Periódico galego de informaçom crítica

Vinte anos do último grande protesto estudantil

por
ma­ni­fes­ta­çom mul­ti­tu­di­ná­ria con­tra a LOU. xoán a. soler

Quando se assinalam 20 anos das mobilizaçons anti-LOU, o Novas da Galiza analisa com alguns dos seus protagonistas os feitos mais relevantes daquele protesto e a pegada que deixou o movimento estudantil galego no devir dos movimentos sociais e posteriores acontecimentos históricos e sociais na Galiza.

Em fi­nais do ano 2001, o go­verno do PP, com os vo­tos a fa­vor de Coalición Canaria e CIU, aprova no Congresso a Lei Orgânica de Universidades. Enquanto esta lei era de­ba­tida no Senado, o es­tu­dan­tado pro­ta­go­ni­zava nas ruas de todo o es­tado umha das lui­tas mais du­ra­dou­ras e sig­ni­fi­ca­ti­vas da his­tó­ria do mo­vi­mento estudantil.

Na se­gunda le­gis­la­tura de Aznar, com um Partido Popular muito mais forte que na pri­meira –ti­nha mai­o­ria ab­so­luta–, a Ministra da Educaçom na­quela al­tura, Pilar del Castillo, de­sen­volve umha lei que su­pu­nha em tra­ços ge­rais a en­trada das em­pre­sas pri­va­das na uni­ver­si­dade. Fijo‑o com um pro­ce­di­mento quase de ur­gên­cia e ig­no­rando grande parte da co­mu­ni­dade edu­ca­tiva: rei­to­res, claus­tro, pro­fes­so­rado, sin­di­ca­tos e or­ga­ni­za­çons es­tu­dan­tis para evi­tar qual­quer tipo de crí­tica e mo­bi­li­za­çom. Estas for­mas de­sen­vol­vi­das polo PP que pu­nham de ma­ni­festo o ta­lante au­to­ri­tá­rio do go­verno fô­rom, em grande parte, o que con­tri­buiu para des­le­gi­ti­mar a LOU e con­se­guir um grande apoio so­cial que pas­sou as fron­tei­ras dos cam­pus universitários.

O ta­lante au­to­ri­tá­rio do go­verno es­pa­nhol foi em grande parte o que con­tri­buiu a des­le­gi­ti­mar a LOU e a con­se­guir um grande apoio so­cial para os protestos

O mo­vi­mento con­tra a pri­va­ti­za­çom das uni­ver­si­da­des na Galiza –con­cre­ta­mente na Universidade de Santiago de Compostela (USC)– con­se­gue con­ver­ter-se em pou­cas se­ma­nas no pro­ta­go­nista do mo­vi­mento es­tu­dan­til es­ta­tal. Os prin­ci­pais meios de co­mu­ni­ca­çom do es­tado abrem te­le­jor­nais e en­chem ca­pas de jor­nais com os pro­tes­tos pro­ta­go­ni­za­dos po­las es­tu­dan­tes galegas.

A ima­gi­na­çom das açons anti LOU, o grau de or­ga­ni­za­çom de­sen­vol­vido po­las es­tu­dan­tes e a sua du­ra­bi­li­dade no tempo fam com que a luita na Galiza che­gue a se co­lo­car ra­pi­da­mente na van­guarda do Estado. E nom só, as as­sem­bleias de fa­cul­dade ex­tra­va­sam a or­ga­ni­za­çom tra­di­ci­o­nal das or­ga­ni­za­çons es­tu­dan­tis, umha vez que som as as­sem­bleias as pro­mo­to­ras fi­nais das mo­bi­li­za­çons co­or­de­na­das a ní­vel na­ci­o­nal atra­vés da ‘Coordenadora Galega por unha Universidade Pública e de calidade’.

Na Galiza sur­gem no­vos ini­mi­gos, Aznar e del Castillo Protestar con­tra a LOU era tam­bém pro­tes­tar con­tra Manuel Fraga, con­tra o de­le­gado do Governo Arsenio Fernández de Mesa e con­tra o Conselheiro da Educaçom Celso Currás.

Primeiros dias

Antes do es­tou­rido mo­bi­li­za­tó­rio de no­vem­bro já umha con­vo­ca­tó­ria da AGIR re­a­li­zara umha mo­bi­li­za­çom em ou­tu­bro que reu­nira cen­te­nas de es­tu­dan­tes em Compostela con­tra a LOU. Mas foi de­pois da apro­va­çom da lei no Congresso es­pa­nhol, no 31 de ou­tu­bro, que o mo­vi­mento as­sem­bleá­rio eclo­diu e pa­ra­li­sou a vida da uni­ver­si­dade com­pos­te­lana. Alexandre Ramos, que na al­tura mi­li­tava na es­querda in­de­pen­den­tista, sa­li­enta “o ca­rác­ter es­pon­tá­neo e trans­ver­sal deste mo­vi­mento, além do rá­pido e di­ná­mico que se tor­nou. Em ape­nas uns dias, o mo­vi­mento con­tra a LOU pas­sou de aglu­ti­nar a umhas pou­cas dú­zias de es­tu­dan­tes com mi­li­tán­cia po­lí­tica pré­via no mo­vi­mento es­tu­dan­til, a jun­tar mi­lha­res de es­tu­dan­tes sem qual­quer vín­culo pré­vio com ou­tras lu­tas populares”.

pro­testo con­tra a LOU. paco rodríguez

Para Berta Permui, mi­li­tante da AGIR nesta etapa, es­ses pri­mei­ros dias de no­vem­bro fô­rom tam­bém de­ci­si­vos. “Depois de umha pri­meira mo­bi­li­za­çom mui im­por­tante, as as­sem­bleias re­a­li­za­das em am­bos os dous cam­pus de Compostela de­ci­dí­rom uni­fi­car-se. Aquela pri­meira as­sem­bleia uni­fi­cada, que de­corre no Burgo das Naçons esse mesmo dia pola noite, ex­cede to­das as ex­pe­ta­ti­vas de as­sis­tên­cia e de­cide-se lan­çar aquela que se­ria a pri­meira mo­bi­li­za­çom deste mo­vi­mento as­sem­bleá­rio, que re­ma­ta­ria na sede do Partido Popular”, lem­bra Permui. A Assembleia nas­ceu no 5 de no­vem­bro, dous dias an­tes de umha con­vo­ca­tó­ria de greve ge­ral con­tra a LOU das cen­trais sin­di­cais. Nesta pri­meira as­sem­bleia o es­tu­dan­tado da USC en­tra em greve. Esta greve irá du­rar até o dia 22 desse mês em to­dos os cam­pus ga­le­gos, mas vá­rias fa­cul­da­des com­pos­te­la­nas con­ti­nu­a­rám se­ma­nas em luita.

Funcionamento das assembleias

Permui acha que foi no­tá­vel o grau de ma­du­rez atin­gido na or­ga­ni­za­çom do mo­vi­mento. “Nuns pou­cos dias criou-se umha rede com as­sem­bleias nas fa­cul­da­des, que de­cor­riam de ma­nhá, umha co­or­de­na­dora ge­ral, que reu­nia to­das as tar­des na Faculdade de História, e dis­tin­tas co­mis­sons de tra­ba­lho es­pe­cí­fi­cas”, salienta.

Entre as co­mis­sons es­pe­cí­fi­cas en­con­trava-se a de meios de co­mu­ni­ca­çom, que du­rante os dias de greve edi­tava um vo­zeiro que che­gou a ter umha pe­ri­o­di­ci­dade diá­ria. “Fôrom três me­ses de as­sem­bleias inin­ter­rom­pi­das”, lem­bra Maria Bagaria, quem es­tu­dava na fa­cul­dade de Económicas quando es­tou­rou o mo­vi­mento as­sem­bleá­rio. Bagaria lem­bra as au­las da sua fa­cul­dade atei­ga­das du­rante as as­sem­bleias. “Houve al­gum mo­mento em que, de al­gum jeito o ou­tro, par­ti­ci­pou todo o mundo, pois era algo em que nin­guém po­dia fi­car à mar­gem”, salienta.

A co­or­de­na­çom de as­sem­bleias trans­cen­dia os cám­pus uni­ver­si­tá­rios de Compostela e pro­cu­rava umha uni­dade de açom a ní­vel nacional

Ademais, a co­or­de­na­çom de as­sem­bleias trans­cen­dia os cam­pus uni­ver­si­tá­rios de Compostela e pro­cu­rava umha uni­dade de açom a ní­vel na­ci­o­nal que aju­dou a cons­truir um dis­curso pró­prio desde a Galiza pe­rante a re­forma es­pa­nhola das uni­ver­si­da­des. Expom Alexandre Ramos: “As de­no­mi­na­das ‘as­sem­bleias de fa­cul­dade’ eram as au­tên­ti­cas pro­mo­to­ras das mo­bi­li­za­çons e, por cima de­las, exer­cia a ta­refa de co­or­de­na­çom umha co­or­de­na­dora de as­sem­bleias de cada uni­ver­si­dade que fi­nal­mente cons­ti­tuíam a cha­mada ‘Coordenadora ga­lega por umha uni­ver­si­dade pú­blica e de qua­li­dade’, em que tam­bém se in­cluíam os sin­di­ca­tos es­tu­dan­tis e de pro­fes­so­rado e PAS. Do meu ponto de vista, foi im­por­tante a exis­tên­cia de es­tru­tu­ras deste es­tilo que ser­viam para dar umha saída desde a Galiza a pro­ble­mas com ori­gem nas po­lí­ti­cas do go­verno espanhol”. 

Fechos nas faculdades

Um dos mé­to­dos de luita neste mo­vi­mento fô­rom os fe­ches nas fa­cul­da­des, com que se im­pe­dia o de­sen­vol­vi­mento da vida aca­dé­mica e se apro­fun­dava nas di­ná­mi­cas as­sem­bleá­rias. Em Compostela houvo dous fe­chos prin­ci­pais: em História e em Filologia, sendo este úl­timo o mais pro­lon­gado no tempo.

O fe­cho de História tivo lu­gar nos pri­mei­ros dias do mo­vi­mento, ini­ci­ando-se no dia se­guinte à pri­meira as­sem­bleia ge­ral no Burgo das Naçons. “Os fe­chos su­pu­nham um ní­vel mui alto de au­to­or­ga­ni­za­çom”, ex­pom Maria Bagaria, “pois a gente ti­nha de per­ma­ne­cer ali, ha­via que le­var co­mida, ha­via que de­fen­der o es­paço…”. Bagaria lem­bra-se da­quele pri­meiro fe­cho na Faculdade de História: “A mai­o­ria de nós nom nos tí­nha­mos or­ga­ni­zado pre­vi­a­mente e foi umha grande ex­pe­ri­ên­cia, em­bora para al­gumhas coi­sas fos­ses muito ingénua”.

Um dos mé­to­dos de luita fô­rom os fe­chos nas fa­cul­da­des, com que se im­pe­dia o de­sen­vol­vi­mento da vida aca­dé­mica e se apro­fun­dava nas di­ná­mi­cas as­sem­bleá­rias. Em Compostela houvo dous prin­ci­pais: em História e em Filologia

O fe­cho em Filologia ini­ciou-se na se­gunda-feira 26 de no­vem­bro. Um co­mu­ni­cado da as­sem­bleia de Filologia des­cre­via este mo­mento: “o fe­cho co­me­çou pe­las 21.30h do 26, quando meia cen­tena de es­tu­dan­tes re­ti­ra­mos as cha­ves ao be­del (ape­sar das rei­te­ra­das ne­ga­ti­vas deste). Fechamos as por­tas com as pró­prias cha­ves da fa­cul­dade e blo­que­a­mos as en­tra­das com tá­buas e cadeias”.

pro­testo con­tra a LOU. san­dra alonso

Da as­sem­bleia de Filologia for­mava parte Cris Lestegás. “Lembro-me de de­ci­dir fe­char e de­ci­dir que a pa­la­vra a tí­nha­mos nós”, ex­pom. Esta ati­vista sa­li­enta que du­rante o fe­cho as as­sem­bleias que se de­sen­vol­viam eram mul­ti­tu­di­ná­rias e va­lora po­si­ti­va­mente a uni­dade que ha­via en­tre o es­tu­dan­tado da fa­cul­dade. “Ao longo do dia abría­mos para que vi­nhesse a gente de fora que que­ria par­ti­ci­par na as­sem­bleia e no fe­cho fi­cá­va­mos um nú­mero mais re­du­zido de gente”, lem­bra. Durante o tempo do fe­cho a vida aca­dé­mica na fa­cul­dade es­tivo sus­pensa, nom po­dendo tam­pouco ace­der o pro­fes­so­rado aos seus ga­bi­ne­tes. É o re­trouso dumha can­çom com­posta na­que­les dias que fai lem­brar Lestegás que a du­ra­çom to­tal do fe­cho foi de 19 dias. “A pró­xima vez fi­ca­mos mais de um mês” di­zia a cançom.

Na rua

Durante o mês de no­vem­bro a mo­bi­li­za­çom do es­tu­dan­tado nas ruas de Compostela é cons­tante. Cortes de trán­sito es­pon­tá­neos, ca­ça­ro­la­das… mesmo umha noite de greve de con­sumo nos ba­res. Algumhas das mo­bi­li­za­çons se­ma­nais das quar­tas-fei­ras pro­lon­gam o seu per­cor­rido até lu­ga­res como os pré­dios da Junta ou os lo­cais do PP. Nestas jor­na­das tam­bém se re­gis­tam ata­ques com cock­tails-mo­lo­tov a agên­cias ban­cá­rias re­la­ci­o­na­das com o pro­cesso pri­va­ti­za­dor da universidade.

Um dos clí­max na mo­bi­li­za­çom na ruas atinge-se na quarta-feira 28 de no­vem­bro com umha ma­ni­fes­ta­çom mul­ti­tu­di­ná­ria de ca­rác­ter na­ci­o­nal em Compostela. Outro dos gran­des clí­max mo­bi­li­za­tó­rios tivo lu­gar no sá­bado 15 de de­zem­bro du­rante a to­mada de posse de Manuel Fraga como pre­si­dente da Junta, na­quela que se­ria a sua úl­tima le­gis­la­tura. A mo­bi­li­za­çom ar­re­dor desta data co­me­ça­ria no dia an­te­rior, quando um grupo de es­tu­dan­tes se fe­cha na Reitoria com a in­ten­çom de lan­çar umha faixa que fosse vi­sí­vel no dia se­guinte desde a Praça do Obradoiro ‑lu­gar em que Fraga re­ma­ta­ria o seu per­curso desde o Parlamento acom­pa­nhado de mi­lha­res de gai­tas-. Mas o es­tu­dan­tado foi des­pe­jado vi­o­len­ta­mente pola po­lí­cia, que se­guia ins­tru­çons da Delegaçom do Governo e do rei­tor Darío Villanueva. “Santiago es­tava to­mada e Darío Villanueva deu au­to­ri­za­çom para que en­tras­sem os an­ti­dis­túr­bios na USC; algo que só acon­te­cera no con­flito do Burgo das Naçons. Despejárom-nos vi­o­len­ta­mente, de ma­dru­gada, en­quanto na rua ha­via mais de 250 pes­soas de apoio e de­pois vi­nhé­rom vá­rias car­gas”, lem­bra Iria Aboi, es­tu­dante de Filologia e mi­li­tante dos Comités Abertos de Faculdade (CAF) na altura. 

O dia da to­mada de posse de Fraga cen­te­nas de es­tu­dan­tes saí­rom da Praça Vermelha em di­re­çom à Praça da Galiza. Nas ime­di­a­çons deste lu­gar a po­lí­cia car­re­gou em­pre­gando ga­ses la­cri­mó­ge­nos. Vários es­tu­dan­tes con­fron­tá­rom a po­lí­cia e os tu­mul­tos es­pa­lhá­rom-se pola zona nova. Um pe­queno grupo con­se­gue ace­der ao Obradoiro, onde se es­cui­tam os seus ber­ros e o lan­ça­mento de petardos.

Concentraçom de apoio ao fe­che no rei­to­rado em Dezembro de 2001. a. b.

Após o acon­te­cido na Reitoria a Universidade opta pola via re­pres­siva. No 18 de de­zem­bro cen­te­nas de es­tu­dan­tes con­cen­tram-se pe­rante o Claustro da USC re­cla­mando a de­mis­som de Darío Villanueva por per­mi­tir o des­pejo po­li­cial da Reitoria. As es­tu­dan­tes en­tra­rám no in­te­rior do Claustro, onde Villanueva dá por fi­na­li­zada a reu­niom e foge. A sua única res­posta ao es­tu­dan­tado será a re­pres­som: a USC ini­cia umha co­mis­som de in­ves­ti­ga­çom que re­ma­tará com 53 es­tu­dan­tes de­nun­ci­a­das pe­rante a justiça. 

Após o Natal, as mo­bi­li­za­çons di­mi­nuem e as as­sem­bleias vam per­dendo a sua ati­vi­dade, pas­sando a criar-se or­ga­nis­mos de apoio às es­tu­dan­tes re­ta­li­a­das. Mas a com­ba­ti­vi­dade e a ima­gi­na­çom man­ti­nham-se vi­vas, e em maio de 2002 eram ta­pa­dos os ga­bi­ne­tes do pro­fes­so­rado que par­ti­ci­para da co­mis­som de in­ves­ti­ga­çom con­tra o estudantado.

Abrírom-nos ex­pe­di­ente de ex­pul­som da Universidade e ti­ve­mos um juízo por ‘se­di­çom’ em que o ad­vo­gado da uni­ver­si­dade foi mais do­ber­man que a pró­pria Fiscalia”, ex­pom Aboi, que par­ti­ci­pou do fe­cho na Reitoria. Esta mi­li­tante ana­lisa tam­bém a de­riva re­pres­siva da USC: “Produziu-se a aber­tura de ex­pe­di­en­tes no fe­cho que tí­nha­mos em Filologia qua­li­fi­cado pola de­cana como ‘ato ter­ro­rista de me­nor ní­vel’, tam­bém a ex­pul­som do Alexandre e o juízo do que an­tes fa­lei… Utilizárom o ma­nual clás­sico da re­pres­som pura e dura para ame­dren­tar e des­mo­bi­li­zar. A evo­lu­çom de Darío Villanueva dá boa conta do bem que lhe pa­gá­rom os ser­vi­ços prestados”.

A mer­can­ti­li­za­çom da universidade

Após a bru­ta­li­dade das car­gas po­li­ci­ais e a perda de ca­pi­tal hu­mano nas mo­bi­li­za­çons após o Natal, ade­mais dos pro­ces­sos re­pres­si­vos con­tra o es­tu­dan­tado, a LOU foi aplicada.

A LOU im­pli­cou o ini­cio de umha sé­rie de pro­ces­sos de mer­can­ti­li­za­çom dos bens pú­bli­cos que se fo­rom en­sai­ando mais adi­ante na crise de 2008

Segundo Isaac Lourido, que na­quela al­tura par­ti­ci­pou como es­tu­dante do mo­vi­mento anti-LOU e na atu­a­li­dade é pro­fes­sor na Universidade da Corunha, a LOU su­pujo o iní­cio de umha sé­rie de pro­ces­sos de mer­can­ti­li­za­çom dos bens pú­bli­cos que se fo­rom en­sai­ando mais adi­ante na crise de 2008: “A crí­tica que se fez nessa al­tura, e que de­pois veio a con­cre­ti­zar-se foi umha me­nor au­to­no­mia da uni­ver­si­dade em re­la­çom ao âm­bito po­lí­tico e aos in­te­res­ses eco­nó­mi­cos, a con­ti­nui­dade da cen­tra­li­za­çom em ter­mos do Estado (é di­zer, im­pos­si­bi­li­dade de re­for­çar e de cons­ti­tuir um sis­tema uni­ver­si­tá­rio ga­lego to­tal­mente au­tó­nomo), e o mais bru­tal, o pro­ceso de mer­can­ti­li­za­çom e de apli­ca­çom de cri­té­rios de pro­du­ti­vi­dade a to­dos os graus. Em de­fi­ni­tiva, a uni­ver­si­dade como es­paço para pen­sa­mento crí­tico e es­paço de con­tra­po­der fi­cou ex­tre­ma­mente fragilizado”.

mo­bi­li­za­çom es­tu­dan­til em 2016. gf

Continuidade do movimento

Para Ângelo Meraio, es­tu­dante de História na­quela al­tura, pouco se tem fa­lado da im­por­tán­cia des­tas mo­bi­li­za­çons nos pro­tes­tos que es­po­le­tá­rom nos me­ses se­guin­tes: “O ati­vismo ge­rado no mo­vi­mi­ento es­tu­dan­til ser­viu para nu­trir du­rante anos os mo­vi­men­tos so­ci­ais pos­te­ri­o­res. Organizaçons po­lí­ti­cas na­ci­o­na­lis­tas, in­de­pen­den­tis­tas, sin­di­ca­tos e or­ga­ni­za­çons ju­ve­nis nu­trí­rom-se nos anos se­guin­tes des­tes es­tu­dan­tes quase sem ex­pe­ri­ên­cia mi­li­tante pré­via. É mais: o su­cesso que atin­gí­rom as mo­bi­li­za­çons de Nunca Máis ou con­tra a guerra do Iraque, por exem­plo, de­veu-se em grande me­dida às lui­tas de­sen­vol­vi­das polo es­tu­dan­tado ga­lego em 2001 polo clima de agi­ta­çom pré­via que gerárom”.

O su­cesso que atin­gí­rom as mo­bi­li­za­çons de Nunca Mais ou con­tra a guerra do Iraque, por exem­plo, de­veu-se em grande me­dida às lui­tas de­sen­vol­vi­das polo es­tu­dan­tado ga­lego em 2001”

Iria Aboi con­corda com esta re­fle­xom: “Acho que, ainda que a LOU se apro­vasse, na Galiza ar­te­lhou-se umha res­posta pro­por­ci­o­nal à agres­som que foi van­guarda a ní­vel de es­tado”. Aboi acre­dita que a luita con­tra a LOU foi além da uni­ver­si­dade. “O mo­vi­mento  dei­xou um pouso nas ge­ra­çons de uni­ver­si­tá­rias que par­ti­ci­pá­rom. Achegou apren­di­za­gens para quem já es­tá­va­mos or­ga­ni­za­das, tendo que agir em con­tex­tos no­vos e com res­pos­tas mas­si­vas, ex­pri­mindo os mé­to­dos de luita e afi­nando as al­ter­na­ti­vas, dando res­posta às con­tra­di­çons e a certo ‘sem si­glismo’ an­ti­ga­lego que apa­re­cia. Também es­tou certa que ser­viu para que mui­tas es­tu­dan­tes en­tras­sem em con­tato di­reto com a par­ti­ci­pa­çom po­lí­tica, com ele­men­tos bá­si­cos numha de­mo­cra­cia como o plu­ra­lismo e o as­sem­ble­a­rismo. Muitas vol­ta­mos en­con­trar-nos no ‘Nunca Mais’, no ‘NOM à Guerra’…”, acrescenta. 

As mo­bi­li­za­çons con­tra a LOU ser­viam as­sim para ini­ciar um longo ci­clo de pro­tes­tos no país que re­ma­ta­ria com quinze anos de go­verno Fraga na Junta. No es­tado, o PSOE, por seu lado, soubo ler a re­jei­çom que ge­rou a LOU em grande parte da so­ci­e­dade e na cam­pa­nha elei­to­ral que o le­va­ria até a Moncloa pro­me­teu a re­vo­ga­çom desta lei. De facto, a LOU foi mo­di­fi­cada em 2007 pola Lei Orgánica de Universidades para a sua adap­ta­çom ao de­no­mi­nado Proceso Bolonha que tam­bém ge­ra­ria no­vas pro­tes­tos nas uni­ver­si­da­des, mas que nom atin­gi­ria as di­men­sons das mo­bi­li­za­çons de 2001.

Cronologia

2001

24 de ou­tu­bro: Primeira mo­bi­li­za­çom con­tra a LOU na Galiza pro­mo­vida por AGIR. Várias cen­te­nas de es­tu­dan­tes mo­bi­li­zam-se em Compostela.

31 de ou­tu­bro: Debate da LOU no Parlamento es­pa­nhol. Convocatória de greve en­tre o pro­fes­so­rado e mo­bi­li­za­çom estudantil. 

5 de no­vem­bro: Nascem as as­sem­bleias de es­tu­dan­tes em Compostela. Primeiro ce­le­bram-se duas as­sem­bleias si­mul­tá­neas em CC. Políticas e em CC. Económicas, para mais tarde unir-se numha con­vo­ca­tó­ria no Burgo das Naçons em que par­ti­ci­pam 2.000 estudantes.

6 de no­vem­bro:  Primeira mo­bi­li­za­çom es­tu­dan­til em que par­ti­ci­pam 10.000 es­tu­dan­tes. Nova as­sem­bleia mul­ti­tu­di­ná­ria onde o es­tu­dan­tado da USC en­tra em greve. Dá iní­cio o fe­cho na fa­cul­dade de História. O mo­vi­mento es­tende-se por ou­tros cam­pus galegos.

7 de no­vem­bro: Greve ge­ral con­tra a LOU. Estudando con­cen­tra-se di­ante das Subdelegaçons de Governo em Ourense (1.500 pes­soas), Ferrol (300 pes­soas), Ponte Vedra (300 pes­soas) e di­ante da Delegaçom do Governo na Corunha (2.000 pes­soas). Em Compostela 15.000 es­tu­dan­tes mar­cham da Praça do Obradoiro até a Junta.

8 de no­vem­bro: Em Compostela, cor­tes de trán­sito e ca­ça­ro­la­das mul­ti­tu­di­ná­rias. Durante todo o mês de no­vem­bro a mo­bi­li­za­çom será contínua.

14 de no­vem­bro: Jornada de luita nas uni­ver­si­da­des. Manifestaçons nas sete ci­da­des reu­nem mais de 70.000 estudantes.

19 de no­vem­bro: Fecho na fa­cul­dade de Ciências, em Vigo.

21 de no­vem­bro: Mobilizaçons em ci­da­des e vi­las em que par­ti­cipa tam­bém o es­tu­dan­tado do en­sino mé­dio. Greve ge­ral nas uni­ver­si­da­des. As mo­bi­li­za­çons mais nu­me­ro­sas som em Compostela (15.000), Vigo (7.000), Ourense e Corunha (2.000).

23 de no­vem­bro: Finaliza a greve na mai­o­ria dos Campus, mas em Compostela con­ti­nua na maior parte das faculdades.

27 de no­vem­bro: Começo do fe­cho em Filologia, em Compostela, que dura 19 dias má­lia as ame­a­ças por parte do reitorado.

28 de no­vem­bro: Grande mo­bi­li­za­çom na­ci­o­nal em Compostela com umha par­ti­ci­pa­çom de 60.000 pes­soas che­ga­das de todo o país. Cortes de trân­sito e queima de con­ten­to­res pola noite.

5 de de­zem­bro: Manifestaçom em Compostela que reúne 3.000 estudantes.

13 de de­zem­bro:   Referendo nas uni­ver­si­da­des so­bre a LOU, onde o re­jei­ta­mento é maioritário.

14 de de­zem­bro: Fecho na Reitoria e des­pejo vi­o­lento. O rei­tor chama à po­lí­cia para des­pe­jar o es­tu­dan­tado que pre­ten­dia pen­du­rar umha faixa em Sam Jerome no ato de in­ves­ti­dura de Fraga no dia se­guinte. Cargas po­li­ci­ais na con­cen­tra­çom de apoio e em vá­rios pon­tos da zona velha.

15 de de­zem­bro: Protestos e dis­túr­bios por toda a ci­dade de Compostela du­rante a to­mada de posse de Fraga. Um grupo de es­tu­dan­tes con­se­gue che­gar à Praça do Obradoiro. Três es­tu­dan­tes detidos.

18 de de­zem­bro: Estudantado ir­rompe no Claustro em pro­testo pola re­pres­som do dia 14 na Reitoria. O rei­tor Dario Villanueva dá por con­cluído o Claustro e foge pola porta de trás do prédio.

21 de de­zem­bro: A USC cria umha co­mis­som de inqué­rito dos pro­tes­tos do 14D e 18D. 53 es­tu­dan­tes se­rám de­nun­ci­a­das pe­rante a jus­tiça espanhola.

2002

19 de ja­neiro: Mobilizaçom em Compostela que reúne 2.000 es­tu­dan­tes e em que já se nota a perda de força no movimento.

Fevereiro e Março:  Campanha so­li­dá­ria com as 53 es­tu­dan­tes de­nun­ci­a­das pola USC pe­rante a justiça.

20 de maio: Tapam as por­tas dos ga­bi­ne­tes do pro­fes­so­rado da co­mis­som de in­ves­ti­ga­çom em pro­testo pola re­pres­som ao estudantado.

19 de agosto: Expulsom de um es­tu­dante da USC
21 de no­vem­bro: Mobilizaçom so­li­dá­ria com o es­tu­dante ex­pulso pola USC.

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