Na imprensa escrita os discursos hegemónicos, apesar das transformaçons necessárias para se adaptarem à Internet, continuam nas maos de cabeceiras como ‘La Voz de Galicia’, onde o emprego da língua galega é testemunhal. Perante esta situaçom, agromárom nos últimos dez anos projetos comunicativos em galego que resistem perante a falta de apoio económico da Junta da Galiza. Vários portais de temáticas diversas e mesmo a chegada de um jornal diário impresso venhem a dinamizar a presença mediática do galego.
A estrutura tradicional dos meios hegemónicos editados na Galiza vem-se mantendo sem grandes mudanças. Várias cabeceiras conseguem manter a sua influência em diversos territórios do país (como Faro de Vigo, La Región ou El Progreso) enquanto umha delas, ainda que com umha forte ligaçom com o capital corunhês, pretende contar com umha projeçom a nível galego: La Voz de Galicia.
Segundo indica o jornalista do Praza Pública, Marcos Pérez Pena, a chegada da Internet e a adaptaçom das redaçons a este novo contexto nom trouxo consigo umha mudança nesta estrutura, pois estes meios conseguírom pôr em andamento ediçons digitais fortes. “Pode parecer que o sistema mediático galego nom se transformou, mas, de facto, mudou, porque a nível interno estas grandes cabeceiras cada vez dedicam mais recursos à parte do digital e menos à parte impressa. E a nível publicitário e de receitas começam a ser bastante equiparáveis as receitas do mundo digital e do papel”, refere Pérez Pena.
O EGM reflete a descida do público de jornais em papel neste último ano. ‘La Voz de Galicia’ em 2019 contava com 520.000 leitoras diárias e na última vaga publicada este número desceu para 359.000
De facto, as mudanças no consumo de informaçom em papel som claras. O Estudio General de Medios (EGM) está a constatar há anos a queda da penetraçom dos jornais impressos e o aumento do consumo de informaçom através de portais web e redes sociais. Segundo os dados publicados no EGM a descida do público leitor de jornais em papel deu-se especialmente neste último ano. La Voz de Galicia em 2019 contava com 520.000 leitoras diárias e na última vaga publicada este número desceu para 359.000. Outro exemplo disto é o Faro de Vigo: em 2019 o EGM registava 236.000 leitoras diárias enquanto os dados deste ano som de 120.000. Porém, esta realidade nom impede que o poder simbólico e a capacidade de marcar o discurso e a agenda estejam ainda nas maos destas grandes cabeceiras, com capacidade por exemplo para estarem presentes em todos os estabelecimentos hoteleiros de umha cidade.
Construindo um espaço mediático galego
Ciente do poder simbólico de um jornal diário impresso é Maria Obelleiro, diretora do Nós Diario. Obelleiro critica os discursos apocalípticos que vaticinam a morte de um suporte ao chegarem suportes novos: nem a televisom matou a rádio nem o livro eletrónico fijo desaparecer os livros físicos. Neste sentido, “ainda que seja verdade que se reduzírom muitíssimo as vendas do papel, é algo que ainda está aí, e simbolicamente a credibilidade que oferece o papel nom a oferece a Internet”, salienta Obelleiro. Assim, foi em 2017 que, a partir da experiência do semanário Sermos Galiza que entom fazia cinco anos, se iniciou o caminho cara o nascimento do Nós Diario, com a finalidade de quebrar “com a anormalidade histórica de que nom houvesse nengumha cabeceira diária em papel na nossa língua”. Após umha campanha de subscriçons que precisava de umhas 3000 assinaturas, em janeiro de 2020 saía à rua o primeiro número do Nós Diario, que estará presente nos quiosques de terça-feira a sábado.
O caminho para o nascimento de ‘Nós Diario’ começou em 2017. Procurava quebrar a “anormalidade histórica” de nom existir nengum, diário em galego, expom a sua diretora María Obelleiro
Com já mais de um ano de trajetória, para Obelleiro o balanço desta experiência é positivo, sobretodo num contexto especialmente complexo devido à pandemia da Covid19. Se bem que se mostre satisfeita por ter conseguido sair à rua todos os dias e ter colocado na agenda determinados temas, a diretora do Nós Diario fala dos desafios e das dificuldades para o futuro. “Isto nom implica que nos conformemos. Temos que oferecer informaçom de mais qualidade e tentar marcar mais agenda do que fazemos. É necessário umha maior aposta por parte da comunidade leitora neste projeto. Finalmente, o jornalismo de qualidade há que pagá-lo, se nom pagas o que estás lendo, é que outros o estám a pagar por ti”, salienta a diretora do Nós Diario.
Junta financia os grandes meios e subscriçons
Em 2014, a Asociación de Medios en Galego (Amega), da qual participam uns 40 projetos comunicativos em língua galega — entre eles o Novas da Galiza, mas também várias cabeceiras locais e comarcais monolingues em galego -, apresentava umha proposta através de vários grupos parlamentares de umha revisom da Lei de Publicidade Institucional no sentido de favorecer os meios pequenos monolíngues em galego. Ubaldo Cerqueiro, vice-presidente da Amega e jornalista no digital que Que pasa na costa, expom que “o PP botou-na abaixo, assegurando-nos que estavam trabalhando na lei. Passárom quase sete anos desde entom e nada sabemos”. Assim, a única ajuda que Junta concede aos meios em galego som duas campanhas publicitárias polo 17 de maio e o 25 de julho, cuja quantia total anda à volta dos 600 euros.
Em 2014 a ‘Asociación de Medios en Galego’ apresentava umha proposta de Lei de Publicidade Institucional mas o PP botou-na abaixo com promessas incumpridas
Cerqueiro, que trabalha num meio comarcal da Costa da Morte, refere que “se bem a nível municipal muitos meios sim que temos relaçom direta com as instuiçons, a nível autonómico a relaçom está praticamente rota. Fomos falar com a Junta em várias ocasions para lhe explicar como é a situaçom laboral de boa parte dos nossos meios, mas passam os anos e as condiçons para aceder às ajudas da Secretaria Geral de Meios continuam expressamente redigidas para que só podan aceder os grandes meios”.
Marcos Pérez Pena, do Praza Pública, refere que quando foi alterada a legislaçom para que os meios digitais recebessem subvençons polo emprego do galego marcou-se um número mínimo de pessoas trabalhadoras a tempo completo. “Semelhava feita de propósito para deixar fora projetos como Praza ou Galicia Confidencial, que nom chegavamos a esse número e ficávamos fora”, salienta. Ante esta realidade, em que a maioria das ajudas públicas da Junta vam para os meios de comunicaçom hegemónicos que publicam maioritariamente em castelhano, Pérez Pena salienta que “ainda que esses meios podam existir sem essas ajudas públicas, o poder que tenhem e a sua capacidade de influência dependem delas”.
Pérez Pena, jornalista em ‘Praza Pública’, acha que som os meios hegemónicos os grandes dependentes das subvençons da Junta da Galiza. “Ainda que esses meios podam existir sem as ajudas públicas, o seu poder e a sua capacidade de influência dependem delas”
Deste jeito, e a diferença de etapas anteriores, vários meios monolíngues em galego optárom por conseguir umha base de assinantes que garantam certa estabilidade financeira e umha independência informativas dos poderes públicos. É o caso tanto do Nós Diario como do Praza Pública. Porém, este modelo também apresenta algumha debilidades. Para Obelleiro a dificuldade principal passa por “que nos encontramos em inferioridade de condiçons a respeito de meios de comunicaçom que vivem das subvençons do governo galego e isso garante uns recursos que meios de dimensons mais pequenos nom podemos ter, o que implica um menor número de trabalhadoras e trabalhadores”. Marcos Pérez Pena salienta dificuldades semelhantes: “o pior é a precariedade: afinal dependes de um grupo relativamente pequeno e com poucas pessoas trabalhadoras. E o jornalismo que se pode fazer e o seu impacto é limitado. Mas dentro desta precariedade som relativamente otimista porque estamos apoiados na confiança das nossas leitoras e leitores”.
Fragmentaçom como oportunidade
Nos últimos anos fôrom aparecendo vários portais informativos em galego mas de temáticas especializadas: culturais, científicos, de temática agropecuária… Todas as jornalistas consultadas salientam que todos os projetos somam. Obelleiro vê positivo que praticamente todos estes meios em galego “apostam em ser meios alternativos ao conjunto do mass-media que operam na Galiza e também meios independentes”. Pola sua banda, Cerqueiro considera que “quanta maior variedade de informaçom em galego, mais possibilidades para as nossas leitoras e leitores, e mais referendamos a posiçom da nossa língua na rede. Os projetos comunicativos som perfeitamente complementares”.
Pérez Pena distingue entre os meios especializados e os generalistas. Por um lado, considera interessante a implementaçom de algum tipo de aglutinador para os meios especializados, como o recente agora.gal, e por outro acha interessante para os meios generalistas a abertura de colaboraçons e a defesa de interesses comuns. Também acrescenta que “na atualidade o consumo de meios está mui fragmentado, todas lemos muitos meios diferentes ao longo do dia”, e estima que a emergência de novos meios pode ser também umha oportunidade para o público leitor.
Umha olhada aos avanços no telemóvel
Cada vez mais, o consumo de informaçom realiza-se através do telemóvel e outros dispositivos inteligentes. A investigadora Alba Silva Rodríguez, pertencente ao grupo Novos Medios da Faculdade de Comunicaçom da USC, indagou sobre como os meios estám a adaptar-se às novas possibilidades que oferece o jornalismo móvel. Quando se trata de descrever como os meios galegos estám a desenvolver-se neste âmbito, Silva é clara: nengum deles está a aproveitar todas as potencialidades. Os meios editados no nosso país “nom estám experimentando com conteúdos específicos e adaptados para as plataformas móveis, mas o que fam é replicar conteúdos das webs principais dos seus meios no que seriam as apps móveis”, refere Silva.
Som várias as mudanças que a tecnologia móbil tem trazido para o jornalismo. Por um lado, o produto transforma-se num “produto multimédia, interativo, imersivo e em ocasions transmédia”; por outro lado, também a receçom das notícias é diferente pois “é umha receçom mais incidental, quase instantânea, de conteúdos pessoalizados e geolocalizados”, expom Silva, e acrescenta que há que ter em conta que “podemos receber conteúdos em qualquer momento e em qualquer lugar”.Silva pom como exemplo alguns meios internacionais para expor até que ponto se estám a explorar as possibilidades da tecnologia móbil no jornalismo. Assim, um dos mais salientáveis é The Guardian, que conta com um departamento especializado em experimentaçom de formatos e narrativas para telemóveis. Silva expom algumhas das suas iniciativas: “tirárom um reprodutor interativo de podcast e também tenhem um serviço de notificaçom ao vivo que fundamentalmente utilizam em processos eleitorais para informar de maneira pessoalizada sobre os avanços dos escrutínios em funçom das zonas em que se encontre o indivíduo”. Outro exemplo de assinalar é a BBC, que está a experimentar com chatbots e com vídeos verticais melhorados “que utiliza sobretodo nas redes sociais e que estám mui adaptados e especificamente criados para o seu consumo em mobilidade”. Mas o futuro do consumo de informaçom nom passa só polos telefones inteligentes, mas também mesmo polos relógios. Segundo refere esta investigadora, meios como The New York Times já desenvolvérom sistemas de alarmes para estes dispositivos com as notícias destacadas do dia.