Punto e Volta é um projeto audiovisual online nascido a finais do ano 2016, arredor da música tradicional e financiado pola bolsa Nacho Mirás de Novos Jornalistas. Falamos com David Fontán, um dos seus fundadores.
Como é que surge o projeto?
Somos quatro pessoas vinculadas à música tradicional que dalgum jeito, inspirados polas nossas professoras de baile da Gentalha do Pichel e de pandeireta da escola VivAntes, fomos fazendo-nos perguntas sobre o que entendemos por tradiçom. Doutro lado, somos jornalistas e sentimo-nos atraídas polas recolhidas, mas com a necessidade de contextualizá-las, de gravar o que há detrás das músicas e dos bailes, e mostrá-lo. Quigemos radiografar o momento atual da música de raiz compreendendo‑a horizontalmente. Para nós é tam importante o testemunho das velhas que aprendêrom a tocar segundo lhes foi transmitido naturalmente, como o da rapazada que está a aprender nas escolas; assim como formular-lhes perguntas a aquelas pessoas que figérom gravaçons de campo.
Quigemos radiografar o momento atual da música de raiz compreendendo-a horizontalmente
O projeto só tem umha vontade descritiva ou também crítica?
Posicionamo-nos sem nos posicionar, formulamos umhas perguntas para tirarmos conclusons. Em funçom das perguntas que fazemos estamos a gerar e guiar um debate. Nalguns dos vídeos difundidos mostram-se já as posturas opostas dalguns entrevistados, como as surgidas sobre a privacidade dos arquivos de música e baile.
Se calhar, a questom de fazer públicos os arquivos que muitas pessoas conformárom através do seu trabalho e esforço pessoal de recolhida, é umha das mais latentes e espinhentas…
É. Na década de 90 debateu-se muito sobre compilá-los e publicá-los. Um referente para Ponto e volta é o projeto ‘A música portuguesa a gostar dela própria’, do Tiago Pereira, a quem entrevistamos. Acho que a sua vontade de fazer públicas as gravaçons é geracional, quer dizer, temos de reconhecer pública ou economicamente o labor das pessoas que figérom recolhidas, mas também reivindicar o das informantes. Afinal trata-se de garantir a transmissom cultural.
Um referente para Ponto e volta é o projeto 'A música portuguesa a gostar dela própria', do Tiago Pereira, a quem entrevistamos
No entanto, ao considerardes nenas como as Chispas de Compostela como informantes, estades a rachar com o conceito tradicional da figura do informante…
Entendemos a tradiçom dum jeito mais orgânico, nom tam musealizado. Afinal a tradiçom nom só é o que documentárom os folcloristas do século XIX, essas estéticas ruralistas que representárom os coros a princípios do XX, passada também pola peneira do franquismo… Para nós, as Chispas som informantes porque fam música de raiz e estám a abrir novos caminhos. Nom pretendemos dizer: a tradiçom é isto, senão que nós abrimos o abano. Porém compreendemos que tem de haver folcloristas ou musicólogos que cifrem ou apresentem um panorama mais formal ou ortodoxo da tradiçom que devemos conhecer.
questionamo-nos, por exemplo, o mantimento dos roles de género, como nos mostra a exposiçom 'Andar cos tempos' de Chus Caramés e Carme Campo
Neste momento que é o que nos devemos questionar da tradiçom?
Nom somos nada vanguardistas, questionamo-nos, por exemplo, o mantimento dos roles de género, como nos mostra a exposiçom ‘Andar cos tempos’ de Chus Caramés e Carme Campo, sobre os modelos a partir dos que se estabelecêrom certos códigos no baile: as mulheres som submissas e os homens enérgicos, responsáveis de guiarem o baile; ou entender os pares homem-mulher, quando há gravaçons de pessoas do mesmo género bailando juntas. Também está a questom da musealizaçom: a música é necessária para a vida, é importante a sua transmissom noutros contextos dum jeito mais amplo e orgânico, nom só através da apresentaçom dum espetáculo. Assim, um dos nossos objetivos é difundir material documental de qualidade para outros aprenderem.
Já se figérom realidade as expectativas do projeto? Estám a surgir outras?
O projeto é modesto por dependermos dumha bolsa. Algumhas já se realizárom, mas gostaríamos de abrir debates nos espaços de ensino, gerar lugares de encontro e apresentaçons para reconhecer e reivindicar o labor das informantes.