A crise financeira que se iniciou em 2008 fijo tremer as bases em que assenta o regime que sofremos, tanto na Galiza quanto no resto do mundo. E deixou à luz os pés de barro sobre os que se levanta. Poderes até o momento dados por inevitáveis demonstrárom pior saúde do que imaginávamos, e grande parte da populaçom começou a questioná-los. Assim aconteceu com a integridade territorial espanhola, a monarquia, o bipartidismo, os bancos… Um elemento, porém, permaneceu inquestionável, nom foi colocado sob os focos mesmo quando acabou por assumir o protagonismo da crise e das supostas soluçons à mesma: o elemento central do sistema económico, a moeda.
Algumhas ferramentas conseguem naturalizar-se tanto nas nossas vidas que tomam um ar de neutralidade e de inevitabilidade, o que nos dificulta submetê-las a crítica. Acontece com a linguagem, por exemplo, ou com a ideia de progresso. Também acontece com o dinheiro. E em vez de pararmos um momento a meditar sobre a sua natureza e a sua funçom, costumamos dá-lo por suposto e simplesmente pedir mais. O qual poderia ter certo sentido noutro tempo, quando o dinheiro era umha mercadoria mais ou menos neutral, nos tempos do ouro, mas já nom se pode sustentar agora quando os Estados tomárom controlo das moedas fiat (Euro, Dólar, etc.) e as utilizam como principais ferramentas para a guerra contra os povos.
Essa é a política económica da nossa época: mprimir dinheiro, falsificar a sua própria divisa, para que subam os preços na Bolsa e no mercado de dívida pública
Para quem tiver interesse em aprofundar neste tema, indicaremos que o dinheiro que atualmente usamos é um invento mui recente, que nom ultrapassa o meio século. Se bem até 1971 a moeda de cada país estava respaldada polas reservas de ouro que armazenava o seu banco central, desde esse ano e por decisom unilateral dos EUA de Nixon as moedas ficárom desvinculadas de qualquer valor. Isso deu aos estados um poder gigantesco sobre os povos, o poder de se apropriarem de riqueza sem necessidade sequer de cobrarem impostos, e redistribuirem depois essa riqueza entre os sectores económicos do seu agrado. Foi assim que se provocou o financiamento da economia desde os anos oitenta, e foi assim que se tentou cobrir a bancarrota dos bancos e dos Estados desde 2008. Essa é a política económica da nossa época: imprimir dinheiro, falsificar a sua própria divisa, para que subam os preços na Bolsa e no mercado de dívida pública.
O dano que sofre a soberania nacional nesta situaçom é evidente. O uso do Euro submete-nos à soberania do Banco Central Europeu, um organismo alheio e inimigo. Cada compra ou venda que fazemos é um ato de servidume a esse poder, um ato que o reforça e alimenta, e portanto que nos debilita a nós. Da mesma forma que outros atos de submissom quotidiana (sermos clientes de bancos, energéticas, companhias de telecomunicaçons, etc.) podem ser questionados, nos quais o povo já criou ferramentas autónomas para os substituir, também o Euro deveria deixar de ser assumido como inevitável. Umha vez que é chave do domo do regime económico, temos que começar a entendê-lo como um campo de batalha.
A recuperaçom plena da soberania galega passa, entre outras cousas, pola criaçom dumha moeda nacional. Esse seria um ato de soberania gigantesco, com efeitos reais para nós, com certeza muito mais significativos que qualquer decreto que poda aprovar o Parlamentinho.
Mas mesmo que nom se consiguir armar um consenso suficiente como para levantar umha alternativa galega ao Euro, nom temos porque aguardar nem um minuto mais para desertarmos dele. Existem já moedas alternativas cujo uso é perfeitamente funcional e que nos devolvem o controlo da nossa riqueza. Umha delas, a mais potente, é o Bitcoin. Criado nos ambientes libertários do cypherpunk, a criptomoeda tem-se consolidado como umha ferramenta imbatível para abandonar o barco do sistema financeiro dos bancos e do sistema monetário dos Estados. Umha moeda nom sujeita às decisons de nengum organismo central, e que portanto nom pode ser manipulada para resgatar o poder político nem económico às custas do povo trabalhador. Umha moeda, aliás, deflacionária, é dizer, que nom estimula a economia do crescimento económico que devora os recursos planetários.
Com todos os seus defeitos, o Bitcoin é hoje a nossa única alternativa viável à Troika. Para quem assumir que esta é inimiga a vencer, nom há escusas para continuar a usar o Euro. O nacionalismo galego, os movimentos sociais na Galiza, cada galego consciente, tem na sua mao umha arma para a libertaçom. Deixemos de choromicar por mais euros e comecemos a usá-la.