Periódico galego de informaçom crítica

A penúltima encruzilhada de Internet

por
ch­ris­topher dombres

Despertamos do sonho da liberaçom pola tecnologia e caímos em braços da “tecnofobia”. As perguntas som outras: que agacha o aprazível do quotidiano? Que monstros medram na frustraçom?

Internet, a con­gre­ga­çom di­gi­tal de­mo­crá­tica de oi­tenta, apa­rece três dé­ca­das de­pois como o ini­migo que co­nhece o sis­tema, fer­ra­menta chave do con­trolo so­cial e es­paço para os ne­gó­cios da aten­çom que ex­pulsa a de­mo­cra­cia. Assim pen­sam os no­vos apo­ca­líp­ti­cos. Enfrentados com umha corte de in­te­gra­dos ‑os me­lho­res cé­re­bros das úl­ti­mas ge­ra­çons tra­ba­lham para es­sas cor­po­ra­çons que ca­pi­ta­li­zam a Rede‑, mas tam­bém para umha guer­ri­lha de ex­cluí­dos e ex­cluí­das que quer pe­le­jar com as ar­mas do po­der. Internet é hoje “de­sor­dem e de­sin­for­ma­çom”, como di o an­tro­pó­logo bra­si­leiro Rafael Evangelista; umha (falsa?) es­fera pú­blica que era umha trampa para a co­lo­ni­za­çom, onde a base do ne­gó­cio é a mala informaçom.

Internet é umha fer­ra­menta muito po­de­rosa e pro­du­ziu umha mu­dança ra­di­cal na ci­vi­li­za­çom que já nom tem volta atrás. Vejo o copo meio va­zio por­que o que se nos pro­me­tia que­dou de­tur­pado polo ca­mi­nho. Nom digo que nom haja es­paço para essa ou­tra Internet de cul­tura li­vre, mas so­mos mi­no­ria… todo o es­paço foi ocu­pado po­las gran­des cor­po­ra­çons”, cons­tata Bárbara Román, ad­vo­gada de NoLegalTech, umha firma com des­pa­chos em Vigo e Compostela. Ela conta umha ane­dota sig­ni­fi­ca­tiva. “Há pouco fi­gem um inqué­rito en­tre o meu alu­nado de mes­trado de ad­vo­ca­cia na Universidade de Santiago de Compostela. Quando lhes per­gun­tei: O que é Internet para vós? Todas as res­pos­tas fô­rom a mesma: Google”.

Temos certa ten­dên­cia a bo­tar-lhe a culpa a Internet de de­ri­vas so­ci­ais que nos re­sul­tam in­có­mo­das. É mais fá­cil di­zer que Trump ou o Brexit ma­ni­pu­lá­rom a po­pu­la­çom que acei­tar que há umha parte da po­pu­la­çom que vota com ódio”, di Gemma Galdón, con­sul­tora no âm­bito di­gi­tal e ana­lista de po­lí­ti­cas pú­bli­cas, afin­cada desde há dous anos na Corunha.

Gemma Galdón, con­sul­tora: “Temos certa ten­dên­cia a bo­tar a culpa a Internet de de­ri­vas so­ci­ais que nos re­sul­tam incómodas”

A es­querda com­prou esse dis­curso de que a gente vo­tou Trump ou vo­tou Brexit como con­sequên­cia da ma­ni­pu­la­çom. Mas a prin­ci­pal ra­zom de que cresça o fas­cismo é que há muita gente que é fas­cista”, afirma Sergio Salgado, mem­bro de Xnet, desde Barcelona. O co­le­tivo leva onze anos na guer­ri­lha. Primeiro, con­tra os mo­no­pó­lios do copy­right, de­pois no 15M, e agora com a in­ten­çom de “pôr ao dia a de­mo­cra­cia do sé­culo XXI atra­vés da Rede”. Há certa “tec­no­fo­bia” em parte da es­querda, as­si­nala Salgado. 

Román, Galdón e Salgado de­fi­nem os li­mi­tes do de­bate. O copo meio va­zio, ou meio cheio. Quando fa­lam da ar­qui­te­tura da Rede, ad­mi­tem que a pro­messa da neu­tra­li­dade se­gue viva, ainda que a igual­dade no acesso está muito longe de cum­prir-se. Mas o uso das in­fra­es­tru­tu­ras in­clina a ba­lança cara ao ne­gó­cio e a vi­gi­lân­cia em fa­vor das em­pre­sas e os Estados, com os seus in­ter­me­diá­rios po­lí­ti­cos e meios de comunicaçom.

O li­vro da jor­na­lista Marta Peirnano, El ene­migo co­noce el sis­tema, con­ver­teu-se desde o ano pas­sado na prova de­fi­ni­tiva con­tra a Rede. Peirano co­meça e re­mata o seu en­saio com umha afir­ma­çom ca­te­gó­rica: “as fer­ra­men­tas do po­der nunca ser­vem para des­man­te­lar o poder”. 

Nom podo es­tar mais em de­sa­cordo com essa frase”, pro­testa Sergio Salgado. “A guer­ri­lha, de sem­pre, con­sis­tiu em co­lher ar­mas do ini­migo. A ten­som en­tre cen­tra­li­za­çom e des­cen­tra­li­za­çom é um mo­vi­mento pen­du­lar. Em 1997, quando a bor­bu­lha das punto com, Douglas Rascoe dixo aquilo de per­de­mos para sem­pre… A bor­bu­lha es­tou­rou e dei­xou tudo con­ver­tido num ver­te­douro baixo o mo­no­pó­lio de Internet Explorer. Mas no 2001 apa­re­ceu Firefox, de­pois véu a blo­gos­fera, que su­pujo umha sorte de Big Bang avan­çando o que hoje se fai em Instagram ou Twitter, e sur­diu tam­bém a Wikipédia. Naquela al­tura, muita gente da mi­nha ge­ra­çom aban­do­na­mos ou­tras mi­li­tân­cias e abra­ça­mos esta nova cul­tura po­lí­tica. Agora o mo­mento é pa­re­cido, es­tám nas­cendo cou­sas que nos fa­rám a vida me­lhor, nom só para ser­mos mais so­be­ra­nos e au­tó­no­mos, se­nom para go­zar de me­lho­res ser­vi­ços que os que ofe­rece Google”. 

Sergio Salgado (Xnet): “Estám nas­cendo cou­sas que nos fa­rám a vida me­lhor e go­zar de me­lho­res ser­vi­ços que os que ofe­rece Google”

Santiago Saavedra co­me­çou a de­sen­vol­ver IUVIA em 2016 na pro­cura de “ser­vi­ços al­ter­na­ti­vos de soft­ware li­vre para fu­gir das gran­des pla­ta­for­mas e reuni-los num sis­tema ope­ra­tivo co­e­rente e útil para po­der sacá-lo ao mer­cado”. Detrás de IUVIA, di, está a ideia de umha Internet “des­cen­tra­li­zada” frente ao mo­no­pó­lio das cor­po­ra­çons atu­ais que co­lo­cam o usuá­rio ou usuá­ria como sim­ples con­su­mi­dora que “des­car­rega con­teú­dos”. Mas tam­bém te­nhem o com­pro­misso de ga­ran­tir a pri­va­ci­dade dos da­dos das pes­soas e nom co­mer­ciar com eles.

Esta pre­o­cu­pa­çom pola pri­va­ci­dade que em­pe­ça­mos a ter to­das fijo que re­cu­pe­re­mos a cons­ci­ên­cia de prin­cí­pios de sé­cu­los a res­peito do po­der que te­nhem as gran­des em­pre­sas para li­mi­tar o que po­de­mos co­nhe­cer de Internet”, ex­plica Saavedra. O mo­no­pó­lio tem fen­das, mesmo por­que as pró­prias com­pa­nhias mos­tram certa pre­o­cu­pa­çom po­los con­teú­dos que es­tám aju­dando a di­fun­dir: “Twitter fa­zendo fact chec­king para o Trump”, aponta Saavedra.

Porém, avisa, o prin­ci­pal obs­tá­culo “para sair da bor­bu­lha em que nos te­nhem re­ti­dos” está na co­mo­di­dade. “Viver aí den­tro, onde as tuas opi­ni­ons som cons­tan­te­mente re­for­ça­das é có­modo; se sais, to­pa­rás gente que nom opina coma ti. Acaba sendo mais fá­cil acei­tar no­tí­cias fal­sas que acei­tar que che po­dam qui­tar a razom”.

iu­via

Problemas para a democracia

Nom creio que se lhe deva car­re­gar a Internet com toda a res­pon­sa­bi­li­dade. A Internet é de­mo­cra­ti­za­dora na me­dida em que o é o es­paço pú­blico, todo o es­paço pú­blico, em cada mo­mento”, in­ter­vém Galdón. “A Internet nom é umha ame­aça para a de­mo­cra­cia: a de­mo­cra­cia ba­seia-se no con­flito, é um sis­tema para ge­rir o con­flito de forma pa­cí­fica. A ame­aça nom está na fer­ra­menta, está na cor­re­la­çom de for­ças atu­ais”, su­bli­nha Galdón. “Que pas­sará se o pró­ximo ví­rus é de ca­rác­ter in­for­má­tico e fi­ca­mos sem Internet? Pois que ha­verá que ati­var es­ses ou­tros es­pa­ços de de­mo­cra­cia, nom?”

Bárbara Román, que con­fessa que par­ti­lha a vi­som de Peirano, con­si­dera tam­bém que é pre­ciso apro­vei­tar essa cres­cente cons­ci­ên­cia de as­salto à pri­va­ci­dade para fo­men­tar me­ca­nis­mos de au­to­de­fesa in­di­vi­du­ais e co­le­ti­vos. “Quem se qui­ser de­fen­der, vai to­par fer­ra­men­tas em que apoiar-se; mas é certo que pre­ci­sa­mos or­ga­ni­za­çons co­le­ti­vas como o Partido Pirata ale­mám, por exem­plo, que atua di­ante das instituiçons”.

A qua­li­dade da de­mo­cra­cia de­pende da nossa ca­pa­ci­dade como so­ci­e­dade para es­tar in­for­ma­das”, as­si­nala Santiago Saavedra, com o pano de fundo das re­fle­xons do re­la­tor de Naçons Unidas so­bre a li­ber­dade de opi­niom e ex­pres­som, David Kaye: “Em de­ter­mi­na­das cir­cuns­tân­cias, a in­for­ma­çom salva vi­das. Em troca, as men­ti­ras e a pro­pa­ganda pri­vam aos in­di­ví­duos de au­to­no­mia. A ca­pa­ci­dade de pen­sar cri­ti­ca­mente, a con­fi­ança em si pró­prios e nas fon­tes de in­for­ma­çom e o di­reito a par­ti­ci­par de todo tipo de de­ba­tes me­lhora as con­di­çons sociais”.

De sú­bito, as guer­ras fam-se com me­mes. “As te­o­rias da cons­pi­ra­çom pas­sá­rom a ser o marco pro­pa­gan­dís­tico e os me­mes som a uni­dade de di­fu­som bá­sico. Desde há cinco ou seis anos a di­reita “me­meou” me­lhor; e a es­querda re­a­giu de forma exa­ge­rada… Nom lhe dês de co­mer o troll!. Mas ce­vá­rom-no até con­vertê-lo em pre­si­dente dos EUA e do Brasil. Temos que mu­dar de es­tra­té­gia, se nom, da­re­mos-lhes o con­trolo da agenda, toda a aten­çom. E essa pode ser a forma que vai ado­tar o fas­cismo”, con­clui Salgado. 

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