Periódico galego de informaçom crítica

A escalada perante a nova década

por
Rosa González, do clube de mon­ta­nhismo Ártabros. m. souto

Dia 29 de de­zem­bro. Um pro­je­tor e um par de fil­mes so­bre es­ca­lada é o plam para fe­char o ano que pro­pom um pe­queno clube, a Agrupaçom de Montanheiros Independentes (AMI). A AMI é um dos clu­bes de mon­ta­nha mais ve­lho da Corunha, fun­dado em 1986, junto com Ártabros, nas­cido em 1974.. A sua in­ten­çom é fo­men­tar o co­nhe­ci­mento e a co­mu­ni­dade den­tro do clube. Um dos fil­mes é The Alpinist, um do­cu­men­tá­rio que ex­pom a pe­cu­liar vida de Marc-André Leclerc (1991–2016), um al­pi­nista ter­ri­vel­mente ar­ris­cado e com um ta­lento sur­pre­en­dente que nom era muito conhecido.

A ra­zom desta falta de po­pu­la­ri­dade é que Marc nom pre­ten­dia vi­ver para os de­mais. Ele tra­tava os seus lo­gros para ele mesmo, sem mos­trar nas re­des so­ci­ais o que fa­zia. Muita gente nas­cida a par­tir da dé­cada de 90 vive como se a re­a­li­dade es­ti­vesse nas re­des so­ci­ais. Às ve­zes, de­vem per­gun­tar-se se es­tám fa­zendo algo por des­frute pró­prio ou por par­ti­lhá-lo de­pois na in­ter­net. Mas Marc nal­guns dos seus as­cen­sos mais in­crí­veis ia com­ple­ta­mente só. Dizia que se a par­ti­lhava com ou­tra pes­soa, a ex­pe­ri­ên­cia mesmo de­va­lu­ava, pois o im­por­tante era o que ele pró­prio sen­tia no mo­mento da aventura. 

Em The Alpinist, o es­ca­la­dor ve­te­rano Hevy Duty diz “Marc nom vive como a  gente do sé­culo XXI, ele vive como a gente dos 70”. É di­zer, Hevy vê o Marc como um al­pi­nista da ge­ra­çom an­te­rior. Com cer­teza, nom pa­rece que per­tença à sua ge­ra­çom nem es­teja na época ajei­tada para os des­por­tos que praticava.

Efetivamente„ pode fa­lar-se de umha mun­dança de época para to­dos os des­por­tos tra­di­ci­o­nal­mente as­so­ci­a­dos a va­lo­res pró­prios. No caso da es­ca­lada, esta es­tivo de sem­pre as­so­ci­ada ao res­peito e à vida no en­torno na­tu­ral. A mo­di­fi­ca­çom que pa­de­ceu afeta em como a gente se ini­cia na es­ca­lada, em como som trans­mi­ti­dos os seus va­lo­res e a prá­tica des­por­tiva. Alguns dos fa­to­res que mo­ti­vam a mu­dança po­dem ser a pro­cura por que o des­porto se trans­forme em algo ren­dí­vel, a pró­pria mu­dança da po­si­çom da es­ca­lada na so­ci­e­dade ‑com a atual moda da escalada‑e as mo­di­fi­ca­çons pro­pi­ci­a­das po­las re­des sociais.

Mudanças de atitudes

Para elu­ci­dar como es­tas mu­dan­ças in­flu­en­ci­a­ram no pa­no­rama ga­lego é pre­ciso fa­lar com gente co­nhe­ce­dora do âm­bito na­ci­o­nal e que vi­visse o as­sen­ta­mento e evo­lu­çom da es­ca­lada. Rosa González é só­cia e co­la­bo­ra­dora do clube Artabros e Félix Criado da AMI. Ambas as duas som es­ca­la­do­ras ve­te­ra­nas e so­man mais de vinte anos de ex­pe­ri­ên­cia cada umha. Félix co­me­çou saindo à mon­ta­nha desde bem ra­paz, da mao de ami­za­des e pro­fes­so­res. Rosa co­me­çou ins­pi­rada pola sua pa­re­lha, com­pe­tiu vá­rios anos e con­ti­nua ativa no des­porto mas afas­tou-se da competiçom. 

A es­ca­lada es­tivo de sem­pre as­so­ci­ada ao res­peito e à vida no en­torno na­tu­ral. A mo­di­fi­ca­çom que pa­de­ceu afeta a como a gente se ini­cia nela, como som trans­mi­ti­dos os seus va­lo­res e a prá­tica desportiva

Rosa ri lem­brando como nos iní­cios era ha­bi­tual ver cou­sas na mon­ta­nha que agora se­riam im­pen­sá­veis, mesmo era pos­sí­vel en­con­trar gente “es­ca­lando com a corda do ten­deiro”. Segundo Felix, os meios e os equi­pa­men­tos an­tes eram em mui­tas oca­si­ons “ca­sei­ros, nom ha­bía ma­nual, agora está todo muito mais dou­tri­nado”. Na sua ju­ven­tude só ha­via dous fil­mes e um par de li­vros, coma Hielo, ni­eve y roca de Gaston Rebuffat. Este li­vro en­si­nava só al­gumhas téc­ni­cas e a forma de apren­der era “por en­saio e erro; e em oca­si­ons o erro era dramático”.

Segundo ele agora as prac­ti­can­tes te­nhem mui­tos mais meios para apren­der e muita mais se­gu­rança, e para al­gumhas esta foi a pri­meira mu­dança na es­ca­lada. Em The Alpinist o es­ca­la­dor Reinhold Messner fala no al­pi­nismo con­si­de­rando o risco como aquilo que o va­lida como arte. Nom se pode per­ce­ber a ex­pe­ri­ên­cia como aven­tura se nom há pe­rigo real. Rosa e Félix nom con­cor­dam to­tal­mente com isto, pois na sua lem­brança os ris­cos eram fruto da inex­pe­ri­ên­cia e da falta de acesso ao co­nhe­ci­mento. Mas Félix aponta para umha nova ati­tude na ini­ci­a­çom: “Antes era um des­porto mi­no­ri­tá­rio e di­fí­cil para ini­ciar-se, as téc­ni­cas de se­gu­rança nom es­ta­vam cla­ras. Agora te­mos umha dou­trina es­ta­be­le­cida. Era mais pe­ri­goso, mas o ra­paz que ia com a corda do ten­deiro ti­nha in­que­dança e a le­vava a cabo. Hoje te­mos medo ao aci­dente, à crí­tica nas re­des so­ci­ais. Todos te­mos feito lou­cu­ras da­quela… ti­nhas mais li­ber­dade”. O peso das re­des mu­dou a so­ci­e­dade e pode que isso, como di Felix, mu­dasse a mo­ti­va­çom das pes­soas para co­me­çar a prá­tica de um des­porto. Antes es­ca­lar “era ir por la­res para che­gar ao cú­mio, mas a di­fi­cul­dade nom era o im­por­tante. Hoje a es­ca­lada con­ti­nua a ser o mesmo, re­sol­ver um pro­blema, mas acon­tece que o re­sul­tado é diferente”.

É pre­ciso ter em conta que a es­ca­lada des­por­tiva con­siste em re­ma­tar vias, que som con­si­de­ra­das como um pro­blema por re­sol­ver. As vias te­nhem um grau de di­fi­cul­dade. Esta prá­tica des­por­tiva co­me­çou na mon­ta­nha e de­pois fô­rom cri­a­dos ro­có­dro­mos para trei­nar em in­te­rior. Na atu­a­li­dade, o ro­có­dromo pa­rece atrair mais às no­va­tas. Certamente, su­pom me­nos risco mas perde con­tato com os va­lo­res da montanha.

Rosa acha que an­tes a prá­tica da es­ca­lada era mais res­pe­tu­osa com a na­tu­reza. “Respeitar as vias, nom an­dar a mar­ti­lha­zos nem rou­bar ma­te­rial. A es­ca­lada está-se a mas­si­fi­car e quiçá este é o cen­tro da dis­cus­som. Se mas­si­fi­ca­mos umha ati­vi­dade se ca­lhar so­mos mais con­ci­en­tes da  gente que fai as cou­sas mal. Temos umha res­pon­sa­bi­li­dade in­di­vi­dual de trans­mi­tir as nor­mas que tí­nha­mos es­ta­be­le­ci­das so­bre o res­peito e cui­dado da na­tu­reza”. Rosa per­cebe tam­bém umha perda de co­nhe­ci­men­tos so­bre como com­par­ti­lhar um es­paço como as vias da mon­ta­nha: “Hoje vês prá­ti­cas como dei­xar a corda todo o dia para que nin­guém co­lha a via”.

Percebem umha perda de co­nhe­ci­men­tos so­bre como par­ti­lhar um es­paço como as vias da mon­ta­nha: “Vês prá­ti­cas como dei­xar a corda todo o dia para que nin­guém a colha”

Da base para a cima 

Como di Rosa, os per­fis das pra­ti­can­tes som di­ver­sos. Está a fa­lar-se da base, umha cousa bem com­plexa. E neste as­sunto de­ve­mos olhar para acima, para a ad­mi­nis­tra­çom, para en­ten­der grande parte das mu­dan­ças. Félix aponta que al­gumhas ad­mi­nis­tra­çons som mais sen­sí­veis que ou­tras aos va­lo­res da es­ca­lada, mas de forma ge­ral só en­ten­dem de re­sul­ta­dos. Nos cir­cui­tos de com­pe­ti­çom só va­lem os nú­me­ros. “É hi­po­crita, a queixa está nos va­lo­res, po­rém só che pido re­sul­ta­dos”. E acres­centa que se in­te­res­sam po­las me­da­lhas “quando a luita está pola base: es­tar pola gente que cria es­pa­ços co­mu­ni­tá­rios para pra­ti­car os des­por­tos de mon­ta­nha e, por­tanto, trans­mi­tir os valores”. 

Ambas es­ca­la­do­ras re­co­nhe­cem que a com­pe­ti­çom é boa por­que fai à gente su­pe­rar-se e trei­nar mais duro, mas os va­lo­res que saim dela te­nhem mui­tos pe­ri­gos. O tipo de com­pe­ti­çom da que fa­lam é a que atu­al­mente está a ser mais pa­tro­ci­nada.. Rosa lem­bra per­fei­ta­mente que há uns anos as ati­tu­des eram com­pe­ti­ti­vas, mas nom eram com­pa­rá­veis ao que nesta hora vemos. 

De forma ge­ra­li­zada, as sub­ven­çons des­por­ti­vas de­pen­dem em mui­tos ca­sos só dos tí­tu­los, algo que nom re­flete o tra­ba­lho de um clube à hora de in­tro­du­zir o des­porto numha so­ci­e­dade cada vez mais se­den­tá­ria. Nesta nova onda, em pa­la­vras de Félix, “apa­re­cem os pais que pen­sam ter umha es­trela e aos dous se­gun­dos es­tám na pro­cura de bolsa e pa­tro­ci­na­dor, é di­zer, trans­la­dam todo para os nú­me­ros”, em lu­gar de ver o des­porto como uns va­lo­res que a sua cri­ança pode aprender.

O im­pato da competiçom

A es­ca­lada viu-se nessa car­reira con­trar­re­ló­gio de mo­der­ni­zar a sua com­pe­ti­çom para en­caixá-la nos pa­rá­me­tros atu­ais e nas Olimpíadas, nas quais par­ti­ci­pou por vez pri­meira em 2021. Umha com­pe­ti­çom vi­çosa que chame po­los pa­tro­ci­na­do­res, e que à vez chame às sub­ven­çons e a mais pra­ti­can­tes. Na atu­a­li­dade a com­pe­ti­çom di­vide-se em três pro­vas: corda, boul­der e ve­lo­ci­dade. Velocidade é a mo­da­li­dade mais re­cente e a que sus­ci­tou polémica.

Félix Criado, da Agrupaçom de Montanheiros Independentes. m. souto

Às duas de­por­tis­tas custa-lhes re­co­nhe­cer, nes­tes no­vos for­ma­tos a es­ca­lada que co­nhe­ce­ram. Segundo Rosa, “o que mais se achega à es­ca­lada no ex­tre­rior é boul­der e corda. Contodo, a es­ca­lada boul­der in­door tem pas­sos im­pos­sí­veis ou pouco re­co­nhe­cí­veis para as ve­te­ra­nas. Isto acon­tece por­que os des­por­tos di­ná­mi­cos, que deam emo­çom, som o im­por­tante agora. Ao meu pa­re­cer é de­ma­si­ado ar­ti­fi­ci­oso”. Certamente, isto chama mais a aten­çom de mar­cas e in­ves­ti­do­res. Pouca gente pa­ga­ria por ver umha es­ca­lada de mon­ta­nha onde os pas­sos som len­tos e pro­cu­ram a má­xima precisom.

Rosa mos­tra a sua dis­con­for­mi­dade com a prova de ve­lo­ci­dade. Félix con­corda com ela e cri­tica a ve­lo­ci­dade como “um in­vento para cap­tar aten­çom. Nom tem muito sig­ni­fi­cado por­que a es­ca­lada é re­sol­ver um pro­blema, já for com corda ou sem ela. Em ve­lo­ci­dade é sem­pre o mesmo muro, au­to­as­se­gu­ra­dor, quase tem mais que ver com o atle­tismo que com de­sen­vol­ver umha ideia. É ar­ti­fi­ci­oso, pro­cura cha­mar mais a aten­çom. Mesmo muda o corpo da es­ca­la­dora pois a ve­lo­ci­dade é puro trem inferior.”

O di­lema pe­rante as mudanças

Na con­clu­som, e olhando cara o fu­turo, Rosa e Felix nom che­gam a con­senso so­bre se to­das as pes­soas que es­tám a in­te­res­sar-se pola es­ca­lada fi­ca­rám mas sa­bem que as mu­dan­ças sim o fa­rám. A es­ca­lada so­freu umha mer­can­ti­li­za­çom e umha adap­ta­çom às ur­bes. Passou por umha sim­pli­fi­ca­çom para fazê-la mais atra­tiva, ren­dí­vel e estética.

A es­ca­lada, como ou­tros des­por­tos de mon­ta­nha, nom res­ponde bem aos mo­de­los atu­ais de com­pe­ti­çom, onde os re­sul­ta­dos e o fi­nan­ci­a­mento de mar­cas é o im­por­tante. Mas nom é o único des­porto que en­fren­tou a mer­can­ti­li­za­çom. Muitos ou­tros nom te­nhem sen­tido den­tro do ‘todo vale para ga­nhar’ da nova com­pe­ti­çom, posto que a sua cri­a­çom pre­ten­dia trans­mi­tir va­lo­res so­bre o res­peito. Se na es­ca­lada é o cui­dado da na­tu­reza, nou­tras mo­da­li­da­des é o res­peito po­las com­pa­nhei­ras e por fi­gu­ras como as ârbitras. 

A de­ci­som nom é fá­cil, pois mu­dar im­plica em mui­tos ca­sos per­der a es­sên­cia mas nom fazê-lo é fi­car ex­cluí­das. De facto, mui­tas es­ca­la­do­ras ve­te­ra­nas nom pa­re­cem con­for­mes com a evo­lu­çom en­quanto ou­tras sim o es­tám e acham que as pri­mei­ras ati­ram pe­dras con­tra a sua casa, e ou­tras mui­tas es­tám no meio das duas posturas.

Ademais, umha ad­mi­nis­tra­çom con­cen­trada na com­pe­ti­çom nom atende a ro­có­dro­mos de bairro que que­rem jun­tar a gente e mos­tar-lhes a mon­ta­nha, ou com­bi­nar para ac­ti­vi­da­des sim­ples como ver fil­mes no tempo do natal.

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