Periódico galego de informaçom crítica

Vamos romper Espanha

por
carla trin­dade

O ele­mento chave para com­pre­en­der a opor­tu­ni­dade que a etapa fi­nal do Procés abre para to­dos os po­vos e pes­soas su­jei­tas à mor­daça do Estado Espanhol nom está em Barcelona, se­nom em Madrid. Se de­pen­desse ape­nas de Catalunha, os par­ti­dos po­lí­ti­cos so­be­ra­nis­tas e as or­ga­ni­za­ções so­ci­ais que as acom­pa­nham con­ti­nu­a­riam com a sua fraca e abor­re­cida ta­refa de de­se­nhar umha Espanha pe­quena, com mais bar­ras na ban­deira. Legalidade, ci­vismo e mo­de­ra­çom; o ar­qui­co­nhe­cido seny da ca­ta­la­ni­dade de bem ter­mi­na­ria de­sem­bo­cando, mais tarde do que cedo, numha tran­si­çom pa­cí­fica cara a um novo or­de­na­mento ju­rí­dico sus­pei­to­sa­mente se­me­lhante com o an­te­rior. Convergència, La Caixa, o Barça, os Mossos e os do puro em ge­ral se­gui­riam go­zando nos seus so­fás, e en­con­tra­riam na re­no­vada re­tó­rica na­ci­o­nal um apa­rato me­diá­tico abondo po­tente para si­len­ciar o con­flito de clas­ses mais umas dé­ca­das. Fariam al­gumha con­ces­som cá e lá para cal­mar os âni­mos dos “ra­di­cais da CUP” mas, a fim de con­tas, o mesmo de sem­pre, mu­dar todo para que nada mude.

Por for­tuna, te­mos Espanha. Essa Espanha “cul­tu­ral­mente mi­se­rá­vel, in­cons­ci­ente, ca­ver­ní­cola e fas­cista”, tam ma­ra­vi­lho­sa­mente des­crita por Pepe Rubianes. A Espanha cu­nhada, esse ente so­ci­o­po­lí­tico en­car­nado na fi­gura do ener­gú­meno de barra de bar, pa­li­lho nos den­tes e man­cha de graxa na ca­misa, ta­tu­a­gem de le­gi­o­ná­rio no braço, que in­sulta ca­ta­láns, mou­ros e ma­ri­cas en­quanto rasca o suor da en­tre­perna e cheira logo os de­dos. Se bem, por for­tuna, esse ser nom re­pre­senta a mai­o­ria de pes­soas que mo­ram no Estado Espanhol, o certo é que o apa­rato do Estado, o go­verno, os mé­dios, as for­ças de se­gu­rança e a ju­di­ca­tura som o seu re­flexo mais fiel. E para eles, o Referêndum é umha enorme capa ver­me­lha de tou­reiro. Fai falta ape­nas aguar­dar que em­bes­tam. Aí vai co­me­çar a festa.

Se reprimem a paus, a Catalunha sensata nom vai poder conter o seu alter ego. O oficialismo bempensante vai-se ver ultrapassado por um povo catalám insurreto

Imaginemos a cena. Por um lado, os ca­ta­láns, or­de­na­da­mente e com boa edu­ca­çom, vam pôr umhas ur­nas e as en­cher de vo­tos. Por ou­tro, os es­pa­nhóis, ame­a­çam e in­sul­tam e bo­tam es­cuma pola boca. Nom se po­dem con­ter. Uma aná­lise in­te­li­gente da sua si­tu­a­çom e dos seus in­te­res­ses re­co­men­da­ria que, caso qui­ge­rem im­pe­dir a in­de­pen­dên­cia ca­ta­lana, bo­tar mao da pru­dên­cia e a di­plo­ma­cia vi­ria-lhes dar me­lho­res re­sul­ta­dos. Mas, na mente fa­cha, o pen­sa­mento ra­ci­o­nal afoga num mar de tes­tos­te­rona em ebu­li­çom. Vam liá-la.

Nom se sabe como é que vai acon­te­cer todo. Mas pro­va­vel­mente ha­verá ma­lhei­ras e pes­soas nas pri­sons. Tanques, duvido‑o; fur­gons, com cer­teza. Mas se re­pri­mem a paus, logo, essa Catalunha sen­sata, que ten­tou po­las boas, nom vai po­der con­ter o seu al­ter ego. O seny vai dei­xar passo à rauxa e as pa­les­tras me­diá­ti­cas, às mas­sas. O ofi­ci­a­lismo bem-pen­sante vai-se ver ul­tra­pas­sado por esse povo ca­ta­lám in­sur­reto, in­go­ver­ná­vel, re­vo­lu­ci­o­ná­rio, a Catalunha dos se­ga­dors, as bul­lan­gas, a CNT-FAI e o as­sé­dio ao Parlament. Se Espanha bate nas ruas, é esse o povo que vai sair de­fendê-las. Onde é que es­ta­rám os con­ver­gents? Escondidos de­baixo da cama.

Este é, sem dú­vida, o ce­ná­rio mais in­te­res­sante en­tre as op­çons que se ba­ra­lham. A di­reita bur­guesa ca­ta­lana fi­ca­ria fora. Conta-nos bem a his­tó­ria que an­tes lam­be­riam as bo­tas ao ge­ne­ral de turno que dei­xar que o povo des­cu­bra que a in­de­pen­dên­cia é muito mais mo­ti­va­dora acom­pa­nhada de umha ru­tura no ter­reno so­ci­o­e­co­nó­mico. Por ou­tro lado, o re­gime do 78 es­pa­nhol es­ta­ria ven­dido. Como ia en­fren­tar o mundo as fo­to­gra­fias de guar­das-ci­vis a pan­ca­das nas ur­nas? Em de­mo­cra­cia po­dem se en­viar an­ti­dis­túr­bios apa­lear uns cen­tos de an­ti­ca­pi­ta­lis­tas, mas re­pri­mir pola força mi­lhons de pes­soas que que­rem vo­tar é ou­tra cousa bem di­fe­rente. Já sendo hoje de forma ofi­ci­osa, a par­tir de aí o Estado con­ver­te­ria-se ofi­ci­al­mente em di­ta­dura. Aqui é onde aguardo que os de­mais po­vos do Estado se re­ve­lem à vez. Que se re­be­lem as ga­le­gas, as bas­cas, as ma­dri­le­nas, as an­da­lu­zas. Enquanto os te­nha­mos cá ocu­pa­dos ocu­pando-nos, ba­tede forte na re­ta­guarda. Porque a chave da ques­tom ca­ta­lana, como já co­me­cei di­zendo, nom está no in­de­pen­den­tismo ca­ta­lám. Catalunha é ape­nas a chispa que pode fa­zer ex­plo­dir todo e pre­sen­tear a to­das as ter­ras ibé­ri­cas essa re­vo­lu­çom que leva oi­tenta anos de de­mora. Defender a li­ber­dade dos ca­ta­láns de vo­ta­rem ou de fa­ze­rem o que quei­ram, é de­fen­der a li­ber­dade, e pronto.

Vamos rom­per Espanha, ajudades-nos?

O último de Opiniom

O Estado

Pedro M. Rey Araujo repassa as principais conceiçons arredor do Estado no

Os corpos e a terra

Alberte Pagán fai umha resenha do filme 'O Corno', de Jaione Camborda,
Caminho e casas de pedra, com teito de lousa, da aldeia de Froxám, no Courel.

Refúgio climático

Os meios de comunicaçom falam de um novo 'nicho' de mercado: as
Ir Acima