Notre-Dame-des-Landes encontra-se a uns 30 quilómetros da cidade de Nantes, no departamento da Loire-Atlantique. Desde a década de 60 implantou-se sobre este concelho umha Zona de Ordenamento Diferido, cujas siglas em francês correspondem a Zad (Zone d’Aménagement Diferé), duns 1650 hectares sobre as que está projetada a construçom dum aeroporto desenhado para complementar o já existente em Nantes. Desde o começo, a oposiçom a este projeto foi forte e, trás um tempo que semelhou cair no esquecimento nos anos 80 e 90, a começos dos anos 2000 o Partido Socialista anunciava o relançamento deste projeto. Desde entom, a Zad converteu-se numha Zona A Defender, um lugar de luita onde convivem vizinhas que se resistiram a vender a suas terras e pessoas que se achegaram apara apoiar a resistência habitando este terreno.
Em junho de 2016 rematava um período de trégua. O 26 desse mês celebrava-se um referendo em todo departamento da Loire-Atlantique sobre a construçom do aeroporto de Notre-Dame-des-Landes. O primeiro ministro francês, Manuel Valls, anunciava que o resultado seria definitivo para o projeto enquanto os grupos ecologistas denunciavam que, ao participar nesta votaçom toda a populaçom do departamento, a postura das vizinhas de Notre-Dame-des-Landes ia ficar esmagada e negavam a legitimidade da decisom que saísse. Ainda assim o resultado foi apertado: 55,17% votou ‘sim’ ao aeroporto e um 44,83% ‘nom’. Para Valls significava o começo imediato das obras, mas para as opositoras do projeto significava simplesmente continuar a cultivar, habitar e proteger umha vida baseada na autonomia.
Após essa votaçom, o governo francês, na voz de Valls, começou a anunciar que as obras da construçom do aeroporto começariam nesse outono, mas as ameaças continuas de Valls nom se cumpriram e as ‘zadistes’ de Notre-Dame-des-Landes continuam a habitar a zona. Para mais, o futuro político do ex-primeiro ministro francês, que foi a cara do Estado francês durante os protestos contra a Lei do Trabalho ou a expulsom das migrantes de Calais, viu-se truncado: trás demitir do seu posto, Valls saiu derrotado nas primárias do Partido Socialista pola candidatura de Benoît Hamon, o que o deixou fora da carreira cara a presidência da França.
Um pouco de história: a Opération César
Na luita contra a construçom do aeroporto de Notre-Dame-des-Landes há diversos protagonistas e associaçons que batalham em diferentes frentes. Seguindo a cronologia, o coletivo Mauvaise Troupe, em que participam habitantes da Zad, mesmo publicando o livro Défendre la zad. Na década de 60 nascera a Adeca (a associaçom em defesa das exploraçons afetadas polo projeto do aeroporto) com o objetivo de que a zona afetada nom ficasse vazia de atividade agrícola. Com o relançamento do projeto nos anos 2000 nasce a Acipa (a associaçom cidadá inter-municipal das vilas afetadas pola construçom do aeroporto), a qual desenvolverá umha intensa atividade a nível jurídico e de denúncia. A pesar desta atividade, o Estado mantém a decisom de construir o novo aeroporto e em 2008 declara‑o de interesse público. Naquela altura, um grupo de Habitantes que Resistem querem ir além das vias de açom de Acipa e realizam um chamamento a ocupar a Zad ao que respondem vários ecologistas e anti-capitalistas que se instalam na zona. Neste tempo, sabota-se o início das obras do aeroporto e o Estado pressiona para que a gente abandone Notre-Dame-des-Landes. No entanto, começa a reconstruçom das casas abandonadas onde se instalam algumhas das ‘zadistes’ enquanto outras constroem a sua própria vivenda na zona.
Em 2012 o Estado francês tentou explusar as "zadistes" através da invasom policial da Opération César mas umha posterior manifestaçom de reocupaçom recomeçou a construçom da Zad
Em outubro de 2012 o Estado golpeia com a Opération César. Umha multidom de polícias entram e destroem várias das cabanas e casas reconstruidas polo movimento zadista. Porém, as habitantes da Zad resistem e a solidariedade estende-se pola França e criam-se vários comités de apoio à luita de Notre-Dame-des-Landes. Pouco antes da Opération César, vizinhas que optaram por resistir no território figeram umha greve de fome trás a qual conseguiram o acordo de que nom seriam despejadas até que todos os recursos jurídicos foram resolvidos. A pesar do golpe policial, o 17 de novembro de 2012 tem lugar umha multitudinária manifestaçom de reocupaçom da Zad que contaria com a participaçom de mais de 40.000 pessoas. Nesse dia um forte bloco de camponesas, ecologistas e anti-capitalistas, algumhas delas montadas em trator, entram de novo na Zad e começam a reconstruçom de instalaçons para voltar a habitar este lugar. A polícia tenta de novo expulsar esta reocupaçom mas as ‘zadistes’ resistem. Durante cinco meses após a Opération César permanecerám pontos de controlo policiais locados em zonas de acesso estratégico à zona.
Semear a autonomia
Ademais de resistir, na Zad de Notre-Dame-des-Landes constrói-se. Umha das iniciativas é ‘Semeia a tua Zad’ com a qual se intensificam as culturas agrícolas no terreno. Esta iniciativa foi construída polas habitantes da zona, integrantes da Adeca e das organizaçons camponesas opositoras ao aeroporto organizadas no coletivo Copain. Segundo se conta em Défendre la zad, a operaçom ‘Semeia a tua Zad’ nasceu em abril de 2013 e fijo que se achegassem a Notre-Dame-des-Landes milhares de pessoas, num momento em que as ameaças de expulsom estavam de novo presentes. Esta inciativa, segundo se explica do próprio movimento ‘zadiste’, deu lugar à criaçom de novos assentamentos agrícolas na zona, entre elas vários hectares de plantaçons de trigo sarraceno a partir do qual as habitantes da Zad fam boa parte do pam que ali se consome. Nascêrom também várias granjas e exploraçons de gado que produzem leite e queijo.
Todos estes anos de ocupaçom dérom em criar estruturas e recursos para umha vida autónoma. A Zad é um espaço onde se encontram e debatem ideias sobre umha vida além do capitalismo e que coneta com muitas outras luitas tanto no território francês como no mundo. Do próprio movimento ‘zadiste’ indica-se que os alimentos que se cultivam saem também de ali para apoiar a manutençom de pessoas em luita, como pode ser o caso das ocupaçons de vivenda por parte das migrantes em situaçom irregular na próxima cidade de Nantes. Ademais, na Zad existem meios de comunicaçom próprios, como o boletim interno Zad News ou a Radio Klaxxon, que emite na frequência de onda empregada pola multinacional Vinci nas suas autoestradas. Segundo algumhas ‘zadistes’ lhe explicavam no inverno de 2015 ao magazine Lutopik, também criárom umha equipa de mediadoras para atuar nos possíveis conflitos que se podem dar entre as habitantes da Zad. Assim, as habitantes da Zad tenhem também construída umha proposta do futuro da ocupaçom no caso de que o projeto do aeroporto perda o seu caráter de interesse público.
Porém, nom semelha que o Estado esteja interessado em renunciar à construçom do aeroporto e atualmente conta com o recurso do ‘sim’ do referendo de junho de 2016. Até agora a Zad resiste depois de anos empregando diversos mecanismos de luita: habitar e cultivar o território, inventariando a fauna da zona, apresentando recursos jurídicos, mobilizando-se e erguendo barricadas.
Em 2011 o coletivo de concelheiras opostas ao projeto de aeroporto fazia públicas as conclusons dum relatório independente sobre a análise de custos e benefícios que baseou a declaraçom de interesse público do aeroporto de Notre-Dame-des-Landes em 2008. Nesse relatório, elaborado polo gabinete CE-Delft, indicavam-se incumprimentos de normativas e erros de cálculo na análise de custos e benefícios. Para a CE-Delft, os cálculos feitos na análise oficial eram demasiado otimistas e, analisando cenários com variáveis como a suba do petróleo ou a concorrência dos comboios de alta velocidade, o projeto resultava deficitário. Este mesmo relatório apostava em fazer melhoras no aeroporto já existente de Nantes-Atlantique e nom construir um novo. Desde entom, diversos relatórios realizados por organizaçons opositoras ao aeroporto fornecem novos argumentos a esta ideia.
Relatórios apontam a melhorar o aeroporto de Nantes-Atlantique
Quem é Vinci?
Em 2010 o Estado francês aprovava umha concessom por 55 anos à sociedade Aéroportos du Grand Ouest (AGO), liderada pola multinacional Vinci, para os aeroportos de Nantes-Atlantique, Saint-Nazaire e o projetado em Notre-Dame-des-Landes, polo que esta sociedade é a responsável da construçom do aeroporto sobre a Zad. Vinci é umha multinacional francesa, especializada nas obras públicas, para a qual as concessons público-privadas som umha boa parte do seu lucro empresarial, como as que exerce sobre várias autoestradas francesas. Segundo explica o jornalista Nicolas de la Casinière em Le Monde Diplomatique, Vinci nasceu em 2000 por umha aliança estratégica de diferentes empresas de obras públicas, as quais com esta nova marca deixavam atrás nomes manchados por casos de corrupçom acontecidos na década de 90. Vinci é um gigante presente em diversos países: em 2014 contava com 38.700 milhons de euros de cifra de negócios e 2.500 milhons de euros de resultado neto.