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A endometriose fai-nos ver que o sistema de saúde nom funciona para as mulheres”

por
Cristina Fernández, pre­si­denta de querENDO

Afeta a umha de cada dez mulheres em estado fértil. Noutros termos, a 60.000 galegas, a dous milhons de mulheres em território espanhol e a 180 milhons em todo o planeta. Contudo, a pesar da incidência, a endometriose é até hoje umha doença bastante desconhecida tanto pola maioria das mulheres como polo pessoal médico. A negaçom e normalizaçom dos sintomas som produto de preconceitos de género que vulneram as mulheres ao retardar o diagnóstico até oito anos.

Cristina Fernández é a presidenta de QuerENDO, a associaçom de mulheres contra a endometriose. Falamos com ela sobre a violência de género e o desamparo sanitário ao que estám sujeitas as mulheres com esta doença.

O que é a en­do­me­tri­ose e como re­per­cute na qua­li­dade de vida de quem a padece?

A en­do­me­tri­ose é umha do­ença em que o te­cido en­do­me­trial, que nor­mal­mente se topa na cara in­te­rior do útero, apa­rece nou­tros ór­gaos ou te­ci­dos. O nor­mal é que apa­re­çam na re­giom pél­vica: nos ová­rios, nas trom­pas, nos in­tes­ti­nos, na be­xiga, mas tam­bém pode apa­re­cer nos rins ou nal­gum nervo… re­al­mente há mui­tas lo­ca­li­za­çons. O que su­cede é que, quanto te ve­nhem as re­gras, es­sas cé­lu­las en­do­me­tri­ais nom es­tám onde te­nhem que es­tar, so­frem o mesmo pro­cesso que as que es­tám no útero: en­chem-se de san­gue e in­fla­mam-se. Isso pro­duz mui­tís­sima dor. Há al­gumhas mu­lhe­res que te­nhem esta do­ença no pul­mom ou no um­bigo. Entom, cada vez que mens­truam, san­gram polo um­bigo. Ao prin­cí­pio, os sin­to­mas apa­re­cem só nos dias pró­xi­mos ao pe­ríodo, mas chega um mo­mento em que a dor pode fa­zer-se cró­nica. A en­do­me­tri­ose tem qua­tro graus de in­ten­si­dade e as mu­lhe­res afe­ta­das por um grau qua­tro re­sulta-lhe pra­ti­ca­mente im­pos­sí­vel fa­zer umha vida nor­mal.

Que tra­ta­mento re­ce­bem hoje as mu­lhe­res com endometriose?

Ao ser umha do­ença que se in­ves­tiga mui pouco, nom há um tra­ta­mento es­pe­cí­fico. Assim que pri­meiro re­cei­tam anti-in­fla­ma­tó­rios e me­di­ca­men­tos como o ibu­pro­feno e o pa­ra­ce­ta­mol. Se nom pas­sar com isso, re­cei­tam pí­lula an­ti­con­ce­ci­o­nal. O pro­blema é que mui­tas ve­zes dam pí­lula por­que lhes di­ze­mos ao mé­di­cos que te­mos dor. Claro, no prin­cí­pio da do­ença, com a pí­lula a dor pode pas­sar, mas a do­ença se­gue a avan­çar. Entom chega um mo­mento em que, se nom fas um di­ag­nós­tico nem um se­gui­mento, logo apa­rece umha en­do­me­tri­ose muito mais agres­siva. O pro­blema, pois, é que nom se di­ag­nos­tica a tempo. Esta do­ença tem um re­tardo di­ag­nós­tico de umha meia de oito anos, en­tre ou­tras cou­sas por­que está as­su­mido que a mens­tru­a­çom pro­duz dor e dim-nos que te­mos que aguen­tar. Isso há que er­ra­dicá-lo por­que ne­nhumha dor é nor­mal. Há que bus­car as cau­sas e as­sim po­der di­ag­nos­ti­car a tempo.

A en­do­me­tri­ose é umha do­ença em que o te­cido en­do­me­trial apa­rece nou­tros ór­gaos di­fe­ren­tes do útero. Nas re­gras, es­sas cé­lu­las en­do­me­tri­ais so­frem o mesmo pro­cesso que as que es­tám no útero ”

A en­do­me­tri­ose afeta a um 10% das mu­lhe­res em idade fér­til e, ainda as­sim, sabe-se muito pouco desta en­fer­mi­dade. Por que tem sido esquecida?

Porque existe um traço de gé­nero evi­dente. É o que di­zia an­tes: como é nor­mal que as mu­lhe­res sin­tam dor du­rante o pe­ríodo, pois nom se pa­ram em bus­car cau­sas. Pensa-se como algo “nor­mal”. Ademais, ainda existe de­ma­si­ado tabu a res­peito da mens­tru­a­çom, quase nom se fala dela.

Este ano, no ma­ni­festo da as­so­ci­a­çom, men­ci­o­nas­tes que as mu­lhe­res que pa­de­cem en­do­me­tri­ose vi­vem numha si­tu­a­çom de de­sam­paro nos ser­vi­ços de saúde…

Sim. Para co­me­çar, con­se­guir umha in­ca­pa­ci­dade la­bo­ral é quase im­pos­sí­vel. Isso há que re­visá-lo por­que há mui­tas mu­lhe­res que te­nhem umha en­do­me­tri­ose em grau qua­tro – cal­cula-se que na Galiza som ar­re­dor de 9.000– e nom po­dem tra­ba­lhar. Também nos ve­mos de­sam­pa­ra­das por­que nom se in­ves­tiga, por­que o pes­soal sa­ni­tá­rio nom está for­mado para aten­der esta do­ença e por­que ainda nom há tra­ta­men­tos es­pe­cí­fi­cos. Há que for­mar aos mé­di­cos e mé­di­cas, nom pode ser que tar­dem oito anos em di­ag­nos­ti­car. Isso fai-nos ver que o sis­tema de saúde para as mu­lhe­res nom fun­ci­ona, qual­quer ou­tra pes­soa que vai ao sis­tema sa­ni­tá­rio re­cebe pro­vas para ver onde tem a dor, mas isso nom acon­tece com a endometriose.

O pro­blema é que nom se di­ag­nos­tica a tempo. Esta do­ença tem um re­tardo di­ag­nós­tico de umha meia de oito anos, en­tre ou­tras cou­sas por­que está as­su­mido que a mens­tru­a­çom pro­duz dor e dim-nos que te­mos que aguentar”

No 2015 as vos­sas de­man­das fô­rom aten­di­das no Parlamento da Galiza numha mo­çom apro­vada po­los três par­ti­dos que con­for­ma­vam a câ­mara au­to­nó­mica. A mo­çom co­lo­cava o acento na ne­ces­si­dade da in­ves­ti­ga­çom so­bre a en­do­me­tri­ose. Quais efei­tos está a ter hoje?

Sim, a mo­çom foi apro­vada por una­ni­mi­dade no Parlamento. Mais nunca se soube nada nem se fijo nada. Ali fi­cou. De feito, fi­ge­mos umha cam­pa­nha em que co­la­bo­ra­mos com umha loja de ge­la­dos que criou um pro­duto es­pe­cial para nós. Num prin­cí­pio, as ven­das iam ser des­ti­na­das para a in­ves­ti­ga­çom, polo que pro­cu­ra­mos pro­gra­mas nas uni­ver­si­da­des da Galiza, mas nom ha­via ne­nhum. Por Espanha só to­pa­mos um par de­les. Entom, já que vi­mos que a in­ves­ti­ga­çom nom saia para di­ante, de­ci­di­mos que o di­nheiro ar­re­ca­dado fosse gas­tado em di­vul­ga­çom para que, polo me­nos, as mu­lhe­res sou­bes­sem mais da do­ença. Mas de in­ves­ti­ga­çom, nada.

Por que é im­por­tante que exis­tam uni­da­des mul­ti­dis­ci­pli­na­res para tra­tar a endometriose?

Já que os im­plan­tes da en­do­me­tri­ose po­dem es­tar em qual­quer ór­gao ou te­cido, ne­ces­si­ta­mosq ue nos veja al­guém de gi­ne­co­lo­gia, de en­fer­ma­ria e tam­bém de psi­co­lo­gia, para que nos aju­dem a ge­rir toda a in­for­ma­çom, to­das as con­sequên­cias da do­ença. Necessitamos pes­soal de di­ges­tivo, por­que mui­tas ve­zes os im­plan­tes es­tám nos in­tes­ti­nos. Para além disso, pre­ci­sa­mos fi­si­o­te­ra­peu­tas, por­que com os im­plan­tes que se criam fam-se mui­tas ade­rên­cias e com fi­si­o­te­ra­pia, mui­tas ve­zes, po­dem de­sa­pa­re­cer ou nom ir a mais. Necessitamos que nas áreas sa­ni­tá­rias haja uni­da­des mul­ti­dis­ci­pli­na­res para an­ten­der cada caso e nom so­mente pes­soal de ginecologia.

A vossa cam­pa­nha ex­pom o modo em que as do­res das mu­lhe­res se­guem sem ser to­ma­das a sé­rio por pre­con­cei­tos de gé­nero. Nom to­mar a se­rio a nossa dor é tam­bém pôr em dú­vida a nossa palavra…

A mui­tas mu­lhe­res que aco­dem ao mé­dico de­ri­vam-nas a psi­co­lo­gia ou psi­qui­a­tria. Muitas ve­zes o sis­tema pensa que nos quei­xa­mos por pro­ble­mas psi­co­ló­gi­cos, por cha­mar a aten­çom, mas nom por­que re­al­mente te­nha­mos dor. Porque, como a dor da mens­tru­a­çom está muito nor­ma­li­zada, a mui­tas man­dam-nas a tra­ta­mento psi­co­ló­gico e dim-lhes que é umha somatizaçom. 

Nom se in­ves­tiga, o pes­soal sa­ni­tá­rio nom está for­mado para aten­der esta do­ença e ainda nom há tra­ta­men­tos específicos”

Desde 2014 existe umha con­sulta es­pe­cí­fica em Vigo, Ourense, A Corunha, Ferrol e Santiago de Compostela. Que tem su­posto isto? Cara a onde resta avançar?

A con­sulta es­pe­cí­fica sig­ni­fica que te trata o mesmo gi­ne­có­logo, o que per­mite ter um se­gui­mento mais exaus­tivo da do­ença. Fam-che mais eco­gra­fias e mais con­tro­los de evo­lu­çom da en­do­me­tri­ose. Mas, como di­zia, isso para nós fica curto. Nós pre­ci­sa­mos de mui­tas ou­tras áreas. Por exem­plo, há mui­tas mu­lhe­res que me­lho­ram mo­di­fi­cando a sua di­eta, se tu tes umha in­fla­ma­çom pél­vica é me­lhor evi­tar co­mer ali­men­tos que pro­vo­cam mais in­fla­ma­çom ou som di­fí­ceis de di­ge­rir. Entom, as mu­lhe­res re­que­rem pes­soal nu­tri­ci­o­nista, mas todo o fam por fora do sis­tema de sa­ni­dade. Estamos a bus­car-nos a vida com­ple­ta­mente de­so­ri­en­ta­das. Precisamos de umha uni­dade mul­ti­dis­ci­pli­nar que trate todo o con­junto de pro­ble­mas as­so­ci­a­dos a esta do­ença para me­lho­rar a nossa qua­li­dade de vida e que po­da­mos fa­zer um dia a dia mais ou me­nos normal.

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