A cooperativa A Carqueixa situa-se na paróquia de Sam Romám, concelho de Cervantes, ao pé dos Ancares. Conta com umhas 200 pessoas associadas e entre as suas iniciativas para a revitalizaçom da zona encontra-se a recuperaçom de soutos centenários para a produçom de castanha, explorando atualmente uns 2000 hectares de castanheiros, dos quais 500 contam com certificaçom ecológica. Román Sánchez Besteiro, gerente da cooperativa, expóm os projetos em que a cooperativa está envolvida para pôr em valor a produçom de castanha na montanha lucense.
Sodes umha cooperativa pecuária que vos dedicades à produçom de carne bovina, como foi que vos interessastes pola produçom de castanha?
A cooperativa nasceu em 1994 para melhorar na comercializaçom da produçom pecuária e adquirir a melhor qualidade e preço os subministros. A cooperativa sempre tivo um enfoque integral, de aproveitamento de todos os recursos que puder haver na zona. Dessa premissa comercializam-se também maçás e castanhas. A produçom da castanha está a medrar de jeito exponencial devido a que os preços subiram a níveis que até agora eram desconhecidos. Nos últimos quatro anos passamos de produzir 30 toneladas a 220 há dous anos. O ano passado estivo marcado polas secas e polas geadas e foi um ano horrível, baixando a produçom a 50 toneladas.
Vendedes a castanha para fora?
Está-se a vender a distintas indústrias que logo as secam e as exportam. Este ano vendeu-se a Alibós, em Monterroso, que a seca e congela. A castanha da zona dos Ancares é mui boa para o processo de secado. Há umha variedade de castanha, a típica dos magustos, que lhe chamam ‘de parede’, que está a revalorizar-se muito e chegou a pagar-se 1,45 euros mais IVE por quilo, o que está longe de todo o que se paga na zona. Assim, a gente anima-se ainda que no ano passado houvo mui pouca produçom.
“Na montanha oriental de Lugo encontram-se o 60 por cento dos soutos galegos”
A que se deve essa suba de preço exponencial?
A suba de preço na Galiza nos últimos três ou quatro anos vem propiciada porque Itália, umha grande produtora a nível europeu e onde há grandes comercializadoras que fornecem o mercado europeu, tivo umha crise grande com a vespinha do castanheiro, umha praga que está a chegar agora à Galiza. Esta situaçom provocou que se tivessem que procurar novos provedores e Galiza e Portugal vírom-se beneficiadas da escasseza de produto em Itália. O que acontece agora é que a castanha galega tem umha qualidade, para algumhas utilidades, mesmo melhor do que a italiana. A vespinha em Itália continua a fazer estragos e a castanha galega colheu mui boa fama a nível internacional, com o que semelha que vam poder manter-se esses preços.
Optastes por recuperar os soutos abandonados que havia na zona…
Temos vários projetos orientados a isso mas há ainda um potencial mui grande para recuperar, pois na zona da montanha oriental de Lugo, que compreende da Fonsagrada até o Courel, está o 60 por cento dos soutos da Galiza. Som soutos centenários e encontram-se mui infrautilizados. Haveria umha potencialidade para conseguir dinheiro tanto para os provedores que recolheram a castanha como para cooperativas de transformaçom.
Há duas cousas que lastram um pouco o desenvolvimento integral desta zona. Um é que na zona de Ancares, e noutras da Galiza, cada castanheiro pertence a pessoas distintas, entom se nom há umha certa agrupaçom de proprietários ‑nós temos agora um projeto com a deputaçom de Lugo para agrupar os proprietários ou proprietárias- é mais difícil a exploraçom de esse souto. Outra é que a gente está a recolher todas as variedades juntas e isso dificulta a comercializaçom de cada variedade. Nesta linha estamos a trabalhar desde a cooperativa, tanto no tema de identificaçom de variedades, com um projeto com o Centro de Investigaçom de Louriçám, como na agrupaçom de soutos. O ideal seria ir cara à exploraçom de soutos que fossem de mínimo de um hectare de tamanho para poder trabalhá-las em condiçons.
Quais trabalhos som necessários para recuperar um souto?
Muitas vezes o primeiro que há que fazer é um desbroce, pois há castanheiros comidos polas silveiras, depois haveria que fazer umha demouca dos castanheiros e já pôr-se a apanhar as castanhas. A castanha é mui agradecida, porque requere pouco trabalho para muito rendimento. A recolhida sim que é dura, mas logo quase nom tes que fazer mais investimentos para manter o rendimento todos os anos, que nalguns casos podem chegar aos 10.000 ou 12.000 euros ao ano.
Tivestes ajuda da administraçom?
Agora estamos a processar ajudas para a reabilitaçom de soutos da Rede Natura, mas polo de agora nom se concedeu nenhum tipo de ajuda. A Junta está mais centrada na plantaçom de novos castanheiros do que em recuperar os soutos velhos e a mim parece-me que a linha prioritária devia ser recuperar estes porque há um potencial mui grande, já nom só a nível económico mas também paisagístico, ambiental… Nom se pode comparar soutos de 300 e 400 anos com umha plantaçom de agora. Ademais, as zonas em que estám locadas som zonas com uns índices demográficos aterradores, entom todo o que seja criar dinamismo económico aqui deveria ser visto com absoluta prioridade. A plantaçom de castanheiros novos está bem, vendo ademais como se está a expandir o eucalipto, mas vejo como prioritária umha maior importância para a recuperaçom de soutos velhos nessas ajudas.
A vespinha do castanheiro está já presente na Galiza. Estades a pensar em como combatê-la?
Temos um projeto com o Centro de Investigaçom de Louriçám e com a Universidade de Santiago de Compostela [estamos num fundo cooperativo, que também é dinheiro europeu que gere a Junta] para ver como está a afetar a vespinha em toda a Galiza. Está prevista umha solta de Torymus sinensis por parte da administraçom. O Torymus é o seu inimigo natural, e funcionou bastante bem em Portugal e em Itália e aqui na Galiza semelha que é algo que urge. Aqui, a nível estatal, foi o Ministério quem estivo a colocar mais entraves para que se realizassem as soltas. Ademais do Torymus, umha das hipóteses em que se está a trabalhar é que a mistura de carvalhos e castanheiros pode dificultar a expansom da vespinha.
Quais som os danos que provoca a vespinha?
Se o castanheiro está ferido pode chegar a matá-lo, secando‑o completamente. Os produtores podem chegar a estar sem produçom durante vários anos, pois nom podes recolher castanha quando há umha presença massiva da vespinha. Em muitos lugares já é o terceiro ou quarto ano que está presente. Já há zonas na Galiza em que a produçom desceu bastante e isso vai ser progressivo, vai ir a mais. Quanto mais se tarde em realizar a solta pior nos vai ir.
Os castanheiros centenários continuam a ser produtivos?
Sim. Muitas vezes os melhores castanheiros som os que tenhem mais anos, pois som os maiores e os que tenhem maior produçom. Há castanheiros que tenhem até 150 ou 200 quilos de produçom.
“Há castanheiros velhos que produzem 150 ou 200 quilos de castanha”
Quantas variedades há na zona?
O estudo está a fazê-lo o centro de investigaçom de Louriçám, que tem detetadas na Galiza 26 variedades. Na nossa zona em concreto, nós partimos de umha hipótese de até 10 castanhas diferentes, mas a predominante é a castanha de parede. Muitas vezes está misturada com outras variedades, com castanheiros bravos e demais.
Ajudas polas perdas?
Houve algumhas ajudas pola seca mas focadas cara ao gado e relacionados com o castanheiro, a verdade é que nom se processou nenhum tipo de ajuda. A Junta escudou-se em que, igual que com os vinhedos, mais que pola seca o problema foi pola geada. Há muitas zonas que já nom entrárom a produzir porque a geada que entrara tam tarde, polo 2 de maio do ano passado, fora o que impedira que entrara a produçom. A seca afetou a que a castanha nom medrara, mas a geada foi a que impediu que houvesse o fruto.
Na cooperativa há 200 pessoas produtoras, tanto de gado como de castanhas, que estám locadas na zona de Ancares e Fonsagrada.
Já há 500 hectares certificados em ecológico de castanheiro, mas o número total de hectares de castanheiro da cooperativa, está estimado sobre os 2000 (de diversos proprietários, repartidos polo território). Cada pé herdava-se, dava de comer durante muito tempo.