lí­tica para o país. Um fra­casso cons­ta­tado da via au­to­nó­mica, um in­te­resse eco­nó­mico –e nom me­ra­mente iden­ti­tá­rio– na uni­dade ter­ri­to­rial e um pro­cesso “de ma­du­ra­çom so­cial” que con­ti­nua a evo­luir, mesmo con­tra as ló­gi­cas dum Estado que re­prime o seu dis­curso. E de­pois de dé­ca­das, hoje.

Hoje acon­tece que há pes­soas que sim pro­nun­ciam es­ses dis­cur­sos, que sim ter­mam des­sas fai­xas, que sim fa­lam nessa as­sem­bleia. Acontece que, por isto, há doze pes­soas que en­fren­tam a pos­si­bi­li­dade de pas­sar 102 anos na ca­deia. Que há duas or­ga­ni­za­çons in­de­pen­den­tis­tas em pe­rigo de ser ile­ga­li­za­das a golpe duma sen­tença po­lí­tica. Acontece que há re­pres­som. E há, tam­bém, resposta.

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