Estamos cansados este ano de escutar o nome de Feijó, e o que resta para a frente! Mas chegou o outono que tudo faz madurar e vieram as feijoas, bem mais gorentosas.
A feijoa é um fruto de cor verde intenso, não muito grande e de forma ovoide. O sabor é complexo, um bocadinho azedo e tão aromático que há quem aborrece totalmente e quem adora. Adotam defini-lo como a mistura de amorodo, kiwi e ananás. De facto, no Brasil é conhecida como goiaba-ananás (também goiaba-serrana) pola semelhança com a primeira fisicamente e com a segunda no gosto. A sua origem está nas zonas altas do sul do Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, de clima temperado. Estendeu-se por todo o mundo, de Nova Zelândia até Escócia. É curioso que sendo um cultivo habitual em muitos jardins do mundo, no Brasil começaram com a domesticação da planta autóctone há relativamente pouco tempo.
Na Galiza é um cultivo habitual das rias baixas e do sul do país, pois tampouco gosta das temperaturas baixas. Leva pouco por aqui mas o seu nome atinge-nos e tem uma história bem curiosa. Batiza a planta um alemão, Oto Karl Berg, como homenagem ao naturista brasileiro João da Silva Feijó, científico que trabalhou em Cabo Verde e Lisboa e foi colaborador do Jardim Botánico da Prússia desde o Ceará. Mas o conto tem ainda umas voltas mais, pois o autêntico nome do brasileiro era João da Silva Barroso, o Feijó foi em homenagem ao ilustre Frei Benito Jerónimo Feijó, que não era dos Peares, mais sim um dos científicos mais reputados de Europa na ilustração. Já não entramos em que o apelido Feijó tem a ver com legumes que levam algo mais de tempo por aqui, mas que vieram de fora, da América.
O sabor é complexo, um bocadinho azedo e tão aromático que há quem aborrece totalmente e quem adora
Dizemos que não há unanimidade sobre o seu sabor, demasiado aromático para uns e delicioso para outros, agora que todos deveriam reconhecer a suas estupendas qualidades para a saúde. A feijoa é um alimento muito rico em iodo e em vitaminas C e B, o que a faz uma extraordinária combinação com o mel, ao gosto de cada um, para a boa saúde das pessoas. Ademais tem outros proveitos: a sua polpa tem uma parte mais granulada contra a casca que pode ser usada como esfoliante e as flores da planta, que são comestíveis no fim do seu ciclo, podem usar-se para saladas de verão.
À hora de consumir o fruto, o habitual é consumi-lo cru, sem mais elaboração que quitar-lhe a pele, pois as suas sementes são também comestíveis. Porém, há quem faz doce com eles, cozendo juntos a mesma quantidade de feijoas que de açúcar num pouco de água e logo triturando ao gosto. Deste jeito, depois podes empregar esta confeição para encher pastéis, compor outras sobremesas ou simplesmente para almoçar e assim por riba conserva-la colheita, que acostuma ser abundante e mui concentrada. Também se pode conservar por medio do açúcar fazendo marmelada de feijoa, similar à de marmelo. Pomos a feijoa já relada numa tarteira e adicionamos um copo de água para ajudar na coção, há quem amece também sumo ou casca de limão, e deixamos cozer. Uma vez que os frutos estejam cozidos trituram-se e pesam-se para adicionar a mesma quantidade de açúcar, ou um chisco menos, e voltamos pôr tudo a lume não muito forte 20 ou 30 minutos. Depois há que esvaziar a pasta que resultou em formas apropriados para que arrefece e solidifique a nossa marmelada.
Ainda vos propomos uma outra forma um chisco mais elaborada para desfrutar dela, a bavaroise. Trata-se duma sobremesa que não precisa frio para se fazer e à que lhe vão muito bem os matizes aromáticos da feijoa e das frutas em geral. Primeiro de nada, cozemos meio quilo de feijoas com 200 gramas de açúcar numa pouquinha de água, trituramos e apartamos. Misturamos 100 gramas de açúcar, seis gemas de ovo e medio litro de leite inteiro, pomo-lo tudo ao lume e imos remexendo com jeito ata que espesse um pouco, misturamos a fruta cozida e triturada e, sem deixar que perda temperatura, juntamos 10 folhas de gelatina (ou equivalente) que já teremos hidratadas de antes. Por último batemos 400 ml. de tona de leite e 50 gramas de açúcar e adicionamos o resultado cuidadosamente à mistura anterior já morna. Só nos resta meter em formas e deixar na geladeira umas horas antes degustá-la à saúde de Feijó, ou de Pereiro de Aguiar, claro.