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Várias moreas de documentos e arquivos apiados.

Administraçom de justiça: atrasos e mitos

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Várias moreas de documentos e arquivos apiados.

Em maio de 2023 o Xulgado de Instrución Nº 1 com­pos­te­lano re­quer à Diretora do Instituto de Medicina Legal ra­di­cado na ci­dade para a ime­di­ata re­mis­som de um re­la­tó­rio so­bre o dano psí­quico cau­sado a umha ví­tima, en­co­men­dado já no ano 2018 de­vido a que, se­gundo o pró­prio Xulgado, “a pre­sente causa está desde há vá­rios anos pen­dente só de dar cum­pri­mento a essa diligência”.

No Informe Anual do 2022 do Defensor del Pueblo de Madrid, o nú­mero de quei­xas tra­mi­ta­das so­bre o anor­mal fun­ci­o­na­mento da Administraçom de Justiça só véu su­pe­rado po­las di­ri­gi­das con­tra a Segurança Social. O de­par­ta­mento de Ángel Gabilondo pujo de ma­ni­festo na me­mó­ria que “nom por rei­te­rado ao longo dos anos deve dei­xar de men­ci­o­nar-se que os atra­sos na Justiça, em pro­ce­di­men­tos con­cre­tos, cons­ti­tuem um mo­tivo ha­bi­tual de queixa ante o Defensor del pu­e­blo. É o caso, por exem­plo, dum ci­da­dão que apre­sen­tou umha de­manda por vul­ne­ra­çom de di­rei­tos la­bo­rais (con­trato tem­po­ral em fraude de lei) em ju­lho de 2019 e mar­cou-se a vista para ou­tu­bro de 2022. Também apre­sen­tou de­manda por des­pe­di­mento im­pro­ce­dente em ou­tu­bro de 2020 e foi ci­tado para or­ga­ni­zar o ato de con­ci­li­a­çom em ja­neiro de 2024”.

O nú­mero de quei­xas tra­mi­ta­das so­bre o anor­mal fun­ci­o­na­mento da Administraçom da Justiça só véu su­pe­rado po­las di­ri­gi­das con­tra a Segurança Social

No ano 2022, de ma­neira tam sim­bó­lica como inó­cua, o pró­prio Tribunal Constitucional con­si­de­rava que os as­si­na­la­men­tos tar­dios de atos ju­di­ci­ais su­po­nhem a vul­ne­ra­çom do di­reito a um pro­cesso sem di­la­çons in­de­vi­das posto que “…a ra­zom ofe­re­cida polo jul­gado para jus­ti­fi­car tam no­tó­rio atraso na tra­mi­ta­çom do as­sunto –so­bre­carga de tra­ba­lho e falta de meios pes­so­ais e ma­te­ri­ais para abordá-la num prazo ra­zoá­vel– nom pode ser ad­mi­tida como jus­ti­fi­ca­çom su­fi­ci­ente para con­cul­car o di­reito fun­da­men­tal a ob­ter umha re­so­lu­çom num prazo razoável…”.

O di­reito das pes­soas a se­rem ou­vi­das “equi­ta­tiva, pu­bli­ca­mente e den­tro de um prazo ra­zoá­vel, por um Tribunal in­de­pen­dente e im­par­cial” apa­rece po­si­ti­vado no ar­tigo 6.1 do Convénio Europeu de Direitos Humanos mas pa­rece en­con­trar-se hoje numha crise se­vera, à sorte de umha evi­dente falta de do­ta­çom de equi­pas hu­ma­nas e meios ma­te­ri­ais que per­mi­tam sus­ter um sis­tema ju­di­cial efi­ci­ente e ágil.

Este aban­dono es­tru­tu­ral que causa gran­des do­ses de pa­de­ci­mento nas pes­soas jus­ti­ciá­veis, em tanto que usuá­rias deste ser­viço pú­blico, pa­rece es­tar a alen­tar a cons­tru­çom de no­vos re­la­tos en­tre os se­to­res mais re­a­ci­o­ná­rios da pró­pria ad­mi­nis­tra­çom da jus­tiça que mu­dam o foco para apon­tar às tra­ba­lha­do­ras da ad­mi­nis­tra­çom como culpáveis.

Entrada principal de um julgado galego.
se­bas senande

Os atra­sos e as ví­ti­mas de vi­o­lên­cias
Embora em to­das as or­dens ju­rí­di­cas os in­te­res­ses das pes­soas jus­ti­ciá­veis se vem com­pro­me­ti­dos po­las de­mo­ras, o im­pacto psi­co­so­cial do atraso in­jus­ti­fi­cado está a ter en­tre as so­bre­vi­ven­tes de vi­o­lên­cias se­xu­ais e/ou de gé­nero con­sequên­cias ir­re­pa­rá­veis com muito es­cassa aten­çom so­cial. O fe­nó­meno da vi­ti­mi­za­çom se­cun­dá­ria apa­rece atado à longa du­ra­çom dos pro­ces­sos e sur­gem ao seu am­paro atu­a­li­za­çons, re­vi­vên­cias e per­pe­tu­a­çons do pa­de­ci­mento psi­co­ló­gico com umha do­lo­rosa pe­gada so­cial e gra­ves con­sequên­cias nos há­bi­tos de vida quo­ti­di­a­nos de quem pro­cura am­paro dos Tribunais.

Umha das pro­vas es­sen­ci­ais nos pro­ces­sos de vi­o­lên­cia é o Informe de Dano Psicosocial que tra­mita o IMELGA, ins­ti­tu­çom ao cargo da Xunta de Galicia, que hoje é res­pon­sá­vel por mul­ti­pli­car o atraso na tra­mi­ta­çom das cau­sas pe­nais, e que de­mora mais de ano e meio a emis­som dos in­for­mes, o que pro­voca a de­ten­çom dos pro­ces­sos nesse trâ­mite e, na ou­tra mão, que como re­sul­tado da sua atu­a­çom in­jus­ti­fi­ca­da­mente lenta, acabe por apli­car-se aos con­de­na­dos a ate­nu­ante de di­la­çons in­de­vi­das com sig­ni­fi­ca­ti­vas re­du­çons da pena de pri­som, o que gera umha ir­re­pa­rá­vel sen­sa­çom de im­pu­ni­dade que su­cede à eterna es­pera das so­bre­vi­ven­tes por ver re­sol­vido o seu pro­cesso judicial.

A mo­bi­li­za­çom sin­di­cal, cul­pa­bi­li­zada pola de­mora
Dia 24 de ja­neiro o corpo de le­tra­dos e le­tra­das da ad­mi­nis­tra­çom de jus­tiça (an­ti­ga­mente se­cre­tá­rios e se­cre­ta­rias ju­di­ci­ais) lan­çava umha con­vo­ca­tó­ria de greve in­de­fi­nida que re­sul­tava ata­cada com se­ve­ri­dade no in­te­rior dos ope­ra­do­res ju­rí­di­cos. Sem ser cha­mado ao con­flito o Consello da Avogacía Galega lan­çava umha “alerta” se­gundo a que “as con­sequên­cias desta greve som in­cal­cu­lá­veis e da­ni­fi­cam umha ad­mi­nis­tra­çom de jus­tiça já mal­tra­tada após a greve de 2018 e a pandemia”.

Seguidamente e em abril o fun­ci­o­na­ri­ado de ges­tom, tra­mi­ta­çom e au­xí­lio to­mava o re­ve­za­mento das le­tra­das e da­quela se­ria o Consello Galego de Procuradores o que mos­tra­ria em pú­blico pre­o­cu­pa­çom polo “co­lapso ab­so­luto” da jus­tiça, es­for­çando-se em ma­ni­fes­tar que “nom se pode cas­ti­gar os ci­da­dãos com umha nova pa­rá­lise ju­di­cial. Os ser­vi­ços pú­bli­cos in­dis­pen­sá­veis, como a jus­tiça, nom po­dem dei­xar des­pro­te­gida a so­ci­e­dade cada vez que se pro­duz umha dis­cus­som ou um de­sen­con­tro so­bre as con­di­çons de tra­ba­lho dos funcionários”.

O im­pacto psi­co­so­cial do atrasso in­jus­ti­fi­cadpo está a ter en­tre as so­bre­vi­ven­tes de vi­o­lên­cias se­xu­ais e(ou de gé­nero con­sequên­cias irreparáveis

Parece des­pren­der-se das di­fe­ren­tes nar­ra­ti­vas de con­flito que aquela si­tu­a­çom en­dê­mica e es­tru­tu­ral de de­sin­te­resse no ser­viço pú­blico de jus­tiça pola ad­mi­nis­tra­çom do Estado e a Xunta só cau­sa­ria ver­da­deira pre­o­cu­pa­çom e in­te­resse para al­guns dos ope­ra­do­res quando som os agen­tes sin­di­cais que in­ter­ve­nhem na re­a­li­dade atra­vés de me­di­das de con­flito coletivo.

Os sin­di­ca­tos na­ci­o­nais Alternativas na Xustiza-CUT e a Confederación Intersindical Galega le­vam anos de­nun­ci­ando esta si­tu­a­çom como in­sus­ten­tá­vel. Ambas as cen­trais es­ti­ve­ram a pi­ques de pa­gar cara a ini­ci­a­tiva mo­bi­li­za­dora his­tó­rica de 2018 que afe­tou as 2.500 fun­ci­o­na­rias da jus­tiça da Galiza, que se di­ri­gira con­tra o en­tom Conselleiro de Xustiza, Alfonso Rueda.

Depois de ne­ga­rem-se a as­si­nar o acordo que fi­na­li­zou o con­flito a Fiscalia de Área de Ponte Vedra e mais o Xulgado de Instrución da Corunha ini­ciá­rom in­ves­ti­ga­çons pe­nais con­tra as suas re­pre­sen­ta­çons sin­di­cais numha ofen­siva que os sin­di­ca­tos qua­li­fi­cá­rom como umha “pe­na­li­za­çom e um aviso ao resto de empregados/as do se­tor pú­blico para que o pen­sem duas ve­zes à hora de rei­vin­di­car me­lho­ras la­bo­rais”. Dous anos mais tarde, um de­le­gado re­sul­tou con­de­nado por co­a­çons le­ves no con­texto da greve.

Para Nuria Fornos da AXG-CUT a au­tên­tica causa da pa­ra­li­sa­çom da jus­tiça é “a merma dos qua­dros de pes­soal her­dada da era Feijoo, e como me­lhor dos exem­plos es­tám os pró­prios Xulgados de Instancia ga­le­gos que se en­con­tram in­fra­do­ta­dos até num 40 % a res­peito dos do resto do Estado, ao mo­delo dos Julgados low-cost, sendo im­pos­sí­vel fa­zer frente ao tra­ba­lho pen­dente”. A sin­di­ca­lista ma­ni­festa com­pre­en­der a im­po­tên­cia da ci­da­da­nia pe­rante a pa­rá­lise da ad­mi­nis­tra­çom, e re­clama aten­der ao feito de as “pró­prias tra­ba­lha­do­ras com­par­ti­lha­rem essa im­po­tên­cia pe­rante a im­pos­si­bi­li­dade de ge­rir umha jus­tiça efi­caz pola au­sên­cia de meios pes­so­ais e ma­te­ri­ais sendo evi­dente que as mo­bi­li­za­çons na de­fesa do ser­viço pú­blico e na exi­gên­cia de mais pes­soal be­ne­fi­ciam a pró­pria ci­da­da­nia e cons­ti­tuem o me­lhor dos re­mé­dios con­tra o atraso”.

As ad­vo­ga­das tam­bém em con­flito
Em abril so­mava-se a este ci­clo de con­fli­tos o frente aberto po­las ad­vo­ga­das sob o pa­ra­digma “con­ci­li­a­çom, des­co­ne­xom di­gi­tal e ju­bi­la­çom digna”. Incorporava-se as­sim umha nova nar­ra­tiva ao re­per­tó­rio de de­sen­con­tros que ca­bem no es­paço da jus­tiça que viu nas­cer mo­bi­li­za­çons num se­tor tra­di­ci­o­nal­mente re­fra­tá­rio ao meio assembleário.

Na fe­rida que pa­rece ainda aberta con­fluem des­con­ten­tos de ori­gem di­versa. Por umha parte, um de­sa­fio que agrupa a todo o se­tor ao ver como as suas mu­tu­a­li­da­des, após se­rem re­con­ver­ti­das em as­se­gu­ra­do­ras pri­va­das, pro­po­nhem pres­ta­çons de ju­bi­la­çom de­pau­pe­ra­das que con­de­nam o con­junto da ad­vo­ca­cia ga­lega quer a pro­lon­gar a sua vida ativa, quer a fa­zer frente às Administraçons na pro­cura de umha so­lu­çom negociada.

O turno de ofí­cio as­se­gura um ser­viço em con­di­çons de mí­ni­mos re­tri­bu­ti­vos as­sente num pa­ga­mento base e glo­bal por cada pro­cesso ju­di­cial, in­de­pen­den­te­mente da di­fi­cul­dade ou do tra­ba­lho efetivo

Por ou­tro lado, o mal-es­tar es­pe­cí­fico das ad­vo­ga­das que ser­vem no turno de ofí­cio na de­fesa de umhas re­tri­bui­çons dig­nas, de­pois de dé­ca­das de es­tag­na­çom das con­di­çons de tra­ba­lho e re­tri­bui­çons nesse ser­viço pú­blico. A jus­tiça gra­tuita, pres­tada no Estado es­pa­nhol por pro­fis­si­o­nais pri­va­das atra­vés de lis­ta­gens dos Colégios da Advocacia e re­tri­buí­das na Galiza por um ba­remo pa­dro­ni­zado es­ta­be­le­cido pola Xunta de Galicia, as­se­gu­ram um ser­viço em con­di­çons de mí­ni­mos re­tri­bu­ti­vos as­sente num pa­ga­mento base e glo­bal por cada pro­cesso ju­di­cial, in­de­pen­den­te­mente da di­fi­cul­dade ou do tra­ba­lho efe­tivo as­so­ci­ado a cada causa.

Nem a Xunta de Galicia nem os Colégios da Advocacia es­tám a as­su­mir umha res­pon­sa­bi­li­dade efe­tiva na dig­ni­fi­ca­çom das con­di­çons do turno de ofí­cio, co­le­tivo que já tem ame­a­çado mesmo com a pri­meira greve de ad­vo­ga­das do ser­viço, o que fai com que, umha vez pren­dido o des­con­ten­ta­mento, seja di­fi­cul­toso to­mar-lhe o pulso a umha ba­ta­lha que di­reita e ex­trema-di­reita pre­ten­dem mo­no­po­li­zar atra­vés dos seus sin­di­ca­tos e agru­pa­çons de nova planta. A esse fim os se­to­res mais re­a­ci­o­ná­rios ini­ciá­rom ma­no­bras de ten­som per­ma­nente com as ins­ti­tui­çons que vi­nhé­rom pa­ra­si­tando his­to­ri­ca­mente, como os pró­prios Colégios da Advocacia, numha guerra fra­tri­cida que se es­tende no tempo.

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