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A lógica anti-terrorista contra o independentismo galego

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Captura de ví­deo da re­trans­mis­som ao vivo do juízo. Momento em que Assunçom Lousada de­clara pe­rante o tribunal.

No dia 24 de janeiro decorreu na Audiência Nacional espanhola a vista oral contra as quatro independentistas detidas em julho de 2019 na chamada ‘Operaçom Lusista’. Na seçom terceira da Sala do Penal deste tribunal de exceçom foi encenada a enésima aplicaçom da legislaçom antiterrorista contra militantes independentistas, que rematou com umhas condenas totais de 64 anos de prisom.

Nesta oca­siom en­tre as pes­soas que sen­ta­vam no banco das acu­sa­das en­con­tra­vam-se Antom Garcia Matos e Assunçom Lousada Camba, quem a Fiscalia es­pa­nhola acu­sou de se­rem as di­ri­gen­tes da or­ga­ni­za­çom ‘Resistência Galega’ e para quem fo­ram pe­di­dos um to­tal de 51 anos de pri­som para cada umha. A acu­sa­çom con­tra elas com­pu­nha-se de umha longa lis­ta­gem de de­li­tos: in­te­gra­çom em or­ga­ni­za­çom ter­ro­rista em qua­li­dade de di­ri­gen­tes, fa­bri­ca­çom e trá­fego de apa­re­lhos ex­plo­si­vos, fal­si­dade do­cu­men­tal, tença ilí­cita de arma mo­di­fi­cada e fa­bri­ca­çom e tença de ex­plo­si­vos. Naquela mesma ope­ra­çom po­li­cial re­sul­tá­rom de­ti­dos ou­tros dous ati­vis­tas, Miguel Garcia e Xoán Manuel Sanches, que ti­vé­rom que en­fren­tar cada um a pe­ti­çom de 12 anos por umha acu­sa­çom de in­te­gra­çom em or­ga­ni­za­çom terrorista.

Finalmente, na sala da Audiência Nacional tivo lu­gar ape­nas o ato polo que as pes­soas acu­sa­das ex­pres­sa­vam a sua con­for­mi­dade con­junta com o es­crito da acu­sa­çom da Fiscalia. Assim, tanto Garcia Matos como Lousada Camba fô­rom cada umha con­de­na­das a um to­tal de 28 anos e 3 me­ses de pri­som po­los de­li­tos an­te­ri­or­mente des­cri­tos, mas con­ta­riam com umha li­mi­ta­çom pe­no­ló­gica que im­pe­di­ria a sua per­ma­nên­cia em pri­som du­rante mais de 20 anos. Estas duas in­de­pen­den­tis­tas fô­rom con­de­na­das tam­bém a umha ina­bi­li­ta­çom ab­so­luta e umha multa de 270 eu­ros. As con­de­nas con­tra Miguel Garcia e Xoán Manuel Sanches polo de­lito de in­te­gra­çom em or­ga­ni­za­çom ter­ro­rista re­sul­tá­rom em 4 anos e meio de cár­cere para o pri­meiro e 3 anos para o se­gundo. Na soma glo­bal, 64 anos de pri­som para es­tas qua­tro ativistas.

Na sala da Audiência Nacional tivo lu­gar a vista em que as qua­tro ati­vis­tas pro­ces­sa­das ex­pres­sa­vam a sua con­for­mi­dade con­junta com o es­crito de acu­sa­çom da Fiscalia

No mo­mento da úl­tima pa­la­vra, o in­de­pen­den­tista Miguel Garcia ex­pres­sava que “ainda que re­co­nheço os fei­tos que se me im­pu­tam e aceito a sen­tença do tri­bu­nal, con­si­dero que nem a mim nem aos meus ir­maos nos de­fine o ad­je­tivo de ‘ter­ro­ris­tas’ por­que a mi­nha mi­li­tân­cia nunca es­tivo ori­en­tada cara ao ter­ror, se­nom todo o con­trá­rio, cara ao amor. Milito para se­men­tar e re­gar o amor a Galiza, que é um país em pe­rigo de extinçom”.

O or­ga­nismo an­tir­re­pres­sivo Ceivar de­sen­vol­veu umha cam­pa­nha so­li­dá­ria com as qua­tro pro­ces­sa­das nas jor­na­das pré­vias ao 24 de ja­neiro, con­si­de­rando que “mais umha vez es­ta­mos pe­rante um juízo po­lí­tico que só se en­tende como parte da per­se­gui­çom con­tra mi­li­tan­tes in­de­pen­den­tis­tas. O es­tado quer exem­pli­fi­car que op­çons vam ser re­pri­mi­das com du­reza, in­de­pen­den­te­mente dos fei­tos concretos”.

Dous anos e meio em pri­som preventiva

As qua­tro ati­vis­tas le­va­vam mais de dous anos e meio em pri­som pre­ven­tiva no mo­mento em que com­pa­re­ce­ram pe­rante o juiz da Audiência Nacional, pa­de­cendo no seu pri­meiro ano de en­car­ce­ra­mento a dis­per­som pe­ni­ten­ciá­ria. Esta si­tu­a­çom fai tam­bém com que o seu di­reito a de­fesa se en­con­trasse vul­ne­ra­bi­li­zado du­rante o pro­cesso. “Resulta ób­vio que a qua­li­dade da de­fesa merma es­tando as acu­sa­das em pri­som, já que a pre­pa­ra­çom do juízo, a co­mu­ni­ca­çom coas ad­vo­ga­das ou mesmo a dis­po­si­çom fí­sica e psi­co­ló­gica para afrontá-lo é in­com­pa­rá­vel”, de­nun­ciam desde Ceivar. “Todo isto está-se vendo mais afe­tado polo atual pa­no­rama de res­tri­çons sa­ni­tá­rias, que nas ca­deias re­dun­dam num abuso das me­di­das de pre­ven­çom con­tra a Covid19 com in­jus­ti­fi­ca­dos iso­la­men­tos con­ti­nu­a­dos”, acrescentam.

Concentraçom so­li­dá­ria às por­tas da Audiência Nacional mo­men­tos an­tes do co­meço do juízo.

Os mes­mos pro­ble­mas para a de­fesa de­nun­ciou o ad­vo­gado Daniel Amelang, que se en­car­re­gava da de­fesa de Xoán Manuel Sanches. Para Amelang toda pri­som pre­ven­tiva é “umha aber­ra­çom” e, so­bre as di­fi­cul­da­des para a de­fesa, pom o exem­plo de como o seu de­fen­dido nom tivo nen­gum tipo de acesso a um com­pu­ta­dor, o qual im­pos­si­bi­li­tou a con­sulta dos mi­lhei­ros de fó­lios di­gi­ta­li­za­dos de que consta o su­má­rio de ins­tru­çom desta causa.

Periciais de inteligência

Segundo ex­pu­nham as fon­tes con­sul­ta­das, o es­crito de acu­sa­çom da Fiscalia con­tava com umha pre­sença im­por­tante de re­la­tó­rios po­li­ci­ais de in­te­li­gên­cia. “Neste tipo de juí­zos, que es­tám re­la­ci­o­na­dos com ter­ro­rismo ou com ou­tros de­li­tos de ca­ra­ter com­plexo, ha­bi­tu­al­mente a po­lí­cia achega este tipo de re­la­tó­rios em que o que fam é in­ter­pre­tar os in­dí­cios num sen­tido ou com um sesgo de­ter­mi­nado”, ex­pom Guillerme Presa. Este ad­vo­gado, que de­fen­dia Garcia Matos e Lousada Camba, de­nun­cia que a ex­ten­som no uso deste tipo de re­la­tó­rios “é umha pre­ten­som de le­var a ló­gica po­li­cial às re­so­lu­çons ju­di­ci­ais. De al­gumha ma­neira o que se pre­tende é subs­ti­tuir o cri­té­rio ju­di­cial polo cri­té­rio po­li­cial e isso é bas­tante preocupante”. 

Por ou­tra banda, o au­tor do li­vro Vidas Culpáveis. O con­trolo ne­o­li­be­ral do crime, Borxa Colmenero, ex­pom que este tipo de re­la­tó­rios de in­te­li­gên­cia po­li­ci­ais desde a dé­cada de 2000, com a im­plan­ta­çom na luita anti-ter­ro­rista da te­o­ria de ‘todo é ETA’, “ga­nha­ram um peso cru­cial como meio de prova. Em au­sên­cia de fac­tos vi­o­len­tos so­bre os quais sus­ter umha acu­sa­çom de ter­ro­rismo, é pre­ciso de­fi­nir o ‘ini­migo’ com base na sua fi­na­li­dade po­lí­tica: a sub­ver­som da or­dem constitucional”.

Construçom do inimigo

Um mo­mento fun­da­men­tal da apli­ca­çom con­tra o in­de­pen­den­tismo ga­lego da le­gis­la­çom anti-ter­ro­rista foi a sen­tença de 2013 em que a Audiência Nacional re­la­ci­o­nava a vi­o­lên­cia po­lí­tica no nosso país com umha or­ga­ni­za­çom que de­no­mi­nou ‘Resistência Galega’. Mas as ló­gi­cas anti-ter­ro­ris­tas nom co­me­ça­ram aqui: meios de co­mu­ni­ca­çom e per­so­na­li­da­des po­lí­ti­cas já es­pa­lha­vam um re­lato cri­mi­na­li­za­dor que en­qua­drava as sa­bo­ta­gens de ca­rá­ter in­de­pen­den­tista nos mar­cos de aná­lise que cres­cé­rom no País Basco na luita que o Estado es­pa­nhol le­vava dé­ca­das de­sen­vol­vendo con­tra a or­ga­ni­za­çom ar­mada ETA. O Estado co­me­çou en­tom a cons­truir o seu ini­migo na Galiza.

Dentro da cam­pa­nha so­li­dá­ria que de­sen­vol­veu Ceivar para este juízo, di­fun­dí­rom-se ví­deos em que di­fe­ren­tes pes­soas da­vam o seu pa­re­cer do que con­si­de­ram terrorismo.

Neste sen­tido, Borxa Colmenero, dou­tor em di­reito e ad­vo­gado que tem par­ti­ci­pado na de­fesa de mi­li­tan­tes in­de­pen­den­tis­tas em an­te­ri­o­res pro­ces­sos ju­di­ci­ais, acha que a ‘Operaçom Lusista’ é “o fe­che à cons­tru­çom do ini­migo na Galiza, na me­dida em que pro­cura com­ple­tar este pro­cesso com a queda dos seus ‘lí­de­res’”.

O pro­cesso pu­ni­tivo con­tra o in­de­pen­den­tismo ga­lego atra­vés da le­gis­la­çom an­ti­ter­ro­rista con­tivo as ex­pres­sons de di­si­dên­cia po­lí­tica dos anos 2000 e es­ta­be­le­ceu um qua­dro re­pres­sivo específico

Colmenero acha que os pro­ces­sos pu­ni­ti­vos aber­tos con­tra o in­de­pen­den­tismo ga­lego atra­vés da le­gis­la­çom anti-ter­ro­ris­tas ti­vé­rom os seus re­sul­ta­dos. “Do ponto de vista po­li­cial e ju­di­cial cum­priu os ob­je­ti­vos mar­ca­dos: por umha banda, con­ter as ex­pres­sons de dis­si­dên­cia po­lí­tica ini­ci­a­das a co­me­ços dos anos 2000 e, por ou­tra, es­ta­be­le­cer um qua­dro re­pres­sivo es­pe­cí­fico ga­lego”. Este ju­rista quer sa­li­en­tar a re­le­vân­cia deste úl­timo as­pecto, pois “já nom há que re­cor­rer a sen­ten­ças in­ter­pre­ta­ti­vas de ou­tras or­ga­ni­za­çons ou ou­tros con­tex­tos, se­nom que há algo es­pe­cí­fico, adap­tado à nossa re­a­li­dade para re­pri­mir qual­quer con­duta que no fu­turo pu­der acon­te­cer”, e chama a aten­çom so­bre que esse tipo de ju­ris­pru­dên­cia nom se ti­nha cri­ado nem quando o EGPGC es­tava em ativo.

Sobre o im­pacto de esta es­tra­té­gia pu­ni­tiva con­tra o in­de­pen­den­tismo ga­lego tam­bém re­fle­xi­ona o or­ga­nismo an­tir­re­pres­sivo Ceivar, que sa­li­enta que por parte de Estado es­pa­nhol “sem­pre houvo um in­te­resse em en­cai­xar o fe­nó­meno da vi­o­lên­cia in­de­pen­den­tista ga­lega nessa banda ar­mada, ainda que nin­guém se de­cla­rasse parte dela”. Com o in­cre­mento da in­ten­si­dade re­pres­siva, “as or­ga­ni­za­çons do in­de­pen­den­tismo ga­lego pas­sá­rom a so­frer o as­sé­dio e per­se­gui­çom, já nom só po­li­cial, agora tam­bém ju­di­cial. O de­bi­li­ta­mento e frag­men­ta­çom do nosso mo­vi­mento nom po­dem en­ten­der-se sem esta es­tra­té­gia pu­ni­tiva”, ex­po­nhem desde Ceivar.

O ca­rá­ter con­jun­tu­ral do terrorismo

Desde me­a­dos da dé­cada de 2000 o tra­ta­mento ju­di­cial dos ca­sos de ter­ro­rismo mu­dou subs­tan­ci­al­mente. Por um lado, a apa­ri­çom da te­o­ria de ‘todo é ETA’ sig­ni­fi­cou a ex­pan­som da apli­ca­çom da le­gis­la­çom an­ti­ter­ro­rista para ati­vi­da­des nom vi­o­len­tas. “É umha mu­dança sig­ni­fi­ca­tiva, já que para que umha ati­vi­dade seja con­si­de­rada ter­ro­rista nom é ne­ces­sá­rio que se vi­o­lente a or­dem so­cial com umha bomba ou com ar­mas, se­nom que avonda ainda que seja com ati­vi­da­des nom vi­o­len­tas se es­sas ati­vi­da­des vám en­ca­mi­nha­das a sub­ver­ter a or­dem cons­ti­tui­ci­o­nal”, ex­pom Borxa Colmenero.

Desde Ceivar de­nun­ciam que com o in­cre­mento da in­ten­si­dade re­pres­siva as or­ga­ni­za­çons do in­de­pen­den­tismo pas­sá­rom a so­frer o as­sé­dio e a per­se­gui­çom judicial

Umha di­ag­nose se­me­lhante fai Daniel Amelang quem, pe­rante esta nova de­fi­ni­çom de ter­ro­rismo, lança um pa­ra­doxo: “pode exer­cer-se umha vi­o­lên­cia mui ele­vada com ar­mas e ex­plo­si­vos mas se a fi­na­li­dade é pro­te­ger a or­dem cons­ti­tu­ci­o­nal nom es­ta­ría­mos a fa­lar de ter­ro­rismo. Exemplos pas­sa­dos como o GAL nom en­tra­riam nessa de­fi­ni­çom, por­que se en­tende que a sua fi­na­li­dade nom é a de subversom”.

Por ou­tra banda, o fim da ati­vi­dade ar­mada de ETA em 2011 tam­bém pro­pi­ciou mu­dan­ças na hora de en­ten­der a luita anti-ter­ro­rista por parte do Estado. Neste sen­tido, Colmenero as­si­nala que se in­tenta cons­truir um novo ini­migo que jus­ti­fi­que a ní­vel ope­ra­tivo a po­lí­tica anti-ter­ro­rista do Estado e os seus re­cur­sos po­li­ci­ais e ju­rí­di­cos. “Quando o ini­migo ga­lego é cons­truído, este nom fun­ci­ona a ní­vel es­ta­tal, mas, a ní­vel ope­ra­tivo, nas po­lí­ti­cas se­cu­ri­tá­rias tem umha jus­ti­fi­ca­çom”, in­dica, ao tempo que chama a aten­çom para a fun­çom per­for­ma­tiva e de cons­tru­çom de re­a­li­da­des que con­te­nhem es­tas po­lí­ti­cas securitárias.

Colmenero acres­centa tam­bém a com­ple­xi­dade dos me­ca­nis­mos do Estado para en­ten­der como se tem em­pre­gado o termo ‘ter­ro­rismo’ nos âm­bi­tos ju­di­ci­ais: “o po­der fun­ci­ona como um campo, e nesse campo há dis­pu­tas en­tre os se­to­res mais re­a­ci­o­ná­rios, os se­to­res re­la­ti­va­mente mais pro­gres­sis­tas, o que opina a Polícia e o que o opina a Guarda Civil… Acaba cons­truindo-se um re­sul­tado de umha de­ter­mi­nada po­lí­tica anti-ter­ro­rista que nom foi pré-de­se­nhada por nin­guém, mas que é o re­sul­tado de toda essa di­a­lé­tica”. Deste jeito, pode en­ten­der-se o ca­rá­ter con­jun­tu­ral das po­lí­ti­cas anti-ter­ro­ris­tas e a apa­ri­çom de di­ver­sas ope­ra­çons que apon­tam cara a di­fe­ren­tes lu­ga­res: o jiha­dismo, o anar­quismo, o co­mu­nismo re­vo­lu­ci­o­ná­rio… “Acontece muito que se dá um fe­nó­meno, ex­plo­ram-no até que se es­gota, morre e de­sa­pa­rece”, re­flete Colmenero.

Perante a ques­tom de se pode en­ten­der-se que este jul­ga­mento traia con­sigo o fim da apli­ca­çom da le­gis­la­çom ter­ro­rista con­tra o in­de­pen­den­tismo, de Ceivar cha­mam a ser “cau­tas” e apon­tam que “as le­gis­la­çons an­ti­ter­ro­ris­tas som fer­ra­men­tas que se­gui­rám a em­pre­gar quando o con­si­de­rem oportuno”.

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