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A Rabela: “O repente dá pé a praticar ferramentas de autodefesa”

por
bea saiáns

Aurora, A Rabela, é umha das pessoas da novíssima cena regueifeira e também leva uns anos a abrir-se um oco no mundo do rap. Falamos com ela sobre o papel dos feminismos e a forma de enfrentar as mudanças sociais e o patriarcado.

Nos úl­ti­mos anos a re­gueifa tem re­a­pa­re­cido com a marca de gé­nero bas­tante pre­sente, en­tre ou­tras, acres­cen­tando à de­fesa da lín­gua ou o eco­lo­gismo. Como vês o pa­no­rama do re­pente ga­lego neste sentido?

Acho que nos úl­ti­mos anos no con­junto da so­ci­e­dade está a mu­dar a cons­ci­ên­cia, nom sei se po­los fe­mi­nis­mos ou é que os fe­mi­nis­mos som umha das pe­ga­das ou das pro­vas em que se re­flete de forma mais la­tente, por ser fi­nal­mente um co­le­tivo, afe­tado polo pa­tri­ar­cado, que é mai­o­ri­tá­rio nesta so­ci­e­dade. Ademais, com as cri­ses que es­ta­mos a vi­ver há mui­tís­sima gente nova que está a ter umha ca­pa­ci­dade crí­tica e um dis­curso ali­men­tado polo acesso à in­for­ma­çom e as no­vas tec­no­lo­gias, e en­tendo que todo isto re­flete no pa­no­rama do re­pente ga­lego desde o mo­mento em que, quando im­pro­vi­sa­mos, o que fa­ze­mos é ver­si­fi­car o nosso dis­curso. Ao fi­nal está a dar-se mos­tra da mu­dança so­cial exis­tente atra­vés das pes­soas que improvisamos.

Que pa­pel te­nhem ou de­ve­ram ter os fe­mi­nis­mos em todo isto e quanto po­dem apro­vei­tar desta fer­ra­menta do im­pro­viso para mais umha es­tra­té­gia de luita?

Os fe­mi­nis­mos claro que se apro­vei­tam do im­pro­viso por­que, so­bre­todo, quando é de forma di­a­lo­gada, o re­pente dá pé a apren­der e a pôr em prá­tica fer­ra­men­tas de au­to­de­fesa e de res­posta. De au­to­de­fesa por­que cri­a­mos es­pa­ços de fic­çom, atra­vés do riso e o jogo, mas tam­bém es­pa­ços de agres­som onde há in­sul­tos e ata­ques, e é ne­ces­sá­rio um es­paço se­guro onde apren­der a res­pon­der, pe­rante a tra­di­ci­o­nal sub­mis­som. Aqui e agora apren­de­mos co­le­ti­va­mente es­sas fer­ra­men­tas para po­der con­tes­tar o ma­chismo. Neste sen­tido é com­plexo co­me­çar a im­pro­vi­sar para pes­soas nom ho­mens-cis-he­te­ros se nom tés pes­soas quem che arroupe,se nom tés mo­de­los em que re­pa­ra­res. Esta é a ra­zom pola qual nom há quase mu­lhe­res no fre­estyle e pola que na re­gueifa é um bo­cado di­fe­rente, por­que sim se criá­rom al­guns es­pa­ços seguros.

Quais di­rias que som as mai­o­res bar­rei­ras que en­con­tras como pes­soa nom bi­ná­ria, dis­si­dente de gé­nero? Vês di­fe­ren­ças en­tre as re­ti­cên­cias no mundo do rap e o fre­estyle e o da regueifa? 

O pro­blema ge­ral, e este é co­mum aos dous âm­bi­tos, é que nom há es­cola e es­pa­ços de se­gu­rança para apren­der, passo a passo, sem juí­zos, de zero. Há que in­ven­tar es­tes es­pa­ços e é com­plexo, mais ainda quando és al­guém que fai parte de um co­le­tivo nom he­ge­mó­nico. Na re­gueifa a única forma é as­sis­ti­res a obra­doi­ros ou com­bi­nar com pes­soas para im­pro­vi­sar, mas é certo que isto todo im­plica um ní­vel de pro-ati­vi­dade e des­ver­go­nha ele­va­dos, para além de um forte tra­ba­lho emo­ci­o­nal. Acho que o que fa­lha som no­va­mente os cui­da­dos. Por exem­plo, que em nen­gum es­paço fa­la­mos de como nos sen­ti­mos de­pois do de­sa­fio oral. Há quem pensa que se ca­lhar a re­gueifa é me­nos vi­o­lenta mas nom, por­que mesmo sem ser umha lin­gua­gem tam di­reta como a do rap pode ser muito po­tente e bem agres­siva. A prin­ci­pal bar­reira para quem co­meça é que nom há cui­da­dos, nem no rap nem na regueifa.

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