Zoo nasceu em Gandia (País Valenciano) no ano 2014, continuando o caminho de grupos tam potentes como Obrint Pas. A mistura de ritmos eletrónicos com o rap, o reguetom, o rock ou o ska, combinada com umhas letras em catalám com umha forte carga política, foi a receita que os fijo referentes na cena musical estatal. Na noite do Revenidas dedicada aos Países Cataláns falamos com Panxo, cantante e compositor do grupo, antes de encher em Vila Joám. Música, língua e povos oprimidos traçam linhas paralelas entre a Galiza e o País Valenciano.
Galiza e o País Valenciano sempre destacárom por umha potente cultura musical, grupos muito críticos com o poder e também letras combativas. Zoo é mais um exemplo. Se calhar a criaçom cultural está ligada com a repressom?
Eu nom o formularia assim, já que Andaluzia ou Estremadura também som povos que tivérom expressons culturais muito fortes e nom tam vinculadas com um componente nacional. Contodo, sim que creio que há sempre umha resposta, por meio da cultura, frente à repressom. Galiza e o País Valenciano partilhamos, através da nossa resposta, elementos comuns, sobretodo o do sentimento de naçons oprimidas. País Basco e Catalunha também, mas sempre estivérom como um degrau por riba de nós em termos de dignidade e de autoestima.
“Lembrar as periferias é muito importante”
De facto, a primeira vez que visitamos a Galiza lembrou-nos muito no nível sociológico ao País Valenciano, no sentido que de portas cara a fora ambos os países temos o estigma de sermos de direitas e muito fieis ao PP. Mas quando penetras um pouco neles, descobres umha cultura brutal e surpreende também a consciência nacional. Galiza é um povo como o nosso, que nom acabamos de acreditar como povo e onde o auto-ódio também está mui presente.
Mas também penso que as resistências culturais som umha má soluçom. Eu gostava de que a resistência do povo galego ou do povo valenciano fosse real. Berrar quatro consignas está mui bem, mas a nível de transformaçom nom fai muito. É umha contradiçom também na qual vivemos os músicos. Nós lançamos consignas, mas por outra banda fazemos de discotecas e as pessoas nom venhem aos concertos transformarem nada.
Fazer cançons na vossa língua e nom em castelhano como pode ajudar a normalizar umha língua minoritária, sobretodo entre a mocidade?
Aqui sim que som muito mais otimista. No País Valenciano grupos coma Obrint Pas ou La Gossa Sorda figérom muito mais polo nosso país e pola nossa língua do que as instituiçons, no sentido de difundirem e mostrarem umha realidade diferente da que nos meios se difunde de Valencia.
Penso que desde o País Valenciano estes grupos dérom, de portas para fora, umha visom muito mais rica do que somos. Podemos dar conta que somos um país cheio de musicalidade e talento escondido.
‘Tempestes venen del sud’ e ‘Raval’ dam nome aos dous discos de Zoo. Os dous som umha alusom evidente às eternas esquecidas. Situá-las nas vossas capas pode ser umha homenagem aos povos do sul e as habitantes das periferias?
Sim, para nós é muito importante lembrá-las porque todos os movimentos, sociedades e todos os povos necessitárom construir ferramentas de reafirmaçom através dum discurso, polo tanto é importante pôr nomes, verbalizar e construir conceitos porque se nom há palavra nom há realidade. Ademais é natural e necessário… Depois está a repercussom que consigas dar-lhe a isso, mas qualquer movimento necessita refazer-se através da palavra e dum discurso.
Vós também fazedes reguetom. Umha música que está no ponto de mira polas suas letras, mas com um ritmo mui potente. Gerou-vos algumha contradiçom fazer este tipo de música?
Agora há muito debate ao redor da apropiaçom cultural e todas estas coisas das estéticas, mas realmente é um debate muito academicista para o meu gosto, e nunca nos interessou muito entrar neste debate. E tampouco nunca figemos música para que digam que fazemos umha música oprimida, nós figemos sempre a música de que gostamos: reguetom, eletrónica, de dançar… Sem revesti-lo dumha cousa muito meditada.
O público de Zoo nom só é catalám, basco ou galego. Vós também arrasades em Madrid ou Estremadura. Pensas que às vezes os grupos tenhem mais preconceitos com Espanha do que poda ter Espanha cara a vós?
“Somos conscientes de que como homens e músicos temos uns privilégios e se queremos ser coerentes há que rachá-los”
É umha boa pergunta. Nós temos o nosso posicionamento político sobre a autodeterminaçom e o que queremos ser, entendemos que Espanha é um conceito do que se apropriárom mas nós nom temos nenhum ódio ao povo espanhol nem a quem se quiger sentir espanhol. Entendemos que o projeto de Espanha está construido sobre ideias, algumhas das quais passam por anular-nos como povo e invisibilizar-nos, e precisamente isto é o queremos dizer através das nossas cançons. Penso que muitas pessoas em Espanha também som capazes de verem isto, de entendê-lo e de apoiá-lo, e como mostra esta muita gente que sendo espanhola apoia os movimentos de autodeterminaçom.
Pergunta obrigada: que significado tivo o 1 de Outubro para vós?
Para as valencianas foi um referente, um exemplo. Mas para o nosso país este caminho ainda fica muito longe. Por outra banda, nesta data visibilizou-se o descrédito do projeto espanhol. Como valencianas somos conscientes de que levamos ritmos e tempos diferentes que Catalunha mesmo sendo parte dos Países Cataláns. Mas também acho que agora é um bom momento precisamente por este descrédito de tentar consolidar e fortalecer a nossa identidade como povo.
Num plano prático para muitas de nós gerou muitíssima raiva e dor, mais umha injustiça das quais olhamos em muitos povos e lugares do mundo, ainda que esta tocou-nos muito mais de perto.
Umha similitude mais entre a Galiza e o Pais Valenciano é que temos ao lado um referente cultural e linguístico onde a nossa cultura floresce. Portugal no nosso caso e Catalunha no vosso. É duro enfrentar-se ao que puidemos ser e nom somos?
É duro porque nós sempre estamos na sombra de Catalunha ou de Espanha. Em Espanha somos “el último mono” mas nos Países Catalans, também. Por isso algumhas valencianas a raiz do que passou em Catalunha nos últimos anos também dizemos: calma, que Catalunha é Catalunha e nós aínda temos muito trabalho por fazer. E creio que também seria um erro entregar-se a um projeto já feito. Temos que olhar-nos a nós mesmas, fazer autocrítica e tentar construir desde todas as carências que temos porque ainda fica muito para ser um povo como o catalám.
Nos Países Catalans, este ano, o movimento feminista pujo no ponto de mira o comportamento machista de muitos grupos e músicos. Este foi denunciado através das redes, saindo à luz comportamentos desrespeitosos com as mulheres, abusos e mesmo violaçons. Zoo também foi assinalado…
Estamos num momento de fazer umha autocrítica forte e entendemos este momento para crescer.
Plantou-se-nos umha realidade diante que tem umha parte mui grande de verdade e que estou convencido que vai servir para reflexionar. Somos perfeitamente conscientes de que como homens e músicos temos uns privilégios e se queremos ser coerentes há que rachá-los. Portanto entendemos estas acusaçons como umha oportunidade para parar, pensar, estudar e falar entre nós para assumir umha parte desta critica que é totalmente real e certa e portanto, mudarmos.
A cançom ‘El cap per avall’ de Raval é umha radiografia do País Valenciano, de como era e de como foi esquilmado. Mas como é o Pais Valenciano? Como o definirias?
É um pais cheio de contrastes, um país mui rico e bonito em muitos aspetos mas fortemente maltratado e oprimido durante séculos. Um maltrato que fijo muito dano e que ainda estamos a pagar. Mas ao final da carreira nom deixa de ser um pais que quer ser normal, com os mesmos direitos que qualquer outro. Isso é o que reivindicamos.