Periódico galego de informaçom crítica

A luta pola educaçom 

por
Crianças no pá­tio do co­lé­gio O Pombal de Vigo.

O triunfo do ne­o­li­be­ra­lismo con­sis­tiu em mi­ni­mi­zar a re­sis­tên­cia dos su­jei­tos que, ao cabo, ham de ser pro­du­ti­vos. Como ali onde é exer­cido o po­der, há re­sis­tên­cia, os me­ca­nis­mos do sis­tema afi­an­çá­rom pro­ces­sos de sub­je­ti­va­çom: as men­tes dis­pos­tas nos cor­pos pro­du­ti­vos som mo­du­la­das para de­se­jar aquilo que o pró­prio sis­tema ne­ces­sita que de­se­jem. Os agen­tes de so­ci­a­li­za­çom eram fa­mí­lia, es­cola, igreja. Esta úl­tima fui su­plan­tada du­rante o sé­culo XX po­los meios de mas­sas, hoje di­gi­tais. A es­cola, por­tanto, é umha  peça su­cu­lenta para con­tro­lar o âm­bito da en­ge­nha­ria so­cial. Há au­to­ras, e tam­bém mo­vi­men­tos so­ci­ais fora da Europa, que de­di­cá­rom al­gum tempo a re­com­pi­lar as pu­bli­ca­çons da OCDE das qua­tro úl­ti­mas dé­ca­das a res­peito do que deve ser o sis­tema educativo. 

Como já di­ziam na Antiguidade, se és um ven­de­dor de fumo, o pri­meiro que de­ves fa­zer para to­mar o po­der, sob a opor­tuna apro­va­çom das mas­sas,  é de­nun­ciar o caos para, a con­ti­nu­a­çom, te pro­po­res como sal­va­dor. É mui fá­cil ga­nhá-las se se le­var em conta a pre­guiça como um dos prin­ci­pais obs­tá­cu­los, se­guindo Kant, frente a um co­nhe­ci­mento que nos li­bere de pre­con­ceito e su­pers­ti­çons: si­nala uns cul­pá­veis con­cre­tos, como é pró­prio dos (proto)fascismos, pro­mete aten­çom in­di­vi­dual, de ma­neira que os egos se ve­jam re­con­for­ta­dos, e tam­bém co­mo­di­dade, pouco esforço. 

Para que ca­lhe bem en­tre su­jei­tos apa­ren­te­mente crí­ti­cos, mis­tura isto com um dis­curso que se laie da es­cassa mo­bi­li­dade so­cial. Reconhecido e feito isto, já te­rás to­dos os meios a par­ti­ci­par da agenda he­ge­mó­nica, e, em con­sequên­cia, a po­pu­la­çom a re­pe­tir enun­ci­a­dos que en­ga­la­nam os seus ou­vi­dos e a or­ga­ni­za­çom dos seus afe­tos re­a­ti­vos. A ins­ti­tui­çom é con­ce­bida, frente ao mer­cado ‑tam livre‑, como fonte de re­pres­som. Deste modo, já se conta com o ódio das ba­ses para dis­pa­rar con­tra a es­cola. Assim se or­ga­niza e se ga­nha umha  guerra cul­tu­ral. E, com esta, a ou­tra de fundo. 

A ins­ti­tui­çom é con­ce­bida ‑tam livre‑, como fonte de re­pres­som. Deste modo, já se conta com o ódio das ba­ses para dis­pa­rar con­tra a escola

A pe­da­go­gia apre­senta-se como um baú con­cei­tual que en­gole a di­fe­rença en­tre a so­ci­a­li­za­çom pri­má­ria, mais emo­ci­o­nal ou in­cons­ci­ente, e a se­cun­da­ria, in­te­le­tual. Também en­gole a di­fe­rença en­tre as na­tu­re­zas e di­dá­ti­cas es­pe­cí­fi­cas de cada âm­bito de co­nhe­ci­mento e as es­pe­ci­fi­ci­da­des a de­sen­vol­ver em cada ní­vel. Nalguns, a pro­pó­sito, há que res­pon­der a ava­li­a­çons ex­ter­nas. Ao mesmo tempo serve para de­nun­ciar umha  su­posta falta de for­ma­çom no pro­fes­so­rado (Qual? Em que con­siste? Como se adapta essa alquí­mia des­co­nhe­cida aos pa­râ­me­tros materiais/laborais dos dis­tin­tos cen­tros edu­ca­ti­vos?) e para avil­tar a me­mó­ria tout court, como se nom fosse umha  fa­cul­dade que ajuda ao en­ten­di­mento que, por sua vez, pos­si­bi­lita um pos­te­rior ra­zo­a­mento. Nom é pos­sí­vel pen­sar sem conteúdos. 

O que se pre­tende é as­si­mi­lar o pen­sa­mento aos pro­ces­sos cog­ni­ti­vos bá­si­cos, de re­a­çom a um es­tí­mulo. Segundo a neu­ro­lo­gia, su­cede sem im­pli­car de­ma­si­ado a pre­fron­ta­li­dade, que é o que per­mite, em úl­tima ins­tân­cia, a re­fle­xom e, de­ri­vando, a con­vi­vên­cia. A ar­ti­cu­la­çom re­pre­sen­ta­tiva do mundo, a lin­gua­gem e o mesmo cé­re­bro de­vem imi­tar a pro­gra­ma­çom. Este é o pa­pel ativo que o ca­pi­tal re­quer das no­vas sub­je­ti­va­çons, frente à pas­si­vi­dade de­man­dada po­las so­ci­e­da­des dis­ci­pli­na­res, e ainda umha ótima ges­tom da pró­pria emo­ci­o­na­li­dade, que chega às es­co­las das mans de en­ti­da­des fi­nan­cei­ras. Em qual­quer caso, o pen­sar ana­ló­gico nom é ope­ra­tivo, sendo o que pode ser crí­tico. Também longo, denso, pouco tre­pi­dante: non qua­dra bem com as so­ci­e­da­des de es­pe­tá­culo nem com a eco­no­mia da aten­çom, que in­te­gra o pro­fes­so­rado na ape­la­çom per­ma­nente e ex­clu­siva à amíg­dala dos in­di­ví­duos com mo­vi­mento, som e luz. Questons de fi­lo­ge­né­tica des­vir­tu­ada polo mercado. 

ly­dia rodríguez

Por ou­tro lado, a pro­messa de aten­çom in­di­vi­du­a­li­zada, tam atra­ente, pós-mo­derna e li­be­ral, res­ponde à in­ten­çom de im­plan­tar pro­gres­si­va­mente o Desenho Universal de Aprendizagem (DUA), mas atra­vés de dis­po­si­ti­vos di­gi­tais: a pro­fes­sora pas­sará a ser umha pro­gra­ma­dora que ajusta cer­tos con­teú­dos aos di­ver­sos graus de de­sen­vol­vi­mento com­pe­ten­cial. A in­te­ra­çom da alumna é com a má­quina e quiçá seja para isso que re­me­tem os man­tras da falta de for­ma­çom e quiçá seja isso que se deve le­var em conta an­tes de so­li­ci­tar à Xunta a re­ti­rada de E‑Dixgal ar­gu­men­tado que é só um PDF no ecrã, por­que, tal e como res­pondˆe­rom, “tran­qui­las, isso vai me­lho­rar”… Sem ir mais longe, o me­ta­verso apre­senta-se como, por exem­plo, a pos­si­bi­li­dade de pe­ne­trar na es­tru­tura molecular. 

A su­posta in­ten­çom do DUA é re­du­zir a di­fe­rença en­tre os pon­tos de par­tida so­ci­o­e­co­nó­mi­cos e cul­tu­rais. Na prá­tica, pode ser pos­sí­vel com umha drás­tica re­du­çom das ra­tios ou, num ní­vel ge­ral, já se dá: já existe se­gre­ga­çom dos cen­tros por clas­ses so­ci­ais, por­quanto a ada­ta­çom é ge­ral e tem como re­sul­tado umha  me­nor for­ma­çom para as clas­ses mais bai­xas.  Acho claro que é re­for­çada, as­sim, a se­gre­ga­çom por classe. 

Sucede, igual­mente, com ou­tro dos in­sis­ten­tes cli­chés: as ta­re­fas de casa re­for­çam os pro­ces­sos de apren­di­za­gem das clas­ses al­tas e am­plia a bre­cha so­cial. Porém, a di­fe­rença de ba­ga­gem vem de casa e ati­vi­da­des de am­pli­a­çom e de re­forço po­dem ser­vir para a pa­liar. Nom te­nhem de ser obri­ga­to­ri­a­mente abor­re­ci­das e re­pe­ti­ti­vas, ainda que do abor­re­ci­mento nas­cem cou­sas e da re­pe­ti­çom, diferença. 

Embora por parte de ad­mi­nis­tra­çons mais con­ser­va­do­ras se con­vo­quem pré­mios à su­pe­ra­çom e ao es­forço, in­te­gra-se tam­bém a ideia ou exi­gên­cia de que o/a dis­cente nom deve en­fren­tar de­bi­li­da­des, obs­tá­cu­los, com­pe­tên­cias que, se­gundo o caso, re­sul­tem mais com­pli­ca­das de desenvolver

Embora por parte de ad­mi­nis­tra­çons mais con­ser­va­do­ras se con­vo­quem pré­mios à su­pe­ra­çom e ao es­forço, in­te­gra-se tam­bém a ideia ou exi­gên­cia de que o/a dis­cente nom deve en­fren­tar de­bi­li­da­des, obs­tá­cu­los, com­pe­tên­cias que, se­gundo o caso, re­sul­tem mais com­pli­ca­das de de­sen­vol­ver: por exem­plo, se hou­ver di­fi­cul­da­des de com­pre­en­som lei­tora, será am­pli­ado o ta­ma­nho da le­tra do re­curso que se es­ti­ver a em­pre­gar e evi­tará-se na me­dida do pos­sí­vel in­sis­tir nessa des­treza. Algo bas­tante con­train­tui­tivo em ter­mos de apren­di­za­gem e cres­ci­mento como quem nom ades­tra o gosto ou a von­tade para co­mer algo mais que Nocilla. A ex­pe­ri­ên­cia di-me, por acaso, que isto nom fai o alu­nado me­nos com­pe­ti­tivo e mais mo­ti­vado: os de­mais fa­to­res de so­ci­a­li­za­çom pro­vo­cam ou­tro tipo de subjetivaçom. 

Por úl­timo, a vi­gente for­mu­la­çom pe­da­gó­gica apela a um su­posto bem-es­tar emo­ci­o­nal do su­jeito (aten­çom à aná­lise de Eva Illouz!), que deve en­con­trar umha va­lia única em si mesmo para ofe­recê-la. Em ter­mos pro­du­ti­vos, é claro. Mas, para de­sen­vol­ver ci­da­dãs em so­ci­e­da­des fe­li­zes cum­pre-se a prá­tica ima­nente das vir­tu­des ‑o que im­plica mui­tas cou­sas- e, como di­zia Thatcher, eu nom vejo sociedade. 

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